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Responsabilidade social das empresas V.6: a contribuição das universidades
Responsabilidade social das empresas V.6: a contribuição das universidades
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Responsabilidade social das empresas V.6: a contribuição das universidades

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Este é o sexto volume da série Responsabilidade social nas empresas - A contribuição das universidades. Seu conteúdo traz a compilação dos trabalhos acadêmicos finalistas da sétima edição do Prêmio Ethos-Valor. Criado pelo Instituto Ethos em parceria com o jornal Valor Econômico, esse prêmio destina-se a estimular a reflexão sobre a responsabilidade social das empresas no espaço acadêmico, destacando trabalhos universitários que contribuam para o desenvolvimento e aperfeiçoamento de conceitos e práticas relacionados à sustentabilidade. Os textos formam um conjunto que dialoga entre si, abordando temas que vão desde a "governança global" proposta pela ONU para fazer frente aos desafios da globalização ao comportamento das transnacionais em relação à sustentabilidade, abordando também novos modelos de gestão e cases de empresas brasileiras. Com este título, o Prêmio Ethos-Valor reafirma e fortalece a importância da reflexão em torno dos conceitos e práticas relacionados à responsabilidade social em nosso país, dando visibilidade ao pensamento mais inquieto e estimulante produzido no meio acadêmico brasileiro.
LanguagePortuguês
Release dateJan 2, 2012
ISBN9788575962862
Responsabilidade social das empresas V.6: a contribuição das universidades

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    Responsabilidade social das empresas V.6 - Diversos

    RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

    A CONTRIBUIÇÃO DAS UNIVERSIDADES

    VOLUME 6

    RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

    A CONTRIBUIÇÃO DAS UNIVERSIDADES

    VOLUME 6

    Copyright © 2008 by Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social

    Editora Peirópolis

    Editora

    Renata Farhat Borges

    Gerente editorial

    Noelma Brocanelli

    Editoração eletrônica

    Alfredo Carracedo Castillo

    Capa

    Publiarq Design

    Revisão

    Viviane Akemi Uemura

    Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade

    Social e UniEthos – Educação para a Responsabilidade

    Social e o Desenvolvimento Sustentável

    Presidente: Ricardo Young

    Coordenador do Prêmio Ethos-Valor: Gustavo Baraldi

    Colaboração: Adriana Ramos, Benjamin S. Gonçalves, Cleo Giachetti, Cristina

    Spera, Elza Favorito, Emilio Martos, Luciana de Souza Aguiar, Thais Fantazia.

    Jornal Valor Econômico

    Diretor-presidente: Nicolino Spina

    Diretora de Redação: Vera Brandimarte

    Diretores executivos: José Roberto Campos e Pedro Cafardo

    Diretora de projetos editoriais: Rosvita Saueressig Laux

    ISBN: 978-85-7596-286-2

    Rua Girassol, 128 – Vila Madalena

    05433-000 – São Paulo – SP

    Tel.: (5511) 3816-0699

    e fax: (5511) 3816-6718

    vendas@editorapeiropolis.com.br

    www.editorapeiropolis.com.br

    Filiada à Libre – Liga

    Brasileira de Editoras

    COMISSÃO JULGADORA

    Adalberto Vieira Costa Filho

    Ademar Bueno

    Adolfo Ignacio Calderón

    Adriana Guazzelli Charoux

    Adriana Pastorino Cortegiano

    Ana Letícia Silva

    Ana Lúcia Custódio

    André Iranzo Chamusca

    Barnabé Medeiros

    Beat Grüninger

    Breno de Jesus Fernandes da Costa

    Bruna Armonas Colombo

    Bruno Asp

    Camila Bellenzani

    Camila Figueiredo

    Carla de Albuquerque Dias

    Carla Stoicov Oliveira

    Carmen Weingrill

    Célia Rosemblum

    Cláudio Andrade

    Cláudio Boechat

    Cláudio Scatena

    Dahiana Oliveira Ribeiro

    Daiani Cristina Mistieri

    Eliete Kunrath Dilly

    Elionor Farah Jorge

    Emílio Martos

    Etienne Almeida

    Fabiana Ikeda

    Fabiane Lopes Bessa

    Fabiano Milano Fritzen

    Fabíola Calazans Mota

    Felipe de Lima Fagundes

    Franciara Maria de Oliveira

    Gabriela Miranda

    Giuliana Ortega Bruno

    Gláucia Luiz

    Gláucia Terreo

    Graziela Camiña Lechi

    Gustavo Paulillo Ferroni

    Gustavo Baraldi

    Gustavo Ferroni

    Hania Ribeiro

    Homero Luis Santos

    Inês Berloffa

    Ismael Rocha

    Ivan Sidney Dallabrida

    Jacques Demajorovic

    Joana d'Arc Bicalho Félix

    João Gilberto dos Santos

    João Serfozo

    John Butcher

    Juliana de Queiroz Ribeiro Torres

    Karideny Nardi Modenesi Gomes

    Larissa Jorge

    Lilian Aligleri

    Luciana de Souza Aguiar

    Luciana Minaki Maturana

    Luciana Nicola

    Luciane Lucas dos Santos

    Luiz Carlos de Macedo

    Marcia Bellotti

    Márcio Fernando dos Reis

    Márcio Onodera

    Marcus Drummond Gonçalves

    Maria Cristina Bumachar Carvalho

    Maria Elizabeth Johann

    Mariana Starling Cordeiro

    Marina Costa Cruz Peixoto

    Marley Rosana Melo de Araújo

    Maurício Eugenio Zamboin

    Maurício França Fabião

    Maurício Mirra

    Melissa Santos Bahia

    Miguel Fontes

    Mônica Beatriz Galiano

    Nancy Franco Eugênio

    Natani Carolina Silveira

    Norman de Paula Arruda Filho

    Patricia Saito

    Paulo Roberto Rodrigues

    Paulo Rogério dos Santos Lima

    Pieter Sijbrandij

    Rachel Negrão Cavalcanti

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    Roberta Cardoso

    Roberto Galassi do Amaral

    Roberto Gonzalez

    Rosa Alegria

    Rubens Batista Santos

    Sérgio Mancini

    Sergio Mauro de Souza Santos Filho

    Sidarta Ruthes

    Simone Faustini

    Solange da Silva Rubio

    Roark Stuart Kelly

    Tábata Marchetti Villares

    Tereza Cristina de Almeida Rosa

    Tomas Carmona

    Verônica Mirilli Fernandes Pena

    Wagner de Siqueira Pinto

    PREFÁCIO

    O Prêmio Ethos-Valor foi criado em 2000 para divulgar entre o público universitário os conceitos relacionados à responsabilidade social empresarial. Seu objetivo é estimular estudantes a pensar e agir sobre o tema. E depois, enquanto profissionais, compartilhar esses conceitos nas empresas, em entidades educacionais, em núcleos de pesquisa, em organizações não-governamentais e nos próprios governos.

    Do início para cá, felizmente, muita coisa mudou e ultrapassou a premiação em si. O prêmio se desdobrou em outros processos e atividades para mobilizar este público: um núcleo de atendimento exclusivo para universitários, um espaço virtual de apoio à pesquisa sobre responsabilidade social empresarial, um grupo de multiplicadores formado pelos finalistas desde a primeira edição, muitos contatos com professores, parcerias e uma importante coleção de livros, da qual esta publicação é integrante. O Prêmio Ethos-Valor é hoje reconhecido entre seu público-alvo e fora dele.

    Tais resultados, por sua vez, mudaram o próprio prêmio, que a partir de 2007 passou a incluir o trabalho de professores, e, como prevíamos, está colaborando para a reflexão e divulgando a produção acadêmica destinada ao movimento de responsabilidade social empresarial nas instituições de ensino superior. Temos contribuído, entre muitos outros atores, para demonstrar a relevância de o meio acadêmico encampar os esforços pelo desenvolvimento sustentável, tanto no ensino e na pesquisa quanto na prática das escolas superiores.

    Na vida, o que aprendemos mesmo é a sempre fazer maiores perguntas, como disse Guimarães Rosa. E temos um longo caminho pela frente e, portanto, desafios cada vez mais complexos, especialmente se considerarmos especificidades do meio universitário: permanente aprendizagem e renovação.

    Convidamos o leitor a conhecer um pouco do prêmio a partir deste livro, que registra 6 trabalhos finalistas da 7ª edição do Prêmio, na categoria estudantes de graduação e pós-graduação. Aqui você irá encontrar textos que tratam desde a questão do engajamento de stakeholders até os desafios da governança global, uma amostra da variedade de estudos que estão sendo realizados no Brasil sobre o tema. Esperamos que estes sirvam de inspiração para mais pesquisas e práticas sobre a responsabilidade social empresarial e o desenvolvimento sustentável no Brasil, e que este empenho resulte na adoção, por todos, de uma perspectiva de sustentabilidade no ensino, no mercado e na vida.

    Boa leitura!

    Paulo Itacarambi

    Vice-presidente do Instituto Ethos

    Agosto de 2008

    OS CAMINHOS E DESAFIOS PARA A GOVERNANÇA GLOBAL E A RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL COMO FERRAMENTA À SUSTENTABILIDADE

    Natalia Karabolad

    INTRODUÇÃO

    O tema governança global vem ganhando importância na atualidade, pois apresenta-se intimamente ligado aos desdobramentos provenientes do processo acelerado de globalização, suas variáveis e conseqüências nos cenários tanto locais como internacionais.

    A globalização apresenta perspectivas distintas quanto ao seu contexto histórico, econômico, social e cultural, dando margem para a emergência de correntes de pensamentos, visões e análise plurais, e, muitas vezes, contraditórias, bem como abre margem para a ação de novos atores que influenciam e ganham responsabilidade no contexto global.

    O desenvolvimento acelerado de tal processo gera complexas dialéticas entre o que é de responsabilidade global e local, entre a sociedade e a própria natureza, em função das disparidades e dos impactos ambientais gerados por um crescimento desmedido, e que há até pouco tempo, não considerava os riscos e as conseqüências para a sustentabilidade da sociedade global.

    Nesse contexto, o setor privado, agente de significativa influência nos desdobramentos referentes ao cenário internacional, emerge como uma importante ferramenta para a resolução de problemas sociais e ambientais, em função de uma mudança na sua forma de gestão, que passa a considerar os riscos de suas ações de forma responsável.

    Assim, o trabalho a seguir propõe-se a analisar de forma mais profunda o processo de globalização por meio dos seus mais variados contextos, pontos de vista e correntes de pensamento, abrindo uma discussão sobre a emergência de movimentos de caráter global, influenciando a consciência dos cidadãos e os temas dentro da agenda internacional no caminho para a governança global.

    O desenvolvimento desses temas visa analisar o conceito de responsabilidade socioambiental, os projetos que emergem no cenário internacional como forma de incluir a responsabilidade do setor privado nos temas sobre o desenvolvimento sustentável, bem como descrever os cenários e movimentos da sociedade civil que levaram as empresas a mudar sua estratégia de ação, passando a considerar a sociedade e seus riscos ambientais e sociais como uma importante variável para sua gestão.

    Tal discussão visa abordar a análise de autores com visões abrangentes sobre esse processo e perspectivas críticas no sentido de entender, de maneira mais ampla e profunda, a pluralidade de processos e interesses que configuram o cenário internacional, bem como suas contradições e dialéticas.

    Desse modo, o primeiro capítulo desse trabalho tem como objetivo analisar o panorama das variáveis presentes no sistema internacional que apresentam influência direta no processo de governança global.

    Será analisado, no segundo capítulo, a proposta da Organizações das Nações Unidas (ONU) à criação de uma rede integrada de relacionamentos para o desenvolvimento sustentável, num cenário internacional que vem percebendo de maneira mais intensa a fragilidade da globalização e a necessidade da realização do ajuste da sociedade, bem como de seus sistemas políticos às novas realidades que se apresentam.

    Por meio da constatação da divergência de opiniões entre os integrantes do Pacto Global sobre a estrutura mais adequada para que o projeto gere resultados positivos para o cenário global, será inserida, no terceiro capítulo, a discussão sobre as visões distintas referentes ao conceito de responsabilidade socioambiental.

    A partir do maior entendimento sobre o conceito de responsabilidade corporativa serão ilustrados alguns cenários que levaram as empresas a mudar sua visão de gestão, adequando-se às pressões e às novas exigências sociais com estratégias mais responsáveis ambiental e socialmente.

    DA GLOBALIZAÇÃO À GOVERNANÇA

    O capítulo a seguir analisa o panorama das variáveis presentes no sistema internacional que apresentam influência direta no processo de governança global.

    A partir de um maior entendimento do processo de globalização, seu contexto, antagonismos e conseqüências, será possível identificar quais mudanças vêm ocorrendo como resposta às pressões provenientes de movimentos e correntes de pensamento, por meio de uma maior adequação na ação dos atores do sistema, à atual conjuntura internacional.

    Dessa forma, será tangível a obtenção de ações mais eficazes e produtivas para o desenvolvimento e fortalecimento da sociedade global.

    Contexto da globalização, suas implicações e variáveis

    As mudanças vêm ocorrendo rapidamente, em grande escala e com tamanha visibilidade global como nunca antes visto (Comissão sobre governança global, 1996, p. 5).

    O conceito de globalização indica um processo de reestruturação econômica em que as relações entre seus agentes adquirem alcance planetário, produzindo mudanças significativas no sistema produtivo, nas interações tanto comerciais como políticas, ultrapassando as fronteiras nacionais.

    Tal processo, entretanto, abrange transformações muito mais profundas e desafiadoras, gerando dilemas e abrindo novos horizontes no que tange a modos de vidas, correntes de pensamento e relações sociais. Apresenta-se, desse modo, um novo fenômeno social, denominado por Ianni (1999) como globalista.

    Para Ianni, o globalismo representaria o produto e a condição de múltiplos processos sociais, econômicos, políticos e culturais sintetizados no conceito da globalização, configurando, assim, um complexo jogo de forças atuando em diferentes níveis de realidade, sejam estes em âmbito local, nacional, regional ou mundial.

    Na base do conceito de globalismo encontra-se o capitalismo, sistema que se insere em um novo ciclo a partir da emergência das forças e movimentos de globalização, principalmente a partir do fim da Guerra Fria, em 1989.

    O encerramento do sistema bipolar apresentou-se em moldes distintos do que configurou o final da Segunda Guerra Mundial, pois o cenário praticamente não apresentava mais países, vivendo fechados em si mesmos, o que intensificou formas de relações cada vez mais complexas.

    A consolidação de movimentos em prol da democratização, bem como transformações econômicas, colocaram em pauta questões de objetivos comuns, por meio do multilateralismo, antes adormecidas em função da divisão ideológica entre comunismo e capitalismo, representada pela forças da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e dos EUA.

    Com o rompimento de tal equilíbrio sutil, antigos conflitos foram alimentados por um sentimento de anomia, como destaca Ianni (1999), ganhando, assim, maior intensidade e visibilidade na conjuntura internacional.

    Assim, entende-se esse novo período não somente como um processo de continuidade histórica, mas como margem ao surgimento de novos pólos de poder que apresentam um desenho geopolítico transformado, na medida em que nascem alianças, blocos econômicos e, em contrapartida, acompanham-se as rupturas e desagregações entre Estados-nações.

    Em A era do globalismo Ianni deixa explícitos os processos dialéticos contraditórios que a globalização produz, considerando imprescindível o olhar para as perspectivas de descontinuidade geradas pela história para que não se perca a perspectiva voltada ao futuro para aquilo que se mostra diferente, dinâmico, ou seja, tudo que remete ao sentimento da vivência de um novo período.

    O novo ciclo do capitalismo em um cenário globalizado apresenta como força propulsora o modelo neoliberal, baseado em um conjunto de princípios que preconizam uma intervenção indireta do Estado na economia, tendo papel ativo, porém restrito, nas políticas de equilíbrio, combatendo, por exemplo, os excessos da livre concorrência e o controle dos mercados através dos grandes monopólios econômicos.

    Milton Friedman¹ (1985), considerado um dos maiores defensores do neoliberalismo, explica tal modelo como o binômio entre o capitalismo e a liberdade.

    O objetivo das organizações sociais seria a liberdade do indivíduo, sendo que qualquer interferência no sistema de mercado estaria infringindo essas liberdades individuais.

    De acordo com o modelo neoliberal, os Estados também vêm perdendo seu caráter assistencialista, enquanto a sociedade civil passa a apresentar importante responsabilidade na busca de soluções de problemas sociais, dando margem à maior consciência de poder de transformação do espaço no qual interagem.

    Eduardo Viola (1996) explica que tal mudança ocorre em função do avanço de ideologias e de regimes democráticos e individualistas em detrimento de regimes autoritários e socializantes. A discussão sobre proteção aos direitos humanos, pluripartidarismo e competição eleitoral, por exemplo, passa a pertencer aos temas da vida política nacional e internacional; entretanto, ainda existe uma ampla distância entre o espaço de discussão que se forma e a realidade concreta de transformações.

    Ao Estado caberia apenas a função de garantir o equilíbrio social, porém, abandonando o modelo de welfare state (Estado do bem-estar social) e dando espaço ao chamado Estado gestor, atuando por meio da cooperação voluntária dos indivíduos em vez da coerção exercida pelo aparato do Estado.

    É nesse mesmo contexto que um novo ator ganha espaço de ação e influência no sistema, amparado pela revolução das capacidades individuais e mudando a concepção sobre a ordem social.

    Este ator é denominado Terceiro Setor, o exercício de uma nova forma de participação da sociedade bem como a promoção do desenvolvimento de várias áreas sociais, contribuindo para a renovação de metodologias e para a abertura de novos canais de participação.

    Segundo a visão de autores como Rubens César Fernandes (1996) e Ruth Cardoso (1996), esse novo cenário de ação configura um espaço de participação e experimentação de novos modos de pensar e agir sobre a realidade social, sendo um contraponto tanto às ações governamentais como às ações do mercado.

    Em relação às ações governamentais, os bens e serviços públicos resultam não apenas da atuação do Estado, mas também de uma formidável multiplicação de iniciativas particulares. Quanto às ações do mercado, este estaria emprestando uma nova visibilidade para o entendimento da cidadania, enfatizando que o mercado não mais satisfaz a totalidade das necessidades e dos interesses dos cidadãos.

    Sendo assim, o Terceiro Setor exerceria uma forma de pressão na própria cultura empresarial, no caminho de uma consciência de suas limitações, abrindo uma dimensão de atuação que, apesar de ainda configurar algo difuso,mostra-se decisiva no  novo contexto social que se vem delineando na atualidade.

    Apesar de este ator se apresentar como uma nova e importante ferramenta de transformação social, muitas vezes adotando para si e cobrando, nos âmbitos tanto domésticos como internacionais, a responsabilidade na resolução de problemas relativos à sociedade como um todo, seu conceito e abrangência ainda se mostram pouco consolidados.

    O fenômeno de ascensão do Terceiro Setor no sistema mundial apresenta-se muitas vezes como algo perigoso e que deve ser analisado cuidadosamente, visto que ainda não se estabeleceram fronteiras entre o poder de ação do Estado e o mercado. O Estado seria aquele responsável pela solução das questões ligadas à sociedade e questiona-se, assim, até que ponto seria interessante perder o controle das questões que envolvem os cidadãos e suas políticas sociais.

    Apesar da existência de uma vasta margem para questionamentos, é inegável a emergência, com maior representatividade, das organizações não associadas diretamente a governos, as Organizações Não-governamentais (ONGs), que apresentam propósitos específicos dentro do cenário internacional, exercendo influência em temas de preocupação comum, bem como atividades de manutenção das ações e condutas internacionais.

    Segundo o livro O poder da identidade, de autoria de Manuel Castells (1999), o controle do Estado sobre o tempo e o espaço vem sendo ultrapassado pelos fluxos globais de capital, produtos, serviços, tecnologia, comunicação e informação, e enfrenta o desafio de reconstruir a identidade nacional, convergindo às múltiplas identidades, representadas por sujeitos autônomos da sociedade global, podendo citar, como exemplo, as próprias ONGs.

    Assim, entende-se que o processo de globalização, no que tange ao modelo econômico, envolve um sistema capitalista neoliberal de caráter hegemônico. Entretanto, o fenômeno globalista gera o desenvolvimento de novas realidades sociais, de forma desigual e contraditória, porém global, compreendendo diversos segmentos ideológicos, sociais, econômicos, políticos e culturais, descrevendo e expressando-se em um palco de relações antagônicas e pluralistas.

    Tal cenário apresenta a emergência de atores transnacionais de caráter não-estatal, que vêm exercendo no sistema considerável relevância, tornando a rede global de relacionamentos mais complexa e segmentada por diversas correntes de pensamentos, idéias e interesses, interagindo entre si por meio de relações econômicas, comerciais, políticas e culturais.

    Num contexto de relações entre atores transnacionais que constituem uma gama diversificada de interesses e formas de influência, tornase indiscutível a necessidade da criação e o fortalecimento de um grupo de regras e instituições que transcendam soberanias, cidadanias nacionais e regionais, normatizando o espaço das relações internacionais e constituindo estruturas globais de poder.

    Assim, seguindo a perspectiva de autores como Thomas Risse-Kappen (1995), entende-se que a capacidade de os atores inseridos no sistema internacional se comunicarem e cooperarem entre si mostra-se intimamente ligada à construção de instituições de caráter supranacional e com habilidade para a criação de um conjunto de regras e regimes que viabilizem tais relações (Sarfati, 2005).

    As instituições que atuam além das fronteiras e soberanias configuram variáveis importantes como intermediárias nas relações entre os agentes internacionais, expondo a natureza de seus vínculos bem como o caráter de suas condutas e interesses individuais.

    Configurase, assim, um cenário influenciado diretamente por forças antagônicas, como pontua Ianni (1999).

    A compreensão do mundo contemporâneo torna-se algo cada vez mais complexo e dependente de diversas variáveis e forças, pois não é mais possível limitar-se a uma só forma de representação do mundo ou corrente de pensamento para reger as formas de relações no contexto internacional.

    Torna-se necessária a superação da noção de espaço e fronteiras provenientes do processo de globalização, questionando formas de análise do cenário das relações internacionais que se atenham somente à organização dos espaços geográficos.

    Emerge, assim, como exposto por Ianni (1999), a produção de um novo espaço, baseando-se nos valores, interesses, temas e interação entre os atores preponderantes no sistema, na medida em que debilitam-se as fronteiras reais e imaginárias que se haviam desenhado nas épocas do colonialismo e do imperialismo.

    Castells (1999) discute um cenário em que as relações entre os principais atores do cenário internacional contemporâneo se intensificam de forma dinâmica e em maiores proporções, à medida que os avanços tecnológicos nas formas de comunicação, produção e interação tornam bens de domínio comuns, influenciam diretamente a forma como as informações e os fatos são disseminados, propiciando a desterritorialização de pessoas, idéias e relações.

    Tais fatores configuramse de forma determinante no contexto em que se insere o fenômeno do globalismo e, simultaneamente a estes processo de interdependência e acomodação, desenvolvem-se as tensões e os antagonismos, implicando tribos e nações, coletividades e nacionalidades, grupos e classes sociais, trabalho e capital, etnias e religiões, sociedade e natureza, como salienta Ianni (1999).

    Entre os fatores que implicam diretamente no cenário de globalização e no novo ciclo do capitalismo, percebem-se não somente as novas formas de organização e interação entre os atores do sistema internacional, mas também as novas formas de produção, divisão do trabalho, distribuição, troca e consumo, que ganham caráter universal.

    O acelerado processo de globalização traz em seu bojo uma revolução tecnológica bem como no sistema de comunicação, possibilitando maior interação entre os mercados globais acompanhada pelas tendências de desregulamentação.

    A partir de tal perspectiva, encontramse dois novos cenários influindo diretamente nos agentes transformadores do espaço global.

    De um lado, a revolução tecnológica e das comunicações causa impacto nas relações econômicas, comerciais e financeiras, trazendo maior dinamismo e transpondo fronteiras de tempo e espaço, viabilizando relações em rede e com maior amplitude.

    Da mesma maneira, o advento da tecnologia e das comunicações também possibilitam o avanço de expressões sociais coletivas de maneira fortalecida e veloz, por intermédio dos meios de comunicação como a internet e por meio da própria mídia, que neste contexto adquire caráter onipresente (Castells, 1999).

    Assim, transcendem-se as correntes de pensamentos, idéias e posturas difundidas na sociedade de forma ampla e abrangente, constituindo, assim, uma forte alavanca no resgate da cidadania, movimentos e grupos sociais diversos e segmentados por meio da informação e da maior visibilidade dos acontecimentos.

    As disparidades tornam-se cada vez mais aparentes dentro das nações e regiões, de modo que as práticas antiéticas e injustas são mais facilmente reveladas, aumentando, assim, um sentimento de insegurança e até mesmo de certa inquietude constante.

    O mercado global e suas tendências de liberalização, descentralização e desterritorialização, regidos por um modelo neoliberal, levam seus agentes a repensar suas estratégias de atuação bem como o posicionamento frente ao mundo.

    Nesse contexto, encontram-se as empresas transnacionais, que passam a interagir nos mais variados mercados e nações de maneira autônoma, exercendo significativo impacto na ordem tanto econômica, como social do mundo e dando aos fluxos de capital conotação universal.

    A influência das empresas transnacionais no cenário global apresenta significativa importância nos desdobramentos tanto econômicos como sociais e políticos, de tal forma que podese identificar na atualidade empresas que apresentam lucratividade superior ao Produto Interno Bruto (PIB) de diversos países, citando como exemplo, a General Motors, com lucratividade de US$176.558.000,00,enquanto Portugalapresenta um PIB de US$107.716 (apud Grayson e Hodges, 2002, p. 29).

    Ianni (1999) discute este tema destacando que o movimento e a reprodução ampliada do capital em escala global torna-se uma determinação predominante no modo pelo qual se organizam a produção, a distribuição, a troca e o consumo.

    A diminuição de barreiras e o desaparecimento de fronteiras que diferenciam e segmentam políticas de atuação doméstica e internacional inseriram as empresas em um novo contexto de gestão, levando-as a um cenário de competitividade mais acirrado, na busca de novos e mais amplos mercados, bem como produtividade em escala global. Tal contexto apresenta variáveis e

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