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Projeto Angel
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Ebook461 pages4 hours

Projeto Angel

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About this ebook

#James Patterson é best-seller #1 do The New York Times, fenômeno de vendas mundial com mais de 295 milhões de livros vendidos em todo o mundo e mais de 10 milhões de cópias em eBooks.
#Mesmo autor da série Bruxos e Bruxas. Também criou a aventura Caçadores de Tesouros
#Ganhador do prêmio Children's Choice: autor do ano.
#Maximum Ride tem pequenos episódios disponibilizados no Youtube e foi transformado em mangá nos EUA.
"Esta série é digna de fazer mais sucesso do que Crepúsculo e Jogos Vorazes" - THE GUARDIAN.

Maximum Ride tem 14 anos. Ela e os seus amigos seriam crianças normais se não tivessem o dom de voar. Para algumas pessoas esse poder seria um sonho, mas, no caso da turma de Max, a vida se transformou em um pesadelo sem fim desde que a perseguição dos Apagadores começou.
Seja em cima das árvores do Central Park, em uma jornada escaldante no deserto da Califórnia ou nas entranhas do metrô de Nova York, Max e sua nova família lutam para compreender por que eles são diferentes de todos os outros seres humanos. A maior dúvida é: eles vão salvar a humanidade ou ajudar a destruí-la?
Impossível ficar indiferente a Max! Sarcástica, corajosa e meio impaciente, ela é a líder mais poderosa e forte que você já conheceu. Ao mesmo tempo em que luta para se proteger e salvar a vida dos seus amigos, Max tenta entender por que tudo tem que ser tão difícil e diferente para eles.
Se você gosta de ação, daquelas de tirar o fôlego, com vilões que você ama odiar... Este é o seu livro! Uma aventura fantástica e imprevisível, que emociona e desperta a imaginação.
LanguagePortuguês
PublisherIrado
Release dateNov 10, 2014
ISBN9788581635262
Projeto Angel
Author

James Patterson

James Patterson is the CEO of J. Walter Thompson, an advertising agency in New York. He has written several successful fiction and nonfiction books, including The New York Times best seller The Day America Told the Truth.

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    Book preview

    Projeto Angel - James Patterson

    SUMÁRIO

    Capa

    Sumário

    Folha de Rosto

    Folha de Créditos

    Ao leitor:

    ALERTA

    PRÓLOGO

    Parte 1

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    Capítulo 3

    Capítulo 4

    Capítulo 5

    Capítulo 6

    Capítulo 7

    Capítulo 8

    Capítulo 9

    Capítulo 10

    Capítulo 11

    Parte 2

    Capítulo 12

    Capítulo 13

    Capítulo 14

    Capítulo 15

    Capítulo 16

    Capítulo 17

    Capítulo 18

    Capítulo 19

    Capítulo 20

    Capítulo 21

    Capítulo 22

    Capítulo 23

    Capítulo 24

    Capítulo 25

    Capítulo 26

    Capítulo 27

    Capítulo 28

    Capítulo 29

    Capítulo 30

    Capítulo 31

    Capítulo 32

    Capítulo 33

    Capítulo 34

    Capítulo 35

    Capítulo 36

    Capítulo 37

    Capítulo 38

    Capítulo 39

    Capítulo 40

    Capítulo 41

    Capítulo 42

    Capítulo 43

    Capítulo 44

    Capítulo 45

    Capítulo 46

    Capítulo 47

    Capítulo 48

    Parte 3

    Capítulo 49

    Capítulo 50

    Capítulo 51

    Capítulo 52

    Capítulo 53

    Capítulo 54

    Capítulo 55

    Capítulo 56

    Capítulo 57

    Capítulo 58

    Capítulo 59

    Capítulo 60

    Capítulo 61

    Capítulo 62

    Capítulo 63

    Capítulo 64

    Capítulo 65

    Capítulo 66

    Parte 4

    Capítulo 67

    Capítulo 68

    Capítulo 69

    Capítulo 70

    Capítulo 71

    Capítulo 72

    Capítulo 73

    Capítulo 74

    Capítulo 75

    Capítulo 76

    Capítulo 77

    Capítulo 78

    Capítulo 79

    Capítulo 80

    Capítulo 81

    Capítulo 82

    Capítulo 83

    Capítulo 84

    Capítulo 85

    Parte 5

    Capítulo 86

    Capítulo 87

    Capítulo 88

    Capítulo 89

    Capítulo 90

    Capítulo 91

    Capítulo 92

    Capítulo 93

    Capítulo 94

    Capítulo 95

    Capítulo 96

    Capítulo 97

    Capítulo 98

    Capítulo 99

    Capítulo 100

    Capítulo 101

    Capítulo 102

    Capítulo 103

    Capítulo 104

    Capítulo 105

    Capítulo 106

    Capítulo 107

    Capítulo 108

    Capítulo 109

    Parte 6

    Capítulo 110

    Capítulo 111

    Capítulo 112

    Capítulo 113

    Capítulo 114

    Capítulo 115

    Capítulo 116

    Capítulo 117

    Capítulo 118

    Capítulo 119

    Capítulo 120

    Capítulo 121

    Capítulo 122

    Capítulo 123

    Capítulo 124

    Capítulo 125

    Capítulo 126

    Capítulo 127

    Capítulo 128

    Capítulo 129

    Capítulo 130

    Capítulo 131

    Capítulo 132

    Capítulo 133

    Capítulo 134

    EPÍLOGO

    Aviso

    Blog do Fang

    Guia do leitor

    Maximum Ride: FUGINDO DOS HOMENS-LOBOS

    Parte 1

    Capítulo 1

    Capítulo 2

    JAMES PATTERSON

    Tradução:

    Bárbara Menezes

    Título original: Maximum Ride – The Angel Experiment

    Copyright © 2005 by SueJack, Inc.

    Edição publicada sob acordo com Little, Brown and Company,

    New York, New York, USA.

    Copyright © 2014 Editora Novo Conceito

    Todos os direitos reservados.

    Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação sem autorização por escrito da Editora.

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação do autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

    Versão digital — 2014

    Produção editorial:

    Equipe Novo Conceito

    Este livro segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Patterson, James.

    Maximum Ride – Projeto Angel / James Patterson ; tradução Bárbara Menezes. -- Ribeirão Preto, SP : Novo Conceito Editora, 2014.

    Título original: The Angel Experiment

    ISBN 978-85-8163-526-2

    1. Ficção norte-americana I. Título.

    14-04272 | CDD-813

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Ficção : Literatura norte-americana 813

    Rua Dr. Hugo Fortes, 1885 — Parque Industrial Lagoinha

    14095-260 – Ribeirão Preto – SP

    www.grupoeditorialnovoconceito.com.br

    Ao leitor:

    A inspiração para Maximum Ride veio de livros anteriores meus chamados Quando Sopra o Vento e The Lake House, que também têm uma personagem chamada Max que escapa de uma Escola terrível. A maioria das similaridades acaba aí. Max e as outras crianças de Maximum Ride não são as mesmas que as dos dois livros mencionados. Frannie e Kit também não têm participação em Maximum Ride. Espero que você goste mesmo assim.

    James Patterson

    ALERTA

    Se você ousar ler esta história, vai virar parte do Experimento. Sei que isso parece um pouco misterioso... Mas é tudo o que posso dizer agora.

    Max

    PRÓLOGO

    Parabéns. O fato de você estar lendo isto significa que deu um passo gigantesco e ficou mais perto de sobreviver até seu próximo aniversário. Sim, você, parado aí, folheando estas páginas. Não largue este livro. Falo muito sério... Sua vida pode depender disso.

    Esta é minha história, a história da minha família, mas poderia facilmente ser a sua história também. Todos nós estamos juntos nessa; acredite em mim.

    Nunca fiz nada do tipo, por isso vou simplesmente começar, e você tenta me acompanhar.

    Certo. Meu nome é Max. Tenho quatorze anos. Moro com minha família, cinco crianças que não são meus parentes de sangue, mas ainda assim são completamente minha família.

    Nós somos... Bem, nós somos meio fantásticos. Não quero parecer arrogante, mas não nos parecemos com nada que você já tenha visto antes.

    Basicamente, somos superlegais, educados, espertos... Mas não comuns, de forma nenhuma. Nós seis — eu, Fang, Iggy, Nudge, Gasman e Angel — fomos feitos de propósito, pelos cientistas mais doentios e horríveis que você possa imaginar. Eles nos criaram como um experimento. Um experimento em que permanecemos apenas 98% humanos. Os outros 2% tiveram grande impacto. Vou contar a você.

    Crescemos em um laboratório/prisão chamado a Escola, em gaiolas, como ratos cobaias. É bem surpreendente que a gente consiga pensar e falar. Mas conseguimos... E muito mais.

    Apenas outro experimento da Escola conseguiu ultrapassar a infância. Parte humano, parte lobo... Predador total: são os chamados Apagadores. São durões, espertos e difíceis de controlar. Parecem humanos, mas, quando querem, conseguem se transformar em homens-lobo — com tudo: pelos, caninos e garras. A Escola os usa como guardas, policiais... e carrascos.

    Para eles, nós somos seis alvos móveis: presas inteligentes o bastante para serem um desafio divertido. Basicamente, eles querem rasgar nossa garganta. E garantir que o mundo nunca descubra que existimos.

    Mas não vou me render ainda. Estou contando a você, certo?

    Esta história poderia ser a sua... ou a de seus filhos. Se não hoje, então logo. Por isso, por favor, por favor, leve isto a sério. Estou arriscando tudo o que é importante para mim ao contar a você... Mas você precisa saber.

    Continue lendo — não deixe ninguém o deter.

    — Max. E minha família: Fang, Iggy, Nudge, Gasman e Angel.

    Bem-vindo ao nosso pesadelo.

    Parte 1

    SUSTO NO BANDO

    O engraçado em enfrentar a morte iminente é que isso realmente coloca todo o resto na perspectiva certa. Veja este momento, por exemplo.

    Corra! Vamos, corra! Você sabe que pode fazer isso.

    Inspirei o máximo de ar que pude. Meu cérebro estava em hiperpotência; eu estava correndo para salvar minha vida. Meu único objetivo era escapar. Nada mais importava.

    Meus braços sendo arranhados e cortados por um arbusto espinhoso pelo qual eu passava? Nada demais.

    Meus pés descalços atingindo cada pedra afiada, raiz dura, graveto pontudo? Sem problemas.

    Meus pulmões doendo em busca de ar? Eu podia lidar com isso.

    Desde que conseguisse me distanciar o máximo possível dos Apagadores.

    Sim, Apagadores. Mutantes: meio homens, meio lobos, em geral armados, sempre sedentos por sangue. Neste momento, eles estão atrás de mim.

    Viu? Isso coloca tudo na perspectiva certa.

    Corra. Você é mais rápida que eles. Você pode deixar qualquer um para trás.

    Eu nunca estivera tão longe da Escola antes. Estava totalmente perdida. Ainda assim, meus braços subiam e desciam ao meu lado, meus pés esmagavam a vegetação rasteira, meus olhos examinavam à frente, ansiosos, pela meia-luz. Eu podia deixá-los para trás. Eu podia achar uma clareira com espaço suficiente para...

    Ah, não. Ah, não. O latido antinatural de sabujos soava por entre as árvores, e eu fiquei enjoada. Eu podia correr mais que homens... Todos nós podíamos, até mesmo Angel, e ela só tem seis anos. Mas nenhum de nós conseguia correr mais que um cachorro grande.

    Cachorros, cachorros, vão embora, deixem-me viver mais um dia.

    Eles estavam se aproximando. A luz fraca era filtrada pelas plantas em frente a mim... Uma clareira? Por favor, por favor... Uma clareira me salvaria.

    Atravessei entre as árvores, o peito arfando, um leve reflexo de suor frio na pele.

    Sim!

    Não... Ah, não!

    Derrapei até parar, os braços balançando, meus pés tentando ir para trás sobre a terra rochosa.

    Não era uma clareira. Diante de mim havia um penhasco, uma simples parede de rocha que caía para um chão impossível de ver centenas de metros abaixo.

    Atrás de mim estava o bosque cheio de sabujos babando e Apagadores psicopatas com armas.

    As duas opções eram péssimas.

    Os cães estavam latindo animados... Haviam encontrado a presa: moi.

    Olhei para a queda mortal.

    Não havia escolha mesmo. Se você fosse eu, teria feito a mesma coisa.

    Fechei os olhos, abri os braços... e me deixei cair pela borda do penhasco.

    Os Apagadores gritaram com raiva, os cães latiram histéricos, e, depois, tudo o que pude ouvir foi o som do ar passando depressa por mim.

    Foi tanta paz por um segundo. Sorri.

    Depois, respirando fundo, estendi minhas asas o mais forte e rápido que pude.

    Quatro metros de uma ponta à outra, marrom-claras com riscas brancas e pontos marrons parecidos com sardas, elas seguraram o ar e, de repente, fui puxada para cima, com força, como se um paraquedas tivesse acabado de abrir. Ai!

    Lembrete para mim mesma: nada de estender as asas de repente.

    Retraindo o corpo, empurrei as asas para baixo com toda a força e, depois, puxei-as para cima; em seguida, empurrei-as para baixo de novo.

    Ai, meu Deus, eu estava voando... Como sempre sonhara.

    A base do penhasco, coberta de sombra, recuou abaixo de mim. Ri e subi sentindo o puxão dos meus músculos, o ar assoviando pelas minhas penas secundárias, a brisa secando o suor do meu rosto.

    Voei para cima e passei a borda do penhasco, os cães abismados e os Apagadores furiosos.

    Um deles, com o rosto peludo, os caninos pingando, levantou a arma. Um ponto vermelho de luz apareceu na minha camisola rasgada. Hoje não, seu idiota, pensei, virando de repente para o oeste, para o sol ficar nos olhos loucos de ódio dele.

    Não vou morrer hoje.

    Sentei-me na cama em um sobressalto, arfando, a mão no coração.

    Não pude deixar de verificar minha camisola. Nada de ponto de laser vermelho. Nada de buracos de balas. Caí de volta na cama, o corpo mole de alívio.

    Minha nossa, eu odiava aquele sonho. Era sempre o mesmo: fugir da Escola, ser perseguida pelos Apagadores e pelos cachorros, cair de um despenhadeiro e, de repente, vush: asas, voar, escapar. Eu sempre acordava me sentindo a um segundo da morte.

    Lembrete para mim mesma: ter uma conversa encorajadora com o inconsciente. Assunto: sonhos melhores.

    Estava frio, mas me forcei a sair da cama confortável. Vesti um agasalho limpo... Era impressionante: Nudge guardara as roupas lavadas.

    Todos os outros ainda estavam dormindo. Eu poderia ter alguns minutos de paz e silêncio, começar o dia antes deles.

    Olhei para fora das janelas do corredor no caminho para a cozinha. Eu adorava aquela vista: a luz do sol da manhã aparecendo pelo cume das montanhas, o céu limpo, as sombras profundas, o fato de eu não conseguir ter o vislumbre de outra pessoa.

    Estávamos no alto de uma montanha, a salvo, apenas eu e minha família.

    Nossa casa tinha o formato da letra E caída de lado. As pernas do E estavam apoiadas em consolas acima de um cânion íngreme, e, desse modo, se eu olhasse para fora de uma janela, sentia estar flutuando. No quesito descolada, de um a dez, essa casa era quinze, fácil.

    Lá, minha família e eu podíamos ser nós mesmas. Lá, podíamos viver livres. Quero dizer, literalmente livres, ou seja, não em gaiolas.

    É uma longa história. Depois eu conto mais.

    E, é claro, aqui vai a melhor parte: sem adultos. Quando nos mudamos para lá, Jeb Batchelder tomou conta de nós como um pai. Ele nos salvou. Nenhum de nós tinha pais, mas Jeb chegara o mais perto possível.

    Dois anos atrás, ele desapareceu. Eu sabia que ele estava morto, todos nós sabíamos, mas não conversamos sobre isso. Agora, estamos sozinhos.

    É, ninguém nos diz o que fazer, o que comer, quando ir para a cama. Bem, exceto eu. Sou a mais velha, e, por isso, tento manter tudo funcionando da melhor maneira possível. É um trabalho difícil e nada recompensador, mas alguém tem de fazê-lo.

    Não vamos para a escola também, e, assim, agradeço a Deus pela internet, porque, do contrário, não saberíamos nada. Mas não há escolas, médicos, assistentes sociais batendo na nossa porta. É simples: se ninguém sabe a nosso respeito, ficamos vivos.

    Eu estava na cozinha à procura de comida quando ouvi um arrastar de pés sonolento atrás de mim.

    — Bom dia, Max.

    – Bom dia, Gazzy — eu disse enquanto o menino de oito anos e olhos quase fechados se deixava cair na cadeira.

    Esfreguei as costas dele e dei-lhe um beijo na cabeça. Ele era o Gasman desde bebê. O que posso dizer? Essa criança tem alguma coisa estranha no sistema digestório. Uma dica simples: fique contra o vento.

    Gasman piscou olhando para mim, os lindos olhos azuis redondos e cheios de confiança.

    — O que tem para o café da manhã? — ele perguntou, sentando-se ereto.

    Seu cabelo loiro e fino ficava em pé em toda a cabeça, lembrando-me das penas macias recém-nascidas em um pássaro bebê.

    — Hum, é surpresa — falei, já que não tinha ideia.

    — Vou servir o suco — ofereceu Gasman, e fiquei emocionada.

    Ele era um menino doce, doce, assim como sua irmãzinha. Ele e Angel, de seis anos, eram os únicos irmãos de sangue entre nós, mas todos éramos uma família de qualquer forma.

    Logo Iggy, alto e pálido, entrou desajeitado na cozinha. Os olhos fechados, ele se jogou no nosso sofá velho com mira perfeita. O único momento em que ele tem problemas por ser cego é quando um de nós esquece e troca a mobília de lugar, ou algo do tipo.

    — Ei, Iggy, vamos acordar — eu disse.

    — Não enche — ele murmurou, sonolento.

    — Tudo bem — falei. — Perca o café da manhã.

    Eu estava olhando dentro da geladeira com uma esperança inocente — talvez fadas da comida viessem — quando minha nuca formigou. Fiquei ereta depressa e me virei.

    — Dá para parar com isso? — falei.

    Fang sempre aparecia silenciosamente, do nada, como uma sombra escura que ganhava vida. Ele me olhou com calma, vestido e alerta, o cabelo escuro e muito longo escovado para trás.

    Ele era quatro meses mais novo que eu, mas já estava dez centímetros mais alto.

    — Parar com o quê? — ele perguntou com tranquilidade. — De respirar?

    Revirei os olhos.

    — Você sabe.

    Com um resmungo, Iggy cambaleou para ficar em pé.

    — Vou fazer ovos — anunciou.

    Acho que se eu fosse mais mulherzinha ficaria incomodada por uma cara cego, seis meses mais novo, cozinhar melhor que eu.

    Mas não sou. Então não me incomodei.

    Supervisionei a cozinha. O café da manhã estava bem encaminhado.

    — Fang? Você coloca a mesa. Vou buscar Nudge e Angel.

    As duas meninas dividiam o último quarto pequeno. Abri a porta e vi Nudge, de onze anos, dormindo, enrolada nas cobertas. Era quase irreconhecível de boca fechada, pensei com sarcasmo. Quando estava acordada, nós a chamávamos de Canal Nudge: só Nudge, o tempo todo.

    — Ei, querida, vamos acordando — eu disse, balançando o ombro dela com delicadeza. — Café da manhã em dez minutos.

    Nudge piscou, os olhos castanhos esforçando-se para focar em mim.

    — Quê? — balbuciou.

    — Mais um dia — falei. — Levante-se e enfrente-o.

    Resmungando, Nudge içou-se para uma posição curvada, mas tecnicamente em pé.

    Do outro lado do quarto, uma fina cortina escondia um canto. Angel sempre gostou de espaços pequenos e aconchegantes. Sua cama, enfiada atrás da cortina, era como um ninho: cheia de bichos de pelúcia, livros, a maioria de suas roupas. Sorri e abri a cortina.

    — Ei, você já está trocada — falei, inclinando-me para abraçá-la.

    — Oi, Max — disse Angel, tirando os cachos loiros da gola. — Você pode fechar meus botões?

    — Sim.

    Virei-a e comecei a abotoar os botões.

    Eu nunca disse aos outros, mas eu amava, amava, amava Angel. Talvez porque eu cuidava dela praticamente desde que era bebê. Talvez porque ela fosse tão inacreditavelmente doce e carinhosa.

    — Talvez porque sou como sua filhinha — Angel falou, virando-se para me olhar. — Mas não se preocupe, Max. Não vou contar a ninguém. Além disso, você é quem eu mais amo também.

    Ela lançou os braços magrinhos em volta do meu pescoço e plantou um beijo meio grudento na minha bochecha. Eu a abracei também, com força. Ah, é... Essa é outra coisa especial na Angel.

    Ela consegue ler a mente das pessoas.

    – Quero colher morangos hoje — Angel disse com firmeza, pegando um garfo cheio de ovos mexidos. — Estão maduros agora.

    — Certo, Angel, vou com você — falou Gasman.

    Nesse instante, ele deixou sair uma de suas infelizes ocorrências e riu.

    — Ah, minha nossa, Gazzy! — eu disse em tom de desaprovação.

    — Máscara de... gás! — Iggy engasgou, agarrando o próprio pescoço e fingindo sufocar.

    — Eu acabei — Fang disse, levantando-se depressa e levando o prato para a pia.

    — Desculpem — Gasman disse automaticamente, mas continuou comendo.

    — É, Angel — Nudge falou —, acho que o ar fresco faria bem a todos nós. Vou também.

    — Vamos todos — eu disse.

    Do lado de fora o dia estava lindo, claro e sem nuvens, com o primeiro calor real de maio. Carregamos baldes e cestas enquanto Angel nos guiava a um grande terreno com morangos silvestres.

    Ela segurou minha mão.

    — Se você fizer um bolo, posso fazer bolinhos de morango — ela falou alegre.

    — É, pode esperar sentada pelo dia em que a Max vai fazer um bolo — ouvi Iggy dizer. — Eu faço, Angel.

    Eu me virei.

    — Puxa, obrigada! — exclamei. — Ok, não sou uma cozinheira maravilhosa, mas ainda posso dar uma surra em você, não se esqueça!

    Iggy ria, com as mãos levantadas em sinal de negação. Nudge tentava não rir, até Fang estava com um sorrisinho, e Gasman tinha o olhar... travesso.

    — Foi você? — perguntei a Gazzy.

    Ele riu e encolheu os ombros, tentando não parecer muito satisfeito consigo mesmo. Gasman tinha cerca de três anos quando percebi que ele podia imitar quase todo som ou voz. Perdi a conta de quantas vezes Iggy e Fang quase se pegaram por causa de coisas que Gazzy dissera na voz deles. Era um dom sombrio, e ele o dominava com alegria.

    Era apenas outra habilidade estranha... A maioria de nós as tinha. O que quer que fossem, com certeza deixavam a vida mais interessante.

    Ao meu lado, Angel congelou e gritou.

    Olhei para ela assustada, e, no segundo seguinte, homens com focinhos de lobo, caninos enormes e olhos vermelhos e brilhantes caíram do céu como aranhas. Apagadores! E não era um sonho.

    Não havia tempo para pensar. Jeb nos treinara para não pensar — apenas agir. Eu me joguei sobre um Apagador, girando e atingindo com um chute forte o seu peito grande. A respiração dele fez au, e o odor era simplesmente horrível, como água de esgoto sem tratamento deixada exposta ao sol quente.

    Depois disso foi como um filme: várias imagens sobrepostas que mal pareciam reais. Desferi outro golpe, e, depois, um Apagador me deu um soco tão vigoroso que minha cabeça virou e senti uma explosão de sangue na boca. Pelo canto do olho, vi Fang conseguindo enfrentar um Apagador... Até mais dois se juntarem ao primeiro, e ele cair sob os golpes de mãos com garras.

    Iggy ainda permanecia em pé, mas um olho já estava inchado e se fechando.

    Despertando do choque, levantei-me desajeitada e depois vi Gasman inconsciente, deitado de bruços no chão.

    Pulei na direção dele, mas fui pega de novo. Dois Apagadores prenderam meus braços para trás. Outro se inclinou, os olhos avermelhados brilhando de animação, o maxilar completamente metamorfoseado e com jeito de focinho. Ele puxou a mão para trás e apertou-a, fazendo um punho. Depois, trouxe-o com força, socando-me a barriga. Uma dor inacreditável explodiu dentro de mim, e eu me dobrei ao meio, caindo como uma pedra.

    Sem vê-las, ouvi Angel gritar e Nudge chorar.

    Levante-se!, eu disse a mim mesma, tentando inspirar o ar. Levante-se!

    Como crianças mutantes estranhas, somos muito, muito mais fortes que adultos normais. Mas os Apagadores não são adultos normais e também estavam em maior número. Éramos comida de cachorro. Esforcei-me para me apoiar nas mãos e nos joelhos, tentando não ficar com ânsia de vômito.

    Levantei-me desajeitada, a sede de sangue nos olhos, pronta para matar. Dois Apagadores seguravam as mãos e os pés de Nudge. Eles a balançaram com força, e ela foi lançada, batendo a cabeça contra uma árvore. Ouvi um gritinho de dor, e, depois, ela ficou deitada com o corpo dobrado entre folhas finas dos pinheiros.

    Com um berro rouco e abafado pelo sangue, corri e bati as mãos em forma de concha em volta das orelhas peludas de um Apagador. Ele gritou quando seus tímpanos estalaram e caiu de joelhos.

    — Max! — Angel berrou com voz aguda e apavorada, e eu me virei.

    Um Apagador a segurava pelos braços, e corri em direção a ela, pulando por cima de Iggy, que estava caído e inconsciente. Dois Apagadores caíram sobre mim, derrubando-me, um deles apertando o joelho pesado contra meu peito. Eu ofeguei e lutei, e um deles esbofeteou meu rosto com força, as garras ásperas cavando poços fundos na minha bochecha.

    Atordoada, caí para trás, os dois Apagadores me prendendo ao chão, e com um horror incompreensível vi outros três Apagadores enfiarem Angel, minha bebê, em um saco tosco. Ela estava chorando e gritando, e um deles bateu nela.

    Esforçando-me freneticamente, tentei gritar, mas apenas soltei um berro rouco e sufocado.

    — Sai de cima de mim, seu idiota, maldito... — falei, engasgada, mas fui atingida de novo.

    Um Apagador inclinou-se acima de mim, com um sorriso horrendo.

    Max — ele disse, e senti um nó no estômago... Eu o conhecia? — Que bom vê-la de novo — ele continuou em tom de conversa. — Você está horrível. Sempre se sentiu muito superior a todo mundo, então isso me alegra.

    — Quem é você? — ofeguei, sentindo um calafrio.

    O Apagador riu, os dentes longos e afiados mal cabendo no maxilar.

    — Você não me reconhece? Acho que cresci um pouco.

    Meus olhos se arregalaram com o reconhecimento repentino e horrorizado.

    — Ari — sussurrei, e ele riu como um louco.

    Depois ele se levantou. Vi sua bota preta enorme ir até meu crânio, senti minha cabeça virar para um dos lados e tudo ficou escuro.

    Meu último pensamento foi a descrença: Ari era filho de Jeb. Eles o haviam transformado em Apagador. Ele tinha sete anos.

    – Max?

    A voz de Gasman era muito juvenil e bastante assustada.

    Ouvi um gemido terrível e baixo, e depois percebi que viera de mim.

    Gasman e Fang estavam inclinados acima de mim, expressões preocupadas no rosto machucado e com sangue.

    — Estou bem — respondi, rouca, sem fazer ideia se estava mesmo.

    A memória voltou depressa e tentei me sentar.

    — Cadê a Angel? — Minha voz estava nervosa.

    Os olhos escuros de Fang encontraram os meus.

    — Ela se foi. Eles a levaram.

    Achei que talvez fosse desmaiar de novo. Lembrei-me de quando tinha nove anos, olhando para fora da janela de vidro aramado do laboratório, observando os Apagadores à meia-luz. Os jalecos-brancos haviam libertado chimpanzés no terreno da Escola e soltado os Apagadores recém-criados atrás deles. Ensinando-os a caçar.

    O som dos chimpanzés berrando de terror e dor ainda ecoava na minha cabeça.

    Eram eles que estavam com Angel.

    A raiva me dominou... Por que não podiam ter me levado em vez dela? Por que levar uma criancinha? Talvez eu pudesse ter tido uma chance... talvez.

    Tremendo, fiquei em pé. Minha cabeça girava, e tive de me apoiar em Fang, odiando minha fraqueza.

    — Precisamos buscá-la — eu disse, nervosa, tentando permanecer em pé. — Temos que buscá-la antes que eles... — Imagens cheias de horror

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