Maria, Jesus e Paulo com as mulheres: Textos, interpretações e História
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Maria, Jesus e Paulo com as mulheres - Ivoni Richter Reimer
Palavras iniciais
Este livro trata de Maria. Maria foi referencial de fé e modelo de vida durante toda a história da Igreja. Isso aconteceu e acontece de maneiras distintas para pessoas e igrejas diferentes. Os textos do Novo Testamento tratam Maria como a mãe de Jesus. A partir desse núcleo, realizaram-se leituras e processos interpretativos, discussões e resoluções conciliares. A partir dessa história dos textos e suas interpretações, desenvolveram-se muitas devoções marianas nos mais distintos lugares e épocas, inclusive fora do cristianismo. A partir desses textos e interpretações, a Igreja criou dogmas marianos, sendo que os dois primeiros foram elaborados antes da Reforma Protestante. Maria foi alvo de disputas e controvérsias, mas também motivo de união e diálogos ecumênicos. No primeiro capítulo deste livro, o objetivo é abordar, apresentar, revisitar e analisar os textos que narram acerca de Maria. Trata-se de palavras escritas pelo apóstolo Paulo, de partes dos evangelhos canônicos (Marcos, Mateus, Lucas, João), de palavras dos Atos dos Apóstolos, de fragmentos de evangelhos apócrifos, de dois capítulos do (Al)Corão. Depois da apresentação e análise dos textos, organizei tópicos temáticos para estudo e reflexão de algumas características atribuídas a Maria pelos textos, na tentativa de reconstruir parte de sua história com a ajuda de fragmentos de memória das comunidades cristãs originárias. O desenvolvimento do imaginário, das representações, das imagens, dos dogmas e da devoção deverá ser tratado em outra publicação, e continua como desafio que poderá ser enfrentado em equipe.
Este livro trata de muitas outras mulheres nos evangelhos. Elas são mencionadas quando se encontram em relação com Jesus. Aqui, destaco as mulheres como sujeitos da história da Igreja, desde suas origens, no movimento de Jesus. Elas foram amigas, amadas, seguidoras e discípulas de Jesus. Como tais, foram aceitas e rejeitadas, acolhidas e excluídas por parte dessa história e da historiografia desde os princípios. A narrativa da paixão, morte e ressurreição de Jesus é central para reconstruir o pertencimento, a participação e, simultaneamente, os processos de discriminação e marginalização das mulheres na história textual e interpretativa do Novo Testamento. Com esta abordagem e estudo, busco contribuir com trabalhos de reconstrução da história das mulheres no cristianismo antigo, realizados nas últimas décadas por teólogas(os) e historiadoras(es). Entendo que os textos do Novo Testamento são importante fonte para esta reconstrução e, portanto, para a pesquisa histórica das atividades, sensibilidades e sociabilidades de mulheres no mundo antigo, dentro do contexto judaico e greco-romano. As mulheres que seguiam Jesus atuavam no mundo da casa e do trabalho, e pertenciam a distintas camadas socioeconômicas e culturais. Todas elas assumiram a missão e a diaconia como compromisso no processo dinâmico de transformação, ao qual aderiram por meio da fé em Jesus, o Cristo. Foram testemunhas e apóstolas do evento que dá nova formatação ao movimento de Jesus: a ressurreição e os recomeços em Jerusalém e na Galileia! Alguns de seus nomes são Maria Madalena, Joana, Maria (a de José), Maria (a de Tiago), Salomé, Susana e muitas outras mulheres anônimas.
Este livro trata de muitas outras mulheres na organização e liderança da Igreja nos inícios, também em Roma. Eram elas diaconisas, missionárias, discípulas, apóstolas, profetisas, líderes de igrejas que se reuniam nas suas casas. A elas temos acesso por meio de narrativas dos Atos dos Apóstolos e de palavras do apóstolo Paulo, dirigidas a várias comunidades do entorno do Mar Mediterrâneo. Destaco o texto de Rm 16,1-16 para reconstruir parte dessa história das mulheres no início da Igreja em Roma. Ele referencia, legitima e apoia com autoridade apostólica as funções eclesiais exercidas por mulheres, sozinhas, junto e ao lado de homens, sendo que as mulheres são a maioria! Nesse sentido, a isonomia talvez seja uma característica que se constrói a partir das sensibilidades e sociabilidades de mulheres, quando estas se encontram em posição de supremacia... Alguns de seus nomes são Tabita, Febe, Priscila, Júnia, Trifena, Trifosa, Pérside, Júlia, Maria, Maria, Maria...
Este livro trata de Jesus e de Paulo nessas relações que são construídas a partir e junto com mulheres. Acolhida, diálogo, cura, libertação, fé e compromisso são expressões do amor que se fez e faz realidade na relação que capacita mulheres e homens na construção de culturas de paz. Nesses processos podem desabrochar e frutificar manifestações do poder dinâmico (dynamis), e por isso transformador, que pode se estabelecer entre pessoas, grupos e culturas. Em relações de reciprocidade e mutualidade, o poder pode se libertar da tirania e da dominação, e capacitar para vivências amorosas de justiça, cuidado e restauração. Nesse dinâmico jogo de relações pode se manifestar uma profunda experiência com a divindade e, simultaneamente, com a humanidade. Humano e divino se inter-relacionam na práxis do amor e da diaconia, vivenciada e demonstrada pelas mulheres que se puseram em relação com Jesus e com Paulo. Como irmãs, mãe, discípulas, diaconisas e apóstolas de Jesus, nelas e por meio delas se expressam igualmente o amor divino e o humano.
Para abordar os textos, tecer reflexões e esboçar consequências que considero relevantes para atuais processos de conscientização, movimentos e lutas de mulheres e homens, valho-me de metodologias exegéticas histórico-sociais e histórico-críticas, e de referenciais hermenêuticos que contemplem as dinâmicas conflitivas e efeituais da história interpretativa. Hermenêuticas feministas de libertação também utilizam da categoria analítica de gênero para melhor compreender as relações assimétricas de poder e os esforços de mudança que estão indiciados nos textos em questão. As interações nas dinâmicas do discurso religioso, no caso teológico cristão, são igualmente importantes, no sentido de buscar informações também em outros textos daquele mundo contemporâneo, quando possível, sejam estes em nível cristão não canonizado (apócrifos) ou em nível de narrativas de historiadores da Antiguidade.
Parte desse trabalho de pesquisa e estudos realizados encontra-se, pois, neste livro. Cabem, aqui, agradecimentos ao CNPq pela bolsa de produtividade em pesquisa, à PUC Goiás pelas horas-aula de pesquisa, ao corpo docente e discente dos Programas de Pós-Graduação stricto sensu em Ciências da Religião e em História da PUC Goiás pelo apoio e carinho recebidos.
Desejo que Maria, Jesus e Paulo com as Mulheres agregue perspectivas e valores a pessoas que se encontram em movimentos eclesiais, socioculturais, político-econômicos e/ou em busca de processos (in)formativos, também no que tange à espiritualidade. Olhar para as mulheres com Maria, Jesus e Paulo pode alentar a perseverança e a criativa teimosia de saber que as relações podem ser diferentes e que a gente faz a diferença!
Goiânia, Dia da Consciência Negra de 2012.
1. E tu serás bendita, Maria!
O primeiro capítulo deste livro é dedicado a Maria. Para mim, tornou-se importante perceber que se lembrar de Jesus é se lembrar também de Maria. Isso é inevitável para qualquer pessoa, devota ou não de Maria. Sem Maria, não haveria Jesus. E temos acesso a Maria apenas por causa de Jesus, e as informações acerca dela existem somente quando têm a ver com Jesus.
Pensar em Maria é tanger imaginários, devoções, estudos, reflexões, decisões conciliares, e tomar nas mãos uma significativa parte da história da humanidade, também nas suas limitações, possibilidades e ambiguidades. Sem dúvida, Maria, assim como seu filho, Jesus, movimentou e fez história!
Maria é mescla de coisas simples e complexas; é magia e compromisso que se desdobram nas trincheiras da vida. Maria foi e continua sendo interpretada de muitos jeitos, através de vários olhares, interesses e vivências de espiritualidade. Ela baila, como mulher santa, virgem, humilde, obediente, figurando como o arquétipo da mulher ideal, casada, mãe, fiel, submissa, mas também ginga, representando a mulher revolucionária, combatente, transgressora, autônoma, figurando como modelo para encorajar, sustentar e redirecionar mulheres em suas lutas político-sociais no decorrer da história.
Qual é o lugar