Histórias, Mistérios e Conquistas
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Sabe-se, historicamente, que o Brasil, desde sua descoberta, foi alvo da cobiça e da curiosidade de diversos povos. Nesse sentido, é possível destacar os refugiados das guerras, o próprio desejo do homem de trilhar caminhos prósperos, entre outras inúmeras situações, com o motivo bastante expressivo referente ao forte contingente migratório que o País sempre recebeu.
A história verdadeira, sob o olhar de um desses imigrantes, que chegou ao Brasil em meados da década de 50 do século passado, cheio de sonhos, e fixou-se nele com a certeza de que não seria mais um na multidão, é recheada de garra e persistência na busca incessante de seus objetivos. Embora tivesse chegado sem metas traçadas especificamente, utilizou de muita determinação para traçar seu próprio destino e fazer história.
Sem grandes ambições materiais, o autor, um camponês vindo da França e de origem italiana, queria mesmo era construir sua vida a partir das próprias realizações, aproveitando as oportunidades que foram disponibilizadas. Motivo pelo qual escolheu o Brasil, Rondônia, e, em especial, Guajará-Mirim, já que havia muito por fazer na cidade. Passou por inúmeras dificuldades – financeira então nem fez as contas –, enfrentou situações que fugiam à compreensão humana, mistérios os quais não teve condição de desvendar, pois escapavam de qualquer lógica de seu conhecimento, descobriu que na natureza amazônica havia uma razão para iniciar aquela que seria uma das suas maiores conquistas. Com as próprias mãos montou cada uma das atrações que formam o acervo do Museu Histórico do Município de Guajará-Mirim, cujo bastidor é repleto de Histórias, mistérios e conquistas. Vamos, juntos, viajar nesta emoção?
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Book preview
Histórias, Mistérios e Conquistas - Claudio Giuseppe Furlanetto
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
À maior incentivadora para eu fazer a obra:
Cristiane Anita Furlanetto, doutoranda em Ciências da Educação, mestra em Ciências da Educação, especialista em Psicopedagogia e Gestão Escolar, graduada em História, professora do estado, contou parte da
minha história em sua monografia e publicou artigos.
Minha filha.
Ao intérprete dos meus rabiscos e rascunhos (originais),
ilustrador e elaborador da capa e textos:
Daniel Oliveira de Souza, doutorando em Ciências da Educação, mestre em Ciências da Educação, especialista em Fisiologia do Exercício, graduado em Educação Física, professor da Universidade Federal de Rondônia (Unir),
coautor na publicação do artigo que contou parte da minha história.
Meu genro.
AGRADECIMENTOS
Claudio Giuseppe Furlanetto¹
A Deus, por permitir que aos 84 anos, bem vividos, e deixando minha contribuição social e cultural, para o Brasil e mundo, eu mostre que quando queremos somos capazes de realizar um sonho. À minha eterna esposa, Maria (falecida), por ter estado ao meu lado nesta caminhada de alegrias, lágrimas e felicidades. Aos meus filhos e em nome de toda família Furlanetto. À minha filha, Cristiane, que me incentivou a escrever este livro e por cuidar de mim. Ao meu genro Daniel, que incansavelmente contribuiu para que este sonho se realizasse. E a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a conclusão deste trabalho. Meu muito obrigado!
P
REFÁCIO
É de muito bom grado que prefacio o livro Histórias, mistérios e conquistas, de autoria de Claudio Furlanetto, rico em episódios, fatos, ações, acontecimentos, costumes e particularidades, comprovando o resultado do paciente trabalho de pesquisas e estudos do autor franco-brasileiro, mais brasileiro do que francês, experimentado no mister da taxidermia e em penetrar na memória dos tempos.
Nosso primeiro encontro de trabalho, encontro que iniciou uma grande e profunda amizade, ocorreu no Museu Municipal Histórico de Guajará-Mirim, no início da década de 1980, ocasião em que se fixou em meu espírito, de imediato, uma impressão positiva do diretor do museu, que guardei para sempre nos anos todos de convivência no trabalho e nos posteriores às nossas aposentadorias: um homem sério, dedicado, cujo ideal misturava-se ao homem de ação e ao equacionador cultural.
Nos anos de convivência no trabalho, compartilhamos a paixão comum – o gosto pela História e Cultura de Rondônia, sobretudo o sentimento de valorização e preservação dos Museus –, testemunhos vivos da nossa memória, cuja presença física materializa momentos, fatos, conquistas, expressões de sentimentos de épocas passadas que nos fazem reviver todo o esforço criativo do homem.
Vejo-me no seu livro, na ação da implantação do setor – Recanto de D. Francisco Xavier Rey, no Museu Municipal Histórico de Guajará-Mirim e na ocasião em que recebeu a condecoração maior do Estado de Rondônia – Comenda Marechal Rondon, por sua relevante contribuição à cultura rondoniense, indicação do Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia.
De leitura agradável, o livro Histórias, mistérios e conquistas, um memorial, parte de um trabalho histórico e transforma-se em obra que daqui por diante é instrumento para todos os estudiosos que desejam iniciar-se nos conhecimentos históricos do mundo existencial do vale do Guaporé/Mamoré.
Nunca é demais sublinhar a importância da historiografia regional num país continental e plural como o Brasil, e os registros de Claudio Furlanetto enriquecem e valorizam o papel da história regional, enfocando questões sob perspectivas diversas.
Durante a leitura do livro, lembrei-me de uma expressão de Juarez Távora: O memorialista conta o que quer, o historiador deve contar o que sabe
. E Claudio Furlanetto, reunindo com obstinação criteriosa a sua vivência, conta o que quer e o que sabe.
Claudio Furlanetto é o exemplo de que é essencial ao ser humano não se acomodar ao que já se transformou em História, para poder ser fiel ao amor pela História que lhe cumpre ainda realizar, por múltiplos caminhos, apesar dos seus 85 anos de existência terrena.
Em nome de Guajará-Mirim, minha terra natal, localizada no vale do Mamoré e o famoso Guaporé, agradeço ao autor de Histórias, mistérios e conquistas pela contribuição que enriquece a História da historiografia de Rondônia, como a brasileira, percebendo-se as diferenças e semelhanças dos processos culturais que engendraram o Brasil.
Yêdda Pinheiro Borzacov
Academia de Letras de Rondônia
Instituto Histórico e Geográfico de Rondônia
Vice-presidente do Memorial Jorge Teixeira
APRESENTAÇÃO
Pela minha sinceridade, sempre muito espontânea, sem falsa modéstia e sem rodeios, esse é o meu jeito – como também o feitio do livro, um encanto como poucos –, tenho a plena convicção de que minha vida é este livro, que qualquer um pode abrir e verificar que o que há nele, é a mais pura verdade. E claro, sem deixar de dizer, com a minha óptica, meus sentimentos e minha formação.
A pretensão com esta literatura é a de registrar tudo que fiz e como fiz, acho que alguém poderá fazer coisas muito parecidas, mas igual a esta, jamais. Nem os melhores roteiristas de filmes podem retratar tal qual uma obra ou um feito realizado anteriormente, sempre cabe uma interpretação ou adaptação para mais ou para menos.
Tenho coragem e força para fazer muito mais coisas, vai depender de como o público reagir a esta primeira ação, e então verão minhas reações.
Tenham uma boa leitura e aproveitem para curtir: HISTÓRIAS, MISTÉRIOS E CONQUISTAS.
SUMÁRIO
CAPÍTULO I
A DECISÃO
CAPÍTULO II
FAZENDA RIO NOVO
CAPÍTULO III
TERRITÓRIO FEDERAL DO GUAPORÉ
CAPÍTULO IV
O CAÇADOR DE BORBOLETAS
CAPÍTULO V
UMA VIAGEM CHEIA DE SURPRESAS
CAPÍTULO VI
MAIS UM GRANDE DESAFIO
CAPÍTULO VII
A REALIZAÇÃO
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO I
A DECISÃO
Foto do arquivo particular²
Tudo começou em 1950, quando eu visitava a cidade francesa chamada Bordeaux, não era longe da que residia, Sainte-Foy-la-Grande. Estava andando pelas ruas, quando passei em frente a uma livraria, ela era enorme, pena que seu nome não me vem à lembrança, entrei para olhar, gostava muito de leituras – um hábito que mantenho até hoje –; encontrei um livro que me chamou muita a atenção já na sua capa, seu título, em francês, Le Brésil – traduzindo, o Brasil. Fiquei muito curioso, pedi para ler aquela obra, havia na capa umas palmeiras e praias, comprei o charmoso livro de lindas paisagens, e foi aí o ponto inicial de uma guinada total em minha vida pacata e sem perspectiva de grandes transformações.
Em casa, quando já morava sozinho, tinha minha privacidade e minhas responsabilidades, pois meus pais moravam no campo – eles cuidavam dos vinhedos, de vez em quando via meus irmãos que tinham seus trabalhos e família para cuidar. Durante o dia trabalhava numa oficina de marcenaria – praticava a arte de talhar madeira na produção de portas, janelas e outras peças, ganhava dessa maneira meu sustento e também honrava meus compromissos, a noite ficava lendo os livros e as notícias locais e do mundo para me atualizar.
Comecei então a ler o livro que acabava de adquirir – Le Brésil. Fiquei maravilhado pela forma como foi apresentado, havia muitas ilustrações, fotos do Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador, no estado da Bahia, ficava cada vez mais interessado pela leitura daquele livro e, consequentemente, pela curiosidade de conhecer aquela terra tão colorida, cheia de alegria e de vida que aquele livro mostrava. A imaginação deixava-me muito próximo desses lugares.
Realizei algumas pesquisas sobre aquele país e descobri muitas outras coisas, inclusive que o presidente da República da época era o Dr. Getúlio Vargas. Depois de ler o maravilhoso livro, tive a ideia de escrever ao presidente da República do Brasil uma carta solicitando a ele que enviasse mais informações sobre o país, nela também manifestei meu desejo de desenvolver trabalhos que minhas habilidades dispunham para realizar e depositei a correspondência no correio na esperança de ser atendido, sou ansioso por natureza, imagine o quanto me custou a espera do retorno com a resposta do pedido.
O tempo passou, foram meses, já nem me lembrava mais da referida carta, quando certo dia, ao chegar do trabalho, abri a porta, vi que tinha no chão um grande envelope de cor meio amarelado com o brasão da República do Brasil, endereçado a mim, Senhor Claude J. Furlanetto
, fui logo abrindo a correspondência, era escrita à máquina e trazia a assinatura do presidente brasileiro.
A minha alegria foi tanta que comecei a correr de um lado para o outro, tamanho era o sentimento de felicidade que encheu o meu peito naquele momento. Embora não soubesse ler e nem mesmo entender o que ali estava escrito, tentava decifrar umas palavras e outras, mas era muito difícil, busquei ajuda, procurei alguém que soubesse e pudesse traduzir aquela mensagem e na minha cidade não encontrei ninguém para me ajudar.
Numa de minhas folgas viajei até a cidade da biblioteca enorme, Bordeaux, fui procurar o consulado brasileiro apresentando a correspondência que recebi, pedi que traduzissem a carta, as pessoas que trabalhavam no consulado ficaram surpresas com o documento que recebi, ainda mais vindo diretamente do gabinete presidencial. Traduziram e disseram que o presidente estava me convidando para ir ao Brasil, que seria bem acolhido, pois precisavam de gente profissional e trabalhadora.
Solicitei ao cônsul que fornecesse uma relação dos documentos necessários para viajar ao Brasil, e a partir daí comecei uma batalha imensa de correr atrás dos papéis que eram muitos, também vários exames de saúde, para ver se não tinha algum tipo de doença grave, e se não tinha antecedentes criminais e nem mesmo respondia a qualquer tipo de processo na polícia ou na justiça francesa. O procedimento todo demorou um ano, um ano é muito tempo para um ansioso feito eu, levando em consideração que trabalhava e só podia fazer tudo isso nos meus dias de folga. Não foi fácil.
Depois de todos esses procedimentos, voltei ao consulado com tudo que a listagem exigia de papéis, eram documentos que respaldavam minha ida ao Brasil. Eles olharam, foram separando alguns, disseram que os papéis separados eram aqueles com prazos expirados e que não tinham mais validade e que deveriam estar atualizados, pediram para providenciar novamente todos eles com dados atualizados e dentro do período de vigência.
Fiquei desesperado, meu sistema nervoso ficou muito abalado, realmente muito bravo, fiquei irado, falei aos funcionários com bastante ênfase e demonstrando minha imensa insatisfação dizendo que não ia mais viajar, e abandonei os papéis na mão deles no consulado, fiquei também desapontado. Voltei para minha cidade, fui direto para minha casa, não queria mais pensar em viajar para aquele país que tanto me encantou com suas imagens, ilustrações e fotos que me impressionaram tanto e, ao mesmo tempo, deixaram-me bastante frustrado pelo tamanho de sua burocracia.
Passaram-se oito meses, foi quando recebi um telegrama do cônsul avisando que tinha reservado uma passagem no navio Charlie Telier, se tratava de uma companhia que trafegava na rota que ligava a América do Sul, o único meio de transporte daquela época; o navio partiria do porto de Bordeaux no prazo de dois meses, precisamente no dia 19 de fevereiro de 1953 as oito horas da noite, com destino aos países: Brasil e Argentina, ambos no mesmo continente – naquela época não se falava em países específicos quando se tratava da América do Sul, apenas era o continente, portanto estava de passagem marcada para a América do Sul, tão somente isso. Que loucura!
Voltei a criar coragem com a notícia, reanimei com o projeto que havia elaborado na minha mente, também novas expectativas foram aparecendo, muitas outras ideias passaram a surgir, e a vontade de conhecer o Brasil reavivou em mim. Num sábado qualquer antes de minha viagem fui visitar meus pais que estavam no campo, passei aquele resto do dia e o domingo com eles, no jantar falei da vontade e da decisão de sair da cidade e que queria viajar para o Brasil, na hora não houve muita reação, meu pai concordou com naturalidade e disse que o homem tem que procurar seu próprio caminho e seu destino, mas minha mãe não queria. Ela dizia: Que língua aquela gente fala, você sabe?
. O português
, respondi. E como vai pedir para comer? Não sei que lugar é esse!
, continuava ela. Respondi o lugar é o Brasil
; Quando vai voltar?
– insistia minha mãe. Isso também não sei dizer
– retruquei a ela.
Por fim, ela caiu em pranto, nunca vi minha mãe chorar, foi a primeira vez; então, eu a consolei, pedi perdão a ela, ainda assim disse: Mãe, não quero ficar aqui, minha vida é lá no Brasil
– e eu pressentia isso tudo; até que a convenci em aceitar minha decisão. Já meu pai foi a favor o tempo todo. Vai precisar de dinheiro para a viagem?
– ele me perguntou. Respondi que sim, precisava comprar a passagem que não seria muito barata, mais alguns recursos para as despesas de viagem, estadia até eu me instalar, criar uma estrutura e me manter com o próprio trabalho que lá haveria de ter.
Uma semana depois meus pais