De Boca Aberta
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De Boca Aberta - Amilton Costa
Amilton Costa
DE BOCA ABERTA:
CRÔNICAS DE VIDAS NA CADEIRA ODONTOLÓGICA
1ª Edição
Edição do Autor
2011
Copyright © 2011 pelo autor
Capa e ilustrações: C. L. Santos
Revisão: Edna Maria Pimenta Melo
Emanuela Franco
Diagramação: Amilton Costa
Conversão epub: Samuel Duarte Marini
ISBN:978-85-912791-3-5
Obra registrada sob o número 598065 na Fundação Biblioteca Nacional.
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução ou a duplicação fotomecânica de todo o volume ou de parte dele sem a permissão expressa do autor.
Obra protegida pela Lei de Direitos Autorais.
A todos os pacientes que possibilitaram através de suas histórias o desenrolar de sonhos, dores, alegrias e anseios.
APRESENTAÇÃO
Desde a criação do blog De Boca Aberta
já se passaram alguns anos, muitas histórias puderam ser compartilhadas e refletidas com tons de alegria, tristeza, anseios...
São vidas que sentam na cadeira odontológica. A boca que se abre, o dente que se procura curar, traz na verdade, um ser humano que possui uma trajetória geralmente negligenciada.
Enxergar a saúde bucal como parte inerente às condições sociais, culturais, econômicas, políticas e espirituais nos abre a possibilidade de ver além da boca.
Sem os pacientes, suas histórias, seus medos, dúvidas, alegrias e tristezas, esta obra não se completaria. Cada dia sempre surgia como uma janela descortinada na minha frente. Saber ouvir, descer do pedestal de detentor soberano do saber, possibilitou que todas estas histórias surgissem.
Que permaneçamos De Boca Aberta
para o mundo, de olhos e ouvidos atentos ao outro que se coloca na nossa frente. Respeitando cada história de vida, principalmente, enxergando além da boca...
SUMÁRIO
A primeira vez e a presa-mestra
Hoje é o dia
Divã Odontológico
Cicatrizes
É preciso ter calma
Temporariamente grávido
Montada numa sela
Gasolina
Mudança Radical
Meu dente, meu prazer
Venenos
Pecados
Vícios
Rituais
A xerox
Mágicas
Tenho vergonha do meu rosto
Preciso rezar sempre doutor
Grávida aos 14
Colar de dentes
Perfume no dente
Doutor, meus pais bebem todo dia
Não doutor, só fumo maconha mesmo
Tortura psicológica
Diagnósticos
Suicídio
Tenho problemas no coração
A história de Mariana
A caverna
Sou HIV positivo
Pode Distrair
Eu como flores
Fui expulso de casa
Sobre Carlos
O desconto no dente
Meu dente tá ferrado
Tenho medo desse bruxismo
Agulhada não!
Sexo, Álcool e Dentes Cariados
Quando Carlos voltou...
Odeio esse dente
A dentadura que comeu a gengiva
A formiga no dente
Um dente de fúria
A história de Antônio
O caso da dentadura cariada
O caso da boca fresca
Pacientes apaixonados
Roubaram minha dentadura
O caso da borracha na boca
O dente imaginário
Sobre dentes e conquistas
A paciente ninfomaníaca
Três histórias, três bocas, três destinos
A história de Leandro
O jardim de plantas roubadas
O elefante no dente
Sobre dentes, vida travestida e arco-íris
Quero o meu gardenal
O céu da boca de Marta
A Primeira vez e a presa- mestra
E
screver aqui pela primeira vez me dá a sensação de será necessário isso mesmo?
. Acho que, pelo menos agora, sim...
Contarei casos que, de certa forma, são engraçados, originais e acontecem diariamente no consultório odontológico. Não quero com isso denegrir a imagem de nenhum paciente, os nomes serão preservados, e as histórias, todas verídicas, parecerão até meio fictícias, mas acredite, aconteceram mesmo.
Ontem chegou ao consultório odontológico uma paciente impaciente, não parava de falar, rir e acredite, ela sentia fortes dores. Pois é, às vezes nos revelamos tão emocionalmente desestruturados que em vez de chorar, rimos, e rir é, sem dúvida o melhor remédio para as dores da alma e do corpo: Acho que por isso a paciente conseguiu socializar sua dor comigo e os outros de uma forma tão engraçada.
Ela me disse que queria arrancar a presa mestra
! Perguntei-lhe se o dente em questão era o canino, vulgarmente conhecido por presa
, ela me respondeu que sim, novamente indaguei: -Mas por que Presa Mestra?
, ela respondeu porque esse era o único dente que ficou na sua boca, o mais importante, a presa mestra
, era muita responsabilidade minha retirar tão sagrado dente.
Parei, respirei profundamente, pedi forças e calma para proceder ao ato cirúrgico. No final, a presa mestra saiu e a paciente impaciente chorou, disse que não por dor, mas por alívio. Adeus presa mestra!
Hoje é o dia
T
rabalhar no serviço público nos coloca diariamente diante de situações diversas. As pessoas, na maioria, são carentes, material e espiritualmente. Aprende-se muito com cada uma delas. Diariamente, cada paciente é um aprendizado. Admito gostar de observar as pessoas, imaginar que cada ser humano tem uma história, uma vida cheia de tristezas, de alegrias, de esperanças.
No início do atendimento, sala de espera lotada, vozes se confundem em assuntos tão diferentes quanto o rosto de cada um deles. O primeiro paciente era uma jovem senhora de 35 anos, casada e muito, muito nervosa. Logo de início, ela me passou uma sensação de ansiedade, sentia muita dor, examinada, cheguei à conclusão de que não havia mais como preservar o dente, ela foi logo dizendo que a intenção era realmente distrair
. Na linguagem da maioria dos pacientes distrair
é o mesmo que extrair, arrancar o dente, um passatempo traumático...
Antes de iniciar o procedimento a jovem senhora falou que tinha algo muito importante para me relatar, um segredo segundo ela. Disse-me quase sussurrando: -Hoje é o dia...
. Parei, pensei e fiquei olhando-a sem sequer imaginar o que viria depois. Foi aí que perguntei: - Mas senhora, hoje é dia de quê? - ela nervosa, com a mão na boca, tímida ao extremo, sem falar quase nada, dizia repetidamente: