Decepção: Curando as feridas da traição

Bibliografia

Prefácio

Estou muito honrada e agradecida por ser capaz de recomendar este livro! Felicito a Dra. Sheri Keffer por reunir tudo o que aprendemos a respeito do que ajuda as mulheres a curarem a traição seguinte com um recurso útil e que oferece esperança. 

Como uma antiga pioneira e voz para as esposas sexualmente traídas, sei o quanto precisamos de recursos que sejam completos, excelentes e atualizados. Precisamos de um livro abrangente sobre este tema difícil, escrito para as vítimas e sobreviventes de traição, e minha amiga e colaboradora Dra. Sheri Keffer escreveu este livro que trata justamente deste assunto. Decepção: Curando as feridas da traição vai ser uma das principais obras escritas tendo em mente as necessidades específicas da esposa ou da companheira traída. Este livro vai se tornar uma tábua de salvação para as mulheres que têm experimentado o que muitos consideram o pior dos piores: a traição sexual (na forma de romances sexuais ou infidelidade romântica, engano sexual contínuo, ou o que muitos chamam de vício sexual) nas mãos da pessoa mais confiável em suas vidas.

Dra. Keffer faz um trabalho incrível de fornecer informações úteis através da sua história pessoal e reflexões, por meio das experiências de outras mulheres, e pelo compartilhamento de informações psicologicamente sólidas sobre trauma e recuperação do trauma. As histórias são reais e vão se identificar com quem se encontra nesta jornada. Este livro vai envolver, orientar e incentivar aquelas que se sentirem abandonadas e feridas, quando a Dra. Keffer incorpora dados de pesquisa atuais para apoiar o processo de cura. Ela também fornece práticas e ferramentas eficazes para ajudar a gerenciar e transformar os efeitos traumáticos frequentemente experimentado pela esposa traída. Além disso, ela oferece encorajamento espiritual para aquelas que se encontram em meio a um engano íntimo e que muitas vezes se sentem abandonadas e traídas por suas comunidades de fé, e até mesmo por Deus. 

Aquelas que experimentam a traição muitas vezes acham que ocorre o mesmo com as pessoas com quem elas procuram ajuda: suas conselheiras ou suas líderes espirituais. Encorajo as pessoas dispostas a ajudar para que leiam este livro para entender melhor as necessidades da traída — e, em seguida, passe-o para uma colega. 

Você está procurando por um livro que seja prático, que confirme, incentive e esclareça, você já o encontrou. Você achará ajuda e esperança nestas páginas! 

Dra. Barbara Steffens, LPCC,

Especialista em Parceiros Clínicos (CCPS)

Presidente da Associação de Especialistas em Traumas de Parceiros de Viciados em Sexo Trauma (APSATS)

Co-autora do livro: Your sexually Addicted Spouse: How Partners Can Cope and Heal

Prefácio

Se você é uma companheira lutando contra os desafios dolorosos da traição sexual, este livro é para você. Com frequência, a traição sexual é parte de um padrão contínuo, como ocorre com o vício sexual, e essas traições podem ser extremamente traumáticas para as companheiras. Quando você está diante dessa situação você está compreensivelmente muito ferida, irritada e devastada. Você não está sozinha. Na verdade, esta é a reação mais comum para as mulheres traídas.

Sheri ajuda você a entender a natureza e a força das suas reações pós-traumáticas — as coisas que fazem você se sentir mal sobre si mesma, como se o comportamento do seu esposo é de alguma forma culpa sua (o que não é!). Quando visto por este ponto de vista, a sua ansiedade, sua autoimagem distorcida e sua hiper-excitação de repente faz sentido. Você não vai mais se sentir louca por pensar, sentir e responder desta forma. Felizmente, a mensagem quente e acolhedora de Sheri Keffer normaliza os grandes e aparentemente pensamentos conflitantes e emoções que você possa ter sentido.

Desde o início, Sheri torna claro o impacto completo que o trauma da traição pode ter sobre a sua vida. Não é apenas o seu relacionamento que sofre; é sua autoestima, seus filhos, suas finanças, sua sexualidade, sua saúde física e emocional, e até mesmo sua espiritualidade. Acima de tudo, a sua capacidade de confiar é danificada. Você não pode confiar no seu parceiro para ser fiel sexualmente, então como você pode confiar em qualquer outra coisa que ele diga ou faça? Homens que enganam tendem a ser especialistas em mentir, manter segredos, deturpar, justificar e desviar a culpa de cima de si. Sheri nos oferece relatos verdadeiros que nos servem como ferramentas que podem nos ajudar a confiar em nós mesmas novamente.

O extenso trabalho de Sheri em entender as camadas de feridas, tanto do passado como do presente, ajudará também aquelas que possuem traumas antigos a reconhecerem que não é só a dor do momento causada pela traição sexual do seu cônjuge para o qual você está respondendo. A traição também pode despertar qualquer trauma profundo e doloroso que você já tenha experimentado alguma vez. Se você foi negligenciada, abusada ou abandonada quando ainda era uma criança ou violentada em um relacionamento passado, a traição do seu companheiro irá se sobrepor a essas feridas também. Sheri nos ajuda a ver como nós podemos nos curar saindo da incapacidade e tendo escolhas mais empoderadas.

Ela reconhece que nós precisamos de pessoas de apoio, empáticas para caminhar conosco, proporcionando a você controles reais, e ajudando a tomar decisões difíceis. Este tipo de apoio não é opcional para recuperação e cura; é obrigatório. Você precisa cuidar de si mesma como uma parte integrante do cuidado para a sua família e seu relacionamento.

Através deste livro, Sheri utiliza a sua história pessoal com relacionamentos traídos ao longo da sua importante experiência terapêutica para trazer calor e vida para a sua escrita. Por causa disso, ela tem uma habilidade maravilhosa de fazer as dores difíceis e, às vezes materiais, parecerem suportáveis. Ela tem vivido isso e sobrevivido a isso, e como resultado, ela é a pessoa perfeita para proporcionar conselhos de apoio na sua jornada de restauração.

Dra. Stefanie Carnes, PhD,

Certified Sex Addiction Therapist and Supervisor

President do International Institute for Trauma and Addiction Professionals (IITAP)

Coautora do livro: Mending a Shattered Heart and facing Heartbreak

***

Capítulo 1

Você não está sozinha

Era uma tarde quente de domingo; minhas malas estavam prontas, enquanto eu pegava uma carona de volta ao aeroporto depois de me apresentar em um workshop de três dias a respeito do trauma provocado pela traição. Fiquei agradavelmente surpresa quando Lacey entrou na van exibindo seu cabelo cor de amora, sorriso contagiante e uma jaqueta brilhante de lã roxa. 

Lacey e eu nos conhecemos depois do primeiro dia da conferência enquanto estávamos na faixa de pedestres cruzando uma rodovia de seis pistas perto do hotel.  Eu estava indo para uma loja de conveniência de 24 horas, e ela estava retornando com sua compra na mão.  Quando passamos uma pela outra, Lacey disse: "Você vai querer ir para a esquerda e ficar na calçada perto da pista.  Há um clube de striptease logo depois do posto de gasolina na sua frente, e o estacionamento está cheio de carros e alguns homens do lado de fora." 

Duas mulheres, se encontrando pela primeira vez. Ela me deu todas as informações necessárias para desviar meu caminho.  Nós compartilhamos um vínculo instantâneo de segurança — uma aliança mansa e cuidadosa nascida da dor da traição.  Nossas histórias de vida transcendiam no tempo e no espaço, e o desejo de proteger era instantâneo. Nossa aliança, embora momentânea, era certa e verdadeira. Eu sabia que ela estava me protegendo. Eu estava profundamente grata por seu cuidado protetor. 

Lacey era uma mãe ocupada de três filhos, incluindo sua filha mais nova, que tinha nascido com Síndrome de Down e necessitava de cuidados especiais.

Durante a última década, o marido da Lacey esteve envolvido com pornografia, clubes de striptease e salas de bate papo. Ela tinha chegado ao fim de semana se sentindo arrasada, exausta, cheia de dor e raiva — e estava tentando manter seu casamento.

Vim aqui para encontrar uma forma de lutar pelo meu casamento para que eu possa manter minha família unida, ela nos participou durante nosso tempo aberto para compartilhamento no domingo de manhã. As coisas são difíceis além das palavras, e não sei o que fazer. Antes de vir para este fim de semana com vocês, eu tinha feito as pazes com a morte e fantasiado sobre o avião cair inesperadamente. O coração dela tinha sido tão maltratado, que ela havia perdido a esperança no futuro.

Inesperadamente, Lacey riu e continuou a história dela. Antes de decolar, quando eu estava pensando sobre os benefícios do avião cair, o piloto levou um momento para se apresentar. Eu não poderia acreditar nos meus ouvidos quando uma voz veio do interfone. ‘Este é seu piloto falando. Meu nome é Gabriel.’ Aqui, em um momento de meu mais profundo desespero, percebi que deve haver um plano maior, porque eu estava voando nas asas de um anjo.

Lacey olhou ao redor para as mulheres na sala. Agora, posso respirar novamente, ela disse. Não sei o que vai acontecer com meu marido e a sua recuperação, mas estou indo para casa esperançosa porque sei que não estou mais sozinha. Quero estar aqui para amar meus filhos, e estou ansiosa para ficar conectada com estas incríveis mulheres corajosas.

Enquanto eu estava sentada no Aeroporto Internacional de Reagan à espera do meu voo para casa, recebi uma foto que Lacey tinha feito de nós duas, com ela usando o casaco roxo. Escrevi de volta e compartilhando o significado por trás de sua cor favorita. "Lacey, acabei de ver o significado da cor púrpura, e posso ver por que você ama essa cor. Ela é você: realeza, nobreza, filha do Altíssimo, sedenta, poderosa, criativa, sábia, digna, dedicação, alegria e paz. Você merece uma medalha. Bravo, garota!"

Lacey respondeu, ah, muito obrigada. Eu realmente vivo uma vida púrpura. O nome da minha filha caçula é Violeta; esta é uma cor usada para descrever alguém que é sensível e humilde e se preocupa com os outros menos afortunados. Assim é ela. Vou valorizar estas belas palavras e falar delas para os meus filhos também.

Quando estamos cansadas, temos pensamentos dolorosos. Este é o porquê deste fim de semana ter sido um momento decisivo para Lacey. Ela saiu com uma perspectiva renovada e recebeu três presentes necessários: verdade, empatia, e conexão. Lacey trocou a vergonha de sua experiência por uma nova experiência de ser vista, ouvida, e coberta de consolo. Ela não tem de se esconder mais — nem que ela queira. Mesmo que seu futuro seja desconhecido, a sua identidade foi restaurada e ela tinha encontrado sua força novamente.

A história de Lacey não é a única. Numerosos encontros como este têm impulsionado a minha empolgação para escrever este livro. Nas duas últimas décadas, tenho escutado milhares de histórias através de trocas cara a cara, e-mails, cartas e comunidades on-line de mulheres incríveis que precisam de ajuda e uma verdadeira perspectiva no meio do caos da sua decepção íntima.

Uma vida mudada é uma vida que venceu. Há uma batalha acontecendo por nossas famílias e uma batalha acontecendo por você. Traição sexual, um assassino silencioso, está varrendo nosso globo e continua a tomar seus prisioneiros pelo engano. A solução vem por meio de desmascarar as mentiras e dizer a verdade.

Meu objetivo é ajudá-la a descobrir a verdade sobre o que aconteceu com você e auxiliá-la a recuperar a verdade de quem você realmente é. Vou ajudá-la a aprender estratégias para a restauração de um nível de sensatez para sua vida e seu lar. Como um soldado que está retornando da guerra em que experimentou o horror e o trauma do combate na linha de frente, você está sendo impactada pelo trauma da traição. Você precisa de um plano de batalha que inclui honestidade, comprovação, limites, apoio e ferramentas para trazer a cura.

Você não está louca. A loucura é a condição que tem acontecido secretamente em torno de você. É difícil manter a integridade e a confiança na cultura de hoje. A internet e o fascínio da realidade virtual tornam mais fáceis o desenvolvimento de uma identidade completamente diferente e oculta. Quando engano, mentiras, manipulação, e os truques esgueiram-se em nossos relacionamentos, questionamos quem somos porque nosso senso de segurança e inocência é quebrado.

Você pode ter descoberto livros abordando a traição que contêm dicas e sugestões para lidar com a dor. A única abordagem que você encontrará neste livro é em reconhecer que a traição sexual produz o verdadeiro trauma. Isso é uma realidade. A mais recente pesquisa mostra que as mulheres que, de repente, descobriram as traições do seu cônjuge, podem desenvolver os mesmos sintomas de estresse pós-traumático como vítimas da guerra. Se ignorarmos a verdadeira natureza do trauma, isso se torna uma presença letal que pode impedir da cura acontecer de verdade.

Não importa se nós crescemos em uma família estável e saudável ou em uma família que inclui dor e abuso. Traição e engano íntimo causam uma ruptura traumática de confiança. A chocante reviravolta dos acontecimentos interrompe nossas vidas, compromete nossa segurança e nos devasta. Robert Weiss, um especialista em traição, afirma, "a maioria das pessoas afetadas pela infidelidade sexual ou romântica em série de um cônjuge, não é tanto o sexo extraconjugal ou affair, em si, que causa a dor mais profunda. O que mais fere os parceiros comprometidos é que a confiança e a crença na pessoa mais próxima a eles têm sido quebrada."¹

A traição leva todos cativos quando o engano íntimo atravessa todas as fronteiras, atinge todas as idades, linha socioeconômica, gênero e fé. Como minha história se desenrolou dentro de uma comunidade de fé, tenho incluído dois capítulos nos quais compartilho minha desilusão e perda de fé e como redescobri a esperança quando fui curada.

Para efeitos deste livro, decidi usar termos como companheira, cônjuge traído, esposa inocente, mulheres e esposas, sempre que for possível para descrever a pessoa ferida pela traição. Quando se fala sobre a intenção de trair, tenho usado termos tais como cônjuge infiel, cônjuge traidor, traidor, viciado em sexo e marido sexualmente viciado. O cerne da questão aqui é olhar para como o engano sexual de todos os tipos de infidelidade sexual cria feridas em nós. Do mesmo modo como procuramos soluções para a cura de nossos traumas, a pesquisa mostra agora que podemos nos recuperar e até mesmo nos tornar mais fortes.² Ainda que este livro seja baseado em minha pesquisa atual com as mulheres, minha esperança é que as informações contidas nestas páginas possam ser úteis para todos os cônjuges impactados, tanto homens como mulheres, que têm experimentado a traição e estão tentando se curar das devastações provocadas pela decepção íntima.

Muitos cônjuges com trauma de traição apresentam sintomas de estresse pós-traumático depois de descobrir sobre atos sexuais enganosos. Se esta foi a sua experiência, existem opções comprovadas de tratamento disponíveis para você. Encorajo-as a fazer uma viagem comigo através deste livro. Como se estivesse minerando por ouro, cada capítulo permitirá que você peneire as águas escuras do que aconteceu com você quando olha para as pepitas necessárias para restaurar o seu coração. Na parte 1, você terá a oportunidade de avaliar como o engano íntimo lhe impactou. Incluí um questionário no próximo capítulo para ajudá-la a identificar sintomas de traição sexual que você pode atualmente estar experimentando. Na parte 2, iremos explorar sua história única e como este novo trauma pode ter entrado em conflito com algum ferimento prévio ao longo de sua vida. A parte 3 dá tempo para uma reflexão profunda sobre como cada parte do seu ser (cérebro, mente, corpo, espírito e sexualidade) pode ter sido comprometida, e dá passos atenciosos para como mudar. A parte 4 traz o foco de laser para os pontos críticos que devem ser abordados para reconstruir a confiança que tem sido perdida. A parte 5 fecha nossa jornada juntas com conceitos cheios de esperança de como fazer o trabalho necessário para você chegar ao outro lado onde possa encontrar a si mesma agora.

Como Lacey, você é digna. Você merece um tratamento competente, compassivo e eficaz. Se você estiver disposta a dar o primeiro passo em direção à mudança — esperança e cura estão esperando por você.

Capítulo 2

Uma perda dolorosa

Você não precisa ir além do Facebook, da última palestra do TED (Tecnologia, Entretenimento, Design) * ou até mesmo da porta da frente da sua própria casa para ver o impacto devastador do engano sexual e da traição.  Existe até um nome para isso: Trauma por Engano Íntimo e Traição ® (Intimate Deception Betrayal Trauma™ — IDBT).¹ A origem da palavra traição (em inglês: betrayal) traz em sua raiz (bitrayen, no inglês médio) o significado de enganar, iludir.² De acordo com o Dr. Frank Seekins, o termo traição remonta ao hebraico antigo, no qual, muito parecido com as antigas línguas chinesas, egípcias e árabes, cada palavra é formada pela adição de imagens e sons que se unem para pintar ou ilustrar o significado da palavra. Duas ideias são transmitidas: trair (reema), ou o que vem de uma pessoa do caos,³ e enganar (badad), ou esconder, encobrir, ofender, lidar infielmente ou saquear.⁴ A traição é um ato deliberado de deslealdade destinado a enganar ou ludibriar mentindo e quebrando a confiança de alguém.⁵ O que aconteceu com você é verdadeiramente traumático.  De fato, pesquisas apontam para o impacto do trauma da traição como estresse pós-traumático.⁶

Pense sobre:

• o choque

• o impacto profundo

• a descrença da mente entorpecida sobre o que aconteceu

• as palavras que você tem lido, as imagens que você tem descoberto, as conversas que você tem ouvido por acaso, ou a situação inesquecível que você entrou sem saber

É como entrar em um ninho de vespas zangadas. Hemorragia por overdose de veneno peçonhento pode ser um caminho mais misericordioso para seguir.  Pense nas inúmeras semelhanças.  Uma abelha só pode picar uma única vez e seu ferrão se aloja em sua vítima, acabando com a vida da abelha.  Mas um ferrão de uma vespa permanece intacto, por isso pode picar mais e mais.  Quando uma mulher traída ainda está vivendo com um marido viciado em sexo ou um enganador em série, a dor crônica e o engano em curso constante pica o cônjuge desavisado repetidas vezes.

Estamos andando feridas. Tenho ouvido as suas histórias e tenho as minhas próprias. A dor é insidiosa, e estou profundamente triste com o que aconteceu com você. Como aquele que você escolheu amar poderia compartilhar intimidades sagradas com outra pessoa?  Como isso pode ter acontecido com você?

Eu Sei, Aconteceu comigo também

Era um lindo dia de verão. Através da nossa janela, raios de sol eram como dedos lançando sombras dos pinheiros em movimento sobre o chão. Como uma tradição anual, meu marido, Conner,* e eu estávamos no nosso acampamento de verão da igreja. O riso das crianças correndo atrás umas das outras enquanto jogavam balões de água entre as cabanas permeava as paredes.

Eu estava entorpecida. O que há de errado comigo? Pensei. Por que os cantos da sala fazem com que ela se pareça tão escura, funda e pequena? Sentia-me como se estivesse presa em um túmulo. Eu mal podia respirar e a depressão era pesada, como se alguém estivesse sentado no meu peito. Eu não queria nada mais do que estar longe daquele lugar e até mesmo ainda mais longe da farsa que eu estava enfrentando na minha vida e no meu casamento.

Alguém bateu na minha porta. Jenna, um beijo de luz de sol de onze anos, tinha vindo para ver se eu estava jantando na lanchonete do melhor frango frito do universo naquela noite. Como abri a porta, seus olhos bondosos e sorriso brilhante me encontraram como um cartão de saudação na minha varanda. Ela disse, Ouvi dizer que você estava doente e queria ver se você estava se sentindo bem o suficiente para sentar ao meu lado esta noite.

Aquilo me matou e me levou para dizer que não. Perdoe-me, Jenna, ainda não estou me sentindo bem. Talvez amanhã, nós vamos ver como vai ser.

Com uma expressão de desapontamento, ela disse: Ah, tudo bem. Espero que você fique boa logo.

Como qualquer menina jovem faria, Jenna virou-se para mim, antes de sair, e disse: Apenas amo acampar. Conner torna isso muito mais divertido. Algum dia espero me casar com alguém como ele.

Você poderia ter me atingido com um carro 2 x 4. Sinceramente não me lembro do que aconteceu depois, ou até mesmo se fechei a porta. Senti meus joelhos se dobrarem embaixo de mim e tudo o que pude ouvir na minha cabeça foi uma voz gritando: Não, Jenna, não... Corra!

Mantive um segredo por anos. Nosso segredo. Eu só não podia mais fazer isso. Fingir estava me deixando doente e eu estava morrendo por dentro. Eu era casada com um pastor, um homem do púlpito. Ninguém me disse que o púlpito poderia ser associado com algo muito parecido com arsênio — pornografia. Quanto mais tempo uma pessoa a respira, pior fica.

Minha conversa com Jenna me despertou do nível de depressão que eu estava vivenciando. No dia seguinte, fui intencionalmente cercada por um pastor que gentilmente perguntou: Como você está, Sheri? Você não me parece tão bem.

Como um balão inflado e pronto para explodir, soltei: Não está bem, não está bem. Simplesmente não posso mais fazer isso.

Fazer o quê? Ele parecia atordoado e preocupado.

Não posso ficar quieta a respeito da pornografia ou manter um segredo sobre o que está acontecendo em nossa casa.

Minhas palavras se tornaram um ponto crítico que desencadeou uma longa trilha de dominós firmemente colocados que começou a inclinar, colidir e cair em cascata. Em poucas horas nós estávamos no escritório do pastor sênior para nossa primeira série de intervenções. Então Conner e eu partimos para um programa de tratamento para pastores e esposas com problemas. Imediatamente após o nosso retorno para casa, Conner foi afastado da sua posição na igreja e tornou-se um desempregado. Não era surpresa que, em longo prazo, o uso de pornografia e o púlpito não se misturavam. O vício em sexo de Conner impactou não apenas meu coração, mas também nossa subsistência financeira. Ele entrou e saiu de vários empregos, tentando manter o pagamento da casa intacto e comida na mesa. Perdemos nossa comunidade da igreja. Nós perdemos os amigos. As pessoas se espalharam — como grilos. Podemos também ter pegado lepra.

Nós também estávamos envergonhados de dizer às pessoas o que realmente tinha acontecido. Continuamos no modo de isolamento e de sobrevivência, cegamente tentando fazer o nosso caminho e manter os pés no chão. Esperando que isso fosse embora por si só, sem precisar de ajuda.

Só piorou.

Pelo que pude ver, Conner não levou a sério a sua recuperação do seu vício em sexo e tinha parado de assistir a suas reuniões de 12 passos. Os homens costumam dizer que seus problemas com a pornografia ou sexo por telefone não são tão graves quanto de outros homens, ou que eles não são mais um problema. Mesmo que eu não tivesse provas de um caso, meu instinto dizia-me que lá tinha mais. Lembrei-me do cabelo escuro e comprido, que tinha encontrado no banco da frente do seu caminhão. Lembrei-me da conversa que tivemos sobre ele ir para um passeio com vários colegas de trabalho — e eu não ter sido convidada. Tentando encaixar as peças de um quebra-cabeça, lembrei de quando nos conhecemos.

Ele Era tudo aquilo e muito mais

Era o meu penúltimo ano no Instituto Bíblico. Eu estava viajando em um grupo musical com seu irmão mais novo, Jeff. Uma noite após uma apresentação, falei brincando com Jeff, Ei, se você descobrir que tem um irmão há tanto tempo perdido, permita-me conhecê-lo. Fiquei surpresa quando Jeff disse, Tenho um irmão. Ele é pastor e vive na costa oeste. Foi apenas uma questão de semanas antes de Conner aparecer em um concerto para me ouvir cantar.

Seu bronzeado de rapaz da praia, sorriso largo, cabelo ondulado e riso contagiante eram o quadro perfeito ao redor de seu charme. Eu estava fascinada. Conner e eu namoramos à distância durante um ano e tivemos doze fins de semana curtos para conhecermos um ao outro antes de estarmos casados. O que estávamos pensando? A cada mês eu mal poderia esperar para vê-lo. Ele trouxe o melhor de mim. Lembro-me dos voos das companhias aéreas, quando eu o surpreendia ao chegar vestida de algum tipo de fantasia idiota.

A minha favorita era uma mistura entre o coelhinho da Páscoa, segurando uma placa que dizia Uma coelhinha ama você e a roupa de Conehead da série Saturday Night Live com um cartaz que dizia Feliz Dia dos Namorados de Um Bonitão para o Outro. Foi minha intenção divertida para descer na rampa de saída do aeroporto, causar uma impressão e vê-lo se constranger.

Eu não poderia resistir querendo aconchegar-me em seu pescoço, sentir seu abraço afetuoso e embriagar-me com o frescor de seu perfume. Conner era bem animador, e eu amava a forma como ele contava histórias sobre suas aventuras loucas. Ele mandava cartões com histórias divertidas, uma recordação do fim de semana que apenas tínhamos compartilhado juntos. Eu estava apaixonada.

Você pode imaginar minha surpresa depois do nosso noivado quando Conner admitiu que tinha feito uma chamada de telefone para o número 0900. Uma chamada para um telefone 0900? O que é isso? Perguntei hesitante. Ele não poderia trazer seu olhar nos meus olhos, quando ele disse, é um linha de sexo pelo telefone. Sinto muito, Sheri. Não vou fazer isso novamente. Você me perdoa? Fiquei chocada. Eu nunca tinha ouvido falar de uma linha de telessexo antes e não estava certa do que fazer. O que sei é que o dia tornou-se uma parte da nossa história que foi manchada com alguma coisa que eu não poderia lavar.

Eu estava confusa e com o coração partido. Liguei para o irmão dele, Jeff, e perguntei se poderíamos nos encontrar. Eu confiava em Jeff e sabia que ele seria honesto. Conner me disse que ele fez uma ligação para o telessexo (0900). Você não sabe nada sobre isso? Lembro de Jeff olhando ao redor do campus da faculdade e dizendo, É um número de telefone de uma linha de sexo. A maioria dos caras por aqui ligam para esse número uma vez ou outra. Se lhe disserem que não, eles estão mentindo. Eu não deixaria que isso incomodasse você, Sheri, principalmente porque ele já conversou com você sobre isso.

A resposta dele ia me trazer alívio? Acho que foi a melhor tentativa de Jeff de me assegurar que estava tudo bem. Mas me senti mal por dentro. Como eu poderia ter ignorado o fato de que o telessexo era tão comum? O que era sexo por telefone afinal de contas? Onde eu tinha estado este tempo todo? Em que planeta eu estava?

Lembro de tentar me acalmar dizendo: Bem, não sou perfeita, e já fiz coisas das quais me arrependo. Eu queria acreditar que tudo ia ficar bem e não ouvi a minha intuição. Então, fui para casa naquele dia, e na quietude do meu quarto, lutei com a dor, chorei, orei e perdoei o Conner. Eu acreditava que era a coisa certa a ser feita.

O Fim do Fingimento

Espiritualizei o problema naquele dia e o deixei de lado. Não pensei nisso novamente ou até mesmo fiz perguntas a Conner para entender melhor a profundidade e amplitude de seu problema com o sexo por telefone. Eu queria acreditar que a ligação para o telessexo foi um evento único. Pensei que perdão, amor e satisfação das necessidades sexuais dele no casamento cuidaria do problema.

Eu acreditava que o nosso amor era suficiente. Eu estava errada.

Fiquei chocada no primeiro ano do nosso casamento, quando encontrei cobranças elevadas na fatura do cartão de crédito que não faziam sentido. Quando olhei melhor a data, notei que era 13 de fevereiro.

O fim de semana do dia dos namorados — você está brincando comigo? Foi nessa época que desenhei corações vermelhos na parede, cozinhei galinha Cornish pela primeira vez e o recebi na porta vestida de lingerie rosa choque. Não importa o que fiz, como cozinhei, ou que eu usava. Nunca foi suficiente.

Meses depois veio outra conta pesada para o telessexo. Não importa se eu estava em casa ou não: o ato sexual continuava. Foi quando parei. Percebi que minha vida tinha se tornado insegura. Meu sonho de como seria nossa vida de casados tinha sido abalado; em seu lugar estava uma caverna escura de segredos sem fim à vista. Senti-me impotente sobre algo que eu não poderia mudar, então, por um período de tempo, parei de olhar. Não fiz perguntas ou quis ver o que estava acontecendo. Aprendi como viver, colocando minhas suspeitas em um recipiente hermeticamente fechado, onde nem mesmo ar poderia entrar e eu não teria que olhar.

Eu não queria ver. Eu não queria saber.