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O Livro Completo dos Anjos Caídos: Anjos Caídos
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O Livro Completo dos Anjos Caídos: Anjos Caídos

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Livros 1 - Anjo do Fogo

Meu nome é Darcy Anderson e sou amaldiçoada por um poder sombrio: sempre que minha vida está em perigo, algo dentro de mim evoca um fogo elementar para me proteger. Eu não consigo controlar isso.

Uma noite fui atacada em minha casa. O fogo...ficou fora de controle. Eu sobrevivi ao inferno, mas minha casa ardeu até o chão, com meus pais dentro.

Eu não sabia explicar à justiça o que aconteceu, então eles me mandaram para a prisão por dez anos por homicídio culposo.

Agora estou em liberdade condicional e tudo o que quero é voltar para minha cidade natal e reconstruir minha vida; mas o homem que me atacou está de volta para terminar o trabalho que havia começado.

Eu posso sentir o poder em mim crescendo. Se eu não puder controlar, isso vai me controlar e destruir tudo - e todo mundo - que eu amo.

Livro 2 - Anjo do Ar

Meu nome é Richard Riley. Tudo que eu sempre quis foi levar uma vida normal.

Quando eu era mais jovem, fiz algumas escolhas ruins que acabaram por me levar à prisão. Eu cumpri minha pena e agora estou tentando recomeçar minha vida.

Mas alguém me incriminou por um crime que não cometi. Eles me querem morto, e estão dispostos a matar meus amigos e familiares para chegarem até mim.

Mesmo quando tento salvar as pessoas que amo, um poder antigo e sombrio cresce dentro de mim. Eu posso sentir sua raiva aumentando.

Se eu deixar que assuma o controle, vai arrancar tudo que tenho na vida.

Livros 3 - Anjo da Terra

Meu nome é Kyle Chase. Eu tinha um futuro brilhante como cirurgião cardíaco até que um acidente fez o meu mundo desmoronar.

Assim que comecei a recuperar minha vida, me deparei com uma conspiração que começou há milhares de anos. Um segredo que minha família tentou esconder de mim.

Agora, os conspiradores me querem fora de cena. Eles não vão parar até me silenciar.

Enquanto tento descobrir meu antigo legado, libero um poder sombrio que ameaça destruir à todos que eu amo.

Livro 4 - Anjo da Água

Meu nome é Serena Rogers. Depois de escapar de um centro de detenção juvenil, tudo o que eu queria era ficar o mais longe possível de casa e nunca mais olhar para trás.

Tudo mudou quando descobri um segredo obscuro que assombra minha família desde antes de eu nascer.

Eu não sou quem eu pensava que era.

Quando encontro um exército de revolucionários, me deparo com uma escolha impossível: lutar contra eles e arriscar a vida de todos que eu amo, ou me juntar a eles e perder minha alma.

Livro 5 - Anjo do Escuridão 

Meu nome é Frank. Eu me juntei à força policial para fazer a diferença, mas desde o primeiro dia no trabalho, tudo que eu fiz tornou a vida de todos ao meu redor pior.

Durante vinte e cinco anos, procurei dar sentido à minha vida, mas nunca encontrei nenhuma resposta.

Justamente quando decido dar as costas ao trabalho da minha vida, descubro uma conspiração mais sinistra do que qualquer coisa que já imaginei.

Ao investigar, percebo que, mesmo que eu pare os conspiradores, o sangue de inocentes estará em minhas mãos: milhares morrerão. Se eu não os parar, toda a humanidade sofrerá uma era de escuridão ...

LanguagePortuguês
Release dateMay 27, 2022
ISBN9781071502648
O Livro Completo dos Anjos Caídos: Anjos Caídos
Author

Valmore Daniels

Valmore Daniels has lived on the coasts of the Atlantic, Pacific, and Arctic Oceans, and dozens of points in between. An insatiable thirst for new experiences has led him to work in several fields, including legal research, elderly care, oil & gas administration, web design, government service, human resources, and retail business management. His enthusiasm for travel is only surpassed by his passion for telling tall tales.

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    O Livro Completo dos Anjos Caídos - Valmore Daniels

    O Livro Completo dos Anjos Caídos

    por Valmore Daniels

    Isto é uma obra puramente de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produto da imaginação do autor ou são usados ficticiamente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência. Este livro não pode ser revendido ou distribuído sem permissão por escrito do autor. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, copiada ou distribuída de qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico passado, presente ou futuro.

    Copyright © 2011-14 por Valmore Daniels. Todos os direitos reservados.

    Anjos Caídos

    Anjo do Fogo

    Anjo do Ar

    Anjo da Terra

    Anjo da Água

    Anjo do Escuridão

    O Livro Completo

    Visite-o em: ValmoreDaniels.com

    Distribuído por Babelcube, Inc.

    www.babelcube.com

    Babelcube Books e Babelcube são marcas comerciais da Babelcube Inc.

    Table of Contents

    O Livro Completo dos Anjos Caídos

    Anjo do Fogo

    Capítulo Um

    Capítulo Dois

    Capítulo Três

    Capítulo Quatro

    Capítulo Cinco

    Capítulo Seis

    Capítulo Sete

    Capítulo Oito

    Capítulo Nove

    Capítulo Dez

    Capítulo Onze

    Capítulo Doze

    Capítulo Treze

    Capítulo Quatorze

    Capítulo Quinze

    Capítulo Dezesseis

    Capítulo Dezessete

    Capítulo Dezoito

    Capítulo Dezenove

    Capítulo Vinte

    Capítulo Vinte Um

    Capítulo Vinte e Dois

    Capítulo Vinte e Três

    Capítulo Vinte e Quatro

    Capítulo Vinte e Cinco

    Capítulo Vinte e Seis

    Capítulo Vinte e Sete

    Capítulo Vinte e Oito

    Capítulo Vinte e Nove

    Capítulo Trinta

    Epílogo

    Anjo do Ar

    Capítulo Um

    Capítulo Dois

    Capítulo Três

    Capítulo Quatro

    Capítulo Cinco

    Capítulo Seis

    Capítulo Sete

    Capítulo Oito

    Capítulo Nove

    Capítulo Dez

    Capítulo Onze

    Capítulo Doze

    Capítulo Treze

    Capítulo Quatorze

    Capítulo Quinze

    Capítulo Dezesseis

    Capítulo Dezessete

    Capítulo Dezoito

    Capítulo Dezenove

    Capítulo Vinte

    Capítulo Vinte e Um

    Capítulo Vinte e Dois

    Capítulo Vinte e Três

    Capítulo Vinte e Quatro

    Capítulo Vinte e Cinco

    Capítulo Vinte e Seis

    Capítulo Vinte e Sete

    Capítulo Vinte e Oito

    Capítulo Vinte e Nove

    Capítulo Trinta

    Epílogo

    Anjo da Terra

    Capítulo Um

    Capítulo Dois

    Capítulo Três

    Capítulo Quatro

    Capítulo Cinco

    Capítulo Seis

    Capítulo Sete

    Capítulo Oito

    Capítulo Nove

    Capítulo Dez

    Capítulo Onze

    Capítulo Doze

    Capítulo Treze

    Capítulo Quatorze

    Capítulo Quinze

    Capítulo Dezesseis

    Capítulo Dezessete

    Capítulo Dezoito

    Capítulo Dezenove

    Capítulo Vinte

    Capítulo Vinte e Um

    Capítulo Vinte e Dois

    Capítulo Vinte e Três

    Capítulo Vinte e Quatro

    Capítulo Vinte e Cinco

    Capítulo Vinte e Seis

    Capítulo Vinte e Sete

    Capítulo Vinte e Oito

    Capítulo Vinte e Nove

    Epílogo

    Anjo da Água

    Capítulo Um

    Capítulo Dois

    Capítulo Três

    Capítulo Quatro

    Capítulo Cinco

    Capítulo Seis

    Capítulo Sete

    Capítulo Oito

    Capítulo Nove

    Capítulo Dez

    Capítulo Onze

    Capítulo Doze

    Capítulo Treze

    Capítulo Quatorze

    Capítulo Quinze

    Capítulo Dezesseis

    Capítulo Dezessete

    Capítulo Dezoito

    Capítulo Dezenove

    Capítulo Vinte

    Capítulo Vinte e Um

    Capítulo Vinte e Dois

    Capítulo Vinte e Três

    Capítulo Vinte e Quatro

    Capítulo Vinte e Cinco

    Capítulo Vinte e Seis

    Capítulo Vinte e Sete

    Capítulo Vinte e Oito

    Capítulo Vinte e Nove

    Capítulo Trinta

    Epílogo

    Anjo do Escuridão

    Capítulo Um

    Capítulo Dois

    Capítulo Três

    Capítulo Quatro

    Capítulo Cinco

    Capítulo Seis

    Capítulo Sete

    Capítulo Oito

    Capítulo Nove

    Capítulo Dez

    Capítulo Onze

    Capítulo Doze

    Capítulo Treze

    Capítulo Quatorze

    Capítulo Quinze

    Capítulo Dezesseis

    Capítulo Dezessete

    Capítulo Dezoito

    Capítulo Dezenove

    Capítulo Vinte

    Capítulo Vinte e Um

    Capítulo Vinte e Dois

    Capítulo Vinte e Três

    Capítulo Vinte e Quatro

    Capítulo Vinte e Cinco

    Capítulo Vinte e Seis

    Capítulo Vinte e Sete

    Capítulo Vinte e Oito

    Capítulo Vinte e Nove

    Capítulo Trinta

    Capítulo Trinta e Um

    Capítulo Trinta e Dois

    Capítulo Trinta e Três

    Epílogo

    Sobre o Autor

    Sobre o Tradutor

    Anjo do Fogo

    Capítulo Um

    Quia ecce Dominus in igne veniet, et quasi turbo quadrigæ ejus: reddere in indignatione furorem suum, et increpationem suam in flamma ignis.

    (Porque, eis que o Senhor virá com fogo; e os seus carros como um torvelinho; para tornar a sua ira em furor, e a sua repreensão em chamas de fogo.)

    —Isaías 66:15

    Eu acordei em um mundo de fogo e cinzas.

    Forçando meus olhos a ficarem abertos, desejei que a névoa em minha cabeça sumisse. Meus pulmões gritavam por ar, e eu abri minha boca para respirar, mas a fumaça grossa arranhou minha garganta. Ofegante com o esforço, de alguma forma, consegui colocar meus braços ao meu lado e levantar minha cabeça do chão.

    Através da cortina de cabelo na frente do meu rosto, meus olhos foram atraídos para uma aliança branca de casamento que brilhava intensamente no tapete carbonizado, mas o fogo crepitante arrastou minha atenção imediatamente para longe.

    As paredes de gesso do porão estavam descascando e derretiam sob a raiva do inferno. Crepitando e protestando, a mesa de centro barata de pinho na minha frente entrou em colapso. O tecido e as almofadas do enorme sofá foram totalmente consumidos, deixando nada mais do que o esqueleto preto em ruínas de sua estrutura de madeira.

    O intenso calor banhava minha pele enquanto o fogo consumia a beira do tapete em que eu estava, mas o meu primeiro pensamento não foi para minha própria segurança.

    Mãe! Pai!

    Era como se lâminas de barbear rasgassem meus pulmões e eu não conseguia emitir outro som. Um manto escuro do nada começou a rastejar sobre mim mais uma vez. A fumaça espessa no cômodo turvava minha visão.

    Um estrondo trovejou do outro lado do cômodo e me trouxe de volta à consciência. Lascas se espalhavam pelo chão enquanto a lâmina vermelha de um machado atravessava a porta. Mais um golpe foi dado até que conseguiu romper a porta e uma forma volumosa abriu caminho pela fumaça.

    O intruso correu até mim, com os braços esticados. Dedos fortes tentavam encostar na minha garganta. Tentando me proteger com o braço, soltei um grito de pânico.

    Darcy! A voz do homem saiu abafada através de uma máscara de plástico e ventilada, mas eu o reconheci como Hank Hrzinski, o chefe dos bombeiros. Você está ferida? ele gritou. Você se queimou?

    Sem esperar por uma resposta, ele me levantou do chão e me colocou em seus ombros. Fazendo o melhor que podia para me proteger das cinzas e dos destroços em chamas, ele voltou pelo caminho que havia feito para sair da casa. Eu perdia e recuperava a consciência. A fumaça queimava meus pulmões, e o movimento irregular que o chefe dos bombeiros fazia enquanto me carregava quase me fez vomitar.

    Lá fora, o ar frio me esbofeteou. Engoli e imediatamente comecei a expelir catarro e cinzas. O chefe Hrzinski me tirou de suas costas, me colocando no gramado da frente, foi quando um paramédico colocou em mim uma máscara com um tanque de oxigênio.

    Eu estava vagamente ciente de ouvir vozes gritando e silhuetas agitadas enquanto uma equipe de bombeiros lutava contra o incêndio. Os jatos de água de seis mangueiras desapareciam no fogo que consumia a casa.

    O teto quebrou e, com um rugido, entrou em colapso.

    Eu me esforcei para ficar de pé. Mãe! eu gritei. Pai!

    Alguém agarrou meus ombros e me forçou a sentar novamente.

    Mãe!

    ***

    Eu não sou sua mãe. Eu saí da cama desorientada. Meus lençóis estavam bagunçados e emaranhados ao redor dos meus pés, e minha camisa estava encharcada de suor.

    O que restava do meu pesadelo sumiu quando pisquei e olhei ao redor. As paredes familiares da minha cela eram tão cinzentas quanto desagradáveis, desde o primeiro dia que cheguei ao Centro Para Mulheres Do Arizona dez anos atrás.

    Pairando sobre mim estava o austero rosto de Jerry Niles, um dos guardas prisionais mais desprezíveis do nosso bloco de celas. Por anos tive que suportar suas piadas grosseiras e insinuações rudes.

    "Mas quem sabe, eu poderia ser o seu papai." acrescentou ele com um olhar malicioso que fez o meu estômago revirar. A memória dos meus pais mortos voltou e eu tive que lutar para evitar que meus olhos lacrimejassem.

    Puxei os lençóis para cobrir minhas pernas. O que você quer? eu disse. Você não deveria estar aqui antes do amanhecer. Uma rápida olhada pela janela confirmou que ainda não havia amanhecido.

    Warden disse para te levar ao processamento mais cedo. Ele quer que você saia daqui antes que amanheça. Diz que é melhor para todas as outras que ficarão para trás. Não quer lembrar a elas que existe um outro mundo do lado de fora.

    Tudo bem, tudo bem. enfiei uma mecha de cabelo solta atrás da minha orelha. Só me dê um minuto para eu me arrumar.

    Eu vou ajudo você a se vestir. ele se ofereceu com um sorriso doentio.

    Estremeci com o pensamento e senti uma onda de raiva me percorrer.

    Mantenha a calma!

    Eu consigo sozinha. eu disse em voz baixa.

    Ele olhou mais de perto para mim. O que foi isso?

    Nada!

    Não me venha com essa besteira. Você está me respondendo?

    Dei uma sacudida rápida negativamente com a cabeça. Não senhor.

    Minha resposta foi automática. Obediência era algo que eles exercitavam desde o início. Eles lhe diziam quando dormir e quando acordar, quando tomar banho e quando comer, e depois de um tempo, você acaba por se render a eles.

    Mas hoje eu sairia em liberdade condicional. Teria que aprender a tomar decisões por mim mesma, e não pular toda vez que alguém gritasse uma ordem.

    Reuni alguma coragem, levantei minhas sobrancelhas e acenei para que ele saísse da cela. Bem, você vai me dar um pouco de privacidade?

    Como uma cascavel pronta para dar o bote, Jerry se aproximou abruptamente do meu rosto, ficando cara a cara comigo.

    Não me provoque, Darcy. Você ainda não saiu, e muita coisa pode acontecer entre agora e a sua saída.

    Cerrei meus punhos, colocando-os debaixo do cobertor.

    Minha língua pode provar.

    Fechando os olhos, senti-me rígida como uma estátua, como se ignorá-lo o fizesse desaparecer magicamente.

    Minha boca pode sorrir.

    Que maluquice. disse Jerry. Você deve estar louca da cabeça.

    No beliche acima de mim, minha companheira de cela mudou de posição durante o sono e murmurou alguma coisa.

    Olhando de relance na direção de onde vinha o barulho, Jerry se endireitou e deu um passo para trás. Curvando os lábios com uma cara de desgosto, ele gritou: Se viste. Como eu disse, Warden quer você fora daqui hoje, sua maldita incendiária. Todos nós queremos.

    Abri meus olhos quando ele saiu da cela. Ele havia deixado a porta da cela aberta, mas permaneceu do lado de fora de guarda, apenas fora de vista.

    Eu estou no controle. disse a mim mesma enquanto soltava os lençóis da cama de um aperto sufocante.

    Manchas escuras marcavam o pano onde meus dedos haviam agarrado o material.

    Capítulo Dois

    Eu fiquei parada no ponto de ônibus do lado de fora em frente aos portões da prisão e coloquei meus braços em volta do meu peito.

    Quase nunca chovia no sul do Arizona e, quando isso acontecia, não durava muito tempo. Claro, hoje a chuva caiu forte o dia inteiro. Eu prendi meu cabelo em um rabo de cavalo, e sempre que movia minha cabeça, os fios molhados corriam ao longo da pele nua do meu pescoço e enviavam calafrios pela minha espinha. Minha respiração saia como nuvens de fumaça no ar da manhã.

    Silenciosamente rezei para que o sol saísse enquanto olhava a estrada com olhos assustados.

    Um carro veio em alta velocidade e passou por cima de uma poça d’água. Pulei para trás, mas uma enorme quantidade de água espalhou-se por todo o meu jeans e tênis.

    Merda! eu gritei. Mostrei ao motorista o dedo do meio e ele me mostrou o seu, antes que seu carro virasse a esquina.

    Babaca!

    Tentando me manter aquecida, segurei o colarinho da minha jaqueta ao redor do meu pescoço. Olhando para as nuvens escuras, amaldiçoei-as silenciosamente. Ao mesmo tempo, não pude deixar de me perguntar se havia alguma ligação entre o mau tempo e minha saída da prisão. Ou talvez eu estivesse apenas louca e imaginando que o mundo aqui fora estava me punindo.

    Assim que avistei um raio de sol entre as nuvens, um barulho estridente de freio de um Greyhound me assustou e soltei um grito. Depois que coloquei meu coração de volta no meu peito, me abaixei e peguei minha bolsa.

    Um motorista de meia-idade desceu do ônibus enquanto cobria a cabeça calva com um boné.

    Você vai embarcar? ele perguntou, me dando um olhar de expectativa. Eu balancei afirmativamente a cabeça e passei minha bolsa para ele. Ele abriu uma porta na lateral do ônibus e, reclamando, jogou minha bolsa lá dentro.

    Dei um passo em direção à porta, mas o motorista pigarreou.

    Bilhete? ele perguntou.

    Hã? Oh, sim.

    Eu me atrapalhei procurando em meus bolsos o bilhete enquanto tentava ignorar seu olhar impaciente. Depois de um momento, achei o bilhete e o entreguei. Ele acenou para mim, subi o pequeno lance de escada do ônibus … e congelei.

    Pela primeira vez em dez anos, vi-me diante de um grupo de desconhecidos. Meu coração disparou, fiquei com falta de ar e a náusea tomou conta de mim.

    Senti os olhos de todos em mim, irritados e acusadores. Eles me conheciam? Sabiam do meu passado? Sabiam do meu tormento?

    Senhora! era o motorista. Ele fez um movimento com a mão para que eu entrasse e resmungou.

    Tentei respirar, mas a ansiedade me dominou.

    Nós temos horário. disse ele com uma voz aborrecida.

    De certa forma, isso ajudou a me acalmar. Isso me lembrou que mesmo no grande e caótico mundo exterior, em todos os lugares que você vai e tudo o que você faz, é por causa de algum tipo de rotina, e eu achei isso muito reconfortante. Lá dentro, cada minuto de cada dia é regulado, e você acaba por se render a ele.

    Lentamente, recuperei a compostura e me preparei para me juntar aos desconhecidos do ônibus.

    Pelo que pude ver, os únicos dois assentos que ainda estavam desocupados estavam na última fileira, em cada lado do corredor. Apenas um tinha janela.

    O motorista do ônibus fechou a porta e acomodou-se em seu acento. Pisou no acelerador e o ônibus deu um solavanco. Agarrei a barra na parte de cima do ônibus, antes que eu caísse de cara e, amaldiçoando baixinho o motorista, andei pelo corredor.

    Duas mulheres idosas me encaravam com os rostos fechados. Forcei meus olhos a olharem para frente, mas não consegui desviar meus ouvidos. A velhota de cabelos azuis sentada ao lado da janela tentou manter a voz baixa, mas eu a ouvi de qualquer maneira.

    Eu não sei por que eles deixam essas mulheres pegarem o ônibus. Deveria haver uma regra.

    Quando passei, levantei meu queixo e fingi não ouvir. Eu disse a mim mesma para não deixar que isso me atingisse, mas então sua companheira de cabelo prateado apertou sua bolsa com força em seus braços gordos.

    Eu gritei: Não precisa se preocupar com a sua bolsa, senhora. Eu não estava presa por roubo, eu estava presa por homicídio culposo!

    Ambas ofegaram espantadas, mas eu não pude deixar de sentir um certo prazer com a reação delas. Deixei que aquilo me afetasse, e isso era algo que eu havia jurado que não iria deixar que acontecesse.

    Passei por elas e ignorei o súbito interesse dos passageiros que me ouviram. A todo o tempo, eu dizia a mim mesma para eu me acalmar. Haveria mais conflitos nos próximos dias, e se eu não conseguia ignorar duas velhas fofoqueiras, como conseguiria me controlar pelo resto da minha vida?

    Tive uma súbita vontade de me virar e correr de volta para os braços reconfortantes da prisão. Em vez disso, fui até o assento que tinha janela, sentei-me e olhei para fora enquanto o ônibus entrava em um mundo estranho e assustador da minha liberdade recém conquistada.

    Não deixei ninguém ver que eu tinha lágrimas caindo dos meus olhos. Não deixei ninguém saber que, por dentro, eu era apenas uma garotinha assustada que não queria nada mais do que ter alguém que me pegasse em seus braços e dissesse: Tudo vai ficar bem. O que eu queria e o que eu conseguiria eram duas coisas diferentes.

    Conheci muitas pessoas cruéis e mesquinhas em minha vida, e se você mostrasse a elas até mesmo uma pequena rachadura em sua armadura, elas veriam sua fraqueza e atacariam. O ódio, o desentendimento, o medo e a intolerância corriam soltos entre estranhos, e se você deixar que chegue até você, isso te destruiria.

    Os passageiros no ônibus irradiavam tudo isso, desde a indiferença de um lado até completa animosidade do outro. Mas eu tinha que ser forte. Eu tinha que ser firme. Eu tinha que ser tão dura quanto pedra.

    Como uma criança com medo de escuro, disse a mim mesma, repetidas vezes, para ser corajosa.

    Tinha coisa muito pior à minha frente:

    Eu estava indo para casa.

    Capítulo Três

    Enquanto o ônibus ia pela estrada, ele passava por pequenas cidades, fazendas, ranchos, armazéns decrépitos e postos de gasolina e minha ansiedade lentamente foi desaparecendo.

    Eu absorvia tudo o que via. Bebia as cores e os contrastes. Olhava para os passageiros dos carros e das minivans. Deixei minha imaginação correr solta com a noção de que todas as possibilidades estavam à minha frente. O futuro era vasto, assim como a estrada à nossa frente, e eu me senti tonta com os pensamentos de como minha vida poderia ser maravilhosa.

    Sem dúvida, meus companheiros de viagem se perguntavam se eu tinha vindo de algum tipo diferente de instituição, do jeito que eu sorria como um idiota quando vi uma manada de cavalos com seus potros brincando em um campo gramado.

    Não me importei. Deixe-os pensar o que quiserem. Eu estava livre e, embora temesse ir para casa, estava ansiosa para começar de novo e reconstruir minha vida. O destino me deu uma segunda chance de fazer as coisas direito, e desta vez eu estava determinada a fazer exatamente isso.

    Uma pequena onda de incerteza passou por mim, quando passamos por uma placa de trânsito: Bem-vindo a Middleton, AZ. (pop. 2628).

    Começar tudo de novo seria bom, e meu conselheiro de reintegração social na prisão me encorajou a reparar meu relacionamento com minha família, em vez de me mudar para uma nova cidade e começar do zero.

    Fugir é simplesmente evitar os problemas em sua vida. ele me disse. A única maneira de resolver os problemas em seu passado é enfrentar eles no presente.

    Essa onda de incerteza transformou-se em uma profunda sensação de desconforto. Eu tinha alguns problemas muito grandes para resolver. Por exemplo, meu tio, Edward, não havia falado mais do que duas palavras seguidas comigo nos últimos dez anos.

    O motorista do ônibus começou a desacelerar enquanto nos aproximamos do estacionamento empoeirado do Motel Lazy Z … um prédio antigo, de um único nível, disposto ao lado da rodovia.

    O ônibus entrou no estacionamento e inesperadamente parou sem aviso prévio, fazendo com que eu fosse jogada na parte de trás do assento da minha frente. A mochila de alguém caiu do bagageiro, dando a um passageiro um começo desagradável; e uma lata de refrigerante meio cheia, derramou líquido sobre os tênis de uma jovem mulher.

    Depois de abrir a porta, o motorista, ignorando as reclamações dos passageiros, pegou uma prancheta e uma caneta e registrou seu progresso.

    Middleton. ele anunciou com uma voz desinteressada, enquanto ele se levantava do seu assento e descia os degraus.

    Eu fui a única a levantar. Todos os outros, pareciam que estavam indo para Flagstaff ou além.

    Ignorando os olhares das duas velhinhas, andei pelo corredor. Quando me aproximei da saída, respirei fundo. Por um curto período, o ônibus se tornou um refúgio seguro. Agora, como um passarinho recém-nascido deixando o ninho pela primeira vez, tive que reunir toda a bravura que podia e fazer esse salto para o vasto mundo para testar minhas asas.

    No topo da escada, vacilei. Não havia rede de segurança, ninguém para me pegar se eu caísse. Se desse mais um passo, estaria completamente sozinha.

    Atrás de mim, a velha de cabelos azuis revirou os olhos e soltou uma tosse impaciente.

    Do lado de fora, o motorista colocou minha bolsa sem a menor cerimônia no cascalho, levantando uma pequena nuvem de poeira.

    Sua parada?

    Balancei a cabeça e dei o meu primeiro passo real para a liberdade, mas um único passo foi tudo o que consegui dar.

    Respirando fundo, me centrei. Tive que reunir minha coragem e encarar o presente. Você pode ir mais depressa, senhora? disse o motorista.

    Eu sorri sem graça e dei outro passo para longe do ônibus, dando a ele espaço suficiente para manobrar seu corpo para dentro. A porta se fechou com um som estridente. Não havia como voltar atrás.

    Depois de muito tempo que o ônibus se afastou, eu ainda permanecia de pé no acostamento da estrada, minha bolsa aos meus pés e meu coração na garganta.

    ***

    O Motel Lazy Z estava exatamente como eu me lembrava, e sua familiaridade foi o suficiente para me fazer entrar em movimento. Ergui minha bolsa e entrei na recepção do motel.

    Preparando-me para o pior, fiquei impressionada com o inesperado: não havia ninguém lá.

    A recepção, no entanto, era um desastre total. Os papéis estavam espalhados por cima de todo o balcão, os fichários estavam empilhados em cima de pastas e revistas. Um telefone antigo com um teclado rotativo estava manchado com a sujeira de milhares de dedos oleosos, e um livro de visitas mofado estava aberto em uma página que tinha mais manchas de café do que assinaturas. Ao lado de um antigo monitor de computador, uma pilha de mapas antigos aguardava ainda ser comprada, o que nunca havia acontecido. Uma mosca zunindo voava em cima de uma tigela de doces desembrulhados, como se tivesse medo de uma possível armadilha.

    A recepção em si era pequena e apertada, e metade dela era como se fosse um lounge para os clientes. Dois bancos compridos estavam encostados na parede, com almofadas cor de laranja esfarrapadas e empoeiradas. Uma mesa dobrável servia como uma estação de café, a única área que parecia bem cuidada e limpa. Uma antiga foto de um celeiro abandonado pairava sobre a máquina de café.

    Aproximei-me da mesa, deixei minha bolsa no chão e toquei a campainha prateada.

    Uma voz profunda precedeu o homem que vinha pela porta dos fundos: Já te atendo em um…

    Tio Edward era mais alto do que aparentava. Como muitas pessoas mais altas que as outras, seus ombros haviam se desenvolvido numa tentativa de parecer menos imponente. A pele do seu rosto magro estava desgastada pelo tempo. Ele estava no final dos seus cinquenta anos, mas poderia facilmente ter passado por alguém com uma década a mais. Seu cabelo curto, outrora castanho-escuros, tinham ficado grisalhos e tinha entradas bem acentuadas de calvície.

    Não era o homem mais gentil de Middleton, mas o tio Edward estava no mercado há anos e aprendera a demonstrar um ar de profissionalismo quando se tratava de seus clientes, quer fossem clientes de passagem de uma única noite, a caminho de destinos desconhecidos, ou se era alguém como Wild Will Tyler, expulso de sua casa todos os fins de semana por sua esposa escandalosa por ter bebido demais no The Trough depois de um período de sete dias na fábrica de comida de cachorro.

    Esse comportamento profissional evaporou quando ele me viu, e o sorriso derreteu de seus lábios.

    Prendi a respiração e esperei que ele falasse.

    Darcy. sua voz era monótona, tingida com um toque de decepção e aborrecimento. Quando você saiu?

    É bom ver você também, tio Edward.

    Um silêncio constrangedor pairou no ar até atingir o seu ponto de ruptura.

    Não estava esperando por você. ele rosnou. Suas palavras pareciam um soco no estômago.

    De repente, eu queria sair correndo da recepção e nunca mais olhar para trás. Foi um terrível erro pensar que eu poderia voltar para casa novamente. Meu conselheiro estava errado: era muito mais fácil fugir e começar tudo de novo em um lugar onde ninguém conhecia meu passado, as coisas terríveis que eu havia feito ou a desgraça que eu tinha provocado.

    Eu tentei ligar, mas tudo que consegui foi falar com a secretária eletrônica. Eu deixei uma mensagem. Com toda a coragem que pude reunir, tornei minha voz amável.

    Tio Edward não se mexeu. Não lembro de nenhuma mensagem.

    Eu disse que estava saindo hoje.

    Ah é…?

    Tentei engolir, mas minha boca estava seca demais.

    Eu estava … esperando que vocês pudessem me abrigar por um tempo. Só até eu conseguir resolver algumas coisas.

    Tio Edward apertou seu os olhos na minha direção, apertou os lábios com mais força. Quanto tempo?

    O nó na minha garganta me impedia de respirar.

    Nesse instante, um furacão com calça de moletom azul e uma camisa amarela com estampas de flores irrompeu pela porta.

    O que o tio Edward tinha de alto e magro, tia Martha tinha de baixa e corpulenta…gorda feliz era como ela se descrevia.

    Tia Martha tirou as luvas de borracha amarela e, com um sorriso largo, jogou os braços em volta de mim, quase nos derrubando com seu entusiasmo.

    Darcy! Você deveria ter me dito que viria hoje. Pensei que você havia dito que eles não deixariam você sair até a próxima semana.

    Lançando um olhar de desaprovação para o meu tio, que franziu os lábios, eu disse: Pensei em surpreender vocês.

    Oh, meu senhor, e você surpreendeu! Eu quase fiz xixi quando te vi. Sentimos muito a sua falta. Está muito quieto por aqui. Estou tão feliz em ver você. Então, você está aqui para ficar?

    A cara feia que o tio Edward estava fazendo só piorava. Eu fingi não notar.

    Se não for muito problema. Eu não gostaria de incomodar ninguém.

    Tia Martha estalou a língua. Bobagem. Ela sacudiu a mão para o marido. Edward. Não fique aí parado. Pegue a bolsa dela. ela sorriu para mim. Vamos colocar você no quarto catorze, lá no final.

    Obrigada, tia Martha.

    Não é nada. Vá se limpar. Eu tenho um milhão de perguntas, mas podemos conversar durante o almoço. Tenho que tirar essas roupas fedorentas de trabalho. Não estou vestida para te receber.

    Mas ela não ia me deixar ir tão facilmente. Sorrindo de orelha a orelha, segurou minhas mãos e me deu uma boa olhada. Com um pouco de desaprovação, beliscou a pele da minha cintura esbelta e piscou para mim.

    Sim, nada que uma boa comida caseira não consiga resolver.

    Eu sorri tanto que pensei que fosse chorar.

    Dando-me um aceno de cabeça, tia Martha saiu com tanta excitação e energia quanto quando entrou.

    Ela me chamou novamente por cima do ombro. Me dê meia hora e eu vou ter um banquete digno de uma rainha pronto para você.

    Oh, tia Marta, não se preocupe., eu disse.

    Minhas palavras caíram em ouvidos surdos; ela já tinha ido embora, um furacão em forma de mulher.

    Tio Edward resmungou quando ele saiu de trás do balcão e pegou minha bolsa.

    Bem, vamos lá, então. Claramente, ele não estava satisfeito com o rumo dos acontecimentos.

    Ele não disse uma palavra enquanto me levava para fora da recepção e pelo longo caminho. Quando chegamos ao meu quarto, largou minha bolsa no chão e colocou a chave na minha mão, em nenhum momento me olhou nos olhos.

    Sem alarde ou praguejar, girou nos calcanhares e voltou para a recepção.

    Eu o vi andando de costas para mim e mordi meu lábio. Tia Martha e tio Edward eram opostos em quase todos os sentidos, e sempre seriam.

    Kyra, uma das minhas companheiras de cela, costumava dizer: Você não pode mais voltar para casa. E eu dizia a ela: Não há lugar como o lar. acho que ela estava certa em ambos os relatos.

    Pela primeira vez em dez anos, e apesar do óbvio atrito com tio Edward, senti que poderia haver um vislumbre de esperança, que eu conseguiria encontrar alguma aceitação aqui. Talvez, se eu tivesse muita sorte, pudesse até encontrar um pouco de perdão, se não dos outros, então talvez de mim mesma.

    Abri a porta do meu quarto de motel, minha nova casa, e entrei.

    Capítulo Quatro

    Separado por um pequeno corredor, o suficiente para passar se espremendo, existia um pequeno bangalô de um quarto logo atrás do Lazy Z que servia como lar permanente dos Johnsons.

    Antigamente, a pequena residência era ocupada por um capataz, quando o motel era nada mais do que um local para trabalhadores agrícolas sazonais. Com o passar dos anos, havia sido convertido em um bangalô aconchegante.

    Minúsculo e apertado para os padrões, minha tia e meu tio moravam lá desde que herdaram o motel dos pais do tio Edward, há mais de duas décadas atrás. O tio Edward e a tia Martha nunca conseguiram ter filhos, por isso eles não precisavam de nada maior.

    O interior estava abarrotado de móveis velhos e frágeis. Tia Martha jurava ser antiguidade. Sortidas bugigangas decoravam cada superfície plana disponível, e pilhas de livros e revistas estavam em cada canto. Em uma determinada altura no início de sua vida, tia Martha se imaginou uma pintora e produziu dúzias de paisagens medonhas, naturezas-mortas e outras obras de arte questionáveis que ninguém em sã consciência jamais compraria, ela tinha todos emoldurados e pendurados por toda a casa, ignorando a opinião ou o gosto de qualquer outra pessoa.

    A cozinha era obviamente o centro das atividades da casa, tinha uma grande mesa transbordando de comida como em um bufê: espiga de milho, salada de batata, picles, pão e um grande presunto com vários ingredientes.

    Coloquei um picles na minha boca enquanto enchia o prato com um pouco de tudo.

    Tio Edward franziu o cenho e senti uma onda de constrangimento.

    Suavemente mordi o picles. A mordida foi tremendamente alta. Silenciosamente, acabei de mastigar e me sentei na cadeira. Todos os olhos me observavam até eu finalmente engoli e dei um sorriso culpado.

    Desculpa.

    Juntei minhas mãos enquanto tia Martha recitava uma oração.

    Bendizei-nos, ó Senhor, por estas dádivas que nós estamos prestes a receber de sua generosidade, através de Cristo Nosso Senhor. Amém; e obrigado por nos devolver nossa sobrinha depois de tantos anos. Amém.

    Respondi Amém como o tio Edward, e hesitei apenas um momento antes de dar uma garfada na salada de batata, com a maionese sujando o canto dos meus lábios. Entre as colheradas, dei um sorriso de agradecimento para minha tia.

    Não posso te dizer como isso é bom, tia Martha. Não como comida de verdade há anos.

    Eu mal terminei de mastigar o que estava na minha boca e já estava empurrando um pão ainda fumegante. Grunhi de prazer quando o pão doce derreteu na minha língua.

    Não esqueça de pegar um pouco desse molho caseiro de maçã. Tia Martha estava em seu elemento. Eu poderia ter lhe beijado pelo banquete que ela havia criado criou para mim.

    Nem todo mundo estava em clima de comemoração. Tio Edward não tocou em sua comida.

    Era uma prisão ou um estábulo? ele soou como se tivesse acabado de engolir uma xícara de vinagre.

    Edward! disse tia Martha.

    Tentando ignorar o calor que subia pelas minhas bochechas, rapidamente terminei de mastigar e engoli. Desculpa. Eu acho que vou ter que me acostumar com a civilização novamente.

    Bobagem. Pegue o que quiser, querida. tia Martha olhou para o marido. Estamos felizes por você estar aqui. Não estamos, Edward?

    Tio Edward bateu com o garfo na mesa. Você está feliz que ela esteja aqui? Que estranho! Quando foi a última vez que você foi lá para uma visita?

    Tia Martha empalideceu. Eu posso não ter ido lá, mas telefonava toda semana e enviava presentes para ela todos os meses.

    Ela então olhou para baixo, esfregando as mãos nervosamente. Quando olhou novamente para mim, seus olhos estavam lacrimejando.

    Espero que você não esteja muito chateada. ela disse para mim. Eu não conseguia suportar ver você naquele lugar. Eu teria visitado você mais, mas com todo o trabalho aqui… ela deu um olhar de desaprovação para tio Edward. Ela é filha da sua irmã e você a trata como se tivesse alguma doença.

    Coloquei a mão no braço dela. Eu não me importo que você não tenha ido me visitar tia Martha. Além disso, não queria que ninguém me visse lá de qualquer maneira. Seus presentes foram mais do que suficientes para mim.

    Tia Martha se virou para mim e enxugou uma lágrima do olho. Ela forçou um sorriso e balançou a cabeça.

    Mas isso tudo é passado. ela estendeu a mão e pegou na minha mão. Hoje temos nossa sobrinha de volta. Ela é da família e está aqui para ficar. ela deu um único aceno como se isso selasse o acordo.

    Não! tio Edward empurrou sua cadeira para trás com tanta força, que ela caiu e bateu contra o chão de ladrilhos com um forte estalo. Ele ficou de pé, o rosto vermelho de raiva.

    Tia Marta disse: Edward!

    Ele a parou antes que pudesse protestar mais. Eu me sentei lá no tribunal dia após dia. Eu ouvi tudo o que foi dito no julgamento.

    Edward, não! tia Martha vociferou.

    Ele bateu com a mão na mesa como se fosse um juiz batendo o martelo contra um pedaço de madeira para restaurar a ordem no tribunal, depois apontou o dedo para mim.

    Você nunca deu uma boa explicação. Você nunca disse a ninguém o que realmente aconteceu. Foi por isso que eles te prenderam. Não, eles não conseguiram provar os assassinatos, mas eles conseguiram provar o homicídio culposo.

    Olhei para os meus pés. A raiva tomou conta de mim como lava quente. Eu me senti presa.

    Foi um acidente. eu disse. Foi um acidente!

    Fechei minhas mãos em punhos ao meu lado.

    Tio Edward zombou. Sim, sim, então você continua dizendo isso. Mas os jurados não tiveram nenhuma dúvida, e sabe de uma coisa? Eu também não.

    Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Meu único parente de sangue vivo me odiava e pensava que eu havia assassinado minha mãe e meu pai. Minhas unhas cravavam nas palmas das minhas mãos. Eu queria gritar com o tio Edward, mas em vez disso mordi minha língua com força.

    Tio Edward deu um passo em minha direção e eu fiquei tensa.

    Um vestígio de fumaça saia pelos meus dedos cerrados. Eu podia sentir o calor aumentando como a primeira faísca de um forno escuro e mortal.

    Edward! disse tia Martha meio ofegante, meio gritando.

    É verdade. Diz que estou errado. exigiu o tio Edward. Ah, você pode não ter pretendido matar eles, mas certamente quis matar alguém. Me diga que estou errado!

    Tentei não prestar atenção nele, tentei bloquear toda a sensação externa. Fechei meus olhos para me concentrar.

    Meus olhos podem ver.

    Minha língua pode provar.

    Minha boca pode sorrir.

    Os olhos do tio Edward se estreitaram como um falcão avistando um rato no campo.

    Você foi a única quem começou o fogo.

    Seus dedos se curvavam como garras.

    Meus pulmões podem respirar.

    Meu coração pode bater.

    Eu me obriguei a ficar sentada. Cerrei meus punhos quando os vestígios de fumaça ficaram mais fracos.

    Você queimou seus próprios pais vivos.

    Meu estômago pode digerir.

    Tia Martha finalmente encontrou sua voz. Edward! Já chega!

    Minhas pernas podem andar.

    Sim… disse ele, dando um passo para trás, …tá. e com isso ele saiu da sala.

    Meu corpo está calmo.

    Tia Martha levantou de sua cadeira e se aproximou de mim. Com lágrimas nos olhos, ela colocou os braços em volta dos meus ombros.

    Tudo bem, querida. Eu vou cuidar de você agora. Você verá. Nós somos família, você sabe. Para o bem ou para o mal. Certo ou errado. Somos tudo o que temos.

    A dor se estendia pelos meus dedos e forcei minhas mãos a se abrirem. Partículas de cinza escuras caíram das minhas palmas.

    Se a tia Martha ouviu minhas próximas palavras, não deu nenhuma indicação, ela simplesmente me segurou firme enquanto eu completava meu mantra:

    Eu estou no controle.

    Capítulo Cinco

    Minha casa estava pegando fogo descontrolavelmente.

    Como um formigueiro em pânico, os bombeiros corriam em direção à minha casa tentando conter o estrago. Meia dúzia de mangueiras disparavam correntes pesadas de água contra o incêndio, mas elas não eram páreas para o inferno. Era uma causa perdida. Seus esforços foram em vão.

    Meu rosto estava manchado de fuligem e lágrimas, e eu mal compreendia o que estava acontecendo. Meus pais ainda estavam presos dentro da casa.

    E eu sabia, tão certo quanto sabia o meu nome, que era minha culpa.

    "Mãe! Pai!"

    ***

    …meus gritos ecoavam em meus pensamentos muito depois de ter acordado do pesadelo.

    Fiquei na frente do espelho do banheiro de calcinha e camiseta branca. O vapor do chuveiro embaçava o espelho e borrava meu reflexo. Distraidamente, passei a mão pela superfície para limpar a condensação. Olhos assombrados me encaravam de volta enquanto uma lágrima atravessava lentamente minha bochecha.

    Eu me odiava.

    Tão perto! Ontem eu cheguei tão perto de perder o controle novamente. Por que eu não podia me controlar? Eu tinha conseguido nos últimos anos, agora eu estava me descontrolando.

    Olhei para as palmas das minhas mãos. Nem uma única marca nelas. Elas pareciam inocentes e inofensivas, mas estavam cheias de ódio e de destruição ardente.

    Passei a mão pela minha bochecha, enxugando minhas lágrimas.

    Então, eu bati no vidro. O que há de errado com você?

    O que era essa coisa dentro de mim? Por que eu tenho isso? Como eu poderia me livrar disso? Se não fosse pelo mantra—minha salvação—eu não teria absolutamente nenhum controle sobre quando e onde isso tomaria conta de mim.

    Enfiei a mão atrás da cortina do chuveiro para testar a temperatura da água e, em seguida, comecei a tirar minha camiseta quando ouvi uma forte batida na porta. Desliguei o chuveiro e peguei um roupão de banho.

    Só um minuto! eu disse enquanto colocava o cinto do roupão em volta da minha cintura e dava um rápido laço. Abri a porta e sorri.

    Ei, oi tia Martha.

    Minha tia não me olhou nos olhos. Eu poderia dizer que ela estava mais do que um pouco envergonhada.

    Saí para o calçadão de madeira e esperei pacientemente até que ela tivesse coragem suficiente para me dizer o que estava em sua mente.

    Eu quero pedir desculpas pelo seu tio. começou a tia Marta. Ele é um idiota rabugento, você sabe disso. Não sabe quando ficar de boca calada.

    Eu já ouvi coisa pior. com um pouco de esforço, mantive minha voz indiferente.

    Talvez, mas não da família. Ele não deveria ter descarregado em você.

    Tio Edward e eu nunca fomos chegados. Mesmo quando criança, ele me tratava com uma fria indiferença quando eu vinha para visitá-los, um forte contraste com os braços acolhedores de tia Martha e seus deliciosos doces. Eu não sabia se ele não gostava de crianças, ou apenas de mim.

    Imaginei que os eventos da década passada haviam transformado sua apatia em ódio.

    Talvez houvesse mais do que isso, a julgar pelas palavras de tia Martha.

    O que ele descarregou em mim? perguntei.

    Bem…

    Coloquei uma mão no ombro dela. Ela estava tremendo. O que foi, tia Martha?

    Torcendo as mãos, ela murmurou: Eu não quero te sobrecarregar, porque não é sua culpa. Como você poderia saber? Você acabou de chegar aqui.

    Eu falei em voz baixa. Me diz.

    Um olhar furtivo na direção da recepção pareceu aliviar seu nervosismo. Não havia ninguém ouvindo sua confissão.

    Bem, alguns anos depois da … sua condenação … os negócios ficaram lentos. Algumas pessoas se afastaram porque não entendiam; alguns ficaram com raiva; alguns simplesmente não sabiam o que dizer. Além disso, a economia não está mais como costumava ser. Menos viajantes. Com essa nova coisa de internet, as pessoas apenas falam em seus computadores, em vez de se encontrarem cara a cara. Onde esse mundo vai parar? Quero dizer…

    E? eu provoquei para que ela voltasse aos trilhos.

    Tivemos que obter uma prorrogação do empréstimo, e depois tivemos que demitir toda a nossa equipe para conseguirmos pagar as despesas.

    Coloquei minha mão no meu peito. Eu estava me perguntando por que vocês dois estavam aqui. Por que vocês não disseram nada? Eu sinto muito.

    Não, não. disse ela. Têm sido momentos difíceis, mas não é sua culpa. Não é culpa de ninguém, realmente. Oh, isso não é problema seu. Eu deveria ter mantido minha boca grande fechada. É apenas…

    Apenas o quê?

    Tia Martha suspirou. Bem, Edward e eu não estamos ficando mais jovens.

    Você não é tão…

    Ela levantou a mão para me impedir.

    Nós estamos. Mas isso não é o que eu estava dizendo. As coisas começaram a melhorar de novo. Finalmente estamos voltando ao normal. Quem sabe, podemos até ter alguns dias de folga este ano.

    Isso é ótimo, tia Martha. eu franzi a testa, imaginando quanto tempo mais ela enrolaria para finalmente chegar ao ponto.

    Bem, trabalhar longas horas, sete dias por semana está cobrando seu preço. E … bem … estamos ficando cansados. Administrar um motel é muito trabalho para dois velhos.

    Ela precisou respirar profundamente antes de me olhar nos olhos.

    Estamos pensando em vender. ela disse finalmente.

    Oh? eu não tinha certeza de como me sentia com relação a isso, não tinha certeza se tinha o direito de me sentir de um jeito ou de outro. Até onde consigo me lembrar, o Lazy Z tinha sido como um dos pilares da nossa família. Apesar de não serem parentes de sangue, minha mãe e tia Martha eram mais próximas do que a maioria das irmãs e, quando eu era jovem, elas não ficavam mais de um dia sem se visitarem, então eu sempre estava por aqui. Acho que passei mais tempo brincando no estacionamento e no campo atrás do motel do que no meu quintal.

    Mas o mercado nesse momento ainda está devagar. Nós já perdemos muito dinheiro. Simplesmente não podemos vender neste ano, talvez nem no próximo ano. E nesse meio tempo, digamos que provavelmente não podemos contratar o tipo de pessoa que receberia o salário que poderíamos pagar. Estamos entre a cruz e espada. O Lazy Z está na família há cinquenta anos. Edward está tomando isso como uma falha pessoal por causa do que estamos enfrentando.

    Há algo que eu possa fazer? Qualquer coisa?

    Tia Martha torcia as mãos novamente, como se esperasse o pior. Sim, tem sim.

    Balancei a cabeça uma vez, firmemente. Diga.

    Fique. Trabalhe no motel. Como eu disse, não podemos pagar muito. Oh, Senhor, sinto que estou tirando vantagem de você por causa disso.

    Eu tive muitos pensamentos conflitantes nesse momento. Pela primeira vez, eu não sabia o que dizer.

    Era isso que eu queria desde o início: ficar aqui e ajudar. Mas tio Edward disse…

    Tia Martha agitou a mão. Edward é tão teimoso quanto um idiota. Ele precisa superar. A vida é muito curta. Ele sabe, no fundo do seu coração, que o que aconteceu com a irmã dele e com o Robert foi um acidente. Ele está apenas sendo teimoso. Você pode perdoar ele?

    Perdoar? Claro, tia Martha. E eu adoraria ficar e ajudar.

    Ela jogou os braços em volta de mim e me deu um beijo barulhento na bochecha. Você não vai se arrepender disso, Darcy.

    Pela primeira vez naquele dia, senti meu coração se encher de esperança. Deixei que tia Martha desse boas-vindas em sua casa à pessoa responsável pela morte dos seus cunhados.

    Estou feliz por poder ajudar.

    Edward está na recepção. disse ela. Eu disse a ele para se desculpar com você, mas se você receber um resmungo dele, você se sairá melhor do que eu.

    Balancei a cabeça. Eu realmente não preciso de um pedido de desculpas, mas vou ver ele imediatamente.

    Escute. ela disse. Eu quero que você se sinta em casa aqui. Sei que este quarto não é muito, mas é seu por quanto tempo você quiser.

    Isso é muita generosidade. Mas você tem que me deixar pagar pelas minhas despesas.

    Ela agitou a mão. Bobagem. Estou tão feliz por você estar de volta.

    Tia Martha me deu amplo sorriso e de repente me senti muito melhor comigo mesma. Ela me abraçou de novo e eu não queria que ela me soltasse.

    Eu também, tia Martha. Eu também.

    Capítulo Seis

    Tio Edward e minha mãe poderiam ter sido confundidos com irmãos gêmeos, embora tivessem quase cinco anos de diferença. Ambos eram altos e magros, quase esbeltos. Eles tinham maxilares estreitos, maçãs do rosto salientes e queixos levemente salientes. Ambos tinham a pele clara, mas era aí que as semelhanças acabavam.

    Eleanor Johnson, Ellie para seus amigos e familiares, era um espírito livre. Ela se recusava a cortar o cabelo e já adulta seus cabelos castanhos pendiam até os quadris. Ocasionalmente ela usava uma trança, mas seu estilo preferido era deixá-los solto. Tio Edward nunca mudou de penteado desde o dia em que ele deixou o exército. Desde que me lembro, sempre exibiu um corte militar que deveria ser aparado pelo menos uma vez a cada duas semanas.

    Eleanor explorava arte e literatura, ela adorava artesanato e antiguidades. Em vários momentos de sua vida, teve pelo menos um animal de estimação adotado—um gato de rua, um pássaro ferido, um cachorro perdido; uma vez ela até trouxe para casa um filhote de urso perdido (o que aparentemente causou uma grande agitação na casa dos Johnson naquele dia).

    Tio Edward foi direto para o curso de gestão em Flagstaff e, quando retornou a Middleton, gradualmente foi se inteirando das operações do dia-a-dia do Lazy Z, assumindo tanta responsabilidade quanto o pai lhe dava, até o dia em que meu avô tive seu segundo ataque cardíaco e decidiu que era hora de se aposentar.

    Minha mãe nunca quis ter nada a ver com a administração de um negócio, e ficou mais do que feliz em deixar seu irmão assumir o Lazy Z. Quando tio Edward e Ellie tinham idade suficiente, tio Edward ficou com o motel e minha mãe ficou com a casa da família como herança. Meus avós se mudaram para uma cabana em uma propriedade que possuíam fora da cidade, onde viveram seus últimos dias.

    Minha mãe adorava me contar como meu pai mudara sua vida. Quando se tratava de casamento, ela nunca teria dado o nó—ela era um espírito selvagem—se não tivesse reconhecido sua alma gêmea no meu pai, no verão após a formatura do ensino médio.

    Ela estava trabalhando como garçonete em Fresno enquanto ficava na sua tia-avó, foi quando conheceu Robert Anderson, enquanto fazia uma trilha com seus primos. Um biólogo, ele estava monitorando padrões migratórios da população de pássaros nativos para a Universidade de Sacramento, e os dois se deram bem. No final daquele verão, Ellie voltou para casa, em Middleton, recém-noiva. Robert se transferiu para a Universidade do Norte do Arizona e eu cheguei um pouco menos de um ano depois.

    Minha mãe me disse uma vez que ela nunca havia pensado que seu irmão se casaria um dia, não porque tio Edward não queria, mas por causa de sua personalidade naturalmente mordaz. Nenhuma das garotas locais queria nada com ele, exceto por uma. Foi preciso alguém como tia Martha para ver o passado rude e identificar a pessoa leal, trabalhadora e devotada por baixo. Havia rumores de que ela havia pedido ele em casamento- uma espécie de escândalo para aqueles dias.

    Infelizmente, o casamento nunca abrandou tio Edward, e até mesmo sua própria família tinha dificuldades em passar mais do que algumas horas com ele.

    Enquanto crescia, não posso dizer que já tive mais do que uma conversa de uma frase com ele, mas agora, do lado de fora da recepção, na parte da frente do Lazy Z, ao sol da manhã, meu cabelo ainda molhado contra as minhas costas do meu banho matinal, ele tinha toda a minha atenção.

    Eu andava a um passo atrás do tio Edward, que frequentemente apontava o dedo como uma arma enquanto me guiava me dando explicações, como se eu nunca tivesse passado milhares de dias no motel.

    Conseguia perceber sua impaciência através de sua voz. Ali está o quadro de distribuição elétrico, caso você precise usar o disjuntor. A companhia elétrica daqui é inútil. Tudo desarma quando tem uma tempestade, e temos interrupções mesmo em dia claro.

    Estendendo a mão, ele moveu a maçaneta da porta e olhou para mim incisivamente.

    Sempre verifique se está trancada. Verifique isso vinte vezes por dia, se for preciso. Todas as vezes que você passar por aqui, verifique. Não quero que um garoto punk se esgueire para fumar maconha.

    Entendi. balancei a cabeça afirmativamente.

    Tio Edward foi para a sala ao lado. Ele fez uma pausa e mostrou uma chave no mosquetão retrátil preso ao seu cinto. Sacudindo a maçaneta para provar que estava trancada, ele começou a destrancá-la e abriu a porta.

    Manutenção e lavanderia. Todos os carrinhos de limpeza e suprimentos para os quartos estão aqui. Lâmpadas, papel higiênico, o que você precisar. Mesma coisa: verifique a porta toda vez que você passar por aqui. Os hóspedes podem achar que as toalhas e os sabonetes são de graça, mas essas malditas coisas custam uma fortuna.

    Balancei a cabeça novamente. Entendi.

    Tio Edward me deu um olhar severo. E eu mantive meu rosto sério.

    Ele resmungou antes de continuar andando pela fila de quartos até o final do motel, sem olhar para trás, simplesmente assumindo que eu o estava seguindo.

    Atrás do prédio, uma extensão de pavimento fazia fronteira com um campo de grama alta que se estendia até uma colina suave a 30 metros de distância. Quando era criança, eu adorava correr por lá com a minha bicicleta. Além da colina, ficava o Circle Lake, onde às vezes fazíamos piqueniques e pescávamos.

    Meu tio apontou para o final do motel. Ele disse: Lá atrás está a lixeira. Mantenha ela trancada também. O povo do rancho sobe até aqui no meio da noite e enche ela com seus lixos. Nós não precisamos pagar para transportar o lixo das outras pessoas.

    Tio Edward, queria agradecer por me dar essa chance. Eu sei que nunca olhamos olho no olho, e também sei que nós ficamos mais distantes nos últimos dez anos, mas eu acho…

    Parei quando ele me deu um olhar severo.

    Eu não dou a mínima para o que você pensa, mocinha. ele disse. Eu não preciso de ajuda, não importa o que a Martha pense. Só concordei em deixar você ficar e trabalhar aqui por respeito à memória da minha irmã. Mas tenho apenas uma condição para você, então vamos esclarecer isso aqui e agora. Este é meu motel e eu sou o chefe. Você faz o que eu dizer, quando eu dizer, e você não vai me dar nenhum trabalho. Fora isso, mantenha-se fora do meu caminho e ficarei longe do seu. Agrada a Martha que você esteja aqui e, como dizem, ‘esposa feliz, vida feliz’. Então, contanto que você trabalhe duro e seja gentil com sua tia, tudo ficará bem. Fui claro?

    Cristalino. eu respondi.

    Tio Edward observou meus olhos por um momento, como se isso fosse dizer a ele se eu estava zombando dele. Eu não estava.

    Ele disse: Agora cale a boca e deixe eu terminar de lhe dar o resto das instruções.

    Eu assenti. Entendido.

    Tio Edward me deu o resumo de todos os aspectos do negócio do motel nas próximas horas, e eu prestei atenção a cada palavra dele.

    Com o passar do dia, tive a impressão de que ele estava de alguma forma me aceitando. Ao mesmo tempo, experimentei algo que não sentia há uma década.

    Apesar de seu exterior rude e comentários duros, me vi admirando tio Edward. Ele tinha um tipo estranho de confiança em si mesmo, e ele entrou nesse meio de uma maneira prática que era muito interessante. Não importava o quão abrasivo e reservado fosse o tio Edward, ele, no entanto, dera aquele passo para aceitar-me como parte de sua vida.

    Tio Edward tinha muitos problemas que eu tenho certeza que nunca serão resolvidos. Por mais que ele e sua irmã fossem diferentes, eu sabia que eles se amavam da maneira como minha mãe falava dele, me contando histórias de sua juventude, como eles se metiam em confusão juntos, e como tio Edward a defendia sempre que sentisse que a honra de Ellie estava sendo ameaçada.

    Eu sabia que nunca poderia substituir minha mãe em seu coração, mas por conhecer todas as histórias e pontos de vista do tio Edward, tinha quase certeza de que havia outro jeito de me aproximar. O tio Edward valorizava o trabalho duro, a lealdade, a pontualidade, a praticidade e a honra.

    Se eu pudesse ganhar seu respeito, espelhando seus valores e trabalhando no motel sem reclamar, ficaria feliz em suportar sua hostilidade em relação a mim.

    Eu já estava a quilômetros de distância com a tia Martha, que não tinha um pingo de maldade em seu corpo, mas jurei para mim mesma que não teria a generosidade como garantida. Eu tinha muito trabalho pela frente, mas estava bem com isso. Tudo valeria a pena se eu pudesse finalmente mudar minha vida e voltar aos trilhos.

    Então, com isso em mente, nos dois dias seguintes, mergulhei no trabalho. Trabalhei no balcão da frente, ajudei a tia Martha a limpar os quartos e cheguei a organizar a papelada do tio Edward. Ele protestou, dizendo que tudo já estava onde ele poderia encontrar, e não precisava ser reorganizado, mesmo assim, ele não me impediu.

    Depois de dez anos fora, eu finalmente estava em casa.

    Capítulo Sete

    Já era tarde da noite, quase no final do meu terceiro turno de trabalho, desde que tinha voltado para casa. Olhei para uma confusão de notas fiscais espalhadas sobre o balcão, algumas recentes, algumas de anos anteriores. Como tio Edward conseguia sobreviver sem um controle fiscal estava além de mim. Seu contador deveria ser um milagreiro.

    Com um suspiro irritado, iniciei a lenta e metódica tarefa de ordenar as faturas por empresa e data. Embora tenha ouvido o ônibus da noite parar, eu estava tão absorta em minhas tarefas que mal registrei. A porta da frente se abriu.

    No começo não conseguia focar minha visão quando olhei para cima, meus olhos estavam extremamente concentrados no trabalho de arquivamento. Quando finalmente percebi, havia outra pessoa na recepção, e fixei meus olhos nele, minha respiração ficou presa na minha garganta.

    Vestindo um par de jeans escuros e uma camiseta justa que mostrava seus ombros largos, um homem muito atraente estava na minha frente, com um largo sorriso no rosto. Bronzeado e atlético, ele poderia facilmente ter sido um modelo.

    Uh, olá? ele disse já que eu ainda não havia falado. Conscientemente coloquei meu cabelo para trás com minhas mãos e dei um sorriso.

    "Boa noite. Bem-vindo ao Lazy Z. Em que posso ajudar?

    Sim, por favor. disse ele com um sorriso caloroso. Você pode me dizer qual é o preço do quarto?

    Cento e dez, adiantamento de uma noite. Além das taxas.

    Ele inclinou a cabeça. Além das taxas?

    Mais impostos. Você sabe, imposto sobre hotel, imposto sobre vendas.

    Ah. ele parecia estar considerando sua decisão.

    O senhor pretende ficar por apenas uma noite? Temos descontos para estadias mais longas. Ou poderia…

    Ele sorriu. Na verdade, provavelmente estarei na cidade por algum tempo.

    Oh?

    Me chamo Neil. ele estendeu a mão.

    Olhei para ele como uma idiota por um momento, depois que dei por mim, estendi minha mão para apertar a dele.

    Uh, Darcy. Quanto tempo é algum tempo? Uma semana … ou mais?

    Provavelmente mais para permanentemente.

    Inclinei minha cabeça para um lado. Como assim?

    Eu trabalho para o Corpo de Bombeiros de Denver, e não me interprete mal, tem sido ótimo, mas não há muito espaço para crescimento profissional. Você conhece Hank Hrzinski?

    Chefe Hrzinski? Sim. eu disse depois de um momento. Hank foi quem me tirou do incêndio. Ele está aqui há muito tempo … desde que eu era criança.

    Bem. disse Neil. Ele e meu chefe se conhecem há muito tempo. Cerca de um mês atrás, Hank ligou para ele e disse que estava pensando em se aposentar e perguntou se havia alguém que pudesse preencher a vaga. Juntos, eles mexeram alguns pauzinhos com o conselho da cidade daqui e, bem, resumindo, eu me ofereci para o cargo, quando ele se aposentar no próximo ano. Estou aqui para aprender como são as coisas até lá.

    Bem, parabéns.

    Ele sorriu com uma pitada de timidez. Obrigado.

    Eu falei: Então você está aqui à procura de uma casa? Oh, Deus, me desculpe. Não é da minha conta. Sempre odiei como todos em uma cidade pequena se metem nas vidas uns dos outros, e aqui estou eu enfiando meu grande nariz na sua.

    Neil riu. Não se preocupe com isso. Depois de passar quase toda a minha vida em Denver, acho que prefiro desistir de um pouco da minha privacidade, sabendo que meus vizinhos estão pelo menos interessado. ele deu de ombros. O chefe me ofereceu um quarto em sua casa até eu me instalar, mas eu simplesmente não quero incomodar. Fiz acordos provisórios em uma pensão administrada por uma mulher chamada Kathy Thornhill, mas o quarto só estará disponível daqui alguns dias.

    Eu fiz uma cara azeda, e Neil levantou uma sobrancelha de questionamento.

    Olha, eu disse. temos um valor mensal para um quarto que é uma quitinete. Provavelmente, um valor melhor do que você conseguiria com a Kathy Thornhill e muito mais privacidade.

    Parece ótimo. Neil sorriu. Eu vou ficar com o quarto.

    Tentando ignorar as borboletas esvoaçando em meu estômago, preenchi o formulário de check-in e passei o cartão de crédito de Neil para a pré-autorização.

    Diga, há algum lugar onde eu possa comer alguma coisa? ele perguntou.

    "Bem, há o Finer Diner, mas fecha às dez, exceto nos fins de semana. olhei para o relógio na parede, eram quinze para as onze. Bem, já não dá mais tempo. Você poderia tentar The Trough."

    "The Trough?"

    Bar country. expliquei. Está aberto a noite toda e tem um menu de porções individuais. Pelo menos você pode pagar por um prato de batatas fritas ou asinhas ou algo do tipo. O dono, Jack Creel, é um pouco rabugento, mas a comida é boa.

    Neil fez uma careta. Tudo bem então. Eu não estou realmente com humor para Hank Williams Jr.

    Eu ri. "Tenho certeza de que atualizaram as playlists deles nos últimos cinquenta anos. entreguei a ele o formulário. Vou pedir para você assinar isso."

    Enquanto Neil assinava, peguei a chave do quarto e a coloquei no balcão. Quarto doze à direita.

    Obrigado. Se importa se eu pegar um pouco de café?

    Olhei para a mesa de café, que eu ainda não havia abordado na minha missão de organizar a recepção.

    Com um gesto em sua direção, eu disse: É o seu funeral.

    Neil riu e enfiou a chave do quarto no bolso da frente da calça jeans. Andou até a mesa de café e se serviu de uma xícara de café. Com uma careta, ele olhou para o café e disse: Você não estava brincando.

    A porta da frente se abriu e três homens entraram, seus rostos pareciam ameaçadores. De repente senti meu estômago revirar.

    Barry Burke era um dos maiores homens de Middleton, tanto em altura quanto em largura. Embora estivesse a caminho de cultivar uma boa barriga de cerveja, não havia dúvida que por baixo daquela camada de gordura, havia um homem poderoso. Não parecia que ele havia se barbeado há alguns dias, e enquanto ele falava, eu podia sentir o cheiro do álcool em seu hálito.

    Bem, isso não é um chute no saco. ele disse em voz alta, destinado à sua plateia. Tanto Troy quanto Frank riram em apreciação. Eu os conhecia muito bem. Troy Hartman era uma pequena doninha em forma de homem. Eu tinha esquecido tudo sobre seu sorriso lascivo e sua risada. Frank Simmons, olhos escuros e ameaçadores, tinha um traço malvado nele que sempre me deixava com um calafrio. Ele ergueu uma garrafa de cerveja meio vazia até a boca e inclinou-a de volta.

    Da mesa de café, Neil

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