Representações Sociais em Movimento: Pesquisas em Contextos Educativos Geradores de Mudança
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Representações Sociais em Movimento - Maria Isabel Antunes-Rocha
2016.
SUMÁRIO
I
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS EM MOVIMENTO:
desafios e possibilidades na elaboração de um conceito
Prof.ª Dr.ª Maria Isabel Antunes-Rocha
- Estudos iniciais na perspectiva das representações sociais
- Diálogos teóricos com as Representações Sociais Prática empírica das Representações Sociais em Movimento (RSM)
- Representações Sociais em Movimento: contornos iniciais no processo de construção de uma categoria analítica
II
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE EDUCADORES SOBRE OS PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM: dilemas entre a tradição pedagógica dos Ceffa e a demanda atual do movimento pela educação do campo
Prof. mestre Roberto Telau
- Ensinar–Incentivar-Mediar: dimensões dos processos de ensino/aprendizagem
- Chaves de leitura da pesquisa: referências epistemológicas e metodológicas
- Os movimentos das representações sociais dos educadores sobre aprender e ensinar na Pedagogia da Alternância dos Ceffa
- Ensinar? Incentivar? Mediar? Referências para dirigir as formas de sentir, pensar e agir
III
PRÁTICAS ARTÍSTICAS EM MOVIMENTO NA FORMAÇÃO DE EDUCADORES DO CAMPO: uma análise na perspectiva dasRepresentações Sociais
Prof.ª Dr.ª Cristiene Adriana da Silva Carvalho
- Educação do Campo: contexto de lutas e formação de professores
- O erudito e o popular: dicotomização ou diálogo nas práticas artísticas?
- Teoria das representações sociais como referencial teórico metodológico
- Como foram elaboradas as Representações Sociais das práticas artísticas na formação de professores do campo na FAE UFMG?
- Mantendo as Representações Sociais das práticas eruditas
- Mantendo as Representações Sociais de práticas populares
- Sujeitos que desconheciam as Práticas artísticas e modificaram as representações para uma perspectiva erudita
- Sujeitos que desconheciam as práticas artísticas e modificaram as representações para uma perspectiva Popular
- Sujeitos que modificaram suas práticas artísticas de uma perspectiva Popular para uma perspectiva Erudita
- Sujeitos que mudaram de uma perspectiva Erudita para uma relação de diálogo entre o Erudito e o Popular
- Sujeitos que mudaram de uma perspectiva Popular para uma relação de diálogo entre o Erudito e o Popular
- Considerações finais
IV
EDUCAÇÃO E EDUCADORES EM CONTEXTO CARCERÁRIO: uma análise na perspectiva das Representações Sociais em Movimento
Prof.ª mestra Karol Oliveira Amorim-Silva
-Contexto
- Os educadores em contexto carcerário
- Métodos
- Resultados e análise do movimento
- Compreendendo os movimentos
- Considerações finais
V
ABANDONAR, SUBMETER-SE, NATURALIZAR, RESISTIR OU AJUDAR
: o movimento das representações sociais de futuros professores do campo sobre a violência
Prof. Dr. Luiz Paulo Ribeiro
- Uma violência que é histórica no campo
- Sobre as Representações Sociais em Movimento (RSM)
- Métodos
- Trajetórias e movimento das representações sociais dos participantes da pesquisa sobre a violência
- Considerações finais
VI
A escrita de educandos (as) na licenciatura em educação do campo na perspectiva das Representações Sociais
Prof.ª Dr.ª Welessandra Aparecida Benfica
- Contexto da pesquisa
- A escrita e as Representações Sociais: convergência teórica
- O movimento das Representações Sociais: a entrevista narrativa flagra a elaboração dos enunciados dos sujeitos
- Os sujeitos da pesquisa
- Discussão e análise
- Considerações finais
Post face
«représentations en mouvement»
Prof.ª Dr.ª Denise Jodelet
SOBRE OS AUTORES
I
Representações Sociais em Movimento:
desafios e possibilidades na elaboração de um conceito³
Maria Isabel Antunes-Rocha
Apresentamos neste livro as reflexões que temos realizado em torno do conceito Representações Sociais em Movimento (RSM). O termo foi elaborado a partir das pesquisas desenvolvidas no âmbito do Grupo de Estudos em Representações Sociais (Geres), em funcionamento na Linha de Pesquisa Psicologia, Psicanálise e Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, sediado na Faculdade de Educação/Universidade Federal de Minas Gerais. O Geres se organiza com profissionais de diferentes áreas do conhecimento com atuação em contextos educativos, e o interesse é por contextos comprometidos com a produção de saberes sobre as representações sociais que estão sendo construídas por sujeitos que estão vivenciando situações que demandam alterações em suas formas de pensar, sentir e agir.
Por mais de uma década trabalhamos com dissertações, teses e pesquisas profissionais (Quadro 1). Temos priorizado o contexto de luta dos povos campesinos pelo direito a escolarização, notadamente no acesso à Educação Superior, mas, nos últimos anos, estamos ampliando as pesquisas para sujeitos em contextos diferenciados (Ambrósio, 2014; Angelina, 2014; Telau, 2015; Amorim-Silva, 2016).
QUADRO 1 – PRODUÇÃO DE DISSERTAÇÕES E TESES – GERES
FONTE: Carvalho (2017)
Estudos iniciais na perspectiva das representações sociais
O ponto inicial dessa construção evidenciou-se com os resultados de pesquisa desenvolvida entre 1993 e 1995 (Antunes-Rocha, 2002), na qual foram trabalhadas as representações sociais de professores sobre a relação que estabeleciam com os alunos integrantes de grupos com baixo rendimento econômico. Nesse estudo, configuraram-se resultados confirmando formas e conteúdos representacionais marcados pela não positividade com relação aos processos de pensar, sentir e agir dos docentes a respeito dos alunos pobres. Mas se observou também que essa não positividade não era constituída somente por elementos relacionados à depreciação. Estava presente uma representação marcada pela dicotomia: alguns docentes idealizavam, outros depreciavam os alunos, mas a maioria percorria esses polos de forma alternada, dependendo do contexto e dos sujeitos. A organização de uma representação social em duas posições que se alternavam, direcionadas para um sentido único, no caso a desqualificação do aluno pobre para se constituir como um sujeito do conhecimento escolar possibilitou reflexões no sentido da presença de deslocamentos afetivos e cognitivos que proporcionavam alterações nos conteúdos, mas preservavam o sentido geral da representação.
Entre 1998-2000⁴ realizamos um estudo sobre as representações sociais dos professores sobre a escola localizada no espaço rural. Delimitou-se como problemática a necessidade de discutir a formação docente para atuação em um contexto onde, de um lado, a cidade envia sinais de esgotamento sobre suas possibilidades de receber migrantes, de outro, a política agrária e agrícola exclui a agricultura familiar e a tecnologia limita a absorção de assalariados nas empresas agropecuárias. Como situar a escola nesse dilema? O olhar teórico foi direcionado na perspectiva conceitual e metodológica das representações sociais elaborada por Serge Moscovici. Entrevistamos 113 professores das séries iniciais do Ensino Fundamental, que trabalhavam em 40 escolas localizadas em 13 municípios, distribuídas por dez mesorregiões administrativas de Minas Gerais. Os resultados indicaram que as representações sociais dos docentes apresentavam conteúdos marcados pela desqualificação polarizada entre depreciar e idealizar. Nesse trabalho, vimos pela primeira vez que alguns docentes alteraram suas representações a partir do início do trabalho. Alguns depreciavam e, ao longo da experiência, passaram a idealizar ou faziam o movimento reverso (Antunes-Rocha, 2002).
Com os resultados dessas duas pesquisas elaboramos um estudo sobre a presença da dicotomia na forma de pensar, sentir e agir com relação aos alunos pobres. Naquele momento, encontramos em Leite (2002) um apoio no sentido de compreender que, com relação ao lugar simbólico de entendimento do pobre na sociedade, a estrutura e dinâmica dicotômica estavam presentes na matriz simbólica da cultura brasileira desde os tempos coloniais. Com relação aos docentes vimos em Alves-Mazzotti (1994) uma reflexão sobre a regularidade com que os conteúdos depreciativos apareciam nas pesquisas realizadas sobre a representação social de professores que trabalhavam com populações de grupos populacionais de baixo nível socioeconômico. Para Alves-Mazzotti (1994), os resultados indicavam que os professores apresentavam formas de pensar, sentir e agir que desqualificavam os alunos como capazes de aprender e, os alunos, por sua vez, comportavam-se como tal, criando assim um ciclo vicioso.
Nesse tempo, encontramos sujeitos que, em luta pela terra, estavam também envolvidos na luta pela escola. Os relatos das dificuldades vivenciadas para fazer valer o direito a uma educação nos levaram ao conceito de sujeito de direitos trabalhado por Molina (2008) como uma possibilidade de compreensão de grupos populacionais que lutam pelo direito à educação como uma ação prevista na Constituição Federal, mas que não se materializa na prática cotidiana.
Entre 2000 e 2004, em uma pesquisa sobre as representações sociais de professores que trabalhavam com estudantes residentes em assentamentos rurais, vimos a possibilidade de compreender como os docentes elaboravam suas representações em um contexto onde os estudantes não atendiam às expectativas desqualificadoras (ANTUNES-ROCHA, 2012). Isso porque os alunos, ao integrarem movimentos de luta pela terra, assumiam-se como sujeitos de direitos. Nesse trabalho constatou-se que as possibilidades de ruptura estavam vinculadas à desconstrução da dicotomia. Os docentes, que tinham possibilidades de vivenciar e refletir sobre a presença da dicotomia (depreciar/idealizar) em suas representações, demonstravam uma maior habilidade em elaborar representações sociais sobre os alunos em uma perspectiva mais crítica. Evidenciou-se que o perfil e atuação dos alunos e de seus familiares (integrantes de movimentos sociais e sindicais em luta pela terra) provocaram os professores no sentido de reverem suas formas de pensar, sentir e agir com relação aos pobres, bem como em relação ao fato daqueles alunos serem do meio rural e integrantes de organizações sociais.
O fato de ter utilizado a entrevista narrativa tornou possível compreender a trajetória das formas de pensar, sentir e agir dos professores com relação aos alunos, partindo do ponto inicial até o momento da entrevista. Dessa forma, foi possível analisar que alguns docentes alteravam suas representações e outros não. E o mais surpreendente é que mesmo aqueles que não alteravam faziam movimentos cognitivos, afetivos e atitudinais para justificar a permanência. Isso porque a presença do aluno continuava pressionando as representações já constituídas.
Nesse tempo já tínhamos avançado nas reflexões em torno de buscar na teoria um caminho para atender o processo de construção na perspectiva de um movimento, isto é, não necessariamente como mudança.
Diálogos teóricos com as Representações Sociais
Partindo das reflexões, até então acumuladas, consideramos a possibilidade de aprofundar teoricamente na Teoria das Representações Sociais (TRS), especialmente nos aspectos relacionados ao porquê de criarmos uma representação (Moscovici). Para ele, as representações sociais são criadas para tornar familiar o não familiar. Sobre o não familiar, Moscovici (2012, p. 61) diz que são coisas que não são classificadas e que não possuem nome, são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo ameaçadoras.
Seguindo Moscovici (2012, p. 55), vimos que, diante do estranho, há possibilidades e limites para a mudança no universo representacional do sujeito.
Que o caráter das representações sociais é revelado especialmente em tempos de crise e insurreição, quando um grupo, ou suas imagens, está passando por mudanças. As pessoas estão, então, mais dispostas a falar, as imagens e expressões são mais vivas, as memórias coletivas são excitadas e o comportamento se torna mais espontâneo. Os indivíduos são motivados por seu desejo de entender um mundo cada vez mais não familiar e perturbado. As representações sociais se mostram transparentes, pois as divisões e barreiras entre mundos privado e público se tornam confusas. Mas a crise pior acontece quando as tensões entre universos reificados e consensuais criam uma ruptura entre a linguagem dos conceitos e a das representações, entre o conhecimento científico e o popular. É como se a própria sociedade se rompesse e não houvesse uma maneira de preencher o vazio entre os dois universos. Essas tensões podem ser o resultado de novas descobertas, novas concepções, sua popularização na linguagem do dia a dia e na consciência coletiva. (MOSCOVICI, 2010, p. 91).
A motivação para a elaboração de representações sociais não é, pois, uma procura por um acordo entre nossas ideias e a realidade de uma ordem introduzida no caos do fenômeno, ou, para simplificar, um mundo complexo, mas a tentativa de construir uma ponte entre o estranho e o familiar; e isso à medida que o estranho pressuponha uma falta de comunicação dentro do grupo, em relação ao mundo, que produz um curto-circuito na corrente de intercâmbios e tira do lugar as referências da linguagem. (MOSCOVICI, 2010, p. 207).
Moscovici (2001, p. 59) diz que ao se estudar uma representação, nós devemos sempre tentar descobrir a característica não familiar que a motivou
. Nessa tarefa de tornar familiar o não familiar, de internalizar o estranho, identifica dois processos: ancoragem e objetivação. A ancoragem diz respeito ao enraizamento social da representação, à integração cognitiva e afetiva do novo objeto na matriz de sentidos preexistentes e às transformações que, em consequência, ocorrem em um e no outro. A objetivação diz respeito ao processo de dar concretude ao novo objeto (Moscovici, 2012, p. 289). Ao objetivar os sujeitos, elaboram imagens e sentidos. Nessa perspectiva, uma representação social pode ser compreendida como um conhecimento em movimento, dado que é produzida em um contexto também em movimento e que, por isso, pressiona exigindo mudanças.
Com essa referência iniciamos um programa de pesquisa vinculado à formação e prática docente na perspectiva de identificar Representações Sociais em Movimento. Com relação à formação inicial, o foco é o Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LeCampo), desenvolvido na Faculdade de Educação/Universidade Federal de Minas