Educação e migrações internas e internacionais: Um diálogo necessário
By Débora Mazza
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Educação e migrações internas e internacionais - Débora Mazza
Copyright © 2017 by Paco Editorial
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Revisão: Taine Fernanda Barrivieira
Assistência Editorial: Érica Cintra
Capa: Matheus de Alexandro
Assistência Digital: Wendel de Almeida
Edição em Versão Impressa: 2016
Edição em Versão Digital: 2017
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conselho Editorial
Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani (UNIMEP-Piracicaba-SP) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)
Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)
Prof. Dr. Fábio Régio Bento (UNIPAMPA/RS) (Lattes)
Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Magali Rosa Santa'Anna (UNINOVE/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Marco Morel (UERJ/RJ) (Lattes)
Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes)
Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Sérgio Nunes de Jesus(IFRO/RO) (Lattes)
Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)
Paco Editorial
Av. Carlos Salles Block, 658
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Anhangabaú - Jundiaí-SP - 13208-100
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Sumário
Folha de rosto
Créditos Academicos
Apresentação
Prefácio
Parte 1 Educação, memória e migração
Capítulo 1
Imigração Portugal-África-Brasil e os desafios educacionais para crianças e jovens (década de 1970)
Introdução
Crianças e jovens: sujeitos diferenciados nos processos imigratórios entre Portugal, África e Brasil
A educação no período colonial: deslocamentos entre Portugal – África – Portugal
A vinda para o Brasil: novos desafios
Uma observação final
Referências
Capítulo 2
Educação e identidade étnica: panorama histórico-sociológico das escolas rurais de origem germânica no estado de São Paulo
Introdução
Expansão das escolas étnicas rurais alemãs
As escolas rurais revisitadas
Alterações no percurso: a nacionalização do ensino
Referências
Capítulo 3
Piccolo Mondo, letture per Le scuole elementari
: mutualismo e educação em uma escola étnica italiana de São Paulo
Introdução
Parte prima: Merica, Merica, qui si diventa italiani...
Parte Seconda: Piccolo Mondo, letture per Le scuole elementari
Considerações finais
Referências
Capítulo 4
A migrante nordestina: a fazenda, a cidade e a vida escolar
Introdução
A escola na cidade e o migrante
Considerações finais
Referências
Capítulo 5
Nunca voltamos, sempre chegamos – reflexões sobre processos e situações de deslocamentos fora do país de origem
Deslocamentos iniciais
Reflexões sobre a circulação
Fora do país de origem
Reflexões sobre o retorno
Exílio, circulação e retorno
Conclusões – não há partidas, há chegadas
Referências
Parte 2 Criança, migração e escolarização
Capítulo 6
Nas diversidades étnicas, culturais e linguísticas, as crianças constroem suas culturas infantis
Introdução
Entre os estabelecidos
e os outsiders
: novas relações
As crianças em trânsito: a (des)territorialização de suas infâncias
A (in)visibilidade das crianças: o processo de apagamento de sua cultura
Considerações finais
Referências
Capítulo 7
A educação escolar de refugiados e solicitantes de refúgio: um olhar exploratório sobre a cidade de São Paulo
Introdução
População refugiada: conceito e perfil no Brasil
Sobre educação e refúgio: legislações, políticas e práticas
Educação e refúgio em São Paulo: reflexões para um debate em aberto
Nota final
Referências
Capítulo 8
De criança a migrante, de migrante a estrangeira(o): reflexões sobre a educação pública e as migrações internacionais
Os fenômenos sociais e as dinâmicas educacionais: uma relação necessária
Movimentos sociais e a temática da educação
O acesso a bens sociais e a criança migrante
A presença migrante na Rede Pública Municipal de Educação
Algumas considerações
Referências
Capítulo 9
Mobilidade humana e interculturalidade: uma reflexão centrada na experiência sócio-histórica cabo-verdiana
Mobilidade humana, fundamentos e desafios
Mobilidade humana, mestiçagem e crioulização na base da formação da sociedade cabo-verdiana
Considerações finais
Referências
Parte 3 Juventude, migração e ensino superior
Capítulo 10
As fronteiras relacionais entre os estudantes brasileiros e estrangeiros
As políticas públicas históricas e os estrangeiros no Brasil
As políticas públicas contemporâneas e os estudantes estrangeiros no Brasil
A construção da pesquisa
Os posicionamentos dos estudantes brasileiros sobre o relacionamento com os estudantes estrangeiros
As imagens construídas
Os ruídos da comunicação
A distinção entre nós
e eles
A responsabilidade é da instituição
Os posicionamentos dos estudantes estrangeiros sobre as relações com os estudantes brasileiros
A falácia das relações simétricas
As dificuldades com a língua portuguesa
O brasileiro não é muito bonzinho
Considerações finais: as muitas fronteiras
Referências
Capítulo 11
A circulação estudantil no Brasil: a mobilidade acadêmica e a consolidação do processo de globalização na economia e na educação
Introdução
Políticas públicas e a circulação estudantil
Considerações finais
Referências
Capítulo 12
Qualificação profissional por meio de experiência cultural internacional: estudantes de uma universidade canadense em uma universidade de Campinas-SP
Introdução
Mobilidade estudantil
Estudo de caso – análise dos dados
Considerações finais
Referências
Capítulo 13
Pedagogia da Migrância
: um estudo de caso na África do Sul
Introdução
Aporte teórico
Metodologia
Estudo de caso: Estrangeiro em todo lugar
– um estudante zimbabuano liderando mudanças na África do Sul
Encontrando temas-geradores
Transitividade
Catarse
Similitude
Discussão: por uma pedagogia da migrância
Conclusões parciais
Referências
Organizadoras
Débora Mazza
Katia Cristina Norões
Autoras(es)
Barend Rudolf Buys
Bruno Botelho Costa
Camila Brasil Campos
Claudia Panizzolo
Daiane de Lima Soares Silveira
Gertrudes Maria F. Silva de Oliveira
Giovanna Modé Magalhães
Maria Cristina dos Santos Bezerra
Nima Imaculada Spigolon
Olga Rodrigues de Moraes Von Simson
Rosali Rauta Siller
Sauloéber Társio de Souza
Tatiana Chang Waldman
Thaís Pinheiro Z. Anastácio
Zeila de Brito Fabri Demartini
Paco Editorial
Apresentação
A partir da década de 1970, as viagens internacionais, antes reservadas a uma elite econômica e/ou relacional, estenderam-se para universitários com projetos de formação profissional, avaliados por comitês científicos de áreas do conhecimento¹, tema que se tornou foco da pesquisa Intercâmbios científicos internacionais nas Ciências Sociais do Estado de São Paulo (1970-2000)
, tendo em vista a formação de quadros qualificados, o fomento à pesquisa e os investimentos em Ciência e Tecnologia no horizonte da circulação internacional.
Segundo o levantamento sobre as bolsas no exterior, no período de 1970 a 2000, realizado na Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), localizamos cerca de 16 mil brasileiros, das áreas das ciências humanas, exatas e biológicas que realizaram parte de sua formação em outros países. A pesquisa, realizada entre 2001 e 2005, deu destaque à contribuição das agências de fomento no processo de profissionalização dos cientistas sociais, na formação do pesquisador e na consolidação de redes internacionais de trocas acadêmicas.
Posteriormente, tendo em vista aprofundar os efeitos da circulação internacional nas trajetórias pessoais, escolares, profissionais e nas dinâmicas institucionais a partir de uma pesquisa orientada pela perspectiva qualitativa, realizamos um estudo de caso
com cientistas sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que vivenciaram este tipo de formação. A pesquisa, realizada entre 2005 e 2009, apontou que a política pública do governo brasileiro de inserção dos profissionais de ciência e tecnologia em um nível de formação equivalente à dos principais países do mundo alterou o padrão de qualificação profissional do campo acadêmico. A possibilidade de circular internacionalmente, contando com o aporte financeiro de recursos públicos por meio de bolsas, transformou-se em um modelo a ser seguido, tendo em vista a exigência de credenciais internacionais para ingresso, concorrência e permanência nas principais universidades do país que ofertam condições de trabalho menos precárias.²
Posteriormente, iniciamos uma pesquisa intitulada A circulação de pessoas, saberes e práticas: os estudantes estrangeiros na Unicamp
(2009-2012) junto aos estudantes estrangeiros que vieram para o Brasil realizar parte de sua formação pessoal, escolar e profissional. Nosso objetivo consistia em observar os fluxos internacionais no sentido inverso, ou seja, coletar dados qualitativos e quantitativos de recepção e não mais de envio de pessoas. Circunscrevemos a pesquisa na Unicamp considerando a visibilidade nacional e internacional desta instituição, o volume de estudantes estrangeiros por ela acolhidos e a exequibilidade da pesquisa.³
Nestas empreitadas de interseção entre diferentes áreas das humanidades, encontramos interlocutores experientes que adensaram a nossa formação no tema, como Rosana Baeninger⁴, Jose Marcos P. da Cunha⁵, Centro Scalibriniano de Estudos Migratórios (CSEM)⁶ bem como o legado dos estudos demográficos realizados pelo Núcleo de Estudos de Estudos de População Elza Berquó
(Nepo-Unicamp). E no final da primeira década de 2000, avaliávamos que dispúnhamos de referências sobre as migrações contemporâneas nacionais (Patarra et al., 1997⁷; Salles, 1995⁸; Singer, 1973⁹) e internacionais (Arab; Baby-Colli; Bertoncello, 2009¹⁰; Castro, 2001¹¹; Massey; Espana, 1987¹²; Massey, 1998¹³); sobre os impactos demográficos, políticos, econômicos, jurídicos e diplomáticos destas mobilidades humanas (Feldman-Bianco, 2011¹⁴; Prado; Coelho, 2015¹⁵; Portes, 1999¹⁶; Said, 2003¹⁷; Sassen, 1993¹⁸; Sayad, 1998¹⁹; Wenden, 2001²⁰). Já contávamos com coletâneas traduzidas que reuniam as referências metodológicas clássicas de Courgeau, Hamilton, Lee, Loomis, Ravenstein, Sjaastad²¹, e reflexões hodiernas de Demartini e Truzzi (2005)²²; Feldman-Bianco (2010)²³; Taurus (2010)²⁴, entretanto, poucos trabalhos partiam da interface a qual estes fluxos populacionais provocavam nas sociabilidades e instituições escolares.
Nesse ínterim, pesquisas em nível de graduação (Silva Lopes, 2010²⁵), mestrado (Anastácio, 2015²⁶) e doutorado (Siller, 2011²⁷; Monteiro, 2012²⁸; Spigolon, 2014²⁹; Norões, 2015³⁰) foram acolhidas pela Faculdade de Educação (FE) da Unicamp, nos quadros do Grupo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Educação (GPPE). Tais produções versaram sobre migração e circulação internacional e suas relações com o campo educacional, estreitando as relações entre diferentes áreas de pesquisa nas Ciências Humanas, o que oferecia novos desafios ao pensamento educacional. Entendemos que essa tradição é tributária de pesquisas pioneiras realizadas por pesquisadoras das Ciências Sociais e Antropologia, e que muito contribuíram para o pensamento social na Faculdade de Educação e no Departamento de Ciências Sociais e Educação, como Zeila de Brito Fabri Demartini (1980)³¹, Neusa Maria Mendes de Gusmão (1990)³² e Olga Rodrigues de Morães von Simson (1988)³³.
As pesquisas na área da Educação priorizam incontestavelmente a forma escolar
engendrada concomitantemente com a consolidação dos Estados nacionais desde o fim do século XVI. A forma escolar
se caracteriza pela: 1- afirmação da escola como lugar separado da vida familiar e coletiva; 2- pedagogização das relações sociais de aprendizagem concernentes tanto ao que é ensinado, quanto à maneira de ensinar, quanto às práticas de todos os envolvidos; 3- sistematização do ensino objetivando a produção de efeitos duráveis de socialização valorizados pela escola e pelos espaços periescolares; 4- instauração de formas de relações sociais baseadas em um trabalho de objetivação e codificação por meio do qual as regras impessoais são impostas a todos; 5- domínio da língua escrita, codificada, fixa e normatizada como meio de acesso a qualquer outro tipo de saber. A escola fixou o trabalho escritural como forma dominante das práticas de linguagem operadas entre as gerações. A forma escolar
se apresenta como conquista do mundo urbano e imprime um estilo de vida regulado por uma disciplina fixa e impessoal que, com rigor e detalhe, transborda para o conjunto das atividades cotidianas apagando as muitas diferenças e desigualdades que marcam o cotidiano dos coletivos nacionais e não nacionais (Vincent; Lahire; Thin, 2001)³⁴.
Soma-se o fato de que a categoria superexposta de estudos sobre a escola é o fracasso escolar que quando trabalhado pela psicopedagogia se alinha a uma perspectiva patologizante que se atenta para as dificuldades de adaptação de alguns alunos às praticas escolares; e quando trabalhado pela socioantropologia, destaca a distância social e cultural entre a escola e alguns grupos sociais. Assim, as várias abordagens perduram invisibilizando a relação entre educação e migração (Van Zanten, 2011)³⁵.
Por outro lado, os estudos migratórios, por sua vez, priorizam o diagnóstico dos fluxos e os motivos da migração e focam na busca por melhores condições de vida e de trabalho, na elasticidade trabalho-emprego e na população economicamente ativa, ou seja, homens e mulheres adultos trabalhadores.
As dinâmicas instauradas pelas sociabilidades e escolaridade de crianças, jovens e adultos nos contextos de origem, trânsito e recepção permanecem pouco trabalhadas nos estudos sobre idas e vindas de pessoas, famílias e grupos que atravessam as fronteiras visíveis e invisíveis construídas pela arquitetura arbitrária dos Estados nacionais e dos espaços comuns negociados por acordos diplomáticos regionais e/ou internacionais, quase sempre orientados por interesses comerciais.
Ainda assim, os movimentos sociais despontam por meio de manifestações sub-reptícias e emergem nos mares, nas ruas, nas praças, nos túneis, por entre os muros, nas escolas, revelando novas dinâmicas que impulsionam novas compreensões para os fluxos de mobilidade humana e, assim, os processos sociais nas instituições educativas.
Com efeito, em junho de 2014, na condição de então coordenadora do GPPE, vinculado ao programa de pós-graduação em Educação da Unicamp, iniciamos uma chamada de artigos a fim de organizar um dossiê temático sob título Educação e migrações internas e internacionais: um diálogo necessário
. Com a proposta de reunir pesquisadores que partiam dessa intersecção entre as áreas, Katia Norões e eu encaminhamos uma carta convite para submissão de artigos para dossiê temático. Levantamos não mais que uma dezena de pesquisadores que vinham intentando construir a interface entre os processos migratórios e a problemática educacional.
De acordo com as temáticas dos artigos, organizamos o dossiê em três eixos de análise:
Educação, memória e migrações – reúne textos em âmbito da História, da Sociologia e da Antropologia sobre coletivos de migrantes internos e internacionais e sua memória, presença e/ou ausência nos processos educativos, no contexto escolar e no pensamento educacional. Contamos com produções da Profa. Dra. Zeila Demartini; Profa. Dra. Olga von Simson e Profa Dra. Maria Cristina Bezzera; Profa Dra. Claudia Panizzolo; Prof. Dr. Sauloéber de Souza e Ms. Daiane de Lima Silveira; Profa. Dra. Nima Spigolon.
Criança, Migração e Escolarização – se detém nas crianças e nos jovens em contexto escolar, sua presença invisibilizada mas pungente, que se coloca por meio dos desafios da língua, religião, do status jurídico, dos acordos internacionais, entre outras características que definem o nacional e não nacional. Com a presença e participação de autores nacionais e internacionais, desafios postos pelos coletivos de migrantes à educação formal foram discutidos nas produções da Profa. Dra. Rosali Siller; Ms. Katia Norões e Profa. Dra. Gertrudes de Oliveira, sendo o processo de escolarização de crianças em condição de refúgio aprofundado nas produções de Ms. Giovana Modé Magalhães e Ms. Tatiana Waldiman.
Juventude, migração e ensino superior – reflete sobre os processos de circulação, globalização e internacionalização no âmbito do ensino superior e da formação profissional e os impactos que a presença de estrangeiros(as) acarreta na estrutura e no funcionamento intra e interinstitucionais Os não nacionais apresentam novas e velhas questões, revolvem teorias, ações políticas e dinamizam as estruturas educacionais. Com uma parte das pesquisas desenvolvidas desde 2001, orientações e rede de pesquisadores oriundas desse percurso, esse eixo conta com a última pesquisa por mim coordenada sobre educação e migrações internacionais, também parte da dissertação da Ms. Ana Paula Silveira, pesquisas conjuntas de Ms. Thaís Anastácio e Ms. Camila Brasil e as pesquisas de perspectiva filosófica sobre o ensino superior abordadas por Ms. Bruno Botelho Costa e Dr. Rudolf Buys.
As contribuições dos(as) autores(as) para este livro revelam para além de suas pesquisas, ora individuais, ora coletivas. Revelam origens, relações culturais, parentais, memórias, circulação e fronteiras cruzadas que muitas vezes são secundarizadas pelas estruturas rígidas do processo de escolarização; por outro lado, vivido em outros espaços formativos, em outros espaços de vida e que desperta nosso interesse de pesquisa e o que tornou a pesquisa em educação mais diversa, plural e rica.
Débora Mazza e Katia Norões Fevereiro de 2016.
Notas
1. Mazza. Intercâmbios acadêmicos internacionais: bolsas Capes, CNPq e Fapesp. Cadernos de Pesquisa, v. 39, n. 137, p. 521-547.
2. Mazza. A circulação internacional de pessoas saberes e práticas. REMHU, n. 31, p. 295-305. Mazza, A internacionalização dos processos formativos no campo das Ciências Humanas. Do direito à exigência
, In: Mazza; Simson, Mobilidade humana e diversidade sociocultural, p. 97-126.
3. Mazza. Mobilidade humana e educação: os estudantes estrangeiros na Unicamp. Cadernos Ceru, v. 22, n. 1, p. 239-256.
4. Mazza, Os estudantes bolivianos na Unicamp: migração, formação qualificada e trabalho
, In: Baeninger, Imigração boliviana no Brasil, p. 211-230.
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35. Van Zanten, Agnes (coord.). Dicionário de educação. Petrópolis: Vozes, 2011. p. 465-471.
Prefácio
Os processos migratórios históricos e contemporâneos, referentes tantos aos deslocamentos internos quanto internacionais de população, sempre trazem o desafio de se conhecer e analisar os sujeitos envolvidos na construção social das migrações. É nesse sentido que a ousadia intelectual das organizadoras deste livro – Profa. Dra. Débora Mazza e Ms. Katia Norões – permitiu compor os capítulos da obra, nos convidando a enxergar a complexidade do fenômeno migratório em uma perspectiva interdisciplinar, focalizada no tema da educação.
Crianças e jovens geralmente são invisibilizados na migração pela figura do chefe de família migrante
, do trabalhador migrante
, da mão de obra necessária
.
O livro Educação e migrações internas e internacionais: um diálogo necessário transforma acompanhantes
da migração – crianças e jovens – em sujeitos portadores de direitos e, consequentemente, dá lugar à visibilidade das migrações e seus enfrentamentos nas sociedades receptoras.
Descendentes
nas migrações internacionais do final do século XIX, segunda geração
no século XX, filho de migrante
no século XXI são denominações que carregam o estigma, a discriminação e o preconceito frente a imigrantes nas escolas, em uma sociedade marcada entre o nós
e os outros
.
Assim, este livro oferece ao leitor reflexões e análises referentes à imigração internacional e educação desde o final do século XIX, passando pelas migrações internas no século XX, até os movimentos migratórios recentes no país e o debate da inserção educacional e sociocultural. A temporalidade e periodização das migrações, apresentadas nos capítulos, apontam a continuidade histórica da questão da assimilação, das assimetrias e da opressão social em infâncias migrantes. Porém, nos estudos deste livro, é possível identificar a escola como o lugar onde crianças e jovens migrantes são sujeitos de mudança possibilita pelo espaço de vivência, de experiência e de interculturalidades, demandando alterações e transformando as normas vigentes.
Este livro é leitura obrigatória para os estudiosos da migração e da educação. De um lado, para enfrentarmosos desafios teórico-metodológicos da relação entre migração e educação; de outro lado, pela necessidade de avanços nas políticas educacionais e sua interação com a diversidade de situações migratórias e os grupos sociais envolvidos.
Nesse sentido é que os capítulos deste livro aprofundam a relação entre educação e modalidades migratórias – tais como: longa distância internacional e interna, do campo para a cidade, de refugiados, de circulação internacional de estudantes, de retorno, de exílio – contribuindo para um olhar do fenômeno migratório como um fato social total.
Rosana Baeninger Professora livre-docente
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Universidade Estadual de Campinas
Parte 1
Educação, memória e migração
Capítulo 1
Imigração Portugal-África-Brasil e os desafios educacionais para crianças e jovens (década de 1970)
Profa. Dra. Zeila de Brito Fabri Demartini
Introdução
Antropólogos, sociólogos e educadores têm há vários anos chamado atenção para a necessidade de conceber crianças como atores sociais e assim levá-los em conta em suas pesquisas. Foram criados vários grupos de estudo sobre a infância, pesquisas com diferentes enfoques e temas foram realizadas em processo que tende a se ampliar (Faria, 2012; Gusmão, 2003; Filho; Prado, 2011).
Tornamo-nos parte desse processo há muitos anos, quando procuramos analisar o atendimento escolar em São Paulo a crianças e jovens vivendo em sítios e fazendas, pertencentes a grupos econômicos socioétnicos diferenciados (Demartini, 1979). Focalizamos a partir daí infâncias diferenciadas de filhos de imigrantes japoneses, alemães e portugueses nas primeiras décadas do século XX, analisando principalmente suas vivências no campo educacional e no trabalho (Demartini, 2006).
Nos últimos dez anos, voltamo-nos para o estudo de famílias que viveram experiências em três continentes, isto é, o europeu, o africano e o sul-americano; focalizamos sujeitos portugueses, luso-africanos e africanos cujas famílias deslocaram-se entre Portugal, países africanos e Brasil. Nesses estudos, como também já registramos, as orientações da Sociologia, da Antropologia e da História nos levavam a tentar compreender as trajetórias dos diferentes grupos sempre em suas relações com o contexto mais amplo (Balandier, 2014). Abordando a sociedade paulista e o contexto metropolitano de São Paulo, tornava-se necessário considerar a complexidade que permeava as vivências dos grupos pesquisados, nesse contexto sujeitos às mudanças profundas em curtos períodos, com incorporação incessante de imigrantes vindos de diferentes regiões do mundo, assim como de migrantes do próprio país, configurando-se, como já afirmamos, em uma sociedade em contínuo dever
, como diria Sayad, em contínua reconstituição (Sayad, 2000).
Nossas posições teórico-metodológicas nesses estudos se assemelham ao que foi muito bem observado por Gilberto Velho sobre as sociedades complexas moderno/contemporâneas e o que sua compreensão demanda dos pesquisadores, principalmente quando nosso foco são os indivíduos que se deslocam. Um trecho de artigo de 1994 parece sintetizar tais alertas:
As sociedades complexas moderno-contemporâneas são constituídas e caracterizam-se por um intenso processo de interação entre grupos e segmentos diferenciados. A própria natureza da complexidade moderna está indissoluvelmente associada ao mercado internacional cada vez mais onipresente, a uma permanente troca cultural através de migrações, viagens, encontros internacionais de todo tipo, além do fenômeno da cultura e comunicação de massas. As fronteiras entre os Estados-nações são cruzadas de todos os modos por relações econômicas, de poder e culturais em quaisquer níveis. Não se trata de dizer que os Estados-nações são anacrônicos e que sua existência seja contraditória com a globalização do mundo moderno. São níveis de realidade e fenômenos relacionados