Educação ambiental no ensino superior: reflexões e caminhos possíveis
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Educação ambiental no ensino superior - Maria do Socorro da Silva Batista
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIDADE
A Pedro Henrique e Paulo Víctor, meus filhos.
Aos meus pais, Dona Maria e seu João (in memoriam).
A eles sempre dedicarei as vitórias alcançadas.
A todos os homens e mulheres que vivem, lutam e morrem em
defesa da terra, do meio ambiente, e, portanto da vida.
AGRADECIMENTOS
Aos professores (as):
Antônio Cabral Neto (UFRN)
Carlos Frederico Bernardo Loureiro (UFRJ)
Magna França (UFRN)
Maria da Conceição Pereira Ramos (Faculdade de Economia-Universidade do Porto/Portugal)
Pelo acolhimento e reflexões que me proporcionaram ao longo da construção desta obra.
À Faculdade de Educação da UERN, em homenagem aos 50 anos do seu Curso de Pedagogia, celebrados em 2016.
APRESENTAÇÃO
Nas primeiras décadas do século XXI, a humanidade tem convivido com desastres ambientais cujas dimensões não são identificadas em sua história recente. Tal realidade, revela o aprofundamento da crise ambiental, resultante do processo histórico de desenvolvimento do capitalismo. Apresenta-se, pois, como uma problemática percebida no contexto da globalização, em que o meio ambiente, considerado em sua totalidade, envolve aspectos naturais, culturais e sociais, dentre outros. Isso porque a globalização não está relacionada apenas à economia, mas a um conjunto de mudanças que ocorrem em todas as esferas da sociedade. Para esse processo, não há fronteiras, tampouco importam os impactos sobre o meio ambiente, pois está em pauta a satisfação dos interesses do mercado, com o qual contribui de forma intensa, a ofensiva midiática de incentivo ao consumo, propagado como satisfação das necessidades humanas. A crise ambiental não está circunscrita somente ao meio ambiente, mas é uma crise da civilização moderna, revelando os efeitos de um modelo de desenvolvimento sobre a sociedade, determinando a relação entre os seres humanos e a natureza, o que exige estratégias para o seu enfrentamento.
O processo de degradação ambiental e a pressão de setores da sociedade que, de forma organizada, passaram a reivindicar do Estado a adoção de estratégias para o enfrentamento desse quadro, possibilitou que a temática ambiental fosse pensada como política pública de educação de forma mais intensa a partir da década de 1970.
O processo de mobilizações internacionais, por meio de diversas iniciativas com ênfase sobre a problemática ambiental e os movimentos ambientalistas, contribuíu para a aprovação, no Brasil, da Lei nº. 9.795/99, instituindo a Política Nacional de Educação Ambiental. A aprovação dessa política trouxe para a educação formal o desafio de assumir um compromisso ético, político e social de formação crítica na perspectiva da cidadania ambiental. Ressalta-se, no entanto, que a aprovação e a implementação da Lei nº. 9.795/99 vêm ocorrendo em um contexto demarcado por políticas educacionais tensionadas não para atender a objetivos voltados para a formação da cidadania, mas para atender as particularidades do mercado.
Em que pese tal fato, analisamos a temática ambiental e sua inserção no âmbito da educação superior com base na perspectiva formulada por Loureiro (2005), quando afirma que a práxis educativa transformadora proporciona ao processo educativo as condições para a ação modificadora dos indivíduos e dos grupos sociais, agindo a partir do cotidiano, visando à superação das relações de dominação e de exclusão. Assim, temos a devida clareza que, sendo a educação uma relação social, está intrinsecamente relacionada ao contexto em que se efetiva, sendo por ele determinada e atuando sobre ele para modificá-lo ou para afirmá-lo.
A realização de estudos e de pesquisas que apontem reflexões e alternativas que contribuam para a efetivação da Política Nacional de Educação Ambiental, especialmente no que se refere à formação docente, apresenta-se como uma necessidade de um campo em processo de avanços teóricos e práticos. Essa premissa está na gênesis desta obra Educação ambiental no ensino superior: reflexões e caminhos possíveis, que tem, também como perspectiva ampliar o debate em questão. O entendimento é que a educação ambiental expressa uma concepção de mundo que pode nos orientar em diversos espaços, inclusive na universidade.
Para a redação desta obra, a autora debruçou-se em um trabalho investigativo inerente à política nacional de educação ambiental e sua inserção no âmbito da educação superior, notadamente no que se refere às configurações das iniciativas institucionais, cujo campo empírico foi a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Esta obra está organizada em três capítulos, nos quais apresentam-se os resultados decorrentes do processo de pesquisa. No primeiro capítulo, denominado Meio ambiente e educação no contexto das transformações da sociedade contemporânea
, apresenta-se uma análise do impacto no meio ambiente, da ciência e tecnologia no contexto da globalização, bem como das políticas públicas e a educação ambiental no Brasil.
O segundo capítulo versa sobre Meio ambiente, educação e universidade
, evidenciando as políticas públicas nacionais de educação ambiental, face ao contexto da globalização, destacando o espaço ocupado pela temática na educação superior. Apresenta, ainda, a articulação da universidade com o contexto local, mediada pela necessidade de comprometimento coletivo para com a compreensão dos problemas ambientais e a intervenção social da instituição.
O terceiro capitulo, com o título A Educação Ambiental no âmbito da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte: Da gestão acadêmica aos projetos pedagógicos de cursos
, põe em evidência os resultados da pesquisa de campo, delineados sobre a temática ambiental e as políticas educacionais na educação superior, especificamente na concepção dos projetos pedagógicos de cursos de graduação, bem como a dimensão ambiental na formação docente, como proposta da licenciatura de Pedagogia. Trata-se de uma análise contextualizada dos direcionamentos dessas políticas educacionais e de suas implicações na educação superior, em face da incorporação da temática ambiental em suas dimensões teórica e prática.
Ressalta-se que as reflexões apresentadas neste livro sobre o tema educação ambiental no ensino superior: reflexões e caminhos possíveis
contemplam proposições das políticas públicas, com ênfase nas educacionais, em suas legislações decorrentes e como essas políticas estão sendo implementadas como práticas educativas na formação dos agentes sociais da educação.
A importância deste livro da Professora Maria do Socorro da Silva Batista apresenta razões suficientes para se tornar uma leitura obrigatória por parte dos profissionais da educação básica, superior e dirigentes de órgãos públicos e privados interessados na educação ambiental como tema essencial para o convívio salutar nos diversos espaços societários, em face da qualidade ambiental como fenômeno social.
Profª. Drª. Magna França
Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal/RN, março de 2016
Sumário
LISTA DE ABREVIATURAS
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO NO CONTEXTO DAS TRANSFORMAÇÕES DA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
1.1 A GLOBALIZAÇÃO ENQUANTO MOVIMENTO E EXPRESSÃO DO CAPITAL
1.2 DESENVOLVIMENTO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO: IMPACTOS SOBRE O MEIO AMBIENTE
1.3 POLÍTICAS DE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL
CAPÍTULO 2
MEIO AMBIENTE, EDUCAÇÃO E UNIVERSIDADE
2.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE BRASILEIRA: AS PROPOSIÇÕES POLÍTICAS
2.2 A POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ÂMBITO DO MEC E INTERFACES COM AS UNIVERSIDADES
2.3 O ESPAÇO DA TEMÁTICA AMBIENTAL NA UNIVERSIDADE FACE AO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO
CAPÍTULO 3
A EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ÂMBITO DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE: DA GESTÃO ACADÊMICA AOS PROJETOS PEDAGÓGICOS DE CURSOS
3.1 A TEMÁTICA AMBIENTAL NA AÇÃO INSTITUCIONAL DA UERN: UM CAMINHO EM CONSTRUÇÃO
3.2 MEIO AMBIENTE ENQUANTO DIMENSÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE
3.3 A DIMENSÃO AMBIENTAL NA FORMAÇÃO DOCENTE: UM OLHAR A PARTIR DO CURSO DE PEDAGOGIA/UERN
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO
A ênfase dada à necessidade de inclusão da temática ambiental na formação profissional, estabelecida pela Política Nacional de Educação Ambiental e pelo Programa Nacional de Educação Ambiental, principalmente no que se refere à formação docente, coloca para a universidade o desafio de estruturar o seu projeto acadêmico, consubstanciado no Plano de Desenvolvimento Institucional. Isso traz, como consequência, a necessidade de reorganização de seus Projetos Pedagógicos de Curso, de modo que atendam às exigências na formação inicial e continuada, segundo o que preconiza a legislação explicitada.
A realização de estudos e pesquisas que apontem reflexões e alternativas que contribuam para a efetivação da Política Nacional de Educação Ambiental, especialmente no que se refere à formação docente, apresenta-se como uma necessidade de um campo em processo de avanços teóricos e práticos. Essa premissa está na gênesis do trabalho que ora apresentamos, tendo como perspectiva contribuir com este debate.
Compreendemos que as exigências legais não devem ser a principal referência para que a universidade assuma a causa ambiental, embora devam ser consideradas, uma vez que estruturam e normatizam as políticas públicas. A inserção da temática ambiental no ensino superior deve ocorrer como um compromisso ético e social, inerente aos objetivos históricos das IES. O desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão, no âmbito da educação superior, deve estar comprometido com o exercício da cidadania, no sentido de que ela se realiza, também, pelo acesso aos direitos, como, por exemplo, aos bens naturais e coletivos: água, ar, solo, entre tantos outros. Exige, portanto, que as universidades desenvolvam um processo de interface, parcerias e diálogo intra e interinstitucional, de modo a potencializar as suas ações no campo da educação ambiental internamente, e, ao mesmo tempo, agindo como articuladora dos saberes e práticas sociais, assumindo um papel relevante na mudança da realidade ambiental. Cabe, portanto, afirmar que [...] a universidade deve redimensionar seu projeto político-pedagógico, promovendo melhor qualidade de vida e repensando a relação entre a sociedade e a natureza
(CASTRO; SPAZZIANI; SANTOS, 2002, p. 165).
Nessa perspectiva, esta obra resulta de um trabalho investigativo visando responder indagações inerentes à Política Nacional de Educação Ambiental e sua inserção na formação docente, notadamente no que se refere às configurações das iniciativas institucionais na educação superior. Desta forma, buscamos analisar a inserção (ou não) da temática ambiental na política institucional desenvolvida pela Universidade, tomando como campo empírico de pesquisa a universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN).
Necessário se faz afirmar que historicamente, não tem sido possível compreender a dimensão ambiental inserida na educação, de modo singular, como um único modelo alternativo de educação que, simplesmente, complementa uma educação convencional, que não é ambiental. Do mesmo modo que identificamos, nas práticas sociais, a presença de diferentes concepções de educação, resultantes de visões de mundo construídas historicamente, no campo da educação ambiental, essa diversidade também se apresenta não apenas enquanto formulação, mas como prática social também. Com base na concepção crítica, desenvolvemos a análise sobre a inserção da educação ambiental no âmbito da universidade. Nosso entendimento é que a educação ambiental crítica expressa uma concepção de mundo que pode nos orientar em diversos espaços, inclusive na universidade.
O constante agravamento dos problemas ambientais tem sido um dos temas mais atuais e de maior pertinência para a nossa civilização. Nas primeiras décadas do século XXI, temos convivido com desastres ecológicos de gravidade jamais identificada na história recente da humanidade, revelando o aprofundamento da crise ambiental, resultante de um movimento histórico que traz, em seu cerne, o desenvolvimento do capitalismo e todas as consequências advindas de seu processo de estruturação e de hegemonização social.
Afirmam os signatários do manifesto ecossocialista que esses desastres devem ser compreendidos como
manifestações diferentes das mesmas forças estruturais. As primeiras derivam, de uma maneira geral, da industrialização massiva, que ultrapassou a capacidade da Terra absorver e conter a instabilidade ecológica. O segundo deriva da forma de imperialismo conhecida como globalização, com seus efeitos desintegradores sobre as sociedades que se colocam em seu caminho (LÖWY, 2005, p. 85).
Embora não se trate de uma problemática recente na história da humanidade, é fato que, no contexto da globalização, o meio ambiente, considerado em sua totalidade, o que envolve aspectos naturais, culturais e sociais, dentre outros, vem sendo cada vez mais afetado. Isso porque a globalização não está relacionada apenas à economia, mas a