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Liturgia da Palavra I: Reflexões para os dias de semana
Liturgia da Palavra I: Reflexões para os dias de semana
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Liturgia da Palavra I: Reflexões para os dias de semana

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Este livro pretende ser um roteiro de reflexões diárias para quem deseja preparar homilias consistentes, bem fundamentadas e, sobretudo, numa linguagem acessível, de fácil entendimento para a comunidade. Serve para quem deseja aprofundar os textos da liturgia diária, ou meditá-los no dia a dia. Ajuda preciosa aos ministros ordenados e também aos leigos, com tantos afazeres e pouco tempo para preparar uma reflexão adequada. As reflexões são essencialmente bíblicas, porém contextualizadas com a realidade.
LanguagePortuguês
Release dateSep 16, 2014
ISBN9788534940177
Liturgia da Palavra I: Reflexões para os dias de semana

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    Liturgia da Palavra I - Padre José Carlos Pereira

    ABREVIATURAS

    Os títulos dos livros bíblicos são abreviados da seguinte maneira:

    PRIMEIRA PARTE

    CICLO DO NATAL

    Tempo do Advento

    (cor: roxa)

    1ª SEMANA

    Segunda-feira

    Is 4,2-6 (ou Is 2,1-5) | Sl 121(122) | Mt 8,5-11


    Estamos iniciando um tempo muito especial na nossa vida, o Advento. É o tempo da espera e por essa razão a liturgia da Palavra deste tempo nos fala de esperança. Porém, não é uma espera passiva, mas comprometida com a vinda do Senhor. Quem nos acompanha neste tempo litúrgico é o profeta Isaías, também conhecido como profeta da esperança. No texto da primeira leitura de hoje, Isaías fala de um tempo de esplendor e glória, um tempo em que a terra dará frutos e quem os colherá são os sobreviventes das tribulações, aqueles que perseveraram diante das dificuldades e sofrimentos que vimos durante a última semana do Tempo Comum. Estes sobreviventes serão chamados de santos e terão como prêmio a vida nesta nova cidade, a nova Jerusalém, uma cidade purificada de todas as suas manchas, lugar onde se pratica a justiça e que terá sempre a proteção de Deus, dia e noite, simbolizada na nuvem que faz sombra durante o dia e clarão de chamas que iluminarão a cidade durante a noite, na tenda para dar sombra contra o calor do dia e no abrigo e refúgio contra a ventania. Enfim, uma cidade morada de Deus, onde reina a paz. Assim, neste tempo do Advento, deixemos brilhar em nós a luz dessa esperança da qual fala o profeta Isaías. Esperança é acreditar que as coisas irão melhorar e que as nuvens negras que encobriam a terra estão se dissipando. Agora vislumbramos a luz de um tempo novo que dentro de algumas semanas se concretizará no Natal do Senhor. Acreditando nesta boa notícia, sigamos firmes na preparação para esta grande festa do nosso calendário litúrgico. Sigamos com a fé que guiou o oficial romano ao encontro de Jesus, pedindo a cura de seu funcionário.

    Vemos, assim, que dois elementos importantes do tempo do Advento estão presentes no evangelho de hoje: a fé e a esperança. O oficial romano dá provas da sua fé e mostra que age com justiça para com seus subordinados. Ele se preocupa com eles e pede que Jesus o cure. A fé deste homem é tanta que basta uma palavra para que seu empregado fique curado. Aqui temos a expressão que usamos todos os dias, na hora da comunhão, quando o corpo de Cristo é apresentado: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma palavra e serei salvo. É um testemunho de fé digno de ser imitado e repetido. Não somos dignos da entrada de Jesus na nossa vida, mas basta uma palavra dele e estaremos com ele e ele conosco.

    Que sejamos promotores do Reino de Deus. Esse Reino que não tem fronteiras, como nós vemos no evangelho de hoje, quando Jesus concede a cura, através da fé, ao funcionário do oficial romano. Esse reino que é fruto da paz e da justiça, construído com fé e esperança. Que saibamos caminhar ao encontro de Jesus que vem, com respeito e fé, como fez o oficial romano, na certeza de que ele vem para curar as nossas feridas, libertar-nos dos males que nos atingem, purificar-nos dos nossos pecados, dissipar as trevas que nos atingem, como mostra Isaías na primeira leitura.

    Terça-feira

    Is 11,1-10 | Sl 71(72) | Lc 10,21-24


    O profeta Isaías descreve o dia ou tempo tão sonhado, quando de um tronco (Jessé), aparentemente seco, surgirá um broto. Ninguém esperava que da família de Jessé saísse alguém, o qual, mais tarde, transformaria o mundo. Esse broto se transformará numa árvore exuberante porque nele está o espírito do Senhor. Que tronco e broto são esses? É uma referência direta ao descendente de Davi, Jesus, que nascerá num lugar insignificante, no qual ninguém depositava mais nenhuma esperança, mas que iria promover grandes mudanças porque teria atitudes inusitadas, que romperiam com costumes excludentes, como, por exemplo, não julgar as pessoas ou situações pela aparência ou por ouvir dizer, mexeria com a terra somente pela força da sua palavra, destruindo os males e suas causas. Suas ações seriam justas porque ele estaria revestido de justiça. Elas provocariam grandes transformações, trazendo a paz, a concórdia, a harmonia entre todos. Seria o fim do dano e da morte.

    Temos ainda nesta primeira leitura o enfoque nos dons do Espírito Santo que recebemos na confirmação do batismo. O dom da sabedoria, da inteligência, do conselho, da fortaleza, do conhecimento, do temor de Deus. São dons que nos ajudam a caminhar ao encontro do Cristo que vem no Advento do seu Natal. Com esses dons ajudaremos a tornar realidade a encarnação de Deus. Esse Deus que vem para julgar os fracos com justiça e esse julgamento não estará baseado na aparência, diz o profeta Isaías. Temos, assim, nesta primeira leitura, o ideal de um mundo melhor, mais justo e fraterno, sem tantas desigualdades e desmandos políticos. Um mundo semelhante àquele que encontramos no relato da criação, ou seja, um jardim onde reina a paz. Mas para que esse mundo ideal aconteça será preciso muito empenho e dedicação e também sensibilidade para perceber seus sinais.

    O evangelho fala que estes sinais do novo tempo serão percebidos primeiro pelos pequeninos, os que cultivam a humildade em seu coração. Somente com um coração humilde será possível construir esse novo céu e essa nova terra anunciada por Isaías na primeira leitura. Os ensoberbecidos pela sabedoria ou pelo poder dificilmente perceberão tais sinais. Não há espaço em suas mentes e corações para perceber coisas desta dimensão. Com isso, a liturgia sugere que podemos, neste tempo do advento, fazer uma profunda revisão de vida e detectar se não há em nosso coração algo que nos impede de perceber e promover esse reino de paz, amor e justiça.

    Que cada dia deste novo tempo que se inicia seja ocasião de revermos o que nos impede de perceber os sinais do Reino. Que cada um procure dissipar do seu coração todo orgulho, vaidade, arrogância, pois esses e outros males nos impedem de perceber os sinais de Deus.

    Quarta-feira

    Is 25,6-10a | Sl 22(23) | Mt 15,29-37


    A liturgia da Palavra de hoje fala de um mundo onde reinará a justiça, a paz e todos terão o que comer com fartura por meio da imagem de um banquete e da partilha. A primeira leitura relata que Deus, o Senhor dos exércitos, dará a todos (e não apenas para alguns), um banquete de ricas iguarias. Esse banquete será oferecido no alto de um monte, como sinal da visibilidade e do acesso a todos, lugar da manifestação de Deus, um Deus que vem para concretizar um Reino de justiça, simbolizada na remoção da ponta da cadeia que ligava os povos, a teia que envolvia todas as nações. Os símbolos de esperança são muito evidentes nesta primeira leitura: eliminação da morte para sempre, enxugamento das lagrimas, fim da desonra etc.

    É hora de se alegrar porque esse tempo novo de esperança está por vir. Esse tempo novo é fruto da justiça, das boas ações, do comprometimento com a vida. É isso que mostra o evangelho ao apresentar Jesus às margens do mar da Galileia, junto às multidões de necessitados. Jesus se compadece delas. A compaixão de Jesus mobiliza-o a buscar soluções para um problema crucial: a fome. Ele constata que há fome porque não há partilha, e é exatamente essa a proposta de Jesus: partilhar o pouco que se tem para que todos possam ter o que comer. A imagem dos sete pães e alguns peixinhos contrasta com o banquete de ricas iguarias da primeira leitura. Para que a vida seja de fato um banquete, é preciso que haja solidariedade e partilha. Quando o pouco é partilhado, ele se multiplica. Todos comem, ficam saciados e ainda sobra. O que era pouco, ao final virou um banquete. Não é mágica, é o milagre da partilha. Nada mais oportuno neste início de advento uma proposta como essa da liturgia de hoje. Se todos partilharem um pouco, o Natal não será um banquete de apenas um dia, mas haverá comida na mesa de todos durante o ano inteiro. A partilha é o remédio para todos os males, a cura para todas as enfermidades, como mostra o início do evangelho, quando Jesus acolhe e partilha do seu divino amor.

    Quinta-feira

    Is 26,1-6 | Sl 117(118) | Mt 7,21.24-27


    Hoje, a liturgia nos fala da importância de viver a Palavra de Deus, de colocá-la em prática, para que este tempo novo aconteça. Fala de um Deus que dá força aos fracos, tornando-os firmes como a rocha. Aos que se acham poderosos, inchados de arrogância, ele derruba dos seus tronos. Isaías apresenta um canto, o canto do povo de Judá liberto. Liberto do medo, da insegurança. Um canto de justiça e de cumprimento da Palavra que manifesta a firmeza de seus propósitos. É o canto da esperança, da paz e da confiança. Um cântico que mantém sintonia com o cântico atribuído a Maria (o Magnificat): derruba do trono os poderosos e eleva os humildes (Lc 1, 52).

    A esperança anunciada pelo profeta Isaías nesta primeira leitura é a de uma cidade fortificada, símbolo da segurança. Num mundo de tanta insegurança e vulnerabilidade, sentir-se amparado é o desejo de todos e é esta a promessa de hoje, neste tempo de preparação para o Natal do Senhor. Ninguém precisará ter medo porque esta cidade Deus a cercou de muros e antemuro. As muralhas de Deus são inabaláveis, por maior que sejam as tormentas e os tormentos. É dessa segurança que fala o evangelho da casa construída sobre a rocha. Nossa vida é um edifício em constante construção. Porém, para que ela esteja sempre firme, é preciso estar alicerçada nesta grande rocha que é a vivência, a prática da Palavra de Deus. Não basta repetir a Palavra de Deus nas ruas e praças, mas é preciso vivê-la no dia a dia. Quem só fala e não a vive, está construindo um castelo sobre a areia. Qualquer sopro pode colocá-lo abaixo. Quantos são os que na primeira dificuldade enfrentada se revoltam contra Deus! E, às vezes, são pessoas que estavam constantemente na igreja, comungavam e falavam de Deus. Há, porém, os que nem demonstram tanta fé ou assiduidade na comunidade, mas que dão grandes lições de fé na hora de ser solidário ou quando é acometido por alguma doença grave ou tragédias. Permanecem inabaláveis, com a certeza de que Deus, apesar de tudo, está ali, alicerçando a sua vida para que ela não desmorone.

    Pedimos a Deus neste dia que nos dê o dom da fortaleza. Que não nos deixe desanimar ou abater diante das dificuldades. Ele estará sempre ao lado dos que sofrem e dos fracos, fortalecendo-os.

    Sexta-feira

    Is 29,17-24 | Sl 26(27) | Mt 9,27-31


    Neste tempo de preparação para o Natal do Senhor, a liturgia da Palavra vem nos alentando com imagens e símbolos de esperança. Tivemos oportunidade de ver comparado esse tempo novo com um banquete de ricas iguarias, no qual todos poderão participar; foi comparado também a uma cidade fortificada, onde todos se sentiram seguros. Hoje, Isaías nos brinda com a imagem do jardim, um lugar de paz e tranquilidade. O Líbano transformado em jardim e o jardim em floresta. É a imagem do paraíso, o Jardim do Éden, lugar de alegria dos humildes, onde os prepotentes, os trapaceiros, os malfeitores não terão vez nem voz.

    Quando virá este tempo e este lugar? Quando a nossa fé for igual à dos dois cegos do evangelho de hoje. Uma fé tão grande, que chega a ser capaz de transformar a escuridão das inúmeras formas de cegueiras em luz que não se apaga. Para tanto, é preciso ir ao encontro de Jesus e deixar que ele toque os nossos olhos. Mas não basta que ele toque nossos olhos, pois eles vão se abrir em proporção à nossa fé. Se a nossa fé for fraca, pequena, veremos com pouca clareza. Porém, se a nossa fé for, de fato, grande, nossos olhos se abrirão plenamente e poderemos vislumbrar o jardim da vida, reservado somente aos que acreditam verdadeiramente. Libertar da cegueira significa, entre outras coisas, libertar da alienação que impede de enxergarmos a realidade. Há um ditado que diz que o pior cego é aquele que não quer ver. A cura dos dois cegos se deu porque eles realmente queriam ver. Há muitos cegos que têm os olhos perfeitos, mas que só enxergam o que lhes convém. Este tipo de cegueira dificilmente tem cura porque a pessoa não a busca. O provérbio anterior poderia ser modificado para a seguinte forma: o pior cego é aquele que pensa que enxerga.

    Hoje, somos convidados a ir ao encontro de Jesus e pedir que ele abra nossos olhos para enxergar a realidade e transformar tudo o que for árido num belo jardim. Vejamos, à nossa volta, os símbolos dessa aridez. A primeira leitura poderá muito bem nos ajudar a ver estas situações de aridez, como, por exemplo, a aridez da prepotência, das trapaças, das maldades, injustiças e tantas outras, e a eliminá-las da nossa vida e da nossa volta. Desse modo, estaremos contribuindo para que estas coisas deem lugar a um belo jardim.

    Sábado

    Is 30,19-21.23-26 | Sl 146(147a) Mt 9,35–10,1.6-8


    A liturgia de hoje nos mostra a esperança através da cura de todas as enfermidades que provocam sofrimento. Na primeira leitura, o profeta Isaías fala de um povo que não terá mais motivo para chorar porque Deus se compadeceu dele. A compaixão é um sentimento que significa sofrer com aquele que sofre. Ter compaixão significa sentir a mesma dor. Um Deus que se compadece do povo é um Deus que sente a sua dor. Assim sendo, ele ouvirá o clamor deste povo e o atenderá. Virá e fará morada junto dele. Transformará a angústia e a aflição deste povo em alegria. Todos poderão sentir e ver a presença deste Deus. É um Deus que se faz gente. É o verbo que se faz carne e habita entre nós. O Natal do Senhor é exatamente isso, e é para isso que estamos nos preparando. Uma luz resplandecente iluminará para sempre a humanidade. Essa esperança do fim das enfermidades e sofrimentos está presente também no evangelho. Aqui, Cristo também se compadece ao ver o sofrimento das multidões. Estar como ovelhas sem pastor é estar totalmente abandonado, vulnerável, exposto a todo tipo de perigo. É diante desta realidade que Jesus vê quanta coisa precisa ser feita.

    O resultado de sua compaixão é a convocação e o envio dos discípulos para a missão, cujo objetivo principal é diminuir a dor e o sofrimento. Antes, porém, eles se abastecem da oração, das preces a Deus para que envie operários para a sua messe. Hoje, não é diferente. Por mais que haja gente empenhada para diminuir a dor do seu semelhante, ainda é necessário fazer muitas coisas. Precisa-se ainda de muitos operários. A missão é, em primeiro lugar, expulsar os espíritos maus, aqueles que fazem os outros sofrerem. Em seguida, curar as feridas causadas por estas pessoas. Nesta jornada missionária, há que primar pelos mais necessitados. Há realidades mais urgentes.

    Em suma, quando fazemos o bem, quando diminuímos a dor do outro, anunciamos a aproximação do Reino de Deus. Pequenos gestos de amor podem representar sinais da chegada desse Reino.

    2ª SEMANA DO ADVENTO

    Segunda-feira

    Is 35,1-10 | Sl 84(85) | Lc 5,17-26


    A liturgia da Palavra de hoje nos apresenta coisas maravilhosas: mãos e joelhos que eram enfraquecidos ficam fortes; pessoas deprimidas ganham ânimo e coragem; cegos enxergam e surdos começam a ouvir; aleijado caminha sem nenhuma dificuldade; mudos falam e águas brotam nos lugares desertos e ressequidos; terra árida se transforma em lago; plantas crescem em lugares antes desertos, e tantas outras coisas maravilhosas, porém inenarráveis. Todas estas maravilhas são anunciadas por Isaías neste tempo novo que vem chegando.

    Que tempo é esse tão espetacular, que Isaías anuncia? É o tempo de preparação para a vinda do Senhor. Deus, muito em breve, se fará um de nós e virá habitar entre nós. Porém, mesmo sendo um tempo de expectativas e esperanças, não deve ser um tempo de passividade ou de cruzar os braços esperando esse dia grandioso, vindo num passe de mágica. Mas sim o contrário. É tempo de preparar essa chegada, com a qual todas estas coisas maravilhosas anunciadas irão acontecer. Por essa razão o advento é tempo de preparação. É o que nos mostra o evangelho de hoje. Mateus apresenta Jesus ensinando. O ensinamento de Jesus consiste exatamente neste aspecto da preparação: não se acomodar diante da realidade, não desanimar frente às dores e sofrimentos, às enfermidades, às calamidades, às injustiças. Tudo isso terá um fim se houver comprometimento de todos para erradicá-las. Não são poucas as dores, os sofrimentos que cercam Jesus, como não são poucos os sofrimentos que nos cercam hoje.

    O que fazer diante de tudo isso? Como anunciar um novo tempo, onde tudo isso terá um fim, quando as coisas parecem que não têm mais jeito, quando há tantos pessimistas, conformados, acomodados ou que tiram vantagens da miséria e da dor alheia? Não era diferente no tempo de Jesus. O que ele propõe? A fé, a esperança, a solidariedade. É o que vemos neste grupo de homens que chegam até Jesus, com tanta dificuldade, a ponto de abrir um vão no telhado para poder chegar até ele com um paralítico.

    Uma pessoa paralisada é colocada diante da assembleia e de Jesus. É isso que precisa ser feito. Ao expor o paralítico diante de Jesus e da assembleia, eles expuseram não apenas uma pessoa paralisada, o problema da paralisia daquele povo que nada fazia diante de tantas injustiças. O sistema político, econômico e religioso da época era o causador da paralisia das pessoas, principalmente dos pobres e marginalizados. Jesus rompe com esse sistema e provoca escândalo. Quem se escandaliza são exatamente aqueles que não queriam que as pessoas andassem com as próprias pernas, que não ouvissem ou que não falassem, enfim, que ficassem totalmente dependentes de uma elite dominante.

    Quando Jesus mostra que é possível outra forma de ver o mundo e de viver sem dependências, ele provoca espanto. Mesmo assim, Jesus propõe um tempo novo, com tantas maravilhas, resultado da libertação das pessoas e das situações. Mas isso só será possível quando todos forem comprometidos com a erradicação das causas do sofrimento e da miséria. Que o exemplo de fé daqueles homens do evangelho, que, sem medir seus esforços, fizerem com que o paralitico chegasse até Jesus, ilumine nossas mentes para sermos também criativos na busca para a solução dos problemas atuais que continuam a paralisar boa parte das pessoas, pois só assim poderemos cantar como pede o salmo: Eis que vem o nosso Deus! Ele vem para salvar.

    Terça-feira

    Is 40,1-11 | Sl 95(96) | Mt 18,12-14


    Hoje, a liturgia da Palavra nos mostra esse tempo novo que se aproxima, o tempo da vinda de um Deus que ama incondicionalmente a todos, especialmente os mais necessitados, como, por exemplo, os que se desviam do caminho, os que adoecem ou sofrem qualquer tipo de privação. Esses são amados por Deus. O Senhor não mede esforços para encontrá-los, a exemplo do Pastor que busca a ovelha que se perdeu do rebanho.

    Como ovelhas do Bom Pastor nos preparamos para um tempo novo. Um tempo que pede que cada um de nós seja, ao mesmo tempo, ovelha e pastor. Ovelha no sentido de nos deixarmos guiar pelo Pastor dos pastores, Jesus, e pastor no sentido de cuidar daqueles que necessitam dos nossos cuidados. Para que esse tempo novo aconteça e essa vinda tão esperada do Senhor seja, de fato, realidade, é preciso que tenhamos alguns procedimentos que mostrem a nossa espera ativa. É preciso preparar os caminhos do Senhor. Preparar sua chegada.

    Essa preparação não consiste em simplesmente montar a árvore de natal ou o presépio. Consiste em se empenhar para eliminar todos os obstáculos, tudo o que possa impedir que esse tempo novo aconteça. O profeta Isaías, numa linguagem figurada, diz que é preciso aplainar na solidão a estrada do Senhor. Nem sempre vamos encontrar adeptos, pessoas que topam enfrentar os desafios, os desertos desse processo, mas nem por isso temos de desistir. Diz também que é preciso nivelar todos os vales, rebaixar os montes e colinas, ou seja, enquanto houver disparidades, desigualdades, assimetrias entre as pessoas, esse tempo novo estará longe de ser uma realidade. Os grandes abismos que separam ricos e pobres precisam ser diminuídos, se quisermos um mundo de justiça e paz. Os que estão no topo da pirâmide social precisam descer para que outros possam subir um pouco na escala social, a fim de diminuir as desigualdades, que fazem com que poucas pessoas tenham tanto, e muitas pessoas tenham pouco.

    Isaías diz ainda na sua profecia que é preciso endireitar o que é torto e alisar as asperezas. Há tantos procedimentos incorretos, tantas corrupções que precisam ser reparadas que fica difícil falar de um mundo sem servidão, quando ainda há tantos desmandos e desvios entre os que têm algum tipo de poder. Endireitar tudo aquilo que está torto consiste, portanto, em primar pela ética, pela moral e os bons costumes. Para que tudo isso ocorra, precisa-se de vozes que gritem neste deserto, precisa-se de gente que não se cale. É preciso tomar consciência da brevidade da nossa vida e não perder tempo na busca de qualidade de vida para todos. É preciso não temer, resgatar a dimensão profética recebida no batismo e denunciar para anunciar. Denunciar as injustiças e anunciar o tempo novo.

    Que neste tempo do advento cada um se sinta amparado pelo Bom Pastor e não tenha medo dos lobos que estão à espreita, aguardando a ocasião de atacar.

    Quarta-feira

    Is 40,25-31 | Sl 103(104) | Mt 11,28-30


    Os textos bíblicos da liturgia de hoje nos dão muito conforto, segurança e ânimo, que são elementos essenciais para continuar o processo de preparação deste novo tempo que está para chegar.

    A primeira leitura do livro do profeta Isaías fala da grandiosidade e do poder de Deus que tudo criou e ordenou, um Deus que conduz o universo com perfeita harmonia. É confiando nele que encontraremos descanso para nosso corpo e alma, mesmo que as tribulações e desafios sejam grandes e, aparentemente, insuperáveis. Um Deus, cuja sabedoria é insondável. Ele é eterno e incansável. Por isso, nele podemos confiar. É a ele que entregamos nosso cansaço, nossas agruras, e ele nos dá força e alento. Quem espera e confia em Deus, nunca decepciona, porque ele não falha. É um porto seguro.

    Nesta mesma linha de reflexão segue o evangelho. Ele é um convite a nos achegarmos a Jesus com todas as nossas debilidades. E quantas são as nossas fraquezas, nossos medos, nosso cansaço! Praticamente na metade deste caminho de preparação, o tempo do advento, os obstáculos que encontramos são muitos. Há momentos em que parece que o mundo profetizado por Isaías nunca vai deixar de ser uma utopia. É em momentos como estes, nos desertos de nossa vida, que precisamos de um colo que nos acalente, um ombro amigo, um coração manso e humilde que receba o nosso cansaço. Ouvir Jesus dizer: Vinde a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso soa como um oásis no deserto. Porém, ele nos pede que olhemos para a carga dele, a cruz e as cruzes que antecederam a cruz final.

    Ao olhar para ela, nosso fardo ficará muito leve e perceberemos que reclamamos por muito pouco. O nosso cansaço e desânimo é uma vergonha perto do que ele passou por nós. Diz ele: Carreguem a minha cruz e aprendam de mim. Temos muito o que aprender com a cruz de Cristo. Quem não aprende é porque ainda não fez a experiência de tomá-la de alguma forma. Mesmo com cruz tão pesada, ele se portou na mansidão e na humildade. É neste espelho, neste exemplo que devemos pautar a nossa vida. Antes de qualquer lamento ou lamúria, é bom pararmos diante do Crucificado e rezar: Jesus manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao vosso. É com um coração semelhante ao dele que vamos construir esse mundo novo. É contemplando o seu fardo que vamos chegar à conclusão que ele sugere: Minha carga é suave e o meu fardo é leve.

    Que neste tempo de preparação para o Natal do Senhor nos empenhemos mais em sermos solidários uns com os outros. Com isso, tornaremos não apenas nossa carga mais leve, mas também a de todos os que sofrem com o peso do seu fardo.

    Quinta-feira

    Is 41,13-20 | Sl 144(145) | Mt 11,11-15


    Nesta quinta-feira, a liturgia da Palavra nos dá conforto e segurança, principalmente a primeira leitura, quando Isaías, numa linguagem figurada, fala que Deus nos toma pela mão e diz: Não temas; eu te ajudarei. Mesmo quando nos sentimos pequenos e insignificantes, ele nos torna um gigante, ao se colocar ao nosso lado, transformando nossas fraquezas, dores e angústias, em fortaleza, capaz de vencer os maiores obstáculos. A fala é para Israel enquanto povo. Mas podemos, hoje, tomá-la como se fosse para nós. Precisamos ter a certeza desse braço forte e mão poderosa amparando a nossa vida para não enfraquecer diante dos percalços da vida. É preciso confiar neste Deus capaz de transformar desertos em jardins floridos, terra seca em lago. Só assim poderemos seguir adiante e não esmorecer.

    Para ajudar nesse processo de encorajamento, o evangelho apresenta a figura de um grande homem: João Batista, o maior de todos, segundo o próprio Jesus. Porém, Deus nos ama e nos encoraja tanto neste processo de construção do Reino de Deus que afirma: O menor no reino dos céus é maior que ele. Ele agiganta o ser humano que entra no seu reino. É em busca desse reino de pessoas grandiosas que estamos a caminho. O advento é a esperança da chegada desse reino. É preciso conquistá-lo. Porém, antes que isso ocorra, ainda vai haver muitos combates. É preciso eliminar toda forma de violência, tudo aquilo que violenta esse reino. O que hoje representa violência contra o reino dos céus? Cada um poderá fazer o seu próprio exame de consciência e olhar a sua volta. Para essa revisão, tenha como modelo o próprio João Batista, que soube como ninguém preparar os caminhos do Senhor, adotando uma postura que questionava as estruturas fomentadoras de violência.

    Neste tempo especial, sejamos a voz que clama no deserto para que todos se empenhem na preparação dos caminhos do Senhor e na sua vinda. Tenhamos coragem, pois Deus está conosco.

    Sexta-feira

    Is 48,17-19 | Sl 1 | Mt 11,16-19


    A liturgia da Palavra desta sexta-feira nos fala da sabedoria, dom de Deus, para fazer escolhas e discernir os procedimentos corretos. Sabedoria para conduzir as coisas de Deus e andar nos seus caminhos. Sabedoria para descobrir o que Deus quer de nós e não nos deixar levar pelas opiniões alheias.

    A primeira leitura fala que Deus nos ensina coisas boas, úteis e que conduz nossos passos. Para isso, basta observar seus ensinamentos, seus mandamentos, sua Palavra. Se nos falta discernimento e paz, é sinal de que não estamos observando seus mandamentos. Quem observa os mandamentos de Deus tem paz em abundância como um rio, e a justiça também é farta em sua vida. Quem observa os mandamentos recebe bênçãos dos céus, figurada na expressão descendência, filhos como grãos de areia. Vale lembrar que, na Bíblia, filhos significam bênçãos de Deus. Quanto mais filhos uma pessoa gerasse, mais abençoada ela seria.

    O Salmo continua falando dessa fidelidade aos mandamentos de Deus, aos seus ensinamentos, dizendo que é feliz todo aquele que encontra prazer na lei de Deus e não anda conforme o conselho dos perversos, não entra no caminho dos malvados, não faz parte do grupo dos irônicos, zombeteiros, malvados etc. Aqueles que não agem de acordo com a opinião alheia, mas seguem os ensinamentos de Deus; esses sim demonstram sabedoria.

    É disso que também fala o evangelho. Jesus compara crianças àqueles que só fazem críticas ou que só reclamam de tudo, mas nunca se propõem a ajudar. Cita dois exemplos distintos. Porém, igualmente criticados: João Batista e o Filho do homem. O primeiro era criticado porque não comia nem bebia, estava com o demônio. O segundo, porque comia e bebia. Era um comilão, beberrão, amigo de cobradores de impostos e outros pecadores. Em outras palavras, há pessoas que sempre acham um motivo para criticar. Se dermos ouvido às críticas, nada faremos e, mesmo assim, seremos igualmente criticados. Assim sendo, a melhor maneira de agir é seguir os ensinamentos de Deus. Quem segue a lei do Senhor e nele confia não esmorece diante das críticas e das inúmeras ações que objetivam desqualificar ou desmerecer o trabalho. A sabedoria consiste em confiar no Senhor e basear as ações nos seus ensinamentos.

    Sábado

    Eclo 48,1-4.9-11 | Sl 79(80) | Mt 17,10-13


    Neste dia, a liturgia coloca em evidência o profeta Elias. Ele é modelo de profeta transformador, que age com coragem e firmeza. É comparado ao fogo, que queima a palha seca, que é velha e não produz mais nada. A fim de que, em seu lugar nasça algo novo, capaz de produzir frutos. Elias, com bravura e eficácia, semelhante ao fogo, selecionou o que era nobre daquilo que era vil, como se faz com o ouro no crisol. Tornou-se assim, o arquétipo de profeta corajoso, referenciado no evangelho de hoje.

    Diante da pergunta dos discípulos sobre a teoria dos mestres da lei de que Elias viria primeiro, Jesus responde que Elias já veio. Ele estava figurado na pessoa de João Batista, cujas ações se assemelhavam à de Elias devido ao rigor com que tratava as questões relacionadas à vinda do Reino de Deus. As ações de João eram tão transformadoras quanto as de Elias, e não foram poucos os que confundiram João com Elias. Porém, suas ações não foram entendidas ou reconhecidas por boa parte das autoridades, como, por exemplo, os mestres da lei. Nem as ações de João nem as ações de Jesus. E por não compreenderem, não a tinham como importante, ficando presos ao passado e à espera de alguém que fosse cópia idêntica de Elias. Jesus sofreu a mesma rejeição. Ambos foram rejeitados.

    Ainda hoje, muitos continuam sem entender as propostas de Jesus e continuam a esperar outro modelo de Messias, que resolva todos os seus problemas num passe de mágica. Como os mestres da lei, essas pessoas continuam a manipular a ideia sobre Jesus de acordo com seus próprios interesses e, com isso, maltratam-no com comportamentos que nada têm a ver com seus verdadeiros projetos.

    Este tempo de preparação para o Natal do Senhor é tempo oportuno de revermos nossas ações, nossos conceitos sobre ele e verificar se não continuamos a maltratá-lo naqueles que são os seus preferidos, isto é, os pobres e marginalizados, os que se empenham na missão profética de denunciar e anunciar o Reino.

    É tempo, portanto, de conversão. Tempo de descobrir novos Elias e João Batistas, que continuam a preparar os caminhos do Senhor.

    3ª SEMANA DO ADVENTO¹

    Segunda-feira²

    Nm 24,2-7.15-17a | Sl 24(25) Mt 21,23-27


    Nesta segunda-feira da terceira semana do advento, a liturgia nos alerta para termos os olhos bem abertos diante do processo de preparação para a vinda do Senhor. Olhos abertos para não nos deixarmos enganar pelas falsas promessas que pegam carona neste tempo tão especial. Uma delas vem do comércio, que faz de tudo apenas com o intuito de vender. A preparação para o Natal se transformou num verdadeiro mercado e, se não tivermos visão crítica da realidade e dos apelos comerciais, acabaremos caindo na tentação do consumo desenfreado, esquecendo-nos do essencial.

    É algo parecido que nos ensina a primeira leitura extraída do livro dos Números. Balaão tem os olhos bem abertos para discernir a realidade que está vivendo e procura deixar-se guiar por Deus para perceber os sinais dos tempos: a estrela que sai de Jacó e o cetro que se levanta de Israel. É um tempo novo que se anuncia. Porém, é preciso saber lidar com as situações que estão envoltas neste tempo e nestes sinais que podem nos enganar facilmente se não formos espertos.

    Essa esperteza está presente na ação de Jesus, que, no evangelho de hoje, enquanto ensina no templo, recebe a visita de autoridades que querem desmerecer seus ensinamentos e sua autoridade. Eles questionam a Jesus, mas são surpreendidos com questionamentos mais contundentes ainda, aos quais eles não são capazes de responder. A estratégia de Jesus é eficaz e coloca os sumos sacerdotes e os anciãos numa situação difícil. Qualquer resposta que eles dessem os deixaria diante de um impasse. Com isso, Jesus também não precisa responder ou justificar com que autoridade ele fazia tais coisas. A verdade sempre prevalece diante de mentiras e de armadilhas.

    Portanto, neste tempo de preparação para a vinda do Senhor, tenhamos cuidado com todo tipo de armadilha que pode nos desviar do projeto de Deus e dos verdadeiros valores do Reino. Para tanto, precisamos rezar como pede o salmo de hoje: Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada. Às vezes, encontramo-nos numa encruzilhada e fica difícil saber qual caminho seguir, qual é o verdadeiro caminho, porque todos parecem maravilhosos. Diante disso, devemos pedir: Vossa verdade me oriente e me conduza. Deste modo, Deus nos levará a conhecer a sua estrada e discernir entre o que é dele e o que não é.

    Terça-feira³

    Sf 3,1-2.9-13 | Sl 33(34) | Mt 21,28-32


    A liturgia da Palavra desta terça-feira nos fala de conversão, de mudança de atitude e de procedimentos, para retomarmos os caminhos de Deus, mesmo que tenhamos tropeçado em nossa vida, pois Deus sempre nos dá uma oportunidade de conversão. Todavia, devemos procurá-lo, certos de que ele estará de braços abertos, pronto a perdoar nossas faltas e nos acolher em seu amor.

    A primeira leitura da profecia de Sofonias fala da cidade rebelde, desonrada e desumana, que não prestou ouvidos aos apelos de Deus e não aceitou correção, preferindo continuar no caminho errado. Podemos nos colocar no lugar dessa cidade. Quantas vezes Deus nos tem dado oportunidade de mudarmos de vida, de agirmos diferente, conforme sua vontade, mas não damos ouvido e preferimos continuar ignorando os apelos dele. Estamos vivendo um tempo de profundo apelo à mudança de vida, apelo à conversão, mas parece que o advento se resumiu na espera de uma grande festa e nada mais. Deus, conhecendo nossa ignorância, continua nos concedendo outras chances e oportunidades, como concedeu à cidade profetizada por Sofonias.

    Devemos perguntar neste tempo do advento: o que Deus quer de nós? Sofonias dá a resposta: quer que sejamos pessoas de lábios purificados, que prestemos cultos a Deus. Que levemos uma vida íntegra, de oração e que vivamos bem na família, na comunidade e na sociedade. Quando agimos assim, não nos envergonhamos dos nossos atos e andamos sempre de cabeça erguida. Quando fazemos a nossa parte, nos esforçando para andar no bom caminho, Deus faz a parte dele e afasta de nós aquilo que pode nos influenciar negativamente, seja pessoas ou situações. Devemos colocar sempre nossa confiança em Deus, pois só assim não cometeremos iniquidades, não falaremos tantas mentiras nem enganaremos mais nosso próximo. Agindo assim, sentiremos o amparo de Deus e a sua infinita misericórdia.

    A conversão também é elemento central no evangelho de hoje. Aqui, Jesus conta a parábola do pai que tinha dois filhos. O primeiro, quando lhe foi pedido para fazer algo, prontamente disse não, mas depois se arrependeu e foi. Já o segundo disse que sim, mas depois não foi. O primeiro representa aqueles que, embora pecadores, um dia tomam consciência dos seus erros e buscam os caminhos de Deus, buscam fazer a vontade do Pai, mesmo que num primeiro momento o tenham negado. Deus lhe perdoa e o acolhe. Nestes estão incluídos os publicanos e as prostitutas que se converteram. O segundo filho representa aqueles que agem somente por aparência. Fingem que fazem a vontade de Deus, mas no fundo suas ações não passam de teatro. Não são poucos os que agem assim. A Igreja está repleta de pessoas que louvam a Deus com os lábios, mas suas ações são hipócritas. Ao contar esta parábola aos chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo, grandes autoridades daquele tempo, Jesus questiona profundamente a postura religiosa deles e propõem-lhes mudança de vida.

    A liturgia desse tempo de preparação para o Natal também faz a cada um de nós o mesmo questionamento e a mesma proposta: avaliação de nossas atitudes, conversão, mudança de vida. Somente assim, celebraremos verdadeiramente o Natal do Senhor que se aproxima. Vamos, portanto, aproveitar essa oportunidade e fazer uma boa confissão para o Natal.

    Quarta-feira

    Is 45,6b-8.18.21b-25 | Sl 84(85) Lc 7,19-23


    A liturgia desta quarta-feira da terceira semana do advento continua chamando nossa atenção para a conversão. A primeira leitura do livro do profeta Isaías fala de um Deus poderoso, sem igual. É o Deus de Israel, o Deus da libertação. Para ele devem convergir todos os povos. Para esse Deus da vida devemos canalizar nossas ações, nosso proceder. Só assim, poderemos vislumbrar o novo céu e a nova terra anunciados pelo próprio profeta Isaías. Desse modo, a conversão se faz presente a partir da mudança de vida, de rumo. É o propósito deste tempo especial, no qual preparamos a vinda do Senhor.

    O evangelho traz presente essa vinda. Aliás, o Reino de Deus já está entre nós, como estava presente naquele momento quando João ouviu falar de coisas maravilhosas e enviou discípulos para obter informações concretas. Como vemos, parte deste texto é a mesma que ouvimos no domingo passado, com a diferença de que no domingo o evangelho era de Mateus e, hoje, é de Lucas. O sentido é o mesmo. A comprovação da chegada do Messias não com teorias, mas com fatos concretos: enfermos sendo curados, cegos recuperando a visão, paralíticos que voltam a andar, leprosos que são purificados, mortos que ressuscitam, enfim, a boa-nova anunciada aos pobres. Todos esses sinais de libertação, sinais reais de que o Messias está presente.

    Com esse texto somos convidados a descobrir quais são os sinais de vida que podemos descobrir hoje. Fica aqui o desafio: voltar para casa e apontar todas as coisas boas que estão acontecendo na comunidade, na cidade, no estado e no país. São muitas, mas elas não são mostradas na TV. É preciso descobri-las. Porém, só irá descobrir quem tiver com os olhos bem abertos no sentido bíblico do termo. Só verá quem não estiver paralisado pelas ideologias que insistem em dar apenas a sua versão dos fatos. Só escutará quem não tiver os ouvidos ensurdecidos pela ignorância.

    Enfim, o convite hoje é: vamos ao encontro do Senhor, pois ele é justo e tão bondoso. Ele fará chover a justiça dos altos céus. Ele conta com a nossa conversão, nossa participação nesta obra da criação.

    Quinta-feira

    Is 54,1-10 | Sl 29(30) | Lc 7,24-30


    A liturgia continua nos falando de conversão. A primeira leitura fala da cidade estéril que agora encontra a misericórdia de Deus e poderá exultar e regozijar porque terá muitos filhos. Sinal da graça de Deus, a fecundidade da cidade tratada aqui representa a vida de um povo que encontrou graça diante de Deus e pode, agora, festejar. Não importa quão pecadores somos, pois a misericórdia de Deus é maior que todos os nossos pecados. Quando há um profundo arrependimento e desejo de voltar aos caminhos de Deus, ele está sempre pronto a perdoar, como perdoou à cidade que havia se desvirtuado do caminho.

    O evangelho dá continuidade à reflexão do domingo passado. O trecho de hoje, extraído do evangelista Lucas, exalta a figura de João Batista, aquele que, melhor que ninguém, soube preparar os caminhos do Senhor. João tem muito a nos ensinar neste tempo de preparação para o Natal. Ensina-nos a humildade, a firmeza na fé, o comportamento sensato e reto etc. Se nos esforçamos para preparar bem a chegada de Jesus, quem sabe também tenhamos o reconhecimento dele, que é o maior de todos os prêmios. Assim poderemos cantar como pede o salmo de hoje: Eu vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes, e não deixastes rir de mim meus inimigos.

    Venceremos todos os inimigos, os obstáculos que a vida nos impõe, se permanecermos firmes no caminho de Deus. A oportunidade é agora. Ele nos dá uma chance como deu à cidade estéril. Ele quer que cada um de nós seja fecundo em suas ações de amor ao próximo. Natal é tempo de renascer a solidariedade. Peçamos a Deus que ela perdure por todo o novo ano.

    Sexta-feira

    Is 56,1-3a.6-8 | Sl 66(67) | Jo 5,33-36


    A recomendação fundamental da liturgia da Palavra deste dia está centrada na prática da justiça, ou seja, nas ações retas ou corretas que devemos praticar para sermos, de fato, partícipes do Reino de Deus e da sua salvação, tendo como referência o exemplo de Jesus.

    Na primeira leitura do livro do profeta Isaías, encontramos essa recomendação com muita clareza. Devemos observar o direito e praticar a justiça. Tudo isso deve ser feito em vista da iminente salvação que está por vir com o nascimento de Jesus, que celebraremos dentro de alguns dias. Este anúncio de esperança deve estar no nosso coração, nos nossos lábios e, sobretudo, no nosso procedimento. Quem procede conforme tais ensinamentos consegue ver com mais clareza a justiça e a salvação acontecerem. Comportando-nos assim, seremos felizes, diz o profeta, porque a felicidade deve ser resultado da prática da justiça. Obedecer às leis de Deus e a seus preceitos são fundamentais para que o seu Reino esteja entre nós. Não importa quem somos e de onde viemos, o que importa para Deus é a vivência de seus ensinamentos, pois é esta fidelidade a Ele que será sinal de nosso vínculo ou da aliança que ele fez conosco. Aliança esta concretizada em Jesus Cristo.

    O evangelho traz o tema do testemunho para a nossa reflexão. João deu testemunho da verdade que é Jesus e nos ensinou a fazer o mesmo. Jesus é a verdade e a vida e suas palavras e obras revelam isso para nós. Quem ouve as suas Palavras e as coloca em prática revela Jesus aos seus semelhantes. Cada gesto de amor ao próximo, cada palavra de conforto levada aos que necessitam, cada vez que praticamos a justiça, estamos dando continuidade à missão de Jesus, e por isso ele se faz presente entre nós.

    Que este tempo especial que estamos vivendo transforme nosso coração e o faça semelhante ao de Jesus, capaz de fazer as obras que revelam o Pai, pois somente um coração convertido é capaz de atitudes epifânicas.

    17 de dezembro

    Gn 49,2.8-10 | Sl 71(72) | Mt 1,1-17


    A liturgia de hoje traz o tema da genealogia de Jesus para mostrar a sua origem davídica, conforme foi anunciado pelos profetas. Os textos tanto da primeira leitura quanto do evangelho falam da origem do povo de Deus, sua formação, da mão de Deus presente na história até chegar a José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, o Messias esperado. Tudo isso para termos certeza de que Jesus é, de fato, o Filho de Davi, o ungido.

    Com esta certeza, resta-nos preparar bem a sua chegada, simbolizada nas festas que se aproximam. Se nós quisermos celebrar bem o Natal do Senhor, devemos aproveitar bem esses dias que ainda nos restam para a nossa revisão de vida, a fim de que brilhe nos nossos corações a estrela de Belém. Deste modo, o Natal não se resumirá apenas numa noite de festa, mas transformará toda a nossa vida numa festa.

    18 de dezembro

    Jr 23,5-8 | Sl 71(72) | Mt 1,18-24


    Eis que virão dias, diz o Senhor. Eis o início da primeira leitura de hoje. Que dias serão esses que o profeta Isaías anuncia? O dia em que nascerá aquele que fará toda a diferença. O profeta faz questão de dizer que ele é descendente de Davi. Quais serão os procedimentos deste descendente de Davi? Reinar com justiça, com sabedoria, alguém que é cumpridor da justiça e de ações retas. Era tudo o que estava faltando naquele momento. Era, portanto, um anúncio de esperança.

    Nos dias de hoje, quando há tanta carência de justiça, de ações retas e corretas, a profecia de Isaías cai como uma luva e nos enche de esperança. Essa esperança chega com o Natal. Todos os anos, nesta época do ano, as pessoas ficam mais sensibilizadas e se propõem a ajudar mais o seu próximo, a serem mais justas, mais caridosas. É o espírito do Natal. Queremos que esse espírito inunde os corações e que todos possam ter como meta em suas vidas, todos os dias, ações de justiça, pois só assim veremos chegar os dias anunciados pelo profeta.

    Para isso, temos como modelo José, o descendente de Davi, o carpinteiro que, apesar da vida humilde, soube ser justo diante do anúncio do anjo de que sua noiva, Maria, estava grávida. A justiça de José ultrapassou e muito a justiça dos fariseus e dos mestres da lei. Se sua justiça fosse apenas a da lei, ele teria abandonado a noiva e ela teria tido o destino das mulheres infiéis da sociedade da época. Mas José era um homem justo, diz o texto, e por ser justo, sua primeira ideia foi, em silêncio, abandonar Maria. Ele não iria fazer nenhum escândalo, poupando-a de muitas humilhações. Mas esta não era a atitude mais sensata diante do fato. Aqui entra a ação de Deus. O anjo convence José, em sonho, que o filho é de Deus. José, homem de fé, não duvidou. Disse seu sim a Deus e assumiu Maria como sua esposa e, assim, Deus veio fazer morada entre nós. O Emanuel, o Deus-conosco, se concretizou a partir do momento que José fez conforme o anjo havia mandado.

    Para que de fato o Natal aconteça, é preciso que, a exemplo de José, saibamos fazer a vontade de Deus e nos coloquemos à disposição dele na acolhida do nosso próximo, no amor ao semelhante, na prática da justiça que supera todo legalismo. Tudo isso nos ensina hoje a liturgia das vésperas do Natal do Senhor. Que saibamos ouvir a voz do anjo que continua ecoando nos ouvidos de tantos Josés e Marias e de cada um de nós. Façamos a vontade de Deus para que a vontade de Deus se faça em nós.

    19 de dezembro

    Jz 13,2-7.24-25a | Sl 70(71) | Lc 1,5-25


    Conhecemos a expressão bíblica de que para Deus nada é impossível. Essa expressão, de tão conhecida virou provérbio popular e é recorrido ou lembrado principalmente em situações difíceis, quando todas as tentativas humanas já se esgotaram. É, na verdade, uma expressão de fé, de confiança em Deus, porque não nos desampara. Vemos isso na liturgia da Palavra de hoje.

    Deus que vem ao encontro de um casal sofredor, na primeira leitura, e os fortalece anunciando que aquilo que parecia impossível seria possível. A mulher estéril geraria um filho, Sansão, que seria reflexo da fortaleza de Deus. A fortaleza de Deus vem em socorro de nossa fraqueza, colocando anjos no nosso caminho que anunciam, de alguma forma, a chegada de Deus. O anúncio da chegada de Deus não é um anúncio do fim do mundo, no sentido dado pelo senso comum, mas um anúncio escatológico, do fim de um tipo de mundo que todos os que sofrem desejam. O mundo das injustiças, das discriminações e dos preconceitos. O mundo das misérias humanas e de toda forma de sofrimentos desnecessários. São esses tipos de mundo que terão um fim com a vinda do Senhor. É essa a esperança do advento e do Natal do Senhor. Por isso, esse tempo se recobre de significados e enche nosso coração de alegria. A mesma alegria que invadiu o coração de Manué e de sua mulher, na tribo de Dã. A mesma alegria que chegou ao coração de Isabel e Zacarias, quando o anjo lhes anunciou a alegria da gravidez de Isabel.

    Zacarias e Izabel eram marginalizados, vítimas do preconceito humano, porque eram de idade avançada e não tinham gerado filhos. A situação se agravava ainda mais porque Isabel era estéril, outro fator passível de discriminação aos olhos humanos. Naquela época, casais que não tinham filhos não eram bem-vistos. Eram tidos como castigados por Deus. Porém, Deus olha para a humilhação de seus servos e servas, como profetizou Maria no Magnificat, e vem em seu socorro. Foi o que ele fez com Isabel e Zacarias. Deus ouviu os seus pedidos e enviou-lhe o anjo que anunciou que Isabel teria um filho. O espanto e o medo apoderaram-se de Zacarias e ele ficou sem palavras. Mas o Anjo tratou logo de encorajar Zacarias, mostrando quão grande seria a sua alegria e a de todos os seus, pois o filho que o casal geraria não seria qualquer pessoa. Seria o precursor do Senhor. Aquele que prepararia os seus caminhos, levando uma vida austera. Assim, João Batista foi o grande presente de Deus na vida de Isabel e Zacarias e na história da salvação.

    Deus nos surpreende constantemente. Quando todas as esperanças se esvaem, Deus mostra o poder de sua força e vem ao nosso encontro, socorrendo-nos, transformando a nossa vida e as situações que antes achávamos sem solução. Quem confia em Deus e não desiste de servi-lo, recebe as suas recompensas. Não obstante as discriminações e sofrimentos, Zacarias não deixou de servir no templo, não deixou de amar sua esposa nem de ser um homem íntegro. E foi durante seu serviço que Deus se manifestou e mostrou-lhe seu rosto favorável.

    Que tenhamos sempre confiança em Deus, por mais difícil que possa parecer a situação que estamos vivendo. Basta confiar e esperar o tempo de Deus. Ele vem e se revela. O tempo do advento nos traz essa esperança. Há de vir um tempo novo, um novo céu e uma nova terra, onde todos os sofrimentos terão um fim e, assim, veremos nossas fraquezas e ignorâncias, causadoras dos sofrimentos, sendo transformadas em fortaleza e sabedoria, que são dons do Espírito Santo dado para a nossa alegria e paz.

    Sansão e João Batista são exemplos do poder transformador de Deus. Quem nele confia jamais sucumbe em suas fraquezas. Deus gera vida onde dantes imperava a morte. Confiemos neste Deus que nos ama tanto e que, por isso, enviou seu Filho amado até nós, nascendo humildemente numa manjedoura, como celebraremos daqui a alguns dias.

    20 de dezembro

    Is 7,10-14 | Sl 23(24) | Lc 1,26-38


    Hoje, a liturgia continua nos falando de sinais. Sinais que vêm das profundezas da terra e das alturas dos céus. Que sinais seriam estes? Só Deus poderia dar um sinal tão grandioso assim: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel. Com essa profecia se encerra a primeira leitura de hoje, tirada de Isaías.

    Estamos às vésperas do Natal do Senhor. O maior sinal de Deus é que ele vem morar entre nós da forma mais humilde e simples possível. A grandiosidade desse sinal contrasta com a sua simplicidade.

    O evangelho é o do anúncio do anjo Gabriel a Maria. Ela fica surpresa diante da novidade, acredita que para Deus nada é impossível, como afirma o anjo, e se coloca à disposição de Deus. Com isso, ela nos ensina: se quisermos que o Natal aconteça verdadeiramente, precisamos nos colocar à disposição de Deus e dizer sim a Ele. Um sim que seja firme, coerente, sem medo, como disse Maria.

    Façamos do nosso coração uma manjedoura e, a exemplo de Maria e José, coloquemos na expectativa dessa chegada. Percebamos os sinais que Deus vai indicando. Não deixemos que as coisas supérfluas, que insistem em encobrir estes sinais, nos impeçam de perceber Deus, que se manifesta no meio de nós.

    21 de dezembro

    Ct 2,8-14 | Sl 32(33) | Lc 1,39-45


    Estamos às vésperas do Natal. O tempo de espera vai chegando ao fim e a expectativa aumenta cada vez mais. Ele já está às portas. A cada dia que passa, ficamos mais felizes, pois está chegando a visita mais esperada. É como quando estamos esperando a chegada de alguém muito importante na nossa vida, alguém que amamos. Nesse período, começamos a ficar felizes desde o momento que ficamos sabendo que aquela pessoa tão querida virá nos visitar. Mudamos a casa, mudamos alguma coisa dentro de nós e até no nosso exterior e queremos estar mais bonitos para a pessoa amada. Eis que muda o nosso espírito, nosso humor. Tudo, sem que percebamos, vai se transformado somente pela força da possível vinda. Este é o espírito do Natal do Senhor.

    Hoje, a liturgia nos coloca diante desta grandiosa oportunidade de receber em nossa casa, daqui a três dias, aquele que há quatro semanas estamos aguardando: o Deus menino.

    A primeira leitura do livro do Cântico dos Cânticos fala da espera da amada pelo seu amado e toda a expectativa que essa espera envolve. A amada fica mais romântica, vê poesia por toda parte. Chega até a ouvir a voz do amado ecoando pelas montanhas. Ela o vê vindo ao seu encontro, saltando de alegria como um filhote de cervo das campinas. Ela o vê por toda parte, de pé, atrás da parede, espiando pela janela, observando pelas frestas das grades. Toda a vida da amada já está impregnada pela presença do amado. Este texto é uma das mais belas metáforas da espera do Senhor que vem no Natal. Esperar a vinda de Jesus é como a espera do amado pela amada. Tudo ganha um colorido diferente, as coisas se recobrem de beleza. Vemos poesia em toda parte. É o clima do Natal tão bem exposto no livro dos cantares. Sejamos, portanto, nestes dias, como esse casal apaixonado do livro do Cântico dos Cânticos que não vê a hora de se encontrar.

    O Salmo 32 fala desta mesma alegria, pois é chegado o tempo de dar graças ao Senhor, louvando-o ao som da harpa e da lira de dez cordas. Os sons do Natal são sons de harpa e de lira, são sons de espera alegre.

    O evangelho também fala dessa alegria da espera, mas de um modo especial da visita esperada. Isabel recebe concretamente essa importante visita. Maria vai a sua casa, apressadamente, e leva no seu ventre a razão da alegria de Isabel. O encontro destas duas mulheres é um encontro epifânico. Deus se manifesta neste encontro. Bastou que Maria saudasse Isabel para que a criança, no ventre, João Batista, estremecesse e Isabel ficasse repleta do Espírito Santo. Há o reconhecimento do filho de Deus no ventre de Maria. Com este gesto, Maria nos ensina que todas as vezes que somos solidários com quem necessita, Deus se manifesta nestes gestos.

    Estamos, portanto, nos preparando para receber a visita daquele que vem para fazer a diferença em nossa vida, vem fazer morada entre nós. Deus estará sempre conosco e essa presença será percebida cada vez que fizer boas obras.

    22 de dezembro

    1Sm 1,24-28 | Sl (1Sm 2) | Lc 1,46-56


    Hoje, a liturgia nos coloca diante de duas importantes mulheres: Ana e Maria. Com essas duas personagens, nós somos convidados a verificar como anda nosso processo de preparação para o Natal. Ana, na primeira leitura, leva o filho Samuel, sinal grandioso da graça de Deus na sua vida, para apresentar no templo, como pedia a lei judaica. Junto com Samuel, que será consagrado a Deus, ela leva também suas oferendas: um novilho, três arrobas de farinha e vinho. Esse ritual que Ana cumpre é um gesto de profundo agradecimento a Deus. A leitura fala, portanto, de ação de graças. É preciso constantemente reconhecer o quanto Deus age na nossa vida, pela sua infinita graça.

    Estamos nos preparando para a maior festa de ação de graças do nosso calendário religioso: Deus que se faz homem e gratuitamente vem habitar entre nós. É motivo para agradecermos sempre. Seguindo o exemplo de Ana, façamos da nossa vida uma constante oferenda a Deus.

    O evangelho é o cântico atribuído a Maria, o Magnificat. Nele Maria agradece a Deus por tantas maravilhas que ele, o todo-poderoso, fez em sua vida e na vida de todos os seus. É um cântico profético, de anúncio e de denúncia. Maria anuncia que sua pequena alma se engrandece diante de Deus e que seu espírito se alegra neste mesmo Deus que, ao olhar para sua pequenez, olhou para todos os humildes. Reconhece que um dia todos irão reconhecê-la, chamá-la de bem-aventurada, não pelos seus merecimentos, mas pela graça de Deus em sua vida. Reconhece e anuncia a grande misericórdia de Deus, uma misericórdia que não se limita a um povo, tempo ou espaço, mas que se estende de geração em geração, basta apenas que se tema a Deus, que o respeite e que se reconheça sua infinita misericórdia e bondade.

    Em sua denúncia profética, ele recorda que Deus não está alheio às injustiças, ao sofrimento humano. Proclama com coragem que Deus mostrará, num momento oportuno, a força do seu braço. Ele derrubará dos seus tronos todos os que são soberbos de coração, os que se acham poderosos. Todos os que, com seu poder, oprimem os outros, receberão o que merecem. Quanto aos humildes, ele os elevará como elevou Maria na sua humildade de serva. Deus irá saciar de bens os que nada possuem, os famintos. Já os ricos, ele irá despedi-los de mãos vazias. Com denúncias e anúncios tão contundentes, Maria nos ensina como será esse tempo novo, com a vinda de Jesus.

    Que com a coragem e a ousadia destas duas mulheres a humanidade possa aprender a preparar melhor a chegada do menino Deus e fazer da vida verdadeira ação de graças.

    23 de dezembro

    Ml 3,1-4.23-24 | Sl 24(25) | Lc 1,57-66


    A liturgia de hoje fala da preparação dos caminhos do Senhor. Estamos às vésperas do Natal. Será que preparamos verdadeiramente esse caminho ou ainda temos algo a aprender? Com certeza temos. É por isso que a liturgia de hoje vai nos ensinar algo mais.

    O profeta Malaquias, na primeira leitura de hoje, fala de um anjo que vem para preparar os caminhos do Senhor. Um anjo forte, guerreiro, o qual nada e ninguém poderão deter. Malaquias compara-o ao fogo da forja e à barrela dos lavadeiros. Vem para transformar o que falta para que esse tempo novo chegue definitivamente. É o tempo da conversão e da reconciliação.

    João Batista é comparado a esse anjo anunciado por Malaquias. Há quem diga que Malaquias está mesmo se referindo a João Batista. No evangelho de hoje, João

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