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Feminismo & príncipes encantados: A representação feminina nos filmes de princesa da Disney
Feminismo & príncipes encantados: A representação feminina nos filmes de princesa da Disney
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Feminismo & príncipes encantados: A representação feminina nos filmes de princesa da Disney

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About this ebook

Desde o lançamento de A Branca de Neve e os sete anões em 1937, as princesas da Disney fazem parte do imaginário popular. Porém, é fácil esquecer que os filmes de animação refletem o contexto histórico de quando foram criados. 
De personagens passivas, como Aurora à espera de que um príncipe a despertasse, as princesas se transformaram junto da sociedade, se rebelando contra o status quo e se tornando muito mais do que belas e passivas. Dentro deste contexto, as princesas permitem observar a evolução do papel da mulher na sociedade ao longo de todo o século XX e começo do século XXI. 
Em Feminismo e Príncipes Encantados, somos convidados a refletir sobre a atemporalidade dos filmes de animação e o que os torna fascinantes até hoje, além de explorar a questão: o que significa "ser uma princesa"? 
LanguagePortuguês
Publishere-galáxia
Release dateNov 25, 2015
ISBN9788584740833
Feminismo & príncipes encantados: A representação feminina nos filmes de princesa da Disney

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    Ajudou-me muito para a minha dissertação em comunicação sobre o movimento feminista

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Feminismo & príncipes encantados - Fernanda Breder

Sumário

Prefácio

Introdução

Imaginação e discursos

Era uma vez

Princesas na história

Manual de princesa

E viveram felizes para sempre

Conclusão

Bibliografia

Filmografia

Sobre a autora

Elas [as princesas] também tinham lindos cabelos dourados, e Tiffany não. Seu cabelo era marrom, simplesmente marrom. Sua mãe dizia que era castanho ou, às vezes, castanho acobreado, mas Tiffany sabia que era marrom, marrom, marrom igual aos seus olhos. Marrom como a terra. E o livro trazia alguma aventura pra quem tinha olhos marrons e cabelo marrom? Não, não, não... só os loiros de olhos azuis e ruivos de olhos verdes ficavam com as histórias. Quem tivesse cabelo marrom provavelmente era um criado, lenhador ou algo assim. (...) Não poderia ser o príncipe e nunca seria a princesa. Ela não queria ser o lenhador, então seria a bruxa e saberia das coisas.

Terry Pratchett

PREFÁCIO

Cristiane Costa

Em 1971, o chileno Ariel Dorfman e o belga Armand Mattelart lançaram a primeira pedra contra o império concebido por Walt Disney ao publicar o clássico Para ler o Pato Donald. O livro fazia uma releitura das inocentes histórias em quadrinhos a partir da visão marxista predominante nos meios acadêmicos da época. Foi uma revolução. Pela primeira vez cultura pop se misturava com conceitos sérios, como acumulação de capital, dominação e subdesenvolvimento.

Quatro décadas depois, no bojo de um verdadeiro renascimento do movimento feminista a partir das mídias sociais, um grupo de meninas resolveu reler as histórias das princesas da Disney a partir das questões teóricas levantadas pelo conceito de gênero. Ninguém nasce princesa, torna-se, diriam, parafraseando Simone de Beauvoir.

Com seu estudo Feminismo e príncipes encantados: a representação feminina nos filmes de princesa da Disney, desenvolvido em 2013, Fernanda Cabanez Breder foi a pioneira desta linha de estudos dentro da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Seu trabalho repercutiu e inspirou outras pesquisas sobre as princesas, abordando novos aspectos, como o novo papel reservado às vilãs e a representação da mulher oriental nestes desenhos.

Por que tanto interesse? Certamente porque esta geração, nascida nos anos 90, percebe que seu imaginário sobre o que é ser mulher foi profundamente moldado pelos contos de fadas revisitados pela Disney. E também nota claramente as mudanças neste discurso ao longo do tempo.

Dividido em princesas clássicas, princesas rebeldes e princesas contemporâneas, o trabalho de Fernanda desconstrói a ideia de que este imaginário construído pela Disney seja monolítico. Pelo contrário, mostra que, até por necessidade de alcançar uma audiência cujos valores estão em constante mutação, pode ser contextualizado e historicizado. A dona-de-casa exemplar Branca de Neve cede lugar à guerreira Valente, que se recusa a casar.

No centro da análise, estão as relações das princesas com temas que dizem respeito às mulheres de hoje: trabalho, família, amizade, amor e beleza. Mais do que um levantamento sobre as releituras dos contos de fadas pelos meios de comunicação de massa, este livro é um ponto inaugural de uma reflexão sobre como o imaginário das mulheres ainda é moldado por um ideal de amor romântico criado na Idade Média.

Cristiane Costa é Doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ, coordenadora do curso de Jornalismo da ECO-UFRJ e autora dos livros Pena de aluguel: escritores jornalistas no Brasil 1904-2004, Eu compro essa mulher: romance e consumo nas telenovelas brasileiras e mexicanas e Sujeito Oculto.

INTRODUÇÃO

É difícil encontrar uma menina que nunca tenha brincado de princesa. Com seus longos vestidos, belos castelos e tiaras, elas fazem parte do imaginário infantil. Em um mundo onde as mulheres são constantemente expostas a imagens de um ideal de beleza a seguir, as princesas são o primeiro exemplo que meninas querem imitar – e logo de cara é um ideal impossível, com suas cinturas extremamente finas e cabelos sempre impecáveis. As princesas, especialmente dos filmes da Disney, foram analisadas e condenadas por diversos autores como péssimos exemplos, personagens que convencem meninas a acreditar que precisam ser lindas para que histórias aconteçam a elas, para que seu príncipe encantado chegue para resgatá-las.

Porém, vários filmes com atores, ou live action, transmitem as mesmas ideias e não são tão criticados por isso. Acontece que em filmes assim é fácil perceber quando se trata de produções antigas. Eles são denunciados por sua baixa qualidade de imagem, seus efeitos precários, ou até mesmo pela falta de cor e de som. Porém, a técnica de animação tradicional mudou muito pouco desde o primeiro longa de animação da história, Branca de Neve e os sete anões, de 1937, até o recente A princesa e o sapo, de 2009. Os desenhos são imagens que não envelhecem. Bambi, de 1942, é até hoje admirado por seus cenários, que parecem verdadeiras pinturas. A única revolução nos filmes de animação foi a introdução da computação gráfica, ou CGI, que gerou seu primeiro longa, Toy Story, em 1995. Portanto, é fácil tirar uma produção animada de seu contexto histórico. Cinderela não pode ser culpada por apenas esperar que seu príncipe a resgatasse – ela é uma mulher da década de 50, e reflete essa época, anterior até à chamada segunda onda do feminismo. Como Foucault enfatiza, cada período histórico possuiu um discurso diferente. Por isso, as princesas do estúdio permitem observar a evolução do papel da mulher na sociedade ao longo de todo o século XX, que Heloísa Buarque de Hollanda chama de o século das mulheres¹.

No entanto, a atemporalidade dos filmes de animação também faz com que eles sejam assistidos e apreciados até hoje, especialmente por crianças, seu principal público alvo. Eles trazem imagens, que escondem discursos complexos, para quem ainda não formou completamente sua mentalidade. Quão prejudiciais seriam os filmes nesse contexto? Quão profunda é sua influência? Talvez mais perigosos do que os mitos (usando aqui a definição de Barthes, que será explicada no primeiro capítulo) propagados por eles, seja o incentivo ao consumismo atrelado às produções. Todo lançamento de um filme infantil, atualmente, vem acompanhado de uma extensa linha de produtos, entre brinquedos, roupas, objetos de decoração, etc. Se tornar uma princesa está cada vez mais ligado a comprar as coisas certas (e ter a aparência certa) do quer ter imaginação suficiente para isso.

Em 2000, a Disney lançou a franquia Princesas Disney. Para a divisão que cuida da produção dos filmes, juntar personagens de histórias diferente e lançar produtos não ligados ao lançamento de um filme parecia um absurdo. Mas para a divisão de merchandising, foi uma decisão muito lucrativa. A venda de produtos da franquia gerou um total de quatro bilhões de dólares em 2009 e se tornou a maior marca do planeta voltada para meninas de 2 a 6 anos, em números apurados pela jornalista Peggy Orenstein em seu livro Cinderella ate my daughter. Henry Giroux também critica a mercantilização do imaginário das crianças em diversos de seus textos, como A Disneyzação da cultura infantil. Atualmente, 11 princesas fazem parte desta franquia, que será o objeto deste estudo: Branca de Neve, Cinderela, Aurora (de A bela adormecida), Ariel (A pequena sereia), Bela, Jasmine (Aladdin), Pocahontas, Mulan, Tiana (A princesa e o sapo), Rapunzel (Enrolados) e, por último, Merida (de Valente, produção da Pixar, empresa de animação comprada pela Disney em 2006). Também serão estudadas as personagens Anna e Elsa, do filme Frozen, lançado no final de 2013, que arrecadou mais de um bilhão de dólares nas bilheterias mundiais e ainda não foi acrescentado à franquia porque continua vendendo muito bem sozinho.

O impacto da Disney e do imperialismo americano na cultura mundial foi inicialmente explorado pelo belga Armand Mattelart e o chileno Ariel Dorfman em Para ler o Pato Donald, de 1973. Com foco nas histórias em quadrinhos, a dupla examinava como os personagens reproduziam a lógica capitalista, além de caracterizar povos estrangeiros como atrasados, tribalizados e ingênuos. No entanto, esta pesquisa vai trabalhar com a questão do estudo de gênero, focando nas personagens femininas de maior destaque do estúdio – as princesas – e demais integrantes de suas histórias, como as bruxas e os príncipes encantados.

O principal objetivo é investigar por que as personagens continuam fazendo tanto sucesso e que significados as imagens presentes nos filmes trazem. Portanto, o primeiro passo é tentar entender

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