Como é viver com Parkinson
By J. Nelson
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Utilizando uma linguagem simples com muita poesia e lirismo o autor passeia pelos recantos mais obscuros do sofrimento humano e oferecendo momentos de reflexão e aceitação.
Acredite, o caminho para uma vida melhor é possível e esta ao nosso alcance, basta acreditarmos.
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Como é viver com Parkinson - J. Nelson
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PREFÁCIO
Ilhabela, Fevereiro, 2019.
Olhando este mar infinito tanto na sua dimensão como na sua beleza, consigo puxar a linha do carretel do tempo e ver um menino sapeca, pulando ondas e marolas e já antevendo a grande aventura que seria sua vida, sendo esta feita de saltos e sobressaltos, alguns bons, outros difíceis, emoldurando um quadro de tons diversos.
Entre o claro, obscuro e escuro, o tempo passou, forjando uma personalidade que pude conhecer e admirar de perto.
As aventuras pessoais e profissionais foram solidificando um personagem que, à medida que o tempo escoava, tornou-se mais límpido e transparente, assim como a água daquele mar da infância... Translúcida e permitindo enxergar, longe, a profundeza e também o horizonte longínquo, mas com os pés fincados na areia.
Neste turbilhão, redemoinho que vai e vem, um homem se formou; a idade madura chegou, mas ele a guardou, nas suas entranhas, como na profundeza do oceano, um desejo de ver o mundo através de versos e poesias.
A maré, muitas vezes, vai longe e nunca se sabe como ela volta. Nesse interregno, muitas fases da vida vão passando, e esse homem adulto balança a bombordo e a boreste, sem nunca perder o norte.
A personalidade do Nelson, também construída com fortes tempestades, ventos de sudeste ou mar de almirante, direciona-se profissionalmente para a área social, procurando transmitir ao próximo os princípios básicos da vida, sobretudo saúde e bem-estar.
De repente, quando tudo é calmaria, uma onda gigante, escura e violenta arremessa nosso homem contra uma encosta íngreme; é necessário muito fôlego e traquejo para não afundar.
Ah! Só quem não conhece o Nelson... Perfil aguerrido, ele tem!
Ainda atordoado com essa violência, com o estouro dessa onda, o Nelson sai cambaleando com passos trôpegos, mas procurando um outro rumo, um novo caminho.
A roda da vida gira, e aí o Nelson redescobre aquela marolinha suave de tarde praiana ensolarada, romântica, que aguçava os seus sentidos e o fazia sonhar.
Nessa intempérie abrupta, o verbo se contrapõe e vai se soltando devagarzinho... Às vezes, muito manso; às vezes, estrondoso... Compondo versos, poemas e poesias que vão buscar, na arte, um novo modo de ser e de poder existir.
Avante, Nelson !!
Sandra R. Melendez Le Coz
Uma história de superação
Independente do resultado, o que importa é continuar lutando, fazendo de cada dia uma vitória. Encaro cada desafio como o mais importante de minha vida, trato cada um deles de forma única.
Identifico minhas fraquezas de maneira que posso compreendê-las e principalmente tratar suas vulnerabilidades.
Avalio diuturnamente minha resistência, identificando as oportunidades de melhorias e corrigindo o que é necessário.
Reconheço as limitações impostas pelas doenças. Sim, além de Parkinson, sou portador de coxartrose, tenho duas próteses, uma em cada quadril.
Tinha tudo para desistir, mas fiz opção pela vida. Logo após o diagnóstico de Parkinson, retornei ao trabalho, encarando minhas limitações com muita naturalidade e persistência, supero os obstáculos um de cada vez.
Tenho o trabalho como uma de minhas principais terapias.
Vivo cada dia como se ele fosse único, com muita dedicação e encantamento.
Sou assim, uma metamorfose, um eterno errante, sou Dom Quixote de minha própria história.
Poesia
que
trata
a
alma
de quem
sofre
com
Parkinson
Não existe sorte, tudo é resultado de muito trabalho, planejamento, estudo e dedicação.
Azar? Na maioria das vezes, pode ser explicado pela ausência ou erro de planejamento.
Seu resultado só depende de você.
Acredite, sempre tem alguém te olhando, avaliando você.
Nunca conte de imediato tudo que sabe.
Tenho dois tempos
A espera e a demora
A demora namora a espera
Que espera o amor que demora
Já não demora e a espera
Que espera na demora do tempo
Quem sabe a seu tempo
Também tenha o que esperar.
Sou eu
Sou a mão que amassa a massa do pão
Sou o pé que, descalço, amassa o barro
Sou a mão do artesão que esculpe a culpa da fé
Sou o santo adorado em dia santo ou não.
Sou a dança da criação, na evolução da vida
Sou estrada torta, na sinuosa vida
Sou o espectro da morte certa
Sou o sabor da dor.
Sou o gosto da pinga, no estalo da língua
Sou pé de moleque, no drible do gol
Sou sofrimento de mãe que perdeu o filho
Sou música que acalma a face do pensador.
Sou armadilha no laço de fita
Da moça bonita que balança ao vento
O vestido em seu caminhar
Sou sol de verão, mar quebrando mansinho.
Na alva praia, alvo de meus olhos
Sou fieira de peixe na mão do pescador
Pés descalço que chia na areia macia
No jogo de bola, na beira da praia.
Sou menino correndo na brincadeira
Sou alegria de criança na bagunça da infância
Sou joelho ralado no tombo de bicicleta
Sou riso, sou choro de acontecimento importante.
Sou choro bobo de medo de vulto de assombração
Sou música bonita, estimulante, envolvente
Sou história sem fim, contada em roda de conversa
Sou foto três por quatro, retrato para documento.
Sou festa de comemoração de batizado e casamento
Sou fruta madura, água de coco gelada
Sou pobre na procura pelo emprego
Sou sujeito de qualquer etnia, de qualquer cor.
Sou roda de capoeira no golpe certeiro
Sou o suor do batuqueiro que balança
Sou o ritmo certo no batuque da mão
Sou samba no pé, no balanço da canção.
Sou chão batido de terra amassada
Sou primeiro e derradeiro
Sou mentira torta de dar risada
Na piada bem contada.
Sou José, irmão de João e Maria
Sou pensador, contador de versos
Verso a vida que castiga e abriga
Sou rima certa na poesia torta.
Sou poeta contador de história
Sou nascido detrás da ilha
Sou caiçara, filho primeiro
De Nelson Tenório e Amélia.
Com quem aprendi a respeitar
A tradição e os mais velhos
Sou conversa de caiçara
Aquecida na beira da fogueira.
Sou pescador no facho diacho de vida
Sou pimenta ardida no caldo de peixe
Sou água macia de chuva fina
Sou susto e medo de trovoada.
Sou pássaro em revoada
Sou corrida de molecada
Sou lágrima doce de comemoração
Sou festa popular, dia santo de feriado.
Sou reza brava na boca da benzedeira
Sou fé de povo carente
Sou dança da trança que balança
Sou o vento que assopra a onda.
Sou o mar revolto, envolto em mistério
Sou o que posso pensar
Sou o que posso decidir ser
Sou eu vencedor, nesse diacho de vida!
Inspiração que foge
Tributo a Cora Coralina
Hoje acordei com uma senhora a me chamar,
Era Cora que há muito não via, não via e não lia.
Em sua fala mansa de longeva idade
Reprendia-me como escrever sem ler
Que leia, então, o que ao redor está
Tal como redemoinho se apresenta
Diz bem alto para ser ouvida
Levanta a poeira de teu pensamento
Limpa