Narrativas hipertextuais infantis
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Narrativas hipertextuais infantis - ELAINE CRISTINA DA SILVA MARTINS
Editora Appris Ltda.
1ª Edição – Copyright© 2016 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO EDUCAÇÃO, TECNOLOGIAS E TRANSDISCIPLINARIEDADE
[...] Mas depois você prossegue na leitura e percebe que
de algum modo o livro se deixa ler, independentemente
daquilo que você esperava do autor. O livro é o que desperta
sua curiosidade; pensando bem, você até prefere que seja
assim, deparar com algo que ainda não sabe bem o que é.
(Ítalo Calvino)
APRESENTAÇÃO
Literatura Infantil Contemporânea:
espaço de hipertextualidade e fruição
Há sempre uma nova maneira de abordar, pensar e apresentar a Literatura como instituição e herança cultural para o leitor nos dias de hoje, que experimenta, com o aprimoramento tecnológico em relação aos suportes de leitura, uma nova forma de se aproximar dela. A Literatura é uma criação humana que pertence ao campo das invenções suaves e atua de forma eficaz sobre as outras instituições humanas. O filósofo francês Michel Serres, em discurso na Academia Francesa, ao refletir sobre a nova forma de viver em harmonia, de pensar as instituições, de ser e de saber fez uma ressalva sobre a nossa irresistível tendência de pensar que as maiores transformações humanas ocorreram por meio das coisas duras – ferramentas e instrumentos – e esclarece que O duro mostra sua eficácia sobre as coisas do mundo; o suave sobre as instituições humanas
. Ainda que as eras da História tenham recebido nomes que remetem à ideia de dureza: Idades da Pedra Polida ou Talhada, do Ferro e do Bronze, Revolução Industrial.
É do senso comum prestar maior atenção às máquinas tangíveis, duras e práticas, dedicando menor atenção aos sinais. A invenção da escrita, da imprensa e posteriormente o desenvolvimento dos processos de alfabetização provocaram grandes transformações culturais, afetando as coletividades de maneira muito mais intensa do que as ferramentas, pois elas foram lançadas diretamente no seio do humanismo possibilitando o desenvolvimento de sociedades literárias modelos, nas quais a alfabetização triunfou significativamente. Essa nova demanda social fez com que houvesse uma busca delirante das pessoas com o objetivo de atingir um "insight sobre o modo de escrever do Criador do mundo", conforme destaca Peter Sloterdijk em seu livro Regras para o parque humano ao comentar sobre a lenda do Golem que O mistério da vida esteve estreitamente ligado ao fenômeno da escritura
.
Este livro foi produzido por Elaine Martins, alfabetizadora, que se deixou arrebatar pelos sinais emitidos pela obra de arte literária, passando a trilhar caminhos de ensino da literatura que vão além do pragmatismo utilitarista que reduz a literatura à mera ferramenta ignorando o seu caráter de produto estético e por Adair Neitzel pesquisadora da relação entre Literatura e Educação Estética. O objetivo desta obra é discutir os métodos e processos de criação literária praticados pelos autores estudados, de modo a deixar seus leitores em estado de alerta diante do efeito estético causado pela obra de arte literária que, por sua vez, comporta na sua elaboração uma densa camada de informação narrativa hipertextual evidenciando como esses mesmos métodos de criação atuam nos processos de recepção e na formulação de sentidos da obra de arte literária.
Nessa perspectiva, o livro que o leitor tem nas mãos é uma obra em sintonia com o espírito intelectual disseminado por Ítalo Calvino, Roland Barthes, Maurice Blanchot e Michel Serres entre outros, pois está adequada e comprometida com a suavidade e com a forma como o suave organiza e federa quem utiliza o duro
: a prática do utilitarismo escolar aplicado ao texto literário.
Com o desenvolvimento da investigação em torno de obras hipertextuais, Narrativas hipertextuais infantis valoriza o olhar crítico sobre as tecnologias narrativas que conduzem a política, ciências humanas, sociedade e a própria arte literária.
Rogério Lima
Universidade de Brasília/ Professor Associado e
chefe do Departamento de Teoria Literária
e Literaturas da Universidade de Brasília
Prefácio
Há lugares-comuns perigosos que rondam este livro. Um primeiro: lê-se muito pouco no Brasil. Um outro: a leitura tem que ser um divertimento, mais do que um esforço intelectual. Certamente é possível elencar ainda vários outros deles, mas... fiquemos nesses dois. O fato de serem lugares-comuns não implica que o juízo por trás deles seja necessariamente falso ou obrigatoriamente verdadeiro. Aliás, o perigo está justamente em querer que tudo esteja de um lado ou de outro. Como dizia o Riobaldo,
eu careço de que o bom seja bom e o rúim ruim, que dum lado esteja o preto e do outro o branco, que o feio fique bem apartado do bonito e a alegria longe da tristeza! Quero os todos pastos demarcados...
Mas, para desacorçoo do personagem de Guimarães Rosa, nada é muito claramente definido para ninguém. Assim como se pode dizer que, no Brasil, se lê muito pouco ou se lê muito, dependendo do ângulo com que se tentar enxergar o fenômeno. É claro que se lê muito pouco da literatura de intenções artísticas, mas a pujança do mercado de paradidáticos põe às claras o tanto que se lê nesse segmento. Se contamos, então, o que se lê a partir do meio digital, nos dias de hoje, poderíamos assumir resolutamente uma postura otimista e dizer que somos não apenas uma pátria em chuteiras, mas um país de escritores de teclado e leitores de telas. Já quanto ao segundo lugar-comum, ele tem estado ligado a um grande equívoco, isto é, a visão da leitura no nível infanto-juvenil apenas como uma atividade lúdica e prazerosa, e que deve descartar toda aparência ou roupagem de trabalho intelectual que exigiria esforço e aplicação. Ora, convenhamos, essa perspectiva é irmã gêmea de outra, tão míope e obtusa quanto, que consistia, até décadas atrás, em considerar a leitura exclusivamente como um trabalho sério e sisudo. Nem atividade isenta de prazer, nem divertimento sem labor, a leitura pode e deve ser uma tarefa instigante, que ensine o prazer advindo de um esforço persistente. É claro que esse é o caminho mais longo e árduo, mas, em geral, o melhor deles é sempre o que exige mais dedicação. Como já se disse muito por aí, para todo problema complexo existe ao menos uma solução fácil... e completamente equivocada. É preciso que deixemos de ser o país das soluções fáceis... e enganosas. Com alegria, vejo que o trabalho de Elaine Cristina da Silva Martins e de Adair de Aguiar Neitzel não teme enveredar exatamente por aí. Elas recusam tanto a traiçoeira opção de uma atividade de leitura que daria, pretensamente, apenas prazer – e prazer imediato – ao leitor, quanto a concepção de literatura como algo grave e circunspecto, a ser manipulado com reverência e distanciamento. Em outras palavras, elas optam corretamente por apostar no prazer da leitura, sem que isso implique uma simplificação empobrecedora das obras lidas. Também não hesitam em apostar na Inteligência do leitor, que pode se divertir e aprender ao mesmo tempo. As análises que fazem do material de leitura é, ao mesmo tempo, extremamente sério e profundo, sem deixar de apontar possibilidades riquíssimas para sua utilização nos níveis fundamental e médio de nossa educação. Por último, cabe destacar a opção teórica corajosa e produtiva que fazem de não estabelecer diferenças irredutíveis entre a leitura em meio impresso e a leitura em meio digital. Aos poucos, vamos todos abandonando inúteis quizilas teóricas e compreendendo que, em última análise, leitura é leitura; que as estratégias e hábitos adquiridos da convivência com o digital podem dinamizar e estimular a leitura mais tradicional, revelando possibilidades que, antes, eram dificilmente percebidas. Quiçá muitos leiam este trabalho de Elaine e de Adair! Parabéns às duas!
Alckmar Luiz dos Santos.
Doutor – UFSC.
Sumário
CAPÍTULO 1
PARA INICIAR NOSSA CONVERSA...
CAPÍTULO 2
A LEITURA EM MUTAÇÃO
CAPÍTULO 3
NARRATIVAS HIPERTEXTUAIS
3.1 CIGAMIGA – FORMIGARRA: O TEXTO E O PALIMPSESTO
3.2 A CALIGRAFIA DE DONA SOFIA: UMA COMPOSIÇÃO EM REDE
3.3 O PEQUENO REI E O PARQUE REAL: PROPONDO A INTERATIVIDADE
3.4 OS LOBOS DENTRO DAS PAREDES: VERTIGENS NO PROCESSO DE LEITURA... TUDO