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Precedentes Judiciais: Técnicas de Dinâmica, Teoria e Prática
Precedentes Judiciais: Técnicas de Dinâmica, Teoria e Prática
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Precedentes Judiciais: Técnicas de Dinâmica, Teoria e Prática

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A maior parte das decisões judiciais ou administrativas está atualmente baseada na jurisprudência dos tribunais superiores. Daí ser vital o conhecimento, teórico e prático, das técnicas de utilização dos precedentes judiciais.

Nesse sentido, Precedentes Judiciais: técnicas de dinâmica, teoria e prática propõe-se a consolidar 12 técnicas de dinâmica dos precedentes judiciais, como o overruling, o distinguishing e suas formas variantes. Apresenta, ainda, estudos de casos de relevantes decisões transitadas em julgado do Supremo Tribunal Federal e do Superior Tribunal de Justiça, demonstrando, de forma prática, o uso dessas técnicas. Com linguagem dinâmica e quadros esquemáticos que facilitam a leitura e assimilação desse atual e importante tema, o conteúdo desta obra é uma excelente fonte de estudo para os operadores do Direito e para todos aqueles que se interessam pela construção e interpretação de uma decisão judicial.
LanguagePortuguês
Release dateMay 28, 2019
ISBN9788547324971
Precedentes Judiciais: Técnicas de Dinâmica, Teoria e Prática

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    Precedentes Judiciais - Fernando Teófilo Campos

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO SOCIOLOGIA DO DIREITO

    À minha esposa, Natália, minha vida.

    AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, agradeço a Deus pelas oportunidades e conquistas que tem me proporcionado; agradeço pela saúde e pelo caminho que me tem traçado.

    Agradeço ao Prof. Dr. Nilton César Antunes da Costa, pelas lições de Direito, de profissionalismo e de vida; pelo motivante apoio e pela brilhante atenção que dedicou a esta obra. Agradeço, ainda, pelo apreço e por todo conhecimento que me transmite.

    Ao meu pai, José de Arimatéia Oliveira Campos, agradeço pelo apoio incondicional e inestimável; pelo exemplo de luta e dedicação que sempre me proporcionou; pelos ensinamentos e pelo amor que carregarei por toda a minha vida.

    Aos meus irmãos, Fernanda Teófilo Campos e Fabrício Teófilo Campos, agradeço pelos laços inquebrantáveis que nos unem e nos fortalecem.

    Agradeço aos meus amigos Alex Yuko Toma e Rodrigo Maia Brustoloni, pela amizade e pelo conhecimento compartilhado.

    Em especial, agradeço à minha esposa, Natália Tavares de Tavares, que sempre me apoiou e me guiou nesta difícil caminhada; pelo amor, pela estima e pelo carinho com que me presenteia todos os dias; por me fazer ser uma pessoa melhor a cada dia. Te amo!

    Obrigado a todos!

    APRESENTAÇÃO

    Não há melhor maneira de exercitar a imaginação do que estudar direito. Nenhum poeta jamais interpretou a natureza com tanta liberdade quanto um jurista interpreta a verdade.

    ~ Jean Giraudoux

    A temática dos precedentes judiciais sempre me motivou. Após anos de estudo, verifiquei a grande dificuldade de realizar o manuseio adequado de um precedente judicial. Há uma cultura, na seara judiciária e que se transmite também desde o meio acadêmico, de desrespeito ao acatamento do precedente judicial. Assim, o interesse pelo tema do estudo incrementou-se a partir do seguinte entendimento: um correto conhecimento das técnicas relativas ao sistema de dinâmica dos precedentes judiciais pode propiciar mudanças revolucionárias em diversas áreas, tais como no Poder Judiciário, na sociedade e nos estabelecimentos jurídicos de ensino.

    Procurei, então, por meio desta obra, elaborar um estudo aprofundado sobre esse relevante tema, visando a transmitir, de maneira didática e dinâmica, um assunto ainda pouco explorado no Brasil. Por este livro, tenho a finalidade de difundir o adequado uso das técnicas de dinâmica dos precedentes judiciais no ordenamento jurídico brasileiro, determinando os procedimentos de aplicabilidade das técnicas de confronto, distinção e superação dos precedentes judiciais, principalmente após a vigência do Código de Processo Civil de 2015, e de maneira a expor as características sobre o modo como se vem tratando o tema em estudo e as possibilidades futuras idealizadas mediante a utilização oportuna da dinâmica dos precedentes judiciais.

    Fernando Teófilo Campos

    PREFÁCIO

    Com muito talento e dedicação, o autor, Dr. Fernando Teófilo Campos, elaborou esta brilhante obra jurídica que aborda, com maestria, a dinâmica dos precedentes na forma almejada pelo Código de Processo Civil de 2015, que, ao contrário do revogado Código de Processo Civil de 1973, mantém plena sintonia com a Constituição federal de 1988, discorrendo sobre seus aportes teóricos e práticos para a sua efetiva compreensão e aplicação.

    Com efeito, no plano semântico, o autor nos brinda com os conceitos fundamentais relacionados ao tema (precedente judicial, súmula, enunciado de súmula, ementa, costumes, decisão judicial, sentença, jurisprudência, ratio decidendi e obiter dictum), considerando o fato de que tal análise se faz imprescindível porque todos esses conceitos estão situados no continente decisão judicial, sendo tal vislumbre distintivo necessário para o trato adequado com os precedentes judiciais no seu viés dinâmico e de aplicabilidade.

    Não se furtou o autor a fazer uma prévia incursão no Direito comparado quanto ao trato dos precedentes judiciais no sistema da common law, consciente das peculiaridades e vicissitudes do tema no ordenamento jurídico brasileiro (civil law), em especial diante da regra contida no art. 927 e incisos, da Lei nº 13.105/2015 (Código de Processo Civil), e dos princípios constitucionais assegurados pela Constituição de 1988: princípio da isonomia, princípio da segurança jurídica, princípio da fundamentação das decisões, princípio da duração razoável do processo e princípio do contraditório.

    No plano dinâmico, o autor trabalha com originalidade ímpar a aplicabilidade dos precedentes judiciais, discorrendo, com total respaldo no aporte teórico apresentado, sobre a melhor técnica de confronto, distinção e superação dos precedentes, apresentando ao final estudos de casos concretos para que o leitor possa aferir o aprendizado proporcionado pelas orientações seguras propostas pela obra. Nesse item, revela o quão importante é assimilar a relação entre o precedente paradigma e o caso concreto, vislumbre que consiste numa díade necessária envolvendo a moldura fática relevante e os motivos determinantes do precedente em cotejo com o caso concreto, para que daí seja extraído o propósito central dos precedentes no sistema jurídico.

    Em suma, o trabalho apresentado revela que, além do domínio semântico sobre o tema dos precedentes judiciais, o viés pragmático é de fundamental importância para a sua compreensão e aplicabilidade pelo profissional do Direito, contando, inclusive, com a assimilação social do instituto, sendo certo que tais considerações proporcionam e proporcionarão um efeito presente e prospectivo para o melhor trato com os precedentes judiciais com eficácia vinculante decorrentes das decisões judiciais proferidas pelos tribunais, em especial aquelas emanadas das cortes de vértice (STF e STJ) e descritas nos incisos do art. 927, do CPC/2015, para que elas sejam dotadas de estabilidade, integridade e coerência no sistema do Poder Judiciário e, com isso, propiciem melhor segurança jurídica e isonomia, sem descurar que tais decisões merecem fundamentação adequada e qualificada, com plena publicidade para fins de participação social.

    Temos a certeza de que este trabalho concorrerá enormemente para o aprimoramento do instituto dos precedentes judiciais em nosso país, abrindo frutuosos debates sobre os vários pontos abordados pelo autor, e que será livro de consulta obrigatória dos acadêmicos e profissionais de Direito.

    Campo Grande, 14 de fevereiro de 2018

    Prof. Dr. Nilton César Antunes da Costa¹

    LISTAS DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS

    AC Ação Cautelar

    ADC Ação Declaratória de Constitucionalidade

    ADPF Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental

    ADIn Ação Direta de Inconstitucionalidade

    ADO Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão

    Art. Artigo

    Arts. Artigos

    Cide Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico

    CTN Código Tributário Nacional

    CP Código Penal

    CPC Código de Processo Civil

    CPP Código de Processo Penal

    CRFB Constituição da República Federativa do Brasil

    Cofins Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social

    DJ Diário da Justiça

    EREsp Embargos de Divergência no Recurso Especial

    Gatt Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio

    ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços

    II Imposto de Importação

    IPI Imposto Produtos Industrializados

    IRDR Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas

    LEP Lei de Execuções Penais

    Min. Ministro

    ONU Organização das Nações Unidas

    PIS Programa de Integração Social

    Rel. Relator

    REsp Recurso Especial

    RE Recurso Extraordinário

    STF Supremo Tribunal Federal

    STJ Superior Tribunal de Justiça

    TRF Tribunal Regional Federal

    Sumário

    1 – CONCEITOS FUNDAMENTAIS

    1.1 PRECEDENTE JUDICIAL

    1.2 SÚMULA

    1.3 ENUNCIADO DE SÚMULA

    1.4 EMENTA

    1.5 COSTUMES

    1.6 DECISÃO JUDICIAL

    1.7 SENTENÇA E ACÓRDÃO

    1.8 JURISPRUDÊNCIA

    1.9 RATIO DECIDENDI

    1.10 OBITER DICTUM

    2 – SISTEMA DE PRECEDENTES JUDICIAIS

    2.1 SISTEMA DE COMMON LAW

    2.2 SISTEMA DE CIVIL LAW

    2.3 DISTINÇÕES ENTRE OS SISTEMAS DE COMMON LAW E DE CIVIL LAW

    2.4 APROXIMAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS DE COMMON LAW E DE CIVIL LAW

    2.5 TEORIA DO STARE DECISIS

    2.6 APLICABILIDADE DA TEORIA DO STARE DECISIS NO SISTEMA DE CIVIL LAW

    2.7 APLICABILIDADE DA TEORIA DO STARE DECISIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

    2.8 EQUÍVOCOS NA APLICAÇÃO DA TEORIA DO STARE DECISIS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

    2.9 VIGÊNCIA DO CPC/15 E O SISTEMA DE PRECEDENTES JUDICIAIS

    3 – PRECEDENTES À LUZ DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS

    3.1 PRINCÍPIO DA ISONOMIA

    3.2 PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

    3.3 PRINCÍPIO DA FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES

    3.4 PRINCÍPIO DA DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO

    3.5 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO

    3.6 PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE

    4 – DINÂMICA DOS PRECEDENTES JUDICIAIS

    4.1 ESPÉCIES DE EFICÁCIA DOS PRECEDENTES JUDICIAIS

    4.2 APLICAÇÃO DA EFICÁCIA VINCULANTE DOS PRECEDENTES JUDICIAIS

    4.3 FORMAÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS

    4.4 IDENTIFICAÇÃO DA RATIO DECIDENDI E DO OBITER DICTUM

    4.5 ESTUDO DE CASO: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL nº 1.403.532/SC

    5 – APLICAÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS: A DISTINÇÃO

    5.1 TÉCNICA DE CONFRONTO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS: DISTINGUISHING MÉTODO

    5.2 TÉCNICA DE DISTINÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS: DISTINGUISHING RESULTADO

    5.3 TÉCNICAS INTERMEDIÁRIAS DE DISTINÇÃO

    5.3.1 Restrictive distinguishing e ampliative distinguishing

    5.3.2 Inconsistent distinguishing

    5.3.3 Decisão per incuriam

    5.4 ESTUDO DE CASO: RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº 550.769/RJ

    6 – APLICAÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS: A SUPERAÇÃO

    6.1 TÉCNICA DE SUPERAÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS: OVERRULING

    6.2 A EFICÁCIA TEMPORAL DA SUPERAÇÃO DOS PRECEDENTES JUDICIAIS

    6.3 TÉCNICAS INTERMEDIÁRIAS DE SUPERAÇÃO DE PRECEDENTES

    6.3.1 Signaling

    6.3.2 Transformation

    6.3.3 Overriding

    6.3.4 Anticipatory overruling

    6.4 ESTUDO DE CASO: HABEAS CORPUS Nº 118.533/MS

    7 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    1

    CONCEITOS FUNDAMENTAIS

    Na esfera da dinâmica dos precedentes judiciais, percebe-se uma confusão conceitual dos institutos necessários ao entendimento do tema. E ainda uma dificuldade em estabelecer os conceitos e as aplicações de súmula, jurisprudência, decisão judicial, precedentes, entre outros.

    Nota-se, por vezes, uma utilização indevida desses conceitos fundamentais, haja vista que acabam sendo utilizados indiscriminadamente, como se tivessem o mesmo sentido e a mesma finalidade. Apesar de os institutos supracitados terem definições e utilizações muito próximas, estas não se confundem. Assim sendo, essa confusão teórica pode atrapalhar o correto entendimento do tema ou, ainda, limitar, demasiadamente, o uso desses institutos.

    Esses institutos a serem conceituados podem ser sistematizados em: súmula, enunciado de súmula, ementa, jurisprudência, sentença, acórdão, precedente judicial, ratio decidendi e obiter dictum. Dessa forma, partindo desta introdução, o presente capítulo visa a delimitar quais os conceitos fundamentais para que se utilizem corretamente as técnicas de superação e distinção dos precedentes judiciais no ordenamento jurídico brasileiro, principalmente, a partir da vigência Código de Processo Civil de 2015.

    1.1 PRECEDENTE JUDICIAL

    Desde o início da vigência do Código de Processo Civil de 2015, promoveu-se uma restruturação na construção e interpretação das decisões judiciais. Um dos grandes pontos do CPC de 2015 foi o dimensionamento das técnicas de superação e distinção de precedentes judiciais.

    Entretanto, para que se realize o correto entendimento dessas técnicas, necessita-se, em um primeiro momento, realizar a correta definição do instituto dos precedentes judiciais. De acordo com o Aurélio, precedente é o: 1.que precede, antecedente; 2. procedimento que serve de critério ou pretexto a práticas posteriores semelhantes².

    Trazendo o conceito para a seara jurídica, verifica-se que, de maneira genérica, precedente pode ser estabelecido como um critério a ser seguido. Nos dizeres de Cruz e Tucci:

    Seja como for, é certo que em ambas as experiências jurídicas os órgãos judicantes, no exercício regular de pacificar cidadãos, descortinam-se como celeiro inesgotável de atos decisórios. Assim, núcleo de cada um destes pronunciamentos constitui, em princípio, um precedente judicial. O alcance deste somente pode ser depreendido aos poucos, depois de decisões posteriores. O precedente nasce então como uma regra e, em seguida, terá ou não o destino de tornar-se a regra de uma série de casos análogos.³

    Um dos conceitos mais elucidativos sobre os precedentes judiciais é dado por Didier Jr. que o define como sendo: Decisão judicial tomada à luz do caso concreto, cujo núcleo essencial pode servir como diretriz para o julgamento posterior⁴. Já nos dizeres de Oliveira: o chamado precedente, utilizado no modelo judicialista, é o caso já examinado e julgado, cuja decisão primeira sobre o tema atua como fonte para o estabelecimento (indutivo) de diretrizes para os demais casos a serem julgados⁵.

    Interessante referenciar o conceito dado por Camargo⁶:

    No sistema romano-germânico (civil law), ordinariamente, precedente é um pronunciamento judicial, monocrático ou colegiado, sobre questão jurídica determinada, cujas razões determinantes, de regra, apenas orientam (mas não vinculam) o pedido ou o julgamento de casos posteriores sobre a mesma matéria.

    Por este conceito dado pelo autor, percebe-se que o precedente também tem sua importância nos países do civil law.

    Sobre a finalidade dos precedentes judiciais, Medina⁷ afirma que se trata de:

    [...] uma consequência jurídica específica, passando, então, a ser considerado como algo que fornece a regra para a determinação de um caso subsequente envolvendo fatos materiais idênticos ou semelhantes que surgem no mesmo tribunal ou em juízo inferior na hierarquia judicial.

    Sobre o tema, os doutrinadores Arenhart e Marinoni⁸ asseveram:

    Para constituir precedente, não basta que a decisão seja a primeira a interpretar a norma. É preciso que a decisão enfrente todos os principais argumentos relacionados à questão de direito posta na moldura do caso concreto. Portanto, uma decisão pode não ter os caracteres necessários à configuração de precedente, por não tratar de questão de direito ou se limitar a afirmar a letra da lei, como pode estar apenas reafirmando o precedente.

    Assim, notam-se diferenças e similitudes entre os conceitos encontrados para o instituto dos precedentes judiciais. De acordo com o que foi exposto, nota-se que o precedente judicial, em sentido amplo, é composto por três elementos essenciais. O primeiro desses elementos é a circunstância de fato objeto do litígio. Ou seja, é o próprio caso concreto. O próximo elemento é o dispositivo legal, tese, princípio que serviu de embasamento para a resolução da controvérsia. Este elemento está presente na motivação – ratio decidendi – da decisão. O terceiro elemento é a própria argumentação.

    Entretanto, em linhas gerais, pode-se afirmar, no que se refere ao precedente judicial, que a junção desses conceitos expostos indica que a definição do instituto pode ser desenvolvida como sendo uma diretriz, orientação ou pretexto para um julgamento posterior a partir de uma regra estabelecida em casos análogos. Ou seja, pode-se o conceituar como sendo qualquer decisão passada que é evocada por um magistrado para justificar um caso posterior.

    1.2 SÚMULA

    É importante, aqui, realizar a conceituação dos institutos da súmula e de suas derivações: enunciado de súmula e ementa. A súmula é o enunciado normativo do precedente que se formou por meio da sua constante aplicação. Buzaid⁹ a conceitua como sendo: A súmula […] é juízo de valor. A súmula não julga uma causa. Seu objetivo é definir o exato entendimento da norma jurídica, a cujo respeito surgiram divergências.

    A súmula tem sua origem, na década de 1950, na reforma ocorrida no Código de Processo Civil de 1939. Essa reforma teve a finalidade de criar um mecanismo de uniformização de jurisprudência. E nessa época já possuía as características de enunciados breves, que visavam a expressar as razões determinadas em reiteradas decisões em um mesmo sentido.

    Verifica-se, assim, que já ocorria, à época, a tentativa de realizar, a partir do uso das súmulas, uma norma geral verificada no caso concreto. Essa norma geral, abstrata e genérica, feita com base na complementação e interpretação da lei, é reproduzida em casos futuros. Dessa forma, nesses casos futuros, ocorre a adequação da súmula ao caso concreto.

    A respeito das súmulas, Bueno¹⁰ esclarece que: são a cristalização de entendimentos jurisprudenciais que predominam nos Tribunais em certo tempo e espaço. A palavra quer indicar as decisões reiteradamente proferidas e, determinar o sentido pelos Tribunais.

    Sifuentes¹¹ define a súmula como sendo:

    No âmbito jurídico, a súmula de jurisprudência refere-se a teses jurídicas solidamente assentes em decisões jurisprudenciais das quais se retira um enunciado, que é o preceito doutrinário que extrapola os casos concretos que lhe deram origem e pode ser utilizado para orientar o julgamento de outros casos.

    Sobre a função da súmula, Pinheiro¹² afirma que: expressar a orientação dominante do Tribunal acerca de tema controvertido na jurisprudência e eliminar divergências, objetivando cumprir com eficiência a divulgação da jurisprudência e a celeridade processual, a súmula.

    A definição de súmula pode ser assim construída, a partir do que foi exposto, como sendo a tese sintetizadora de um entendimento, por meio de uma norma cristalizada, com base em julgados em comum.

    Verifica-se, por este conceito, a total diferenciação entre esse instituto e o precedente judicial. O precedente orienta o caso futuro. A súmula, pelo contrário, está assente no caso presente. Os precedentes, assim, são criados visando à solução de casos concretos, podendo, eventualmente, influenciar decisões futuras. Enquanto as súmulas são textos gerais e abstratos – a semelhança das características de uma lei – formados com a finalidade de solucionar casos futuros.

    Percebe-se a imprescindibilidade da interpretação do precedente que deu origem ao surgimento da súmula para a correta aplicação em um caso concreto. Um antecedente lógico do uso de qualquer súmula é realizar a correta interpretação dos casos concretos do precedente judicial que embasou o seu surgimento.

    Assim, é necessário o entendimento de que a súmula deve ser utilizada à luz dos casos que lhe deram origem, perfazendo o seu contexto. Não se deve interpretá-la como sendo um texto genérico e abstrato, tal como as produções legislativas.

    1.3 ENUNCIADO DE SÚMULA

    Já no tocante ao enunciado de súmula, este é definido por Rosas¹³ da seguinte maneira: reflete a jurisprudência de um tribunal ou de uma seção especialmente autorizada a emitir a consolidação. A súmula se difere do enunciado de súmula, apesar de, na prática forense atual, convergirem para a mesma finalidade.

    Nesse sentido, Sifuentes¹⁴ ensina:

    As palavras súmula e enunciado, embora tenham significados diferentes, acabaram por serem usadas, indistintamente, de modo que, por súmula, atualmente entende-se comumente o próprio enunciado, ou seja, o preceito genérico tirado do resumo da questão de direito julgada.

    Portanto, o enunciado de súmula configura-se em mera tentativa de sistematizar os julgados. Assim, Braga, Oliveira e Didier Jr.¹⁵ asseveram:

    O enunciado da súmula, em sua simplicidade, se distancia do manancial fático das decisões cuja difusão conduziu à sua edição. Mas a aplicação dos enunciados de súmula não pode ignorar o imperativo de observância dos fatos subjacentes à causa e confrontá-los com os precedentes que geraram o enunciado sumular; isso, porém, costuma ser ignorado.

    Nessa temática, a Ratio Decidendi (que será também objeto de estudo neste capítulo) presente nos precedentes difere-se do enunciado de súmula, haja vista que se devem procurar as razões da decisão em que foi proferida, em vez de aplicar indiscriminadamente a súmula como se lei fosse.

    Marinoni¹⁶, nesse sentido, explica: "Trata-se, em outras palavras, de buscar a ratio decidendi da súmula, que não se confunde com o seu enunciado". A partir desse entendimento ocorre a diferenciação entre o precedente judicial e o enunciado de súmula, porquanto o enunciado, como sistematizado neste estudo, é a mera orientação do julgamento que reflete a jurisprudência adotada.

    1.4 EMENTA

    Essa tentativa de sistematização dos julgados é mais evidente na elaboração da ementa. A ementa é mera afirmação da interpretação da norma ao caso, reproduzida em alguns parágrafos. Pelo mesmo entendimento adotado para o enunciado de súmula, percebe-se a diferenciação entre os precedentes judiciais e a ementa.

    Assim, em linhas gerais, verifica-se que a súmula, o enunciado de súmula e a ementa, apesar de institutos distintos, diferem-se dos precedentes judiciais pela mesma fundamentação – distinção temporal –, porquanto o precedente judicial dá a diretriz para o caso futuro. Por outro lado, aqueles três outros institutos refletem o entendimento adotado no caso presente.

    1.5 COSTUMES

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