Temperamento e carreira: Desvendando o enigma do sucesso
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Temperamento e carreira - Maria da Luz Calegari
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Temperamentos e tipos psicológicos
Tipificar a humanidade não foi um trabalho pioneiro de Carl Gustav Jung. Essa idéia é tão antiga que já aparece no Velho Testamento. Ao longo dos séculos, a preocupação restringiu-se, no entanto, a classificar os seres humanos em temperamentos que servissem de baliza para compreender a congruência de determinados comportamentos e, por outro lado, entender as razões das divergências. Para quem estudou filosofia grega e, especialmente, Platão e Aristóteles, ouvir falar de artesãos, hedonistas, guardiães, proprietários, éticos, idealistas e racionais soa muito familiar. Eram essas as denominações mais comuns atribuídas a diferentes formas de ver o mundo e de comportar-se nele.
O quadro mostra as várias concepções, que vigoraram em diferentes épocas, e as atuais.
Denominação dos tipos psicológicos, por temperamentos, ao longo do tempo¹, ²
Fontes: David Keirsey e Stephen Montgomery (ver Bibliografia).
Nos anos 1980, graças a importantes descobertas dos neurocientistas (entre eles Roger Sperry, Prêmio Nobel de Fisiologia, e Ned Herrmann), foi possível mapear o cérebro humano. Os pesquisadores citados concluíram, em laboratório, que o hemisfério esquerdo é sensorial (S) e pensador (T), enquanto o direito é intuitivo (N) e sentimental (F), tal como intuíra Jung sessenta anos antes. O gráfico abaixo apresenta, de forma esquemática, as principais funções da mente.
Representação gráfica das funções mentais
FUNÇÕES MENTAIS E OPERAÇÕES PRINCIPAIS (ESQUEMA)
Fontes: Roger Sperry e Ned Herrmann.
Outros neurocientistas, entre eles António Damásio (citado na Introdução) e o brasileiro Miguel Nicolelis, da Duke University, comprovaram a importância da mente até para contradizer a ciência. Damásio disse na obra O erro de Descartes que a razão que não leva em conta a emoção é uma razão incompleta.
Por sua vez, Nicolelis considera o cérebro mais importante que o DNA. Recentemente, afirmou que o fascina o fato de que, talvez mais que o código genético, o cérebro nos diz o que cada um de nós realmente é, tanto o que temos em comum, como nossas diferenças. Esses circuitos e sua dinâmica explicam por que escrevemos, por que lembramos das coisas, o que sentimos, as tristezas, os nossos medos, nossos amores. Tudo isso está na atividade dos diferentes circuitos cerebrais
.³
Concomitantemente às descobertas dos neurocientistas sobre o funcionamento do cérebro, surgiu uma teoria revolucionária, a das inteligências múltiplas, sistematizada pelo neurocientista e professor da Harvard Graduate School of Education e da Boston University School of Medicine (EUA), Howard Gardner.
Gardner parte do pressuposto de que existem, pelo menos, sete tipos de inteligências que se desenvolvem de forma relativamente autônoma (ver o Capítulo 2).
Temperamentos e tipos psicológicos
Observando o comportamento das pessoas em consultório e também em sociedade, C. G. Jung formulou uma hipótese (que, depois, testaria viajando por várias partes do mundo, inclusive o Brasil): o comportamento humano não é fruto do acaso. Ele é preditível e, portanto, classificável. Diferenças de comportamento, conforme escreveu na obra Tipos psicológicos, de 1921, são resultado de preferências relativas aos processos mentais, exercitados ao longo da vida. Tais preferências emergem cedo, constituindo as fundações da personalidade.
Seus seguidores aprofundaram esse conceito. As norte-americanas Katherine Briggs e Isabel Myers abriram um importante veio para compreender as teorias junguianas que, depois, serviram como guias para outros pesquisadores. Briggs começou a interessar-se por essa área na década de 1920 e sua filha, Isabel Myers, continuou os estudos e pesquisas pelas décadas seguintes. Nos anos 1960, Myers desenvolveu um Indicador de Tipos Psicológicos (MBTI)®, que teve muita aceitação na Europa, nos Estados Unidos e no Japão e, hoje, é amplamente utilizado em Recursos Humanos, terapia, orientação pessoal, vocacional e profissional, também no Brasil.
Em suas pesquisas, realizadas em todos os gêneros de estabelecimentos escolares, instituições, indústrias, empresas comerciais, financeiras e de serviços, Myers pôde observar que as pessoas nascem com determinados dons sobre os quais o meio ambiente exerce pouca influência (a não ser no sentido de desenvolvê-los em maior ou menor grau), que têm preferências mentais e que o uso destas é decisivo para firmar uma personalidade.
A idéia de que o tipo psicológico já está presente no indivíduo ao nascer, e que os tipos são universais, está lastreada nas noções de arquétipo e inconsciente coletivo, dois conceitos que constituem a base da psicologia de Jung. Arquétipos são os alicerces da vida psíquica, comuns a todos os homens e mulheres.
Os arquétipos são núcleos de energia em estado virtual que podem ser ativados pelo dinamismo incessante da psique. O dinamismo da psique é um dos fatores que promovem a diferenciação (individuação) entre as pessoas, ou seja, o que faz com que uma pessoa seja única no universo
, escreveu a psiquiatra brasileira Nise da Silveira em seu livro Jung, vida e obra.
Em relação ao conceito de inconsciente coletivo, Jung afirmou que, do mesmo modo que o corpo humano apresenta uma anatomia comum, sempre a mesma, apesar de todas as diferenças raciais, assim também a psique possui um substrato. Ele denominou esse substrato inconsciente coletivo, uma herança que transcende todas as diferenças de cultura e de atitudes conscientes, ou seja, o inconsciente coletivo apresenta disposições latentes para reações idênticas. Ele nada mais é que a expressão psíquica da identidade da estrutura cerebral, independentemente de todas as diferenças raciais. Suas origens são desconhecidas e perdem-se no tempo.
Nise da Silveira lembra que a noção de arquétipo, introduzida por Jung, postulando a existência de uma base psíquica comum a todos os seres humanos, permite compreender por que em lugares e épocas distantes aparecem temas idênticos nos contos de fadas, nos mitos, nos dogmas e nos ritos das religiões, nas artes, na filosofia, nas produções do inconsciente de um modo geral – seja nos sonhos de pessoas normais, seja em delírios de loucos
.
Tipos psicológicos nada mais são do que imagens arquetípicas que fazem parte do patrimônio psíquico da humanidade e, assim sendo, desfaz-se o que poderia parecer um mistério: o fato de os tipos humanos serem os mesmos em qualquer ponto do planeta. Jung comparou os arquétipos a leitos de rios secos. Estes disponibilizam suas estruturas básicas que servem de itinerário para outros volumes de água que venham a preenchê-los. Ou, ainda, são aglomerados de imagens, sentimentos e idéias que fazem parte do histórico psíquico, comum a todos os seres humanos, porque foram vividos e poderão ser revividos individual ou coletivamente.
James Hillman e Erich Neumann, psicólogos que preferiram enveredar pelo terreno mitológico, Briggs e Myers, David Keirsey e Stephen Montgomery, que elegeram para estudo a pesquisa empírica dos temperamentos em ação, são, hoje, os nomes mais citados quando o assunto é autoconhecimento. As pesquisas dos dois últimos representam o estado-da-arte sobre caracteres, inteligências e temperamentos dos dezesseis tipos psicológicos.
OS 16 TIPOS PSICOLÓGICOS
Obs.: As siglas são utilizadas pelos adeptos de Myers-Briggs. David Keirsey denominou os tipos de acordo com suas observações sobre os temperamentos em