Cruz e Sousa: Retratos do Brasil Negro
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Book preview
Cruz e Sousa - Paola Prandini
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Prandini, Paola
Cruz e Sousa / Paola Prandini. — São Paulo : Selo Negro, 2011. — (Coleção Retratos do Brasil Negro / Coordenada por Vera Lúcia Benedito)
Bibliografia
ISBN 978-85-87478-76-4
1. Poetas brasileiros – Biografia 2. Sousa, Cruz e, 1861-1869
I. Título. II. Série.
Índice para catálogo sistemático:
1. Poetas brasileiros : Biografia 928.6991
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CRUZ E SOUSA
Copyright © 2011 by Paola Prandini
Direitos desta edição reservados por Summus Editorial
Editora executiva: Soraia Bini Cury
Editora assistente: Salete Del Guerra
Coordenadora da coleção: Vera Lúcia Benedito
Projeto gráfico de capa e miolo: Gabrielly Silva/Origem Design
Diagramação: Acqua Estúdio Gráfico
Fotografias: Diego Balbino
Selo Negro Edições
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Àqueles que, nas idas e vindas da vida, me ensinaram
e ainda me ensinam que, se acreditarmos na igualdade e
no amor, não precisaremos de mais nada para ser felizes
E não há maior felicidade do que levar a felicidade ao
encontro de quem dela se perdeu.
Agradecimentos
Aos meus pais, que geraram em mim a vontade de tornar o mundo um lugar melhor.
À minha amada irmã, Drica, pela companhia.
À minha avó Janete, por sempre estar pronta para qualquer parada
.
A Diego Balbino, pelo companheirismo e por ter dedicado sua arte às imagens deste livro.
Aos companheiros de luta, que me permitem estar a seu lado nas batalhas da vida: agradeço a eles pela semente plantada com a equipe Dandaras e pela concreta realização da AfroeducAÇÃO.
Mas, embora, meus senhores,
se festeje a Liberdade,
a gentil Fraternidade
não raiou de todo, não!
Cruz e Sousa, em Sete de setembro
Introdução
Homem livre de cor: categoria em que figura o poeta catarinense Cruz e Sousa em diversos textos e análises sobre sua vida e o legado de sua obra. No entanto, me pergunto: o que é ser visto como homem livre de cor num Brasil do século XIX? Eis que me rompe a primeira resposta: dolorido. Dor que João da Cruz e Sousa, nome de batismo do ilustre poeta simbolista, sentiu literalmente na pele e enriqueceu demasiadamente sua obra. Mesmo que tal dor não fosse compreendida por quem o lia. Afinal, os leitores de Cruz e Sousa – em sua maioria brancos de classes mais abastadas – raramente tinham a infelicidade de compartilhar o sofrimento por ele sentido cotidianamente.
Na cidade de Desterro (atual Florianópolis, em Santa Catarina), onde nasceu e passou grande parte da vida, Cruz e Sousa amargurou dificuldades para simplesmente ser. Dor. Ódio. Racismo. Luta. Abolição. Morte. Palavras que fizeram parte da literatura sempre poética – mesmo quando em prosa – de Cruz e Sousa. Mas, apesar disso, também presenciamos um Cruz e Sousa mais contente com a vida que levava, principalmente quando estava apaixonado por Gavita – seu único grande amor, mãe de quatro filhos que tiveram a mesma triste sorte dos pais: a morte por tuberculose.
Quando adolescente, Cruz e Sousa já sabia o que queria: ser letrado e estar envolvido com as letras durante todo o tempo. E foi isso que perseguiu. Trabalhou como poeta e jornalista ao longo da vida. Como poeta, usou palavras difíceis, um português nobre, e nos deleitou com uma sensibilidade que pode ser sentida, ouvida, cheirada, degustada. Uma obra digna de uma grande ópera farta de coquetéis.
Se estivesse vivo hoje, Cruz e Sousa conheceria uma Florianópolis mais embranquecida, mas que, seja como for, exalta seu nome e o remete a um passado quase mítico, emaranhado nas letras de uma Literatura com letra maiúscula, como muitas vezes o poeta buscou reforçar. Sua memória, hoje, confronta o contexto social do século XIX – que infelizmente existiu.
Atualmente, mesmo com mais de 50% da população brasileira composta por negros (entre eles pretos e pardos, conforme nomenclatura do Censo 2010, organizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), as situações de racismo continuam frequentes e ainda são poucos os negros que ocupam as carteiras das universidades e os cargos de poder. À semelhança do que enfrentou Cruz e Sousa, a quem foi negado o cargo de promotor da cidade de Laguna, ainda são enormes as batalhas daqueles que almejam o protagonismo negro.
Busto de Cruz e Sousa, localizado na Praça XV de Novembro, em Florianópolis (SC).
No entanto, há quem diga que Cruz e Sousa não tenha sofrido discriminação racial. Afinal, transitava por entre brancos e ricos mesmo sendo filho de negros que haviam sido escravizados no Brasil. Porém, é preciso reiterar o mito da democracia racial vivido em terras tropicais desde seus primórdios e presente até hoje.
Durante o final do século XIX e ao longo do século XX, a fim de que a população negra passasse a ser minoria no país, construiu-se um ideal de branqueamento da população negra brasileira, desenvolvido como projeto nacional por meio de políticas de povoamento, imigração europeia e também pelo incentivo à miscigenação. Quanto mais brancos imigrassem e quanto maior o número de nascimentos de filhos provenientes de relações inter-raciais, menos escuro
ficaria o Brasil. Dessa maneira, a classe branca dominante continuaria majoritária e detentora de todas as vantagens socioeconômicas vigentes.
Nesse sentido, cremos que Cruz e Sousa travou, com outros personagens históricos de extrema importância de seu tempo – assim como os também negros Castro Alves, Luiz Gama e José do Patrocínio, acompanhados ou não de companheiros brancos –, uma luta que ainda não teve fim de fato. Mas que, se acreditarmos e agirmos, ainda pode nos revelar grandes conquistas.
E, assim, envoltos em jogos de palavras, sinestesias, aliterações e vocábulos dignos de um Cisne Negro – como Cruz e Sousa era conhecido –, procuraremos nesta obra reiterar a importância desse grande poeta na literatura brasileira e na denúncia da discriminação racial.
Vista do Palácio Cruz e Sousa, no centro da cidade de Florianópolis, considerado patrimônio histórico do Estado de