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Sustentai com arte a louvação
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Sustentai com arte a louvação

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"A arte tem a sua origem em Deus e, portanto, deve levar de volta a Deus".  A sábia frase do crítico musical Lauro Machado Coelho reflete a vida de intenso amor e dedicação à música da Irmã Míria Kolling. Nesta obra, a autora apresenta técnicas e exercícios musicais, traz relatos marcantes e divertidos de suas experiências e nos mostra que a música, assim como a Palavra de Deus, é um alimento para o espírito e o coração. 
LanguagePortuguês
Release dateMay 30, 2012
ISBN9788527613637
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    Sustentai com arte a louvação - Míria T. Kolling

    autora

    I

    Sustentai com arte

    a louvação

    1. INTRODUÇÃO

    Flauta e harpa tornam agradável o canto;

    melhor que ambas é uma voz melodiosa

    (cf. Eclo 40,21)

    Todos já experimentamos a energia vital da música, e sabemos de sua força poderosa sobre nós: influencia nossos sentimentos, forma nosso caráter, determina nossa saúde e nosso equilíbrio, alimenta nosso amor, cria atmosfera de harmonia e paz, a ponto de podermos afirmar que Como na música, assim na vida!, segundo um profundo conhecedor do assunto, David Tame, em seu livro O poder da música².

    A história passa, as civilizações se sucedem, mas a música permanece eternamente, porque é alimento do espírito imortal, beleza infinita que nos foi dada pelo Divino Músico para iluminar a mente e harmonizar o coração, sintonizar a terra com o céu.

    Música é canto. E canto é voz. Voz é corpo, morada do espírito. Por meio dela expressamos nossos sentimentos: a alegria e a dor, a calma e a ansiedade, a tristeza e a ternura, o bem-estar e o cansaço, enfim, todos os estados de espírito; a voz é expressão de nossa alma, com suas nuances e seus matizes reveladores. A voz nos identifica com relação ao sexo e à idade, à personalidade e ao estado emocional, é poderosa e infalível portadora de mensagens pessoais, quase como um segundo rosto que nos representa através da fala e dos sons, no dizer do dr. Greshon M. Lesser.

    O canto é a síntese destas três dimensões: a voz, a palavra e a música, cada qual com sua estrutura, suas características e seu funcionamento próprio. A voz é algo muito pessoal, que por seu timbre, seu volume e seu modo de emissão nos identifica e nos torna únicos, diferentes de todos os demais seres; a palavra é o som falado, nosso meio de comunicação com o mundo e os outros seres; a música transforma a fala em canto e melodia, é o mundo sonoro em que vivemos, com mil possibilidades e funções: acalmar e silenciar, dançar e agitar, rezar e induzir ao mistério, criar clima de alegria e festa, fomentar revoluções, ouvir e relaxar…

    Em nosso caso, que é o da música litúrgica, para o culto, vamos abordar mais os aspectos que dizem respeito à voz do cantor litúrgico, seja como canto solo ou coral, ao uso do corpo como instrumento de louvor. Daí o título Sustentai com arte a louvação. Muitos cantores ou grupos de canto em nossas igrejas e comunidades, certamente com boa vontade e bastante dedicados a seu ministério litúrgico-musical, ignoram, porém, conhecimentos e orientações básicas a respeito do uso da voz, de uma respiração correta, da postura do corpo e da atitude espiritual que deve acompanhar a palavra e o canto.

    Afirma São João Crisóstomo:

    Os cantos possuem tão grande atrativo para nossa natureza que secam as lágrimas, acalmam o pranto das crianças de peito, conseguindo adormecê-las. Vedes, de fato, que as babás que as levam nos braços passeiam embalando-as com cantos infantis, para fazer com que fechem as pálpebras. Também os viajantes que guiam animais sob os ardores de um sol abrasador cantam para suavizar assim as fadigas da viagem. E não somente os viajantes, mas também os agricultores, quando pisam a uva, vindimam ou cultivam a vinha ou se dedicam a qualquer outro trabalho; os marinheiros cantam igualmente enquanto impulsionam seus remos. E as mulheres, quando tecem e separam com a ajuda da lançadeira os fios entremesclados, cantam frequentemente, sozinhas ou todas reunidas em coro. Pois bem, a finalidade a que as mulheres, os viajantes, os vindimadores e os marinheiros se propõem com o canto é a de aliviar seu trabalho, pois a alma, graças a esses cantos, suporta sem queixar-se as mais duras fadigas.³

    O que dizer então da música sacra e do canto litúrgico, que são a mais alta expressão do coração humano em sua comunhão com a beleza infinita de Deus?… O que se espera dos que proclamam a Palavra, de quem canta o salmo na liturgia, de quem dirige o canto do povo na celebração ou coordena o grupo de canto na comunidade? Além do dom natural da voz, é preciso ter o mínimo de preparo técnico e formação musical, vivência cristã e, sobretudo, paixão pela liturgia, sensibilidade e entusiasmo pelo canto sagrado. Não basta a sonoridade externa da voz; nosso canto deve ser expressão espiritual de nossa vida em Deus!

    Para melhor exercer nosso ministério litúrgico-musical, uma compreensão elementar do mecanismo vocal e alguns exercícios de técnica vocal certamente serão muito úteis, mas não são suficientes e devem ser usados com todo o cuidado. Não basta a teoria; é preciso praticar corretamente, e o ideal é haver o acompanhamento de um profissional da área para nos orientar em seu uso e sua aprendizagem. É muito louvável a iniciativa de algumas comunidades: grupos que se reúnem sob a orientação de um professor, uma ou duas vezes por semana, para os exercícios de alongamento, respiração, relaxamento e vocalise, até aprendizagem de teoria musical e solfejo, aplicando depois a técnica à palavra e ao canto. Voz com maior sonoridade e brilho, menos fadiga, sem rouquidão, articulação, interpretação e transmissão melhores da mensagem são alguns dos benefícios.

    2. CANTAI UM CÂNTICO NOVO!

    Cantai-lhe um cântico novo… Cantai-lhe bem!

    STO. AGOSTINHO

    Como elemento imprescindível e integrante da liturgia, a música tem uma dimensão sacramental – é linguagem do coração, sinal sensível e significativo que contém, revela e oculta o mistério: Deus perpassa toda a história, tornando-a sagrada, reunindo em si toda a criação, desde o Antigo Testamento até a Jerusalém Celeste. Isso se dá aqui e agora, através dos sinais sagrados, quando celebramos a liturgia: Deus nos convoca a nos abrir ao seu mistério de amor e nos transfigura. Ao participar da liturgia, memorial celebrativo de Cristo, comungamos a vida de Deus e devemos produzir frutos para a vida

    Como Igreja, prestamos nosso culto ao Senhor, nosso Divino Esposo. E cabe a nós, ministros do canto e da música, sustentar com arte a louvação do povo, seja cantando e animando o canto, seja tocando nossos instrumentos para acompanhar, harmonizar e solenizar nossas liturgias cantadas pela assembleia.

    Sto. Agostinho, comentando o Salmo 32, em seu versículo 3, assim aconselha:

    Cantai-lhe um cântico novo. Cantai-lhe bem… Cantailhe, mas bem. Ele não quer ter ouvidos a doer. Canta bem, irmão… Quem há de se oferecer para cantar bem diante de Deus, que ouve, julga o cantor, tudo examina?… Cantar bem a Deus é cantar com júbilo… Cantar com júbilo é não poder explicar com palavras o que se canta no coração… Inefável é aquilo de que é impossível falar. E, se não podes falar e não deves calar, o que resta senão jubilar? O coração rejubila sem palavras, e a imensidão do gáudio não se limita a sílabas. Cantai-lhe bem com júbilo!…

    Portanto, não se trata apenas de sustentar o louvor do povo, mas é preciso fazê-lo com arte e beleza, dignidade e bom gosto, competência e unção espiritual, para que nosso canto seja oração e prece. Deus se revela na harmonia, na suavidade e no silêncio… A revista Vida Pastoral, da Editora Paulus, dedicou um número inteiro ao tema Liturgia e beleza, em julho de 2009. Diversos autores escreveram artigos sobre esse importante tema, falando da absoluta necessidade de se cultivar uma liturgia bela e verdadeira, simples e nobre, sobretudo no caso da celebração eucarística, que é como um poema já completo e perfeito, não admitindo enfeites ou supérfluos que nos distraiam dos sagrados mistérios de Deus que nela celebramos. É música para a glória de Deus e nossa santificação, nosso aprimoramento espiritual, como já reconhecia Bach e a Igreja o proclama. Música que nos permita, de fato, um mergulho no Absoluto!

    3. SUA VOZ, UMA PÉROLA PRECIOSA A SER DESCOBERTA E CULTIVADA!

    A voz não apenas indica o caráter

    do homem, mas também seu grau

    de desenvolvimento espiritual.

    ALBERTO MARSICANO

    Emitir corretamente a voz é fundamental. Uma voz natural e saudável, firme e confiante, com tom e volume adequados faz amigos, cria clima agradável, empolga e convence, transmite energia e suavidade, une e atrai, causa boa impressão, é como o sol brilhando na noite. O contrário é verdadeiro: voz agressiva, para dentro da garganta, fraca e frouxa, abafada e mal articulada, desanimada ou queixosa, aguda e estridente afasta as pessoas… Preste atenção à sua voz: tom correto, respiração com apoio, ressonância e articulação, ritmo e firmeza, expressão clara de suas ideias… A voz é como uma pérola ou um diamante – se polida e trabalhada, ela brilha e atrai, flui e comunica, ilumina e aquece.

    a) Como ter uma boa voz!

    A voz é a expressão sonora de nossa personalidade.

    PEDRO BLOCH

    Morton Cooper, famoso médico patologista da voz, escreveu o livro Vencendo com a sua voz baseado em sua experiência pessoal, em que compara a voz humana a uma câmera fotográfica, que deve estar no foco certo para a foto não ficar desfocada. Quando focada corretamente, a voz sai com facilidade e energia, tornando-se dinâmica e atraente. Falar deve ser algo prazeroso, natural, sem esforço nem fadiga, algo que podemos aprender e cultivar.

    Há profissões que exigem mais da voz e podem causar-lhe grandes riscos caso não seja bem usada, tais como as de cantores, professores, atores, vendedores, advogados, comunicadores em geral. Afinal, o ato de falar é um dos meios básicos de nossa comunicação, e a qualidade da voz significa qualidade de vida, é sinônimo de saúde. Por isso, a importância do cultivo de uma boa voz é fundamental para qualquer pessoa, uma vez que é a representação sonora de nossa personalidade.

    Aqui nos incluímos nós, ministros e cantores de Deus, anunciadores do Evangelho, a serviço dos mistérios de nossa fé, quer proclamando a Palavra, quer salmodiando, dirigindo o canto do povo ou presidindo a celebração, ou simplesmente participando com o canto e a oração… Uma voz melodiosa, como afirma o Eclesiástico (cf. Eclo 40,21), supera qualquer instrumento, comunica a alegria de Deus, é como a suave cítara do Espírito Santo, verdadeira medicina divina para a cura do espírito humano, pois deleita o ouvido físico e o ouvido do coração. Sto. Ambrósio diz a este respeito: Ter uma voz agradável e melodiosa não é fruto do esforço próprio, mas um dom da natureza. Mas em seguida exige do leitor uma voz simples e pura, plenamente viril e que, além disso, conserve certo ritmo místico⁶.

    Eis um exercício eficaz para encontrar a própria voz, receita do dr. Cooper, ao alcance de todos, que pode ser repetido pela vida afora, sempre que vier à lembrança:

    • Comece murmurando uma frase simples, como o Parabéns a você!, mantendo os lábios fechados… Mais uma vez… Murmure sem cantar… Novamente, agora com a melodia… Se sentir uma vibração ao redor do nariz e da boca, isto é, na máscara, é sinal de que está emitindo corretamente a voz. Repita o exercício algumas vezes… ao longo do dia… por breve tempo!… Murmurar com os lábios fechados, sentindo a ressonância no nariz e na boca, através da vibração, é algo tão natural como respirar, e dá um resultado efetivo; o melhor meio de tornar a voz natural, como a recebemos de Deus. Murmurar!…

    • Diga Hum-humm, mantendo os lábios fechados, mas sem apertá-los, sem forçar o som, de forma espontânea e livre. Repita… novamente… Como se experimentasse uma comida deliciosa: Hummmm!… Hum-hmmmmmm!… Hummhumm-humm-humm!… O objetivo é encontrar o foco de vibração da sua voz, ao redor do nariz e da boca, onde o som deve ressoar e se expandir. Pratique! Repita diversas vezes, e sua voz se tornará normal, natural, saudável. Enquanto faz o exercício, coloque de leve a mão direita sobre a boca e segure o nariz com os dedos da mão esquerda, para sentir melhor a vibração na máscara.

    • Use a respiração natural, na região central do corpo, utilizando os músculos da barriga, que manda o ar para cima, através da boca e do nariz, reforçando e fortalecendo a voz, através do apoio respiratório: sem ar, é impossível falar. Respire calmamente através das narinas. Deite de costas, na posição de dormir, colocando a mão esquerda sobre o peito e a direita sobre a barriga, que se expande levemente quando você inspira o ar. Pratique esta forma de respiração, inspirando e expirando pelas narinas; depois, inspirando pelas narinas e expirando pela boca entreaberta, bem devagar, controlando a entrada e a saída do ar, mantendo os músculos da barriga relaxados. Saber controlar a entrada e a saída do ar, calculando o ar suficiente para apoiar a voz quando falamos, é fundamental. Pratique o exercício primeiramente deitado, depois na posição sentada e finalmente de pé, uma vez dominada a técnica. Ao soltar o ar, pode-se também dizer Oh! ou Ah! de surpresa e alívio, assim como Hum-hum, sentindo a energia do ar produzindo a voz…

    O importante é encontrar a sua voz e torná-la luminosa, fazê-la brilhar, seja falada ou cantada, obtendo o máximo de rendimento com o mínimo de esforço!

    Pedro Bloch completa bem: A voz carrega mensagens muito mais amplas que a própria palavra. Ela pode desmentir a palavra, emprestar-lhe nova significação, simplesmente através de uma inflexão, através do tom de voz que se utilize.

    Vale aqui fazer uma observação: a voz, como o corpo todo, também envelhece e, com o tempo, sofre alterações, ficando mais fraca, trêmula e rouca, dificultando a comunicação, porque as pregas vocais, como músculos que são, se desgastam e perdem a elasticidade. Pode-se prevenir e retardar tal processo de envelhecimento com a fonoterapia – exercícios de alongamento muscular, respiração, articulação e projeção da voz. Na verdade, o canto é o melhor remédio, o que mais bem faz à voz, de preferência o canto coral, orientado por um professor, especialista em canto. Quando se cuida da voz cuida-se do corpo todo. Sempre, novamente, com a recomendação de se tomar muita água, aos goles, na temperatura normal do corpo, para manter as cordas vocais hidratadas.

    Francis Poulenc (1899-1963), músico francês, compôs uma interessante ópera chamada A voz humana, que tive a curiosidade de ver quando apresentada na Sala São Paulo, em setembro de 2008. Uma experiência interessante e muito original sobre as inúmeras possibilidades da voz humana, interpretada por uma única mulher, a soprano francesa Mireille Delunsch, que, abandonada por seu amante, fala ao telefone como se ele estivesse do outro lado da linha e lhe adivinhássemos as palavras e reações. Uma espécie de teatro cantado moderno, um falar cantando ou cantar falando, cheio de nuances e surpresas, altos e baixos, gritos e sussurros, dependendo da situação, do estado emocional, do humor e das reações do outro lado, sem falar das interrupções e dos sustos, pela constante queda da linha telefônica… A voz da excelente atriz, sempre em diálogo com o comentário orquestral, fez do drama algo tão real e autêntico a ponto de o público quase visualizar a outra presença. Extraordinário o que se pode extrair da voz humana e do que ela é capaz, revelando o mais íntimo de nós, traduzindo nossos estados de espírito, mostrando quem somos… No caso dessa ópera, algo ao mesmo tempo trágico e cômico, mas, sobretudo, revelador fiel dos sentimentos da personagem.

    b) Como se produz a voz humana

    – nosso instrumento vocal

    O ser humano é o mais rico instrumento musical.

    JORGE ANTUNES

    Tanto a voz falada como a cantada são emitidas pelos mesmos órgãos, e é difícil estabelecer os limites entre uma e outra, uma vez que o canto é a palavra tornada música, o som musical produzido pela voz humana. Assim, a técnica vocal da voz falada é a mesma para o canto, embora seja ele um meio de expressão superior e mais complexo. Porém, uma vez feita com regularidade a técnica vocal e aplicada ao falar, ela melhora infalivelmente a voz para o canto, evitando a rouquidão, o cansaço, dando apoio e firmeza, qualidade e encanto.

    Para usar melhor nosso instrumento vocal, devemos conhecer suas partes e a função de cada uma em nosso organismo. Quais os órgãos responsáveis pela produção da voz? Como as demais partes do corpo humano, também o aparelho vocal apresenta um complicado mecanismo feito de nervos e músculos, vasos sanguíneos, ossos e cavidades.

    Conhecer e aprender a usar corretamente esse belo e precioso instrumento dado por Deus pode evitar danos e perdas irreparáveis.

    Faremos, pois, um passeio maravilhoso por nosso instrumento musical!

    São três as partes bem distintas, porém intimamente interligadas, de nosso instrumento vocal: aparelho respiratório, aparelho fonador e aparelho ressoador.

    Vamos descrevê-los de forma sucinta:

    1) O aparelho respiratório, onde se armazena e circula o ar, é formado pelas narinas, pela traqueia, pelos pulmões e pelo diafragma.

    O ar entra pelo nariz, onde é aquecido, umedecido e filtrado pelas narinas, e, dali, passa para a traqueia, espécie de tubo cilíndrico que se divide em dois – a parte de cima unida à laringe, e a inferior que se bifurca, originando os brônquios, que levam o ar até os pulmões.

    Os pulmões, situados na cavidade torácica, são duas massas esponjosas que ficam um à direita e outro à esquerda do coração. São os órgãos principais da respiração, constituindo nosso receptáculo de ar. Também neles se processa a transformação do sangue venoso em sangue arterial, e, juntamente com a laringe, produzem a voz: a laringe, com a vibração das cordas vocais, e os pulmões, com a emissão do ar. A cavidade torácica é formada, de cada lado, por doze costelas, fixadas atrás, na coluna vertebral. Na inspiração, os pulmões se expandem, as costelas se separam, a caixa torácica se dilata. Interessante é a definição do dr. J. A. Gaiarsa: O pulmão é uma árvore inteiramente oca – inclusive as folhas: o tronco é a traqueia, os ramos são os alvéolos, que respiram; o restante da árvore não respira¹⁰.

    O diafragma, que em grego significa estendido através, é um músculo largo e achatado, que se estende horizontalmente entre os pulmões e o abdome, separando os órgãos respiratórios dos digestivos. É essencial para a respiração, que se divide em duas fases: inspiração (entrada do ar nos pulmões) e expiração (saída do ar). Durante a inspiração, o diafragma desce até o abdome e cria uma pressão contra os órgãos inferiores, que se dilatam naturalmente, estufando o ventre, o que é provocado pelo volume de ar no tórax; com a expiração, o músculo volta ao seu lugar, pressionando a coluna de ar, que, ao sair, passa pelas pregas vocais, produzindo o som.

    2) O aparelho fonador é constituído pela laringe e pelas cordas vocais, onde o ar se transforma em som.

    A laringe situa-se na parte mediana do pescoço e corresponde ao chamado pomo-de-adão, abrindo-se na base da língua, em comunicação com a traqueia na parte inferior e com a faringe na parte superior. Chamada pelos ingleses de caixa da voz, ela é de fato a base e a fonte da voz.

    Na laringe se encontram as cordas vocais ou pregas vocais, responsáveis pela produção do som. São duas as pregas vocais, paralelas ao chão, em sentido horizontal, atravessando a laringe, como se fossem dois pares de lábios formados por um tecido elástico. Elas se afastam uma da outra para que o ar entre nos pulmões, e, quando se juntam, o ar se move entre elas, que então passam a vibrar, produzindo o som, fazendo a voz cantar. As cordas vocais são nossos vibradores e a fonte de nossa voz!

    3) E o aparelho ressoador, no qual o som amplia-se e vibra através dos ossos do corpo todo, especialmente os da cabeça, que formam a caixa de ressonância, conhecida como máscara. Assim, a cabeça toda funciona como uma espécie de amplificador ou alto-falante, ampliando nossa voz e fazendo-a chegar ao público, o que é o objetivo de todo cantor.

    O som produzido pelas cordas vocais é pequeno, insignificante, tênue, de modo que, para adquirir força, brilho e amplitude, ele deve ser ampliado na caixa de ressonância, formada pelos ossos e cavidades do corpo humano, sobretudo os faciais.

    No canto, somos ao mesmo tempo o instrumento e o instrumentista: nosso corpo é sopro, corda e percussão, algo estupendo e maravilhoso. A voz assemelha-se aos instrumentos de sopro. Por isso, nossa fonte de energia é a respiração; os vibradores são as cordas vocais; e nosso corpo – o esqueleto inteiro – é o ressoador, toma parte na ressonância vocal.

    Os mais importantes ressoadores encontram-se nos ossos da cabeça: caixa de ressonância inferior (faringe, traqueia, brônquios e pulmões) e caixa de ressonância superior (cavidades bucais e da face), a mais importante, formando a região conhecida como máscara. Cantar na máscara é usar a ressonância facial: o palato (céu da boca), a região da faringe, as cavidades nasais e a boca, o maxilar inferior, a língua, os lábios – todos órgãos de ressonância com grande influência nas características, no timbre e na qualidade da voz. A mais importante entre as caixas de ressonância da voz é a boca, pois nela estão os órgãos da articulação (língua, lábios, dentes, maxilar…), onde se formam as vogais e as consoantes.

    c) O mecanismo da voz

    Conhece-te a ti mesmo!

    SÓCRATES

    Pela inspiração, os pulmões, como foles, enchem-se de ar, que se transforma em som. Na expiração, as cordas vocais se aproximam entre si e fazem vibrar o ar, que, transformado em som, vai para os ressoadores, nos quais adquire qualidade e amplitude, sendo então lançado para fora. Este constitui o momento mais importante da produção sonora, responsável pela beleza, pelo equilíbrio e pelo brilho da voz. Aprender a combinar garganta, boca e nariz, para obter uma boa sonoridade, é fundamental para o cantor, prática que deve ser aprendida, adquirida, treinada.

    A voz é, pois, o resultado do equilíbrio entre duas forças: a força do ar que sai dos pulmões, chamada força aerodinâmica, e a força muscular das pregas vocais, denominada força mioelástica. Um desequilíbrio nesse processo provoca uma alteração vocal: se o ar que passa pela laringe é excessivo, causa um som soprado, uma voz cheia de ar na emissão do som (muito gasto de fôlego, vazamento do ar…), o que pode ser amenizado por um bocejo, usando mais energia, expandindo a parte central do corpo… Se, pelo contrário, a força muscular é maior que a necessária, provocando tensão ou rigidez nas cordas vocais, o som se comprime e a voz sai estrangulada, estridente, abafada. O melhor meio de combater essa tensão é relaxar o corpo, soltar os músculos faciais, esboçar um sorriso… encontrar o equilíbrio, relaxando por um lado, e, por outro, usando o apoio, elástico, mas firme…. O bocejo e o suspiro ajudam muito, porque expandem os pulmões, facilitam a respiração, nos tornam mais soltos e livres, criam espaço dentro de nós, e, além disso, aliviam as tensões e acalmam.

    d) A respiração – o

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