Cotidiano e rotina na sala de aula
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Book preview
Cotidiano e rotina na sala de aula - Marlei Gomes da Silva Malinoski
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
Dedico esta obra aos meus colegas do antigo ginásio e aos meus alunos de ontem e de hoje.
Aos professores, profissionais como eu, que me permitiram adentrar seus cotidianos, e a todos que me acompanham em minha rotina.
Dedico ao meu marido, que manteve seu amor inabalado e por muito amou por nós dois, e junto comigo ama cada sonho meu.
Dedico à minha filha, por quem luto a cada dia por um mundo melhor, e na luta me ausento, e que, mesmo na minha ausência, me honra a cada minuto com seu amor e compreensão. Ao pedir a Deus uma filha, Ele me deu uma companheira para a vida.
Dedico à memória do meu Pai, e principalmente, dedico à minha mãe. Sustentáculo dos meus sonhos. Expectadora das minhas realizações. A ponte entre mim e Deus, quando a fé me faltou.
agradecimentos
À professora doutora Joana Paulin Romanowski, que indicou o caminho, levantou-me nas quedas, que nunca reescreveu a história, mas segurou minha mão quando já não sabia mais escrever. Discutiu minhas crenças e questionou minhas verdades, não para que eu aceitasse as dela, mas para que eu pudesse tornar-me analítica de mim, para poder analisar o outro. Como parceira de antigas rotinas, soube perceber minhas urgências cotidianas e teve fé em mim.
À Simone Regina Manosso Cartaxo, amiga de angústias e que me lembrou todos os dias de que precisamos viver cada dia.
Aos meus amigos de lutas diárias, Danda, Margaret, Neilor, Flávio, Daniele, Elisângela, Eurides, Patrícia, Haydeé, Carmen e João. Viram a urgência no meu olhar, dividiram minhas angústias diárias, fizeram com que eu sorrisse no impossível e me defenderam às vezes de mim mesma.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, pela dedicação e incentivo.
Agradeço aos olhares e contribuições do professor doutor Peri Mesquida, da professora doutora Dilmeire Sant’Anna Ramos Vosgerau, da professora doutora Pura Lúcia Oliver Martins, e das professoras convidadas à minha banca: professora doutora Ettiène Guérios e professora doutora Márcia de Souza Hobold.
Agradeço à Secretaria de Educação do Estado do Paraná pela licença concedida aos meus estudos e ao entendimento de que o caminho da educação só se faz pela pesquisa, reflexão e pelo apoio daqueles que gerem este processo.
As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou pelo menos não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. E nem todas posso contar.
(Clarice Lispector, 1977)
A marcha das Utopias
Não era esta a independência que eu sonhava
Não era esta a república que eu sonhava
Não era este o socialismo que eu sonhava
Não era este o apocalipse que eu sonhava
(José Paulo Paes, 2000, p. 15)
PREFÁCIO
Do livro e método: o título deste livro, Cotidiano e rotina na sala de aula, coloca em movimento a prática docente e o compromisso discente: o fazer inovador que muda e transforma e a rotina que reproduz e engessa. Seria essa lógica a compreender ao abordar a prática docente a partir da relação entre professores, alunos e conhecimento na sala de aula?
O cotidiano aqui abordado é compreendido como constituído de múltiplas determinações imersas no processo de ensino e aprendizagem que expressam as relações sociais. O cotidiano é constituído por sujeitos e suas ações de interação que transformam a si mesmos e transformam o contexto em que se situam. O cotidiano contém rotinas como fazeres estabelecidos em pactos, como movimentos repetidos e refeitos, zonas de conforto, de modo a permitir o conhecido e a certeza como pontos de partida para as incertezas, para a aprendizagem, para novas possibilidades.
A questão proposta pela autora provoca desafios: O que revelar sobre esse cotidiano, constituído de rotinas e de tantos cotidianos, entre o professor e o aluno, que possibilite um repensar sobre as interações/intersecções nas práticas escolares?
O método rigoroso com que foi feita a investigação de modo denso, de longo percurso na exigência cruel de mergulho nos aportes teórico-metodológicos às permanências silenciosas impregnadas de meditações reflexivas fiéis no registro. Contudo, longe de neutralidade positiva porque saturadas de inquietações.
Da definição da coleta de dados aos critérios de escolha do que, onde, como e porque observar para compreender, tudo foi pensado, discutido, consultado e redefinido, por fim realizado de modo novo. Da busca de respostas à incerteza permanente, da indignação à surpresa. Nada vivido com conformidade para seguir o estabelecido, contraditoriamente realizado observando a norma.
A leitura dos indicadores dos fatos do cotidiano foi elaborada nas muitas linguagens: nas escritas dos futuros professores expressas nos dossiês de estágios; nos resultados de avaliação dos alunos examinados em números, tabelas, gráficos para indicar a precisão do critério de escolha da turma a observar; nos registros das dinâmicas com professores feita de modo lúdico para indicar conceitos por meio de objetos; nas anotações das dinâmicas com alunos por meio de associação de palavras; nos depoimentos transcritos das gravações feitas pelos professores motivados por um roteiro escrito; nas anotações do diário de bordo das observações realizadas no ambiente escolar. Um conjunto de fontes de dados numeroso, volumoso, sobrecarregado de possibilidades de interpretação.
As análises dos dados exigiram exames para a definição de categorias distintas para cada linguagem. Depois sistematizadas, sobrepostas em interseção de onde emergiram complexas em teias em múltiplas possibilidades de composição de sínteses conclusivas. Uma sistematização que comporta analisar o que se ouve e o que se silencia nas relações sobre o conhecimento, de onde as interpretações são provisórias, pois permitem novas categorizações.
A escrita tomou muitas formas de explicação e justificativa das decisões tomadas desde a organização dos dados à originalidade das crônicas para finalizar como tese. Um argumento de tese sustentado de modo não primário, não linear e sim complexo, pois surge como resultado da interação com o campo investigado e os sujeitos. Portanto, o cotidiano escolar em seu espaço de relações, fruto da interação entre o professor e o aluno, revela relações vivenciais de aprendizagem. O ambiente escolar da cotidianidade comporta forças, não antagônicas, mas que se compõem e se complementam, aqui enunciadas como professor, aluno e conhecimento. A interação entre essas forças resulta na aprendizagem, porém como espaço emaranhado, tecido como teia, como rede, em que está presente a relação entre os sujeitos historicamente determinados. O cotidiano escolar, portanto é espaço, tempo que contém rotinas, encontros, conflitos, sujeitos e coletivos, em movimento. O aluno no cotidiano está relacionado à compreensão da finalidade da escola e no valor possível a ser agregado com o conhecimento compartilhado, que se efetiva como sujeito capaz de aprender. Mas há dificuldade de se compromissar, quando a vida cotidiana é tão imediatista, quando a escola é vista alheia às suas rotinas de escolha, a escola é vista como uma imposição social. São Dorinhas, Joãozinhos, Belinhas e Zequinhas em um espaço referencial de aceitação e compreensão em que atuam como sujeitos de relação. Em resposta a essa relação, encontramos professores que se dividem entre entrar nessa ciranda de relações e manter-se fiel ao planejamento rotineiro e seguro, no qual conseguirá comprovar suas ações dentro do conteúdo esperado socialmente, mesmo que não validado como conhecimento. Professores que não se esquivam de comentar suas angústias, suas condições emocionais e aflições diante da impossibilidade da não aprendizagem, mas que continuam no compromisso cotidiano de fazer as aulas, de assumirem-se professores.
Por fim, no cotidiano escolar o professor e o aluno não são forças antagônicas, compreender o que realmente acontece, o que realmente a escola é capaz de fazer nesse cotidiano, é compreender como essas forças interagem na construção e formação dos sujeitos da e na educação.
Da autora: professora da educação básica, professora da educação superior, comprometida, presente, planeja, age, avalia e refaz tudo de novo, de outro modo. Pesquisadora inquieta, incansável, leitora voraz. Dias e noites de disponibilidade, renúncias para possibilitar melhores resultados, reflexões intensas, dúvidas permanentes, busca incessante. Ética, respeito profundo à ciência, sem perder a necessidade da crítica. Comunica e compartilha.
Gestora criativa, aceita desafios para novos projetos, resiliente, capaz de começar de novo com novas propostas. Líder, dinâmica, dedicada, age pelo bem coletivo. Escritora apaixonada, angustiada para permitir o inusitado, para desvelar o silenciado. Ansiosa pelo resultado, contudo paciente para obter o melhor.
Educadora por opção, não basta ensinar, quer ouvir, ver, acolher, aprender com o outro para que ele também aprenda. Solidária, comove-se, reparte, aceita ajuda.
Do nosso encontro: já disse em outro tempo que vivemos momentos distintos de encontros, um há muito tempo, em uma mesma escola, compartilhamos rotinas e cotidianos semelhantes. Uma discente e outra docente. Uma começava o desafio de constituir rotinas e cotidianos para imprimir rumo à sua vida. Outra vivia o desafio profissional. A diferença era de tempo, de conteúdo, de finalidade de natureza de compromisso, mas uno por ser processo, por ser pedagógico, por ser escola.
Voltamos a nos encontrar em outro espaço, fomos desafiadas a compreender nossa rotina, nosso cotidiano, compreender a rotina e o cotidiano da escola, compreender a rotina e o cotidiano da formação dos docentes.
Repito: escrever este prefácio foi um desafio, dada a intensa impregnação das rotinas e cotidianos já vividos, o intenso mergulho com a investigação realizada, os diálogos estabelecidos com texto e com a autora. Afastar-se dessa intensidade para trazê-la à tona tornou o desafio alegria, uma honra pelo convite, um compromisso de encontrar as melhores palavras que expressem as reflexões suscitadas, desejo de que as leituras realizadas por outros leitores possam conter o desafio dos sujeitos que as viveram e de quem escreveu essa obra. Agradeço a oportunidade de compartilhar,