Não há títulos: obras de uma vida não vivida
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Propondo isso, tentem não chorar, que os poemas serão de triste e tristeza ou qualquer coisa que se confunda com amar.
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Não há títulos - Murilo Montino
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Prefácio
Deve-se ser salientado que agora na maioria dos escritos, você poderá nomeá-los como assim o quiser, façam bom uso e que todos os poemas são rídiculos, tal qual, as cartas de amor, mas espero que apreciem a leitura.
Poema 01
A minha mais nobre vaidade
haveria então no entardecer
uma longínqua tristeza
a quem de certa forma
acalenta e cura a ferida
mesmo que aos poucos mate
Sem a súplica do alvorecer
conseguindo então no amor
um motivo a mais
para viver
A quem se nega a aceitar
e as culpas trucidantes
por vezes visto sem-ver
uma armadura de amarguras
que só quem morreu de amor
haverá de viver
Por vezes mágoas de quem nunca amou
numa febre breve de quem não diz sentir
um coração nobre pairou
haveria quem amasse o ressentir
de ressentimentos se fizesse
e criasse então rancores leves
que pesassem como espinhos cravados na epiderme
E quem sentisse seu cheiro de novo
acreditasse mesmo breve
na loucura de quem já amou
e numa canção célebre
as virtudes de um bom amor
Poema 02
Se você soubesse o amor
que sinto, viveria a esperar
por mim em cada esquina,
pois entre tantos versos
os mais belos são pra ti
Poema 03
Indagá-los a ter
instruí-los a roubar
roubar vosso tempo
para que tiranos vivam
competir entre si
mutilar
guerrear
destruir
e no fim do dia
bater cartão
agredir
não ter fôlego
não ter vida
escravos dos outros
não de si
Poema 04
Volta pra casa
pra aquele cheiro
de melancolia
Àquele retrato
com cara amassada
Àquele dia
volta pro mundo
sai daí e vem viver a vida
sem tanta nostalgia
recomece mesmo que no outro dia
Volta pra casa
agora gritando alegria
sambando na calçada
as vidas que viveria
Volta aqui
me dá um abraço
finja que não tem cansaço
e me beija
até o raiar do dia
Poema 05
Hoje tentei andar distraído
tropecei tantas vezes
cambaleei na avenida
atravessei a rua sem olhar para os lados
mas os lados me viram
Hoje vivi um dia apreensivo
sem saber porquê vivia
tropecei em mim
nos pensamentos surdinos
hoje avistei do outro lado da rua
um conhecido
vi que a vida ainda existia
mesmo que tênue em mim
mesmo que não existindo
Pulei os limites do meio-fio
vangloriava cada passo a valsa
e urrava para os céus
- o fundo do precipício
hoje me assustei com o espelho
refletia um rosto que não era meu
sorria mesmo que triste
e corria mesmo que cansado
Hoje acordei meio que destemido
Levantei-me da cama
sem-querer levantar.
Hoje abri os olhos por abrir.
Ontem dormi
e não quis acordar.
Poema 06
Há ternura
no canto atenuado
dos motores
Há paz
nas ríspidas
palavras proferidas
Há beleza
nas insanidades
e tolices
Há certezas
em discursos ditos
e para os
chamados de loucos
Há amor
desprenderam-se dos outros
que não amavam
e viram saída
fora dos motores
e na vida vendida
Poema 07
Tentei escrever como se bebesse água
viciei-me nesse vício para mais tarde perceber a má escrita que fazia em minha vida.
Cada verso prosa que faço, é estritamente redundante
e cada passar vagaroso de tempo é um motivo a mais para a redundância desse clichê.
E a medida que tento viver, descobri que não há saída para as minhas dores, estou preso a mim.
relutantemente preso
Busco saída, mas a minha mente truculenta me traz de volta a sanidade de quem não vive
ando vagarosamente com pressa de não chegar onde quero ir, pra no final não saber porquê estou indo.
Os versos são melhores quando feitos com algum significado
mas vida se tornou tão redundante
Que cada prosa agora é verso
e eu preso a mim
Tento aos poucos ir
nunca haveria de tentar amar
E eu aos poucos louco fico
pois de tantas dores
Amar é a mais bela dor
Há quem aos poucos doa de si
uma parte incontestável dessa prosa que aos poucos verso fica
e aos poucos o amor escreve na pele
a sangue tudo que talvez não fosse possível ser dito
e a loucura de casais que marcam suas almas com essa trucidante dor, a qual a vida só valerá a pena se senti-la.
Transformei cada verso em singela poesia, já não encontrava saída senão no papel, verossímil alma minha que partia e deixava um corpo oco, transformei a passageira vida em poesia e os versos viraram prosa.
Poema 08
A intensa repetição de palavras nos versos que escrevo
e o pouco espaço que dou
aos significados
A pouca tentativa de mudar
o que sou para o que deveria ser
Mas de fato quem sou
somente sou porque já fui outro
alguém que agora já não se reconhece
E não me reconheço a cada mês
A cada visita inesperada que faço
- para tentar me encontrar
Estou sujeito somente a mim
Não poderia ser outro alguém melhor
Se quem sou é o melhor do que já fui ou do que talvez seja
Não deveria ser outro, pois convivo apenas com minhas dores
Não há de poder suportar a dor dos outros tantos que seria
Poema 09
Como reconheço meu reflexo
Se não um ponto a quem devo ser
Olho loucamente para alguém parecido comigo
Mas naquele espelho não mostraria nunca quem de fato sou
Este ponto inerte
Este adereço aos outros
Este figurante de sua vida
Mas que de fato muda
O ponto mais que ponto
o pensar de um ponto que tenta estar fora da curva
mas que não o pôde fazer
a sua própria prepotência de apenas
poder tomar para si quem és
e