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Semeadores da Palavra: Personagens que tiveram participação decisiva na divulgação da Bíblia no Brasil
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Ebook735 pages9 hours

Semeadores da Palavra: Personagens que tiveram participação decisiva na divulgação da Bíblia no Brasil

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A causa da Bíblia no Brasil já tem uma história de dois séculos e muitos heróis. São incontáveis os personagens do passado que lutaram com fé e coragem para introduzir e divulgar a Bíblia em nosso país. Se hoje o BRasil é uma das nações que mais distribuem as Escrituras Sagradas no mundo, é a eles que devemos. É preciso seguir esses preciosos exemplos para que a Bíblia seja cada vez mais conhecida pelo povo brasileiro.

Embora a Sociedade Bíblica do Brasil já tenha publicado uma série de livros históricos, faltava, entretanto, uma obra onde o leitor pudesse encontrar informações biográficas detalhadas sobre os principais protagonistas da divulgação da Palavra de Deus no Brasil. O propósito deste livro de biografias, Semeadores da Palavra, é preencher essa lacuna e resgatar a memória de muitos desses personagens. Este livro apresenta a biografia de 58 personagens, tradutores e divulgadores da Bíblia, que já faleceram e tiveram uma participação decisiva na introdução e divulgação das Escrituras Sagradas no país.
LanguagePortuguês
Release dateOct 1, 2015
ISBN9788531115141
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    Semeadores da Palavra - Luiz Antonio Giraldi

    Luiz Antonio Giraldi

    Semeadores da Palavra

    Personagens que tiveram participação decisiva na divulgação da Bíblia no Brasil

    Missão da Sociedade Bíblica do Brasil:

    Promover a difusão da Bíblia e sua mensagem como instrumento de transformação e desenvolvimento integral do ser humano.

    G433h

    Giraldi, Luiz Antonio

    Semeadores da Palavra – Personagens que tiveram participação decisiva na divulgação da Bíblia no Brasil / Luiz Antonio Giraldi. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2015.

    Contém biografia, cronologias, bibliografia, índices.

    1. Bíblia Sagrada 2. Biografia 3. Colportores I. Título

    220-81

    O conteúdo do texto é de inteira responsabilidade do seu autor e não reflete, necessariamente, a posição da Sociedade Bíblica do Brasil, que publica a presente edição no intuito de servir o Senhor Jesus Cristo e ajudar o leitor a conhecer a história do Livro Sagrado no Brasil.

    Semeadores da Palavra

    © 2015 Sociedade Bíblica do Brasil

    Av. Ceci, 706 – Tamboré

    Barueri, SP – CEP 06460-120

    Cx. Postal 330 – CEP 06453-970

    Visite nosso site: www.sbb.org.br

    Todos os direitos reservados

    À memória daqueles que dedicaram suas vidas à missão de levar a Bíblia ao povo brasileiro

    Agradeço ao Dr. Vilson Scholz, à minha esposa, Professora Selma Junia Vassão Giraldi, e à minha filha, Jornalista Alice Helena Vassão Giraldi, pela importante ajuda que me deram na revisão deste livro. E sinto-me muito honrado com o prefácio do Rev. Dr. Erní Walter Seibert, Secretário de Comunicação e Ação Social da Sociedade Bíblica do Brasil.

    Sumário

    Capa

    Semeadores da Palavra

    Dedicatória

    Prefácio

    Introdução

    1 — SÉCULOS 17, 18 E 19

    João Ferreira de Almeida, 1628-1691

    Antônio Pereira de Figueiredo, 1725-1797

    Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, 1770-1851

    2 — DÉCADA DE 1840

    Justus Parish Spaulding

    Daniel Parish Kidder, 1815-1891

    3 — DÉCADA DE 1850

    James Cooley Fletcher, 1823-1901

    Robert Reid Kalley, 1809-1888

    Francisco da Gama, ?-1880

    Richard Corfield

    Robert Nesbit

    Ashbel Green Simonton, 1833-1867

    4 — DÉCADA DE 1860

    Alexander Latimer Blackford, 1829-1890

    Richard Holden, 1828-1886

    Thomás Gallart, 1816-1876

    Torquato Martins Cardozo

    5 — DÉCADA DE 1870

    Edward Lane, 1835-1892

    Jacob Filipe Wingerther

    John Rockwell Smith, 1846-1918

    João Manoel Gonçalves dos Santos, 1843-1928

    6 — DÉCADA DE 1880

    João Batista Pinheiro

    Hugh Clarence Tucker, 1857-1956

    7 — DÉCADAS DE 1890 E 1900

    Frederick Glass, 1871-1954

    Frank Uttley

    Eduardo Carlos Pereira, 1855-1923

    Rui Barbosa, 1849-1923

    8 — DÉCADA DE 1910

    Antão Pessoa

    Luigi Francescon, 1866-1964

    Gunnar Vingren 1879-1933 e Daniel Berg 1884-1963

    Alexander Telford, 1875-1952

    9 — DÉCADAS DE 1920 E 1930

    Huberto Rohden, 1893-1981

    Charles Harold Morris, 1899-1979

    José Araújo

    Charles William Turner

    Leonor Raeder, 1913-1990

    10 — DÉCADA DE 1940

    César Dacorso Filho, 1891-1966

    Antônio de Campos Gonçalves, 1898-1980

    Paul W. Schelp, 1895-1972

    Ivan Espíndola de Ávila, 1933-2006

    Egmont Machado Krischke, 1909-1971

    Emílio Conde, 1901-1971

    Antonio Augusto Varizo Jr., 1914-2010

    11 — DÉCADA DE 1950

    Ewaldo Godinho Alves, 1917-2004

    Robert G. Bratcher, 1920-2010

    Benjamin Moraes Filho, 1911-1984

    Rodolfo Garcia Nogueira, 1909-1997

    David Gomes, 1919-2003

    Manoel de Mello, 1929-1990

    Benedito Natal Quintanilha, 1909-2001

    12 — DÉCADA DE 1960

    Paulo Leivas Macalão 1903-1982 e Zelia Brito Macalão 1907-1988

    David Miranda, 1935-2015

    João Batista da Silva, 1924-1974

    Benedito Escobar Bonilha

    Oswaldo Alves, 1917-2003

    13 — DÉCADAS DE 1970 E 1980

    Haroldo Pereira Lobo, 1901-1985

    João Baptista Clayton Rossi, 1930-1993

    Werner Kaschel, 1922-2010

    Daisy Liepin Calmon, 1931-1992

    Josué Xavier, 1934-2010

    APÊNDICE

    1. Índice de abreviaturas

    2. Cronologia dos Semeadores da Palavra

    3. Bibliografia

    4. Bibliotecas

    5. Diretorias da Sociedade Bíblica do Brasil

    Prefácio

    Na última década, a historiografia da Igreja no Brasil foi enriquecida por uma série de obras escritas pelo Rev. Luiz Antonio Giraldi. O Rev. Giraldi, que dedicou praticamente toda a sua vida a serviço da Sociedade Bíblica do Brasil, após retirar-se do cargo de Diretor Executivo desta organização, empreendeu uma tarefa grandiosa. Mostrar como foi o desenvolvimento da obra bíblica no Brasil. Ele escreveu as obras A história da Bíblia no Brasil, The American Bible Society in Brazil, A Bíblia no Brasil Império e A Bíblia no Brasil República.

    O livro que agora entrega ao público mostra que esta obra foi levada avante por pessoas dedicadas, de todas as classes sociais e origens, que tinham um propósito comum: fazer com que a Palavra de Deus chegasse a todos os recantos do Brasil e a todos os brasileiros. Com isso, ele mostra de uma forma delicada e, ao mesmo tempo, com rigor informativo, este lado humano da obra bíblica.

    Lendo os relatos que o Rev. Giraldi nos traz, lembramos as palavras do Apóstolo Paulo na Carta aos Romanos, capítulo 10, versículo 15: Como é bonito ver os mensageiros trazendo boas notícias!

    A obra inicia mostrando o trabalho dos pioneiros da tradução bíblica para a língua portuguesa. A seguir, mostra a grande influência que tiveram neste trabalho vários servidores das Sociedades Bíblicas. Mas quero chamar a atenção para uma categoria de dedicados servidores da obra bíblica que o Rev. Giraldi nos traz: os colportores.

    A palavra colportor por muitos anos não estava dicionarizada no Brasil e era usada ligada à obra bíblica. Esta palavra de origem francesa faz referência à bolsa de livros que o distribuidor ambulante de Bíblias levava pendurada ao pescoço. Esses colportores foram os pioneiros que levaram a Bíblia Sagrada ao interior do Brasil, disseminando assim seus ensinamentos. No seu trabalho tanto vendiam as Bíblias, Novos Testamento e Evangelhos que levavam, bem como praticavam o escambo, trocando os livros por comida ou outro bem. E, quando a necessidade era grande, doavam.

    Se hoje a Bíblia é o livro mais apreciado do Brasil, isso se deve ao trabalho que esses pioneiros, geração após geração, realizaram sob duras condições em nosso país. Devemos um preito de gratidão a estas pessoas.

    O Rev. Giraldi, no início de seu trabalho na Causa da Bíblia, dava cursos para pessoas que queriam dedicar parte de seu tempo ou o tempo integral a esta obra. Daí vem sua grande admiração por estes servos abnegados.

    Lendo as páginas dessa nova obra que vem a público, podemos nela perceber o coração do seu autor. Ele, que nos traz esta relação de pessoas que se dedicaram a divulgar a Palavra de Deus, certamente faz parte deste mesmo grupo de servos dedicados.

    Recomendamos ao leitor esta obra como leitura não apenas de caráter histórico. Ela é inspirativa. Além do conhecimento que traz, nos inspira a dedicarmos também nossas vidas a continuar levando a cada nova geração este livro, que transforma vidas e produz um mundo melhor.

    Erní Walter Seibert

    Barueri, SP, maio de 2015

    Introdução

    É voz corrente que o Brasil é um país sem memória, que os brasileiros não conhecem a sua História e rapidamente se esquecem dos seus heróis. Se isso é verdade, além de ser uma injustiça àqueles que fizeram muito por nós no passado, essa característica é também uma ameaça ao nosso futuro. Afinal, só conhecendo bem o passado poderemos compreender o presente e viver melhor o futuro.

    A causa da Bíblia no Brasil já tem uma história de dois séculos e seus próprios heróis. São incontáveis os personagens do passado que lutaram com fé e coragem para introduzir e divulgar a Bíblia em nosso país. Se hoje o Brasil é uma das nações que mais distribuem as Escrituras Sagradas no mundo, é a eles que devemos. É preciso seguir esses preciosos exemplos para que a Bíblia seja cada vez mais conhecida pelo povo brasileiro.

    A série de livros históricos publicados pela Sociedade Bíblica do Brasil a partir de 2008 — A História da Bíblia no Brasil, A Bíblia no Brasil Império e A Bíblia no Brasil República — enfoca os esforços de divulgação da Bíblia em nosso país pelas Sociedades Bíblicas e pelas Igrejas Evangélicas nos últimos 200 anos, e pela Igreja Católica nos últimos 100 anos. O objetivo desses livros é informar aos leitores como essas entidades realizaram o seu trabalho e quais foram os resultados alcançados. Faltava, entretanto, uma obra onde o leitor pudesse encontrar informações biográficas detalhadas sobre os principais protagonistas da divulgação da Palavra de Deus no Brasil.

    O propósito deste novo livro, Semeadores da Palavra, é preencher essa lacuna e resgatar a memória de muitos desses personagens. Com certeza, milhares de pessoas merecem ser lembradas, mas por limitações de espaço e informações disponíveis, selecionamos 58 pessoas que já faleceram e tiveram uma participação decisiva na divulgação das Escrituras Sagradas no país.

    O livro apresenta informações sobre a vida e a obra desses personagens, enfatizando sua participação no trabalho de divulgação da Palavra de Deus. Inicia com os primeiros tradutores da Bíblia para a língua portuguesa, nos séculos 17, 18 e 19, e conclui com os tradutores e divulgadores da Bíblia no século 20. As biografias estão dispostas em ordem cronológica, tomando como referência a data em que o personagem iniciou suas atividades na obra bíblica.

    A preocupação maior deste livro não é analítica, mas informativa e biográfica. O enfoque está na pessoa, em sua vida e em suas realizações, especialmente na área de difusão da Bíblia. Cada esboço biográfico inclui dados relevantes sobre o personagem como datas, lugares, realizações, eventos e obras escritas. O leitor verá que algumas biografias são bem mais extensas do que outras. Essa variação se deve à disponibilidade de dados pessoais hoje. Em alguns casos, principalmente naqueles de personagens de tempos mais antigos, não foi possível localizar sequer um retrato; em outros casos, nem mesmo a data de nascimento foi identificada.

    No trabalho de pesquisa foram usados como fontes os relatórios anuais das agências da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira e da Sociedade Bíblica Americana disponíveis na Biblioteca da Bíblia, em Barueri; a coleção da revista A Bíblia no Brasil; além de dezenas de livros, escritos em diferentes épocas, por diversos autores. Sempre que possível, foi dada preferência às fontes primárias, tais como atas, cartas, diários, relatórios antigos e livros redigidos pelos próprios protagonistas da história da divulgação da Bíblia no Brasil. Três destes livros foram especialmente importantes na pesquisa histórica: Reminiscências — 50 Anos no Brasil, de Hugh Clarence Tucker, secretário da SBA no Brasil (1886-1933); Aventuras com a Bíblia no Brasil, do colportor Frederick Charles Glass (1892-1926); e La Biblia Construye en America Latina, de Charles William Turner, secretário da SBA no Brasil (1933-1947). Outros livros antigos, também muito utilizados no trabalho de pesquisa foram: A Bíblia em Portugal, de Santos Ferreira, Portugal, 1906; Anais da 1ª Igreja Presbiteriana de São Paulo, de Vicente Themudo Lessa, São Paulo, 1938; e Pioneiros e Bandeirantes do Metodismo no Brasil, de Isnard Rocha, São Bernardo do Campo, 1967.

    Como a questão da documentação é muito importante em uma obra desta natureza, foram indicadas no rodapé das páginas as fontes consultadas; além disso, foram transcritas entre aspas as declarações das pessoas envolvidas na narrativa. Os testemunhos transcritos no livro — também entre aspas, quase todos publicados na revista A Bíblia no Brasil — passaram por uma revisão gramatical e ortográfica, visando principalmente à sua atualização, mas tanto quanto possível foi mantida a redação original, produzida por seus autores.

    Espero, caro leitor, que este livro o ajude a conhecer melhor esses grandes semeadores da Palavra de Deus no Brasil e lhe proporcione momentos agradáveis e inspiradores.

    Luiz Antonio Giraldi

    Barueri, junho de 2015

    Capítulo 1

    SÉCULOS 17, 18 E 19

    João Ferreira de Almeida, pioneiro na tradução da Bíblia em português

    1628-1691

    Primeira edição do Novo Testamento traduzido por João Ferreira de Almeida, publicado em 1681

    A primeira tradução completa da Bíblia para a língua portuguesa foi feita durante a segunda metade do século 17, por João Ferreira de Almeida, e publicada em 1753, na cidade de Batávia, hoje Jacarta, pela Companhia Holandesa das Índias Orientais. Essa tradução da Bíblia tornou-se a preferida dos evangélicos brasileiros durante os séculos 19 e 20 e, ainda hoje, início do século 21, mantém essa preferência. Ela é publicada atualmente pela Sociedade Bíblica do Brasil em três versões: a Edição Revista e Corrigida de Almeida, de 1898, a Versão Revista e Atualizada de Almeida, de 1993 e a Edição Revista e Corrigida de Almeida, de 1995.

    O tradutor João Ferreira Annes de Almeida (esse é o seu nome completo) nasceu em 1628, na cidade de Torres de Tavares, em Portugal. Filho de família católica, perdeu os pais quando ainda era menino e foi morar em Lisboa com um tio, que era padre. Almeida estudou em Lisboa até os 14 anos, quando se mudou para a Holanda, um país protestante.

    Missionário na Ásia

    Em 1644, com apenas 16 anos de idade, João Ferreira de Almeida converteu-se ao protestantismo e decidiu trabalhar como missionário na Igreja Reformada Holandesa na Ásia. Então foi morar em Málaca, que hoje se chama Malásia, situada no sul da Ásia, região onde se falava também a língua portuguesa. [1]

    Em Málaca, Almeida iniciou a tradução do Novo Testamento a partir do texto latino de Beza, edição de 1557. Para realizar esse trabalho, consultou, também, as traduções da Bíblia disponíveis na época em espanhol, francês e italiano, todas elas traduzidas dos textos originais em grego, hebraico e aramaico. Começou pelos Evangelhos e depois traduziu algumas Cartas Paulinas. Em 1645, ele enviou cópias manuscritas do seu trabalho de tradução do Novo Testamento para as congregações de Málaca, Batávia (hoje Ilha de Java) e Ceilão (hoje Sri Lanka). [2]

    Almeida ficou em Málaca até 1651, quando se transferiu para o presbitério da Igreja Reformada Holandesa na Batávia. Lá, exerceu a função de capelão e iniciou seus estudos de Teologia. Durante os três anos seguintes, trabalhou na revisão da tradução que havia feito do Novo Testamento. Depois de passar por um exame e ser aceito como candidato ao pastorado, acumulou novas tarefas: deu aulas de português a pastores, traduziu livros e ensinou religião a professores de escolas primárias. Em 1657, aos 29 anos de idade, casou-se na Batávia com Lucrécia Lemos, com quem teve um casal de filhos.

    Nesse mesmo ano, foi ordenado pastor e iniciou seu ministério no presbitério do Ceilão, ao sul da Índia. Um acontecimento curioso marcou o começo da vida do casal. Conta-se que em uma viagem que fizeram através da ilha de Ceilão, Almeida e Lucrécia foram atacados por um elefante e por pouco escaparam da morte.

    Em 1663, já com 35 anos de idade, Almeida voltou para a cidade de Batávia, na ilha de Java, onde permaneceu com sua família até o final de sua vida. Ali, continuou a exercer o pastorado e retomou o trabalho de tradução da Bíblia. Nessa época, já falava holandês e estudava grego e hebraico. Passou, então, a usar como base de sua tradução a 2ª edição do Textus Receptus, publicada na Holanda em 1633. O Textus Receptus era, com pequenas variações, o mesmo Novo Testamento grego publicado por Erasmo de Roterdã, em 1516.

    Publicação do Novo Testamento

    Em 1676, Almeida comunicou ao seu presbitério que a tradução do Novo Testamento estava pronta. Aí começou a sua batalha para ver o texto publicado. Era necessário obter a recomendação do presbitério e ela só seria concedida após a aprovação da tradução por uma comissão de revisores. Sem essa recomendação, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, na Holanda, não daria a licença para publicação.

    Depois que os revisores foram escolhidos, o trabalho de revisão começou, mas vagarosamente. Em 1680, depois de aguardar durante quatro anos pela revisão e irritado com a demora, Almeida resolveu não esperar mais e mandou o manuscrito para a Holanda, por conta própria, para ser impresso lá. Mas o presbitério interrompeu o processo de impressão.

    Finalmente, em 1681, foi impressa em Amsterdã, por ordem da Companhia Holandesa das Índias Orientais, a 1ª edição do Novo Testamento de Almeida. Essa primeira edição do Novo Testamento de Almeida traz em sua página de rosto a seguinte apresentação:

    "Novo Testamento, isto é, todos os sacrossantos livros e escritos evangélicos e apostólicos do Novo Concerto de nosso fiel Senhor, Salvador e Redentor Jesus Cristo, agora traduzidos em português pelo padre João Ferreira de Almeida, [3] pregador do Santo evangelho. Com todas as licenças necessárias. Em Amsterdã, pela viúva J. V. Someren. Ano 1681." [4]

    Um ano depois, o Novo Testamento chegou a Batávia, mas ao ser lido verificou-se que continha muitos erros de impressão. O fato foi comunicado às autoridades na Holanda, e todos os exemplares que não haviam ainda saído de lá foram destruídos por ordem da Companhia das Índias Orientais. As autoridades holandesas determinaram que fossem destruídos também os exemplares que já estavam em Batávia. Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares recebidos na Batávia foram destruídos. Alguns deles foram corrigidos a mão e enviados às congregações da região. Um desses exemplares encontra-se hoje no Museu Britânico, em Londres.

    Diante disso, as autoridades holandesas pediram ao presbitério que fosse iniciada o mais rápido possível uma nova e cuidadosa revisão da tradução. Porém, o trabalho de revisão e correção do Novo Testamento demorou dez anos.

    Tradução do Antigo Testamento

    A partir de 1680, sentindo o peso dos seus 52 anos, numa época em que a expectativa de vida era muito baixa, Almeida passou a dedicar menos tempo ao pastorado para poder se dedicar mais à tradução do Antigo Testamento. Durante os longos anos de espera pela revisão do Novo Testamento, Almeida trabalhou na tradução do Antigo Testamento. Em 1683, ao completar 55 anos de idade, ele concluiu a tradução do Pentateuco (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). O presbitério de sua Igreja iniciou, então, a revisão dos livros do Antigo Testamento. Enquanto o presbitério revisava o Novo Testamento e os livros do Pentateuco, Almeida continuou a trabalhar na tradução dos demais livros do Antigo Testamento.

    Em 1691 — oito anos depois, portanto, de Almeida haver entregado a tradução do Pentateuco — o presbitério não havia concluído ainda a revisão desses livros. O tradutor, no entanto, prosseguia em sua tarefa de traduzir todo o Antigo Testamento para a língua portuguesa. Porém, a essa altura, Almeida já estava com 63 anos e sua saúde estava abalada. Infelizmente, o tradutor não conseguiu concluir a grande obra de sua vida. Em outubro de 1691, faleceu o pioneiro da tradução da Bíblia para a língua portuguesa, deixando o Antigo Testamento traduzido até o livro de Ezequiel 48.21.

    Dois anos depois de sua morte, em 1693, a segunda edição revista do Novo Testamento foi finalmente impressa e distribuída em Batávia, com a seguinte apresentação na página de rosto:

    O Novo Testamento — isto é, todos os livros do Novo Concerto de nosso fiel Senhor e Redentor Jesus Cristo — traduzido na língua portuguesa pelo reverendo padre João Ferreira de Almeida, ministro pregador do Santo Evangelho nesta cidade de Batávia, em Java Maior. Em Batávia. Por João de Vries, impressor da ilustre Companhia, e desta nobre cidade. Ano 1693. [5]

    O reverso do frontispício registra a seguinte informação:

    Esta segunda impressão do SS. Novo Testamento, emendada, e, na margem, aumentada com os concordantes passos da Escritura Sagrada, à luz saiu por mandado e ordem do supremo governo da ilustre Companhia das Índias das Unidas Províncias na Índia Oriental. Ela foi revista com aprovação da reverenda Congregação Eclesiástica da cidade de Batávia, pelos ministros pregadores do Santo Evangelho na Igreja da mesma cidade, Theodorus Zas, Jacobus op den Akker. [6]

    A tradução do Antigo Testamento foi concluída em 1694 pelo Rev. Jacobus op den Akker, pastor da Igreja Reformada Holandesa na Batávia. E somente 48 anos depois, entre 1742 e 1751, a tradução de Almeida foi revista pelo Rev. João Mauritz Mohr e o Rev. Lebrecht Augusto Behmer, e aprovada pelo presbitério.

    Publicação da Bíblia

    Finalmente, entre 1748 e 1753, o Antigo Testamento, na tradução de João Ferreira de Almeida, foi publicado na Batávia, em dois volumes. O primeiro, contendo os livros de Gênesis a Ester, foi impresso com a seguinte apresentação:

    Do Velho Testamento o Primeiro Tomo, que contém os S. S. Livros de Moisés, Josué, Juízes, Rute, Samuel, Reis, Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Traduzidos em português por João Ferreira Annes de Almeida, ministro pregador do Santo Evangelho, na cidade de Batávia. Com todas as licenças necessárias. Na Oficina do Seminário, por M. Mulder, impressor nela. Ano de 1748-8º. [7]

    O segundo volume, contendo os livros de Jó a Malaquias, foi impresso em 1753. Assim como o anterior, este volume também continha uma apresentação:

    Do Velho Testamento o Segundo Tomo, que contém os S. S. Livros de Jó, os Salmos, os Provérbios, o Pregador, os Cantares, com os Profetas Maiores e Menores. Traduzidos em português por João Ferreira Annes de Almeida e Jacob op den Akker, ministros pregadores do Santo Evangelho, na cidade de Batávia. Na Oficina do Seminário, por G. H. Heusler, impressor nela. Ano de M. D. cc. LIII-8º. [8]

    A obra de tradução, revisão e publicação da primeira Bíblia para a língua portuguesa foi realizada ao longo de 108 anos, desde o seu início, em 1645, até a sua conclusão, em 1753. [9]

    Antônio Pereira de Figueiredo, primeiro tradutor da Bíblia católica para o português

    1725-1797

    Padre Antônio Pereira de Figueiredo

    O Padre Antônio Pereira de Figueiredo foi o autor da primeira tradução católica da Bíblia completa, Antigo e Novo Testamento, para a língua portuguesa. Na opinião do escritor português Alexandre Herculano (1810-1877), Figueiredo foi uma das mais fortes inteligências que Portugal gerou. Latinista de renome na Europa, historiador e teólogo, ele foi partidário da política do Marquês de Pombal: combateu os Jesuítas e denunciou os abusos da cúria romana. Tomou posição sobre problemas internos da Igreja Católica e divergências teológicas do seu tempo e, por isso, desagradou a muitos. Figueiredo defendeu a ideia da implantação de uma igreja nacional em Portugal, a exemplo do que havia acontecido com a Igreja Anglicana, mas nunca defendeu separação da Igreja Católica de Portugal da Igreja Católica Romana. Autor de vários livros, ele foi eleito, em 1779, membro da Academia Real das Ciências de Lisboa.

    Figueiredo nasceu no dia 14 de fevereiro de 1725, na cidade de Mação, em Portugal. Iniciou a sua preparação escolar no Colégio Ducal de Vila Viçosa, onde estudou latim e música. Prosseguiu seus estudos no Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra e, em 1744, transferiu-se para a Casa do Espírito Santo da Congregação do Oratório, onde cursou Filosofia e Teologia. Nessa congregação, foi professor de latim, retórica e teologia.

    Tradução bem-recebida por católicos e protestantes

    Foi na encíclica do papa Bento XIV, de 1757, cujo texto reconhecia a importância da Bíblia para a edificação espiritual dos fiéis, que Figueiredo encontrou a motivação para dedicar-se à tradução da Vulgata Latina para a língua portuguesa. Foi um longo trabalho: ele iniciou sua obra em 1772 e só foi concluí-la 18 anos mais tarde, em 1790, aos 65 anos de idade. A primeira edição do Novo Testamento na tradução de Figueiredo foi publicada em Portugal entre 1778 e 1781, em seis volumes. Na folha de rosto, a edição trazia a seguinte apresentação:

    O Novo Testamento de Jesus Cristo, traduzido em português segundo a Vulgata, com várias anotações históricas, dogmáticas e morais, e apontadas as diferenças mais notáveis do original grego. Por Antonio Pereira de Figueiredo, deputado ordinário da Real Mesa Censória. Tomo I a VI — Lisboa, em diferentes oficinas, 1778-1781 — 8º peq. — 6 vol. de cerca de 400 páginas. [10]

    O Antigo Testamento traduzido pelo padre Figueiredo foi impresso entre os anos de 1782 e 1790. A obra continha os livros deuterocanônicos, além de um prefácio em cada livro. Publicada em 17 volumes, foi apresentada pelo seguinte texto:

    Testamento Velho, traduzido em português, segundo a Vulgata Latina, ilustrado de prefações, notas e lições variantes. Por Antonio Pereira de Figueiredo, deputado ordinário da Real Mesa Censória. Tomos I a XVII. — Lisboa, em diferentes oficinas, 1783-1790 — 8º peq. — 17 vol. de cerca de 400 páginas. [11]

    A tradução de Figueiredo foi bem-recebida pelos estudiosos da época, tanto católicos como protestantes. Ele era considerado um escritor elegante, primoroso e de vasta erudição. A linguagem bonita e fluente de sua tradução caiu no gosto dos leitores portugueses e brasileiros, a ponto de muitos protestantes daquela época preferirem sua tradução à de João Ferreira de Almeida.

    Quase 15 anos depois, em 1804, foi publicada em Portugal a 2ª edição de sua tradução, revista por ele. As notas de rodapé das duas primeiras edições da tradução de Figueiredo foram condenadas pela Igreja Católica pelo fato de defenderem o direito de os reis interferirem nas questões religiosas. Em 1818, foi publicada em Lisboa a terceira edição da tradução de Figueiredo. A obra, organizada em sete volumes, continha o texto integral da Vulgata Latina, além de notas, comentários e ilustrações, incluindo o retrato de D. João VI.

    A Bíblia aprovada pela rainha

    Em 1821, a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (SBBE) publicou a Bíblia na tradução de Figueiredo em um só volume, com a seguinte apresentação:

    A Santa Bíblia, contendo o Velho e o Novo Testamento. Traduzidos em português pelo padre Antonio Pereira de Figueiredo — Londres: impresso na oficina de B. Bensley, em Bolt-Coult, Fleet-Street. 1821. [12]

    Nessa edição, a SBBE incluiu os livros deuterocanônicos ou apócrifos junto com os livros canônicos. A partir de 1829, ela deixou de incluir os livros deuterocanônicos em suas edições da tradução de Figueiredo.

    Em 1840, o vice-cônsul inglês nos Açores presenteou o governador daquelas ilhas com um exemplar dessa edição da Bíblia, sem os livros deuterocanônicos. Acompanhava o presente um pedido da SBBE para que fosse realizada a doação de outros exemplares à população local de baixo poder aquisitivo. A solicitação foi encaminhada ao governo português em Lisboa, que a aprovou, com a seguinte condição: antes de as Bíblias serem distribuídas à população, a alfândega do porto de Angra do Heroísmo, nos Açores, teria de enviar um exemplar a Lisboa, para lá ser examinado e aprovado.

    Em janeiro de 1842, a SBBE despachou um carregamento das Bíblias da tradução de Figueiredo para os Açores. Conforme havia sido estabelecido, a alfândega mandou para Lisboa um exemplar para ser examinado pelo Arcebispo Patriarca de Lisboa, conhecido como cardeal Saraiva. Embora aquela edição da Bíblia não trouxesse os livros deuterocanônicos nem comentários, [13] o arcebispo de Lisboa deu seu parecer favorável à doação.

    Em outubro daquele ano, a corte de Portugal enviou um comunicado à ilha Terceira, nos Açores, dizendo que a rainha de Portugal, D. Maria II, irmã do imperador do Brasil D. Pedro II, havia aprovado a doação, com base no parecer favorável do Arcebispo Patriarca de Lisboa. Esse comunicado dizia ainda que as Bíblias seriam isentas de pagamento de impostos. Além disso, os funcionários do governo deveriam distribuí-las à população pobre da ilha antes do final daquele ano. E assim foi feito. Os exemplares foram entregues a todos os professores e aos dois alunos mais pobres de cada classe dos cursos primários e secundários dos Açores.

    A recomendação real foi bem-recebida pelos católicos e essa edição da tradução de Figueiredo tornou-se muito conhecida, tanto no Brasil como em Portugal. A fim de atender à grande procura por essa Bíblia, a SBBE precisou reeditá-la diversas vezes durante o século 19. A partir de 1890, passou a publicá-la com a seguinte declaração na página de rosto:

    Edição aprovada em 1842 pela rainha D. Maria II, em consulta com o Arcebispo Patriarca de Lisboa. [14]

    Publicada ainda hoje

    Em 1864, a Editora Garnier lançou no Rio de Janeiro uma edição dessa tradução de Figueiredo. O texto não incluía notas condenadas nas primeiras edições, que foram substituídas por novas notas, preparadas por Delaunay, aprovadas pelo Arcebispo da Bahia. Essa foi a primeira Bíblia completa impressa em terras brasileiras.

    Em 1904, a tradução de Figueiredo foi reeditada em Portugal por Santos Farinha, com notas de Glaire, Knabenbauer, Lesetre, Lestrade, Poel e Vigoroux, e aprovação do cardeal Patriarca de Lisboa.

    Ao longo de todo o Brasil Império, a tradução católica de Figueiredo foi mais usada pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira do que a tradução protestante de Almeida. Como quase todas as Bíblias distribuídas naquele período foram destinadas ao público católico, essa tradução encontrou menor resistência no Brasil do que a tradução protestante de Almeida. Com exceção da primeira edição, de 1821, todas as outras foram publicadas pela SBBE sem os livros deuterocanônicos ou apócrifos.

    A Bíblia na tradução do Padre Figueiredo é publicada no Brasil até os dias de hoje, em uma versão atualizada para o português contemporâneo, pela Editora Eldebra.

    O Padre Antônio Pereira de Figueiredo, o primeiro tradutor da Bíblia católica em português, faleceu em 1797, em um convento em Lisboa. Deixou um vasto legado literário. Suas obras mais conhecidas são Tentativa Teológica, e Análise da Profissão de Fé do Santo Padre Pio IV. [15]

    Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, autor da primeira tradução do Novo Testamento feita no Brasil

    1770-1851

    Novo Testamento traduzido pelo padre Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, em 1847, e publicado em três volumes

    No período de 1845 a 1847, o bispo católico da cidade de Coimbra, Portugal, Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, então residente em São Luís, no Maranhão, fez a primeira tradução do Novo Testamento para o português em território brasileiro.

    Ele nasceu em 12 de maio de 1770 na Vila de Nazaré, perto da cidade de Pederneira, em Portugal, e professou no Convento Franciscano da Arrábida. Foi nomeado prelado de Moçambique em 17 de dezembro de 1811. E em 23 de agosto de 1819, foi confirmado bispo da província do Maranhão, no Brasil.

    Em 3 de maio de 1824, foi transferido para a cidade de Coimbra, Portugal, e confirmado como o 54º bispo da Diocese de Coimbra, pelo papa Leão XII. Além de bispo, ele recebeu em Portugal os títulos de 19º Conde de Arganil e Senhor de Coja. Em Portugal, escreveu três pastorais, publicadas em 31 de agosto de 1824, em 25 de outubro de 1824 e em 12 de maio de 1826. [16]

    Em 1834, após a derrota em Portugal do Príncipe D. Miguel, de quem ele era fiel seguidor, e da assinatura da convenção de Évora Monte, Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré foi preso em Lisboa. Conseguiu sair da prisão e manteve-se refugiado por muitos anos em Portugal, até que, em 1845, pôde finalmente seguir para o Brasil.

    No Brasil, foi residir em São Luís, na província do Maranhão, onde permaneceu até a sua morte, em 1851. De 1845 a 1847, ele se dedicou à tradução do Novo Testamento para o idioma português, tomando como texto base a Vulgata Latina.

    Sua tradução do Novo Testamento, a primeira feita no Brasil, é considerada pelos biblistas, tanto católicos como protestantes, como uma obra de grande valor literário e de muita fidelidade ao texto da Vulgata Latina.

    No prefácio dessa tradução, em sintonia com as encíclicas publicadas na época, ele acusa as Bíblias de edição protestante de falsas, por não serem traduzidas da Vulgata Latina e não terem os livros deuterocanônicos.

    Essa primeira edição deste Novo Testamento foi impressa no Brasil, entre os anos 1845 e 1847, em São Luís, no Maranhão, em três volumes. O primeiro volume, de 482 páginas, foi impresso na Typografia de I. J. Ferreira, e traz a seguinte apresentação:

    O Novo Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, conforme a Vulgata Latina, traduzido em português e anotado segundo o sentido dos santos padres e expositores católicos, pelo qual se esclarece a verdadeira doutrina do texto sagrado, e se refutam os erros subversivos dos novadores antigos e modernos, por D. Fr. Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, bispo de Coimbra, conde de Arganil e senhor de Coja. Tomo I. Contendo os quatro Evangelhos. Maranhão, Brasil. Impresso na tipografia de I. J. Ferreira. 1845. — 1 vol. in fol. De IV — 482 pags. [17]

    O segundo volume, contendo 358 páginas, foi impresso na mesma tipografia e traz a seguinte apresentação:

    Volume II, contendo os Atos dos Apóstolos e as cinco primeiras epístolas do Apóstolo São Paulo. Maranhão, Brasil, 1846. 1 vol. in fol. De IV-358 pags. [18]

    E o terceiro volume foi impresso em duas tipografias. A primeira parte, com 170 páginas, foi impressa na tipografia S. A. De Farias. E a segunda, de 175 páginas, na tipografia J. A. G. De Magalhães. A página de rosto do volume três traz a seguinte informação:

    Volume III, contendo as restantes epístolas de São Paulo, com as dos santos Apóstolos, e Apocalipse. Maranhão, Brasil, 1847. 1 vol. in fol. de IV-170-175 pag. Impresso na tipografia de J. A. G. de Magalhães, Rua Grande, nº 40. Ano de 1847. [19]

    A tradução para a língua portuguesa é acompanhada do texto latino e de notas e comentários do autor e de vários autores católicos.

    Em 1875, esse Novo Testamento foi reeditado em Portugal, em um só volume, com 507 páginas e a seguinte apresentação:

    O Novo Testamento de Jesus Cristo, traduzido em português, segundo a Vulgata Latina, por D. Fr. Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, bispo de Coimbra, em conformidade da versão francesa n-18º vol., i anotada por J. B. Glaire e aprovada pela Santa Sé. Editor José Franco de Sousa, Lisboa, Portugal. Imprensa Nacional, 1875. — 1 vol. in-18º, de XXII — 507 pags. [20]

    Essa tradução, além de ser a primeira do Novo Testamento para o português feita no Brasil, foi também a primeira tradução das Sagradas Escrituras impressa no país. [21]

    Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, o autor da primeira tradução do Novo Testamento para o português feita no Brasil faleceu em 1851, na cidade de São Luís, na província do Maranhão.

    Capítulo 2

    DÉCADA DE 1840

    Justus Parish Spaulding, pioneiro da distribuição da Bíblia no Brasil

    Em 1832, a Conferência Geral da Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal dos Estados Unidos autorizou seus bispos a estudarem com a Sociedade de Missões a possibilidade de abrir um trabalho missionário na América do Sul. O homem escolhido para investigar essa possibilidade foi o Rev. Fountain Elliot Pitts, membro da Conferência Anual do Estado do Tennessee. Nomeado pelo bispo James O. Andrews para realizar um trabalho de exploração missionária, Pitts visitou diversas igrejas nos EUA, levantando ofertas para custear as despesas de sua viagem. No dia 28 de junho de 1835, embarcou em Baltimore rumo ao Brasil, chegando à cidade do Rio de Janeiro no dia 19 de agosto daquele ano.

    Pitts iniciou sua visita missionária pregando em casas particulares. Permaneceu no Rio de Janeiro por pouco tempo, mas antes de partir para o Uruguai, para a segunda etapa de sua viagem, deixou organizada na cidade uma comunidade metodista, formada pelas pessoas amigas que ouviram suas pregações.

    Antes de deixar o Brasil, ele enviou à direção de sua Igreja nos Estados Unidos um relatório otimista sobre as possibilidades de abertura de um trabalho missionário permanente no Brasil. No dia 2 de setembro de 1835, escreveu esta carta ao secretário correspondente da Sociedade Missionária da Igreja Metodista Episcopal:

    Estou na cidade do Rio de Janeiro há duas semanas e lamento que minha permanência seja necessariamente breve. Creio que uma porta oportuna para a pregação do evangelho está aberta neste vasto império. Os privilégios religiosos permitidos pelo governo do Brasil são muito mais tolerantes do que eu esperava encontrar em um país católico… Já realizei diversas reuniões e preguei oito vezes em diferentes residências, onde fui respeitosamente convidado e bondosamente recebido pelo bom povo daqui… Há uma grande procura de Bíblias em português neste país… Sou da opinião de que o Brasil apresenta um campo perante os servos do Senhor Jesus Cristo que pode ser corretamente descrito como pronto para a ceifa. [22]

    Em 1836, a Conferência Anual da Igreja Metodista Episcopal na Nova Inglaterra, nos Estados Unidos, inspirada no relatório de Pitts, nomeou como seu primeiro missionário no Brasil o Rev. Justus Spaulding.

    Spaulding chega ao Brasil

    Em março daquele ano, Justus Spaulding partiu de Nova Iorque rumo à cidade do Rio de Janeiro. Iniciou seu trabalho missionário no Brasil organizando uma congregação para os estrangeiros que viviam na cidade. Em seguida, abriu uma escola para crianças em um salão no bairro do Catete, na Zona Sul da cidade. Organizou também uma escola dominical que funcionava no domingo à tarde. No domingo pela manhã, Spaulding exercia a função de capelão, dirigindo um culto para os marinheiros americanos e ingleses em trânsito pelo Rio de Janeiro. E no domingo à noite, realizava um culto para americanos e ingleses que moravam na cidade. E, na falta de um capelão efetivo, foi convidado pelo Comodoro Nicholson para dirigir o culto a bordo da fragata Independência, no porto do Rio de Janeiro. No primeiro ano de seu trabalho, ele enviou esta carta à sua missão nos Estados Unidos:

    Conseguimos organizar uma escola dominical, denominada Escola Dominical Missionária Sul-Americana, auxiliar da União das Escolas Dominicais da Igreja Metodista Episcopal… Mais de 40 crianças e jovens se tornaram interessados… Está dividida em oito classes com quatro professores e quatro professoras. Nós nos reunimos às 16h30min aos domingos. Temos duas classes de alunos negros, uma em inglês e outra em português. Eles parecem muito ansiosos e interessados em aprender. [23]

    Além de sua intensa atividade pastoral, Spaulding se dedicou também à distribuição de publicações religiosas enviadas pela Associação Americana para os Marinheiros e também à venda de Bíblias que recebia da Sociedade Bíblica Americana. Em seu livro Reminiscências de Viagens e Permanências no Brasil, publicado nos EUA, em 1845, o missionário metodista Rev. Daniel Parish Kidder disse que se sentiu muito honrado em ser admitido nos trabalhos missionários dirigidos pelo seu colega Rev. Justus Spaulding e deu as seguintes informações sobre suas atividades:

    Ele não só pregava aos domingos como também fazia profusa distribuição de folhetos e publicações religiosas deixadas em quantidade pelo Rev. Obadiah M. Johnson, que pouco tempo antes havia estado a serviço no Rio de Janeiro, sob o patrocínio da Associação Americana para os Marinheiros. A circulação das Sagradas Escrituras em português, que é a língua do país, constituía a nossa missão precípua. Até então jamais se haviam feitos esforços sistemáticos para uma larga distribuição da Bíblia nesse vasto e interessante país. [24]

    O missionário metodista James Lillbourne Kennedy, em seu livro 50 Anos de Metodismo no Brasil, publicado no Brasil em 1926, fez a seguinte avaliação da obra missionária realizada pelo Rev. Justus Spaulding no Brasil:

    Ainda que aquela primeira missão metodista, como trabalho organizado, terminasse no fim de 1841, permaneceu um elo vivo e pessoal que ligou aquele trabalho com o movimento moderno do Metodismo, e este elo foi a família Walker, que pertencia à igreja daquela época e que continua a pertencer à atual Igreja Metodista do Brasil, igreja esta que, pela graça de Deus, jamais acabará.

    O padre Luiz Gonçalves dos Santos disse em seu livro O Católico e o Metodista que, no dia 9 de março de 1838, a Sociedade Bíblica Americana enviou de Nova Iorque a seguinte carta à Junta de Missões da Igreja Metodista Episcopal no Brasil, então liderada pelo Rev. Justus Spaulding:

    Senhores, com esta nós estamos enviando uma caixa com 73 Bíblias e 25 Novos Testamentos, donativo para o trabalho dos missionários metodistas no Brasil.

    Spaulding colocou anúncios nos jornais do Rio de Janeiro, oferecendo o Novo Testamento a preços bem acessíveis. Não ofereceu a Bíblia completa para evitar a controvérsia sobre os livros deuterocanônicos ou apócrifos e preferiu oferecer o Novo Testamento na tradução católica do padre Antonio Pereira de Figueiredo para reduzir a oposição do clero católico.

    Anúncio nos jornais

    Em 1836, Spaulding publicou este anúncio em um dos principais jornais do Rio de Janeiro:

    Vende-se por 1$000 (um mil Reis), na Rua Direita nº 114, o Novo Testamento de Nosso Senhor Jesus Cristo, traduzido pelo padre Antonio Pereira de Figueiredo. A leitura desse livro é muito recomendável a todos os mestres e diretores de colégios do Império do Brasil, para ser adotado como livro de instrução para seus alunos, por que nele se encontra o tesouro mais precioso que o homem pode querer neste mundo. Esse livro é a fonte de luz, a fonte de moral, a fonte de virtude e a fonte de sabedoria. Nele é encontrado tudo o que é necessário para tornar o homem sábio e preparado para fazer toda boa obra. E ele é a base da instrução nos países protestantes, prósperos e adiantados. [25]

    Os esforços de Spaulding para distribuir a Bíblia deram resultado, pois, em carta enviada à Sociedade Bíblica Americana (SBA), em 23 de dezembro de 1837, informou que já havia distribuído todas as Escrituras que havia recebido e que, agora, esperava receber mais.

    Spaulding não chegou a ser um representante oficial da SBA, mas foi o primeiro missionário americano a permanecer no Brasil por vários anos e a promover sistematicamente a distribuição das Escrituras no país. Além disso, este grande pioneiro da causa da Bíblia no Brasil preparou o caminho para a vinda do primeiro representante da Sociedade Bíblica Americana no Brasil, o Rev. Daniel Parish Kidder. O missionário metodista Rev. Justus Spaulding permaneceu no Brasil durante cinco anos e retornou aos Estados Unidos no final de 1841. Deixou organizada no Rio de Janeiro uma congregação metodista de cerca de 40 membros e distribuiu milhares de folhetos evangélicos e centenas de Bíblias e Novos Testamentos.

    Daniel Parish Kidder, primeiro representante da Sociedade Bíblica Americana no Brasil

    1815-1891

    Daniel Parish Kidder

    Em 1837, com apenas 22 anos de idade, o pastor metodista Daniel Parish Kidder aceitou o convite da Sociedade Bíblica Americana (SBA) para ser o seu primeiro representante no Brasil. O Rev. Kidder nasceu em 18 de outubro de 1815 na cidade de Darien, no Estado de Connecticut, nos Estados Unidos, e passou grande parte de sua juventude na casa dos seus tios, no Estado de Vermont. Estudou em diversos colégios e, em 1836, formou-se na Wesleyan University. Apesar de sua família não ser religiosa, Kidder se converteu ao cristianismo e resolveu ser missionário. Embora sua primeira intenção fosse se tornar um missionário na China, não resistiu ao convite da Sociedade Bíblica Americana (SBA) para trabalhar no Brasil.

    No mesmo ano, embarcou para o Brasil, acompanhado por sua esposa, Cynthia, e se estabeleceu na cidade do Rio de Janeiro. Seu objetivo era distribuir a Bíblia a todos os interessados, vendendo a quem pudesse pagar ou doando às pessoas mais pobres. Sua primeira impressão foi de que a Bíblia era um livro desconhecido no Brasil, ausente até mesmo das principais bibliotecas públicas do país.

    Com o firme propósito de mudar essa situação, Kidder empreendeu um esforço sistemático para promover uma larga difusão das Escrituras Sagradas no Brasil. Realizou seu trabalho com a ajuda do missionário Spaulding, que havia se estabelecido em terras brasileiras um ano antes dele. Fixou residência no Rio de Janeiro e passou a visitar as principais cidades das províncias do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia e Pernambuco, onde realizou uma ampla distribuição de Bíblias e Novos Testamentos.

    Os resultados do trabalho de Kidder foram animadores, pois o primeiro carregamento de Bíblias e Novos Testamentos que ele recebeu de Nova Iorque logo se esgotou, conforme relata em seu livro Reminiscências de Viagens e Permanências no Brasil:

    Tendo se espalhado a notícia de que havíamos recebido um bom suprimento das Escrituras Sagradas, nossa casa ficou literalmente cheia de pessoas de todas as idades e condições sociais: desde os velhos de cabelos brancos, até os meninos, o fidalgo e o escravo. Na sede de nossa missão, foram distribuídos gratuitamente muitos exemplares das Escrituras Sagradas. Entre as pessoas que nos procuraram pessoalmente estavam diretores de escolas e estudantes. Além da Bíblia em português, pediam também exemplares em francês e inglês. Tivemos conhecimento de muitos casos em que a divulgação das Escrituras havia produzido efeitos benéficos imediatos. Só a eternidade poderá revelar todo o alcance dos benefícios recebidos por essas pessoas que leram a Bíblia pela primeira vez. Ao viajar pelas províncias distantes, verifiquei que volumes sagrados enviados do Rio de Janeiro haviam chegado lá antes de mim. Em todos os lugares em que chegavam, eles despertavam tanto interesse, que levavam o povo a querer mais. [26]

    A Bíblia, um livro desconhecido

    Em 1839, Kidder visitou na cidade de São Paulo o conselheiro Brotero e sua esposa, que era americana, nascida na cidade de Boston. Brotero era secretário da Academia Jurídica de São Paulo e seu diretor em exercício. A biblioteca dessa academia dispunha de um acervo de mais de sete mil livros, grande parte doada pelo bispo franciscano da Ilha da Madeira. Porém, para sua surpresa, Kidder verificou que não havia ali nem um único exemplar da Bíblia em português. Ele, então, fez a doação, em nome da Sociedade Bíblica Americana, de um exemplar da Bíblia em português, na tradução do padre Antonio Pereira de Figueiredo, com a seguinte dedicatória:

    "À Biblioteca da Academia Jurídica de São Paulo — da Sociedade Bíblica Americana, pelo seu correspondente, D. P. Kidder.

    São Paulo, 15 de fevereiro de 1839." [27]

    O primeiro representante das Sociedades bíblicas no Brasil conta, também, que em uma de suas viagens ao interior da província de São Paulo, foi recebido por um sacerdote católico que lhe mostrou, com orgulho, um exemplar da Bíblia de Calmet, em francês, publicada em vinte e seis volumes. Porém, em sua biblioteca, não havia nenhum exemplar da Bíblia ou do Novo Testamento em português.

    O trabalho de distribuição das Escrituras realizado por Kidder foi bem-recebido no Brasil, tanto pelos políticos e intelectuais como pelas pessoas mais simples. Muitos padres católicos se tornaram seus amigos e colaboraram com ele na distribuição das Escrituras.

    Houve apenas uma reação contrária a seu trabalho, vinda de um pequeno jornal do Rio de Janeiro, chamado O Católico Fluminense. Publicado por católicos anônimos, esse periódico denunciou que suas Bíblias eram falsas. Porém, essa oposição teve um efeito contrário ao esperado pelos seus autores e acabou despertando ainda maior interesse pelas Escrituras distribuídas por Kidder.

    Entre os mais interessados em receber

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