Gestão democrática na escola: Artes e ofícios da participação coletiva
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O processo de democratização das relações administrativas no interior da escola e sua articulação com a comunidade, da forma como é desenvolvida em uma unidade escolar pública de educação básica, é o tema desse livro.
Essa construção coletiva que vem se criando na escola, pressuposto da democracia, se dá com os avanços e os retrocessos próprios de tal processo e está presente nas ações e reflexões cotidianas dos envolvidos, explicitando para todos o fundamento da conquista.
Além da análise e das constatações da autora, encontramos a importante contribuição que o trabalho em um microcosmo pode trazer ao desenvolvimento dos estudos de administração escolar no macrocosmo. - Papirus Editora
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Book preview
Gestão democrática na escola - Dinair Leal da Hora
GESTÃO DEMOCRÁTICA NA ESCOLA
ARTES E OFÍCIOS DA PARTICIPAÇÃO COLETIVA
Dinair Leal da Hora
>>
COLEÇÃO MAGISTÉRIO:
FORMAÇÃO E TRABALHO PEDAGÓGICO
Esta coleção que ora apresentamos visa reunir o melhor do pensamento teórico e crítico sobre a formação do educador e sobre seu trabalho, expondo, por meio da diversidade de experiências dos autores que dela participam, um leque de questões de grande relevância para o debate nacional sobre a educação.
Trabalhando com duas vertentes básicas – magistério/formação profissional e magistério/trabalho pedagógico –, os vários autores enfocam diferentes ângulos da problemática educacional, tais como: a orientação na pré-escola, a educação básica: currículo e ensino, a escola no meio rural, a prática pedagógica e o cotidiano escolar, o estágio supervisionado, a didática do ensino superior etc.
Esperamos assim contribuir para a reflexão dos profissionais da área de educação e do público leitor em geral, visto que nesse campo o questionamento é o primeiro passo na direção da melhoria da qualidade do ensino, o que afeta todos nós e o país.
Ilma Passos Alencastro Veiga
Coordenadora
Às minhas filhas Kátia, Ádrea, Cássia e
Eloisa, alunas de escola pública,
onde lutam pela democracia.
Agradeço aos meus pais, Milton e
Maria, e à Inês, minha irmã-filha.
Agradeço também aos professores Arlette
D’Antola, Antonio Chizzotti e Alípio Casali;
à amiga Josy Maués, e a todos os sujeitos
que fazem parte da escola que foi alvo
desta pesquisa.
SUMÁRIO
PREFÁCIO
APRESENTAÇÃO
INTRODUZINDO O ASSUNTO
1. MAPEANDO A AÇÃO
A inquietação
O alvo pretendido
2. A VEREDA METODOLÓGICA
Desenho e caracterização da pesquisa
População e sujeitos
O processo geral
Coleta, tratamento e análise das informações
ASSENTANDO O ALICERCE
3. A ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR NUMA
PERSPECTIVA DEMOCRÁTICA
O conceito de administração escolar e seus paradigmas
A teoria administrativa educacional no Brasil
Democratização das relações organizativas no interior da escola
4. A RELAÇÃO ESCOLA-COMUNIDADE
As concepções de comunidade
A articulação da escola com seu contexto social imediato
EXPONDO A REALIDADE
5. O AMBIENTE FÍSICO-SOCIAL DO BENGUI
Características do bairro
O espaço escolar – um primeiro retrato: Muitas pistas
6. O APRENDIZADO COLETIVO
Historicizando a prática
A organização escolar e a comunidade
O professor aprende
O aluno aprende
A direção aprende
A comunidade aprende
O funcionário aprende
7. PERSEGUINDO UM OFÍCIO E SUAS ARTES:
A PERCEPÇÃO DOS SUJEITOS
As práticas administrativas e a postura do diretor na gestão democrática
O processo educacional e a comunidade
A escola e as determinações do sistema oficial de ensino
Visão da escola
CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
NOTAS
SOBRE A AUTORA
REDES SOCIAIS
CRÉDITOS
Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não se guarda
nem se esquiva, assustada.
Vida sempre a serviço da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor.
...........................................................
Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. Publicamente andando
Não, eu não tenho um caminho novo
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos que vão comigo.
Pois já não vou mais sozinha.
Thiago de Mello
PREFÁCIO
Foi com grande satisfação que aceitei o convite para prefaciar o livro da Dinair Leal da Hora, intitulado Gestão democrática na escola: Artes e ofícios da participação coletiva.
Desde meu primeiro contato com esta obra pude perceber sua relevância e seu grande potencial de contribuição para os estudos da área de administração escolar democrática e participação comunitária.
A autora, buscando elucidar o processo de democratização das relações administrativas no interior da escola e sua articulação com a comunidade, realiza um estudo de caso em escola pública de primeiro e segundo graus na periferia da cidade de Belém, no Pará.
Valendo-se do estudo de caso, Dinair pode explorar em profundidade o fenômeno da administração e participação na realidade escolar, extraindo daí informações que contribuem seguramente para o aumento do conhecimento disponível na área.
Oportunamente, a autora vale-se de um conceito de administração que supera a errônea e difundida concepção de que o trabalho escolar divide-se em administrativo
e pedagógico
e, ao superá-la, considera a ação administrativa como coordenação de um esforço coletivo.
Por tratar-se de esforço humano, a dimensão subjetiva, pessoal, de cada um dos envolvidos deve ser levada em conta, exigindo-se, por isso, que se identifique qual a percepção condicionadora dos atos dos diversos agentes em atuação.
Nesse sentido, a administração democrática e a participação da comunidade, longe de ser um fato dado e consumado, é, na maioria das vezes, um horizonte a ser buscado. O caminho é, como diz a autora, um aprendizado coletivo
.
Para o êxito desse aprendizado podem colaborar o diretor da unidade educacional, a comunidade em que se insere a escola e todos os demais envolvidos, tais como funcionários e alunos. A postura básica, favorecedora de um desencadear adequado do processo, é interagir com os dados concretos e as pessoas reais existentes na situação, e não fugir da realidade, mas também não considerá-la imutável. Acreditar que as mudanças são possíveis e podem ocorrer mediante uma ação coletiva democrática é uma das mensagens marcantes da autora.
À todos aqueles que buscam a concretização do ideal democrático na sociedade e, portanto, nas escolas, a leitura da obra de Dinair, certamente, propiciará elementos de conhecimento e reflexão propícios e incentivadores.
Jair Militão da Silva
APRESENTAÇÃO
Este é um Estudo de Caso que tem como foco o processo de democratização das relações administrativas no interior da escola e sua articulação com a comunidade, da forma como é desenvolvida em uma unidade escolar pública de educação básica na periferia de Belém do Pará
Para tanto, lancei mão de roteiros de entrevistas sobre o processo administrativo que se dá naquele espaço e como ele é percebido por alunos, professores, pais, funcionários, representantes da comunidade, diretora e vice-diretora, além de outros instrumentos que me possibilitaram caracterizar a ação democrática que se constrói na escola.
A percepção dos princípios democráticos na gestão educacional chegou-me através da permanente busca da construção coletiva do processo educacional em toda a sua amplitude.
Pude perceber ainda que a construção coletiva, pressuposto da democracia, que vem se criando na escola – alvo do estudo –, se desenvolve mediante os avanços e retrocessos próprios de um processo, aspecto que está presente nas ações e reflexões cotidianas dos sujeitos envolvidos, ficando claro a cada um deles o fundamento da conquista.
Assim, este trabalho me permitiu compreender o significado da participação da comunidade na gestão escolar para se atingir a autonomia nas decisões e no uso dos recursos. E, por fim, foi possível identificar claramente como um trabalho de análise de um microcosmo pode contribuir para o macrocosmo dos estudos da administração escolar.
INTRODUZINDO O ASSUNTO
Eu quase que nada não sei, mas desconfio de
muita coisa.
.....................................................................
O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer é ver a gente aprendendo a ser capaz de ficar alegre a mais, no meio da tristeza! Só assim de repente, na horinha em que se quer, de propósito – por coragem. Será?
Guimarães Rosa
1
MAPEANDO A AÇÃO
A inquietação
O desenvolvimento de trabalho na área educacional exige do educador os exercícios de ofícios, artes e artimanhas que, ao lado da fundamentação científica necessária, permitam-lhe a adoção de práticas pedagógicas voltadas para o transformar e transformar-se como pessoa e profissional. Entendo que na administração escolar esses exercícios são também essenciais.
No decorrer de 18 anos de atividades profissionais no âmbito da educação, tenho caminhado de alguma forma nas trilhas da administração escolar, quer como professora de educação básica, quer como técnica em assuntos educacionais e assessoramento aos diretores escolares, quer no exercício mesmo da gestão de escolas públicas ou particulares ou, ainda, como docente engajada no compromisso de promover a formação de novos administradores da educação.
Neste caminho, tenho observado que os rumos tomados pela administração escolar têm sido historicamente traçados pela administração de empresas, na medida em que adota seus pressupostos no desenvolvimento das suas ações, com vistas sempre ao alcance da produtividade.
No Brasil, a administração da educação não se desvincula dos princípios administrativos empresariais, dada a sua característica de sociedade capitalista, em que os interesses do capital estão sempre presentes nas metas e nos objetivos das organizações que devem se adaptar ao modelo que lhe impõe esse tipo de sociedade.
Neste sentido, o diretor de escola tem como funções básicas organizar e administrar, numa perspectiva de que
na sociedade dominada pelo capital, as regras capitalistas vigentes na estrutura econômica tendem a se propagar por toda a sociedade, perpassando as diversas instâncias do campo social. (Paro, 1990, p. 48)
Atribui, então, a todo e qualquer problema uma dimensão administrativa,