Ensino e Formação de Professores de Línguas Estrangeiras para Crianças no Brasil
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Ensino e Formação de Professores de Línguas Estrangeiras para Crianças no Brasil - Juliana Reichert Assunção Tonelli
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS
AGRADECIMENTOS
Redigir os agradecimentos de uma obra que envolve muito mais que seis mãos, nos leva a rememorar a motivação inicial para empreender o mapeamento aqui apresentado e a trajetória percorrida.
Sendo assim, agradecemos profundamente às autoras que acreditaram na presente obra e generosamente compartilharam seus textos – recortes de pesquisas mais amplas e riquíssimas – tornando este sonho possível.
Agradecemos profundamente a todos/as que ousam pesquisar formação de professores e ensino de línguas de línguas estrangeiras para crianças no Brasil. Por ser uma temática que timidamente ganha algum destaque no contexto de pesquisas acadêmicas, reconhecemos que empreender pesquisa neste contexto demanda coragem e ousadia.
Nossa profunda gratidão aos membros do Grupo de Pesquisa Felice* (Capes/ CNPq) que garimpam teses e dissertações no campo investigado e constantemente enriquecem nosso banco de dados. Valeu, gente!
Longe de formalidades, agradecemos a Deus que dia após dia renova nossas forças e nos permite ir em frente. Nele tudo é possível, em todo o tempo!
Ebenézer até aqui nos ajudou o Senhor! (1 Samuel 7:12)
As organizadoras
Londrina, inverno de 2017.
* Eduardo Pimentel da Rocha
Izabella Ribeiro Bill
Lívia de Souza Pádua
Otto Henrique Silva Ferreira
Paula Aparecida Ávila
Raquel Franciscatti dos Reis
Tamara Cristina Rommel
Thays Regina Ribeiro de Oliveira
Ticiane Rafaela de Andrade Moreno
Apresentação
A tarefa do educador moderno não é derrubar florestas, mas irrigar desertos.
C.S Lewis
Thays Ribeiro
Lívia de Souza Pádua
Juliana Reichert Assunção Tonelli
Nos últimos anos o número de crianças (0 à 12 anos) aprendendo uma língua estrangeira no contexto brasileiro vem crescendo cada vez mais. Uma das consequências desta realidade é o aumento de dissertações e teses desenvolvidas em diferentes Instituições de Ensino Superior no Brasil. Isto posto, os integrantes dos projetos "O Trabalho Do Professor No Ensino-Aprendizagem Da Língua Inglesa Para Crianças: Uma Proposta De Formação Docente¹ e
Orientações Didático-Pedagógicas para o Ensino de Inglês na Séries Iniciais²", da Universidade Estadual de Londrina - coordenados pela primeira organizadora desta coletânea - realizaram um mapeamento de pesquisas desenvolvidas acerca do ensino e aprendizagem e/ou formação de professores de línguas estrangeiras para crianças em programas de pós-graduação no Brasil. Desse modo, esta obra objetiva reunir alguns dos trabalhos identificados cujas temáticas contemplam o ensino e a aprendizagem e/ou formação de professores de línguas estrangeiras para crianças – Educação Infantil e/ou Primeiro ciclo do Ensino Fundamental (1o a 5o ano) em diferentes Estados brasileiros. Os autores colaboradores trazem os resultados de pesquisas realizadas e de suas práticas enquanto professores/pesquisadores que atuam nos campos supramencionados. Os capítulos da coletânea estão organizados conforme as cinco macrorregiões brasileiras, propostas pelo IBGE para facilitar questões administrativas, de modo que cada uma dessas apresente ao menos um artigo representando um dos Estados brasileiros com relação à temática em apreço.
Assim sendo, da Região Norte temos o artigo A educação bilíngue eletiva no Brasil: desafios e perspectivas do biletramento
, de autoria de Sheylla Chediak, representando o Estado de Rondônia, que nos faz refletir com seu texto questões referentes à educação bilíngue nos contextos de fronteira, minorias linguísticas, imigração e elitismo.
Da Região Nordeste trazemos o artigo A introdução da língua inglesa no EFI público à luz dos multiletramentos: possibilidades e reflexões
escrito por Christiane Batinga Agra e Sérgio Ifa, representando o Estado de Alagoas, autores estes defendem o ensino/aprendizagem de línguas adicionais no Ensino Fundamental I da rede pública por crerem ser as línguas essenciais à formação do sujeito.
Na Região Centro-Oeste, temos dois Estados representados nesta coletânea. No Mato Grosso evidenciamos o artigo Oficina de língua inglesa para criança: uma sequência didática com gênero textual em ação
de Vera Lucia de Oliveira Pereira Buose e Leandra Inês Seganfredo Santos, que crêem que por meio destas oficinas seja possível a construção do conhecimento, bem como a inserção das crianças no mundo contemporâneo, proporcionando-lhes caminhos para a comunicação em uma língua estrangeira, que resultará na transformação social do público.
O Distrito Federal é representado pelas autoras Maria Eugênia Sebba Ferreira de Andrade e Mariney Pereira Conceição que escreveram o artigo Letramento em língua estrangeira no ensino fundamental: ampliando o exercício de cidadania das crianças brasileiras
, afirmam que nós, professores de língua estrangeira devemos participar ativamente em defesa da inserção da língua estrangeira no currículo do Ensino Fundamental I e buscar o interesse das crianças em aprender um outro idioma.
Ainda na Região Centro-Oeste, no Estado de Goiás, Flaviane Montes Miranda Lemes é autora do artigo Formação crítica docente e seu reflexo no ensino crítico de inglês para crianças: experiências transformadoras
, artigo este que clama por uma nova forma de pensar o ensino de inglês, pelo viés da perspectiva crítica, que busca a compreensão da língua como um meio onde o indivíduo seja construído.
Na Região Sudeste, e representando Minas Gerais, dispomos do artigo Multimodalidade e design gráfico: websites educacionais em inglês para crianças de 6 a 10 anos
escrito por Simone Frade, Raquel Bambirra e Reinildes Dias. Estas autoras trazem à tona a necessidade de repensar a construção de significados, em razão dos modos semióticos e multimodais, que dão origem a diversos gêneros impressos e digitais presentes no cotidiano dos alunos (e nosso também), e que requerem o desenvolvimento de multiletramentos para compreender esses gêneros de modo crítico.
No Estado de São Paulo apresentamos o artigo intitulado Ensino de inglês como língua estrangeira para crianças: a qualidade do insumo oral
das autoras Camila Sthéfanie Colombo e Douglas Altamiro Consolo, preocupados com a maneira como se ensina língua estrangeira a crianças na atualidade em virtude da ausência de orientação político-pedagógica nos cursos de graduação em Línguas, propõem em seu capítulo apresentar e discutir acerca de uma investigação da qualidade de insumo linguístico oral produzido por professoras de inglês para crianças do segundo ano do Ensino Fundamental I em três contextos: escola regular pública, escola regular básica e escola de idiomas.
Na Região Sul, do Estado do Paraná exibimos o artigo Política pública para implementação do ensino de língua inglesa nos anos iniciais do ensino fundamental: o exemplo de Rolândia, PR
de Mariana Gomes Bento de Mello, que, partindo dos pressupostos de oferta de língua estrangeira para crianças, propõe em seu capítulo discutir aspectos políticos e ideológicos da implementação de língua inglesa para crianças no município de Rolândia-PR, destacando as justificativas e os desafios desse ato.
Ainda na Região Sul, trazemos dois artigos representando o Estado do Rio Grande Do Sul. O primeiro, das autoras Clarissa Leonhardt Borges e Karen Pupp Spinassé nomeado Os rumos do ensino de alemão na educação infantil: da teoria à prática ou da prática à teoria?
nos apresenta dentro da seara de línguas estrangeiras para crianças a língua alemã, presente nas tradições culturais da região sul do país devido à colonização alemã em meados do século XIX. Em seu capítulo, as autoras destacam as variedades dialetais ali presentes, que guardam semelhanças com o alemão standart, explanam algumas especificidades do ensino do idioma padrão para crianças com vistas a estimular o debate entre a academia e profissionais.
O segundo artigo do Rio Grande do Sul, "The Crazy Car Story: um projeto em língua inglesa na educação infantil", de Helena Vitalina Selbach e Simone Sarmento. Este último capítulo é um recorte da dissertação de mestrado da primeira autora sob a orientação da segunda. Nele as autoras relatam que a ideia do projeto surgiu após o insucesso de suas aulas no período em residiu e ministrou aulas no Japão à crianças de dois anos, devido ao método e estratégias completamente engessados, que levou-as a traçar propostas que materializassem conceitos de cidadania, ludicidade e fruição, presentes nos documentos oficiais das áreas das linguagens para a Educação Infantil aqui no Brasil, que infelizmente nada contemplam sobre as línguas estrangeiras.
Para finalizar, ressaltamos que esta obra foi concebida para que estudantes de graduação, pós-graduação, professores e pesquisadores, vislumbrem o cenário brasileiro consoante à temática, bem como sirva de estímulo à futuras pesquisas na área de línguas estrangeiras para crianças. Além disto, esperamos, a partir dos artigos aqui publicados, contribuir com a construção de uma sociedade que reconheça a necessidade (e assuma a responsabilidade) de todas as crianças aprenderem uma língua estrangeira para serem, por meio das interações entre os diferentes idiomas, cidadãs críticas e conhecedoras de seu papel no mundo globalizado.
As autoras
Londrina, junho de 2017.
PREFÁCIO
A exposição à alteridade constitui, segundo os PCN (BRASIL, 1998), uma das principais justificativas para a inclusão de uma língua estrangeira moderna no currículo do ensino fundamental. Há quase duas décadas, o documento já enfatizava o quanto o contato com uma língua adicional pode contribuir para o/a aluno/a ampliar sua percepção de outrem, do mundo e de si mesmo. Isso porque ao entender o outro e sua alteridade, pela aprendizagem de uma língua estrangeira, ele aprende mais sobre si mesmo e sobre um mundo plural, marcado por valores culturais diferentes e maneiras diversas de organização política e social
(BRASIL, 1998, p. 19).
Com o desenvolvimento tecnológico que vivenciamos desde a publicação dos PCN e o acesso mais amplo aos novos letramentos digitais da web 2.0, propiciado por tecnologias móveis como tablets e smartphones, basta alguns cliques para adentrar outras paisagens, conhecer novas formas de ser e de estar no mundo. Em um mundo no qual barreiras entre eu/outrem, público/privado, língua materna/estrangeira, entre outras, tornam-se cada vez menos delineáveis, é frequente vermos crianças bem pequenas, de 2 anos ou até menos, terem contato com vídeos, canções, desenhos, games em uma língua adicional, especialmente o inglês, por meio de suportes como YouTube, Netflix, canais de TV por assinatura como Discovery Kids e de apps diversos. Além de lançar mão de múltiplas semioses (vídeos, cores, imagens, textos, sons etc.), as práticas de letramento em que os/as pequenos/as se engajam frequentemente hibridizam diferentes línguas no processo de construção de sentidos, caracterizando-se, conforme definição de Jacquemet (2005), como práticas transidiomáticas.
Se, por um lado, é fato que o contato com línguas adicionais e práticas transidiomáticas foi facilitado e intensificado pelas novas Tecnologias da Informação e Comunicação, por outro, o acesso à mobilidade dentre práticas de letramento em outras línguas no Brasil continua limitado às crianças de famílias mais abastadas. Por serem expostas a (multi)letramentos em línguas adicionais (especialmente em inglês) desde muito cedo em escolas (em geral particulares e, frequentemente, bilíngues), cursos de idiomas privados, mediante tecnologias móveis, TV paga, (inter)ações com familiares e/ou viagens, essas crianças integram os 20% da população mundial que, segundo Phillipson (2001), podem consumir mais amplamente recursos materiais e semióticos disponibilizados pela globalização, os quais (re)circulam especialmente em língua inglesa. Se considerarmos que a LDBEN 9394/96 (BRASIL, 1996) só prevê a oferta obrigatória de uma língua estrangeira moderna a partir do 6º ano do ensino fundamental, não é exagero afirmar que, no que diz respeito ao acesso aos (multi)letramentos em línguas adicionais, a própria legislação brasileira vem contribuindo para legitimar diferenças entre o ensino público e privado e, portanto, processos de exclusão social.
Diante desse cenário, é urgente questionar as consequências sociais acarretadas pela falta de políticas públicas voltadas para o ensino de línguas adicionais na educação infantil e no primeiro ciclo do ensino fundamental bem como discutir (inter)ações situadas em contextos diversos que trazem questões acerca do ensino-aprendizagem e formação de professores de línguas estrangeiras para crianças (LEC) para o centro da agenda política. É justamente o que faz a coletânea ENSINO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PARA CRIANÇAS NO BRASIL, organizada por Juliana Reichert Assunção Tonelli, Lívia de Sousa Pádua e Thays Regina Ribeiro de Oliveira. Ao retratar questões envolvendo LEC sob lentes diversas e em diferentes regiões do Brasil, a obra nos revela a efervescência da pesquisa nessa área e a necessidade da Linguística Aplicada e outros campos voltados para os estudos situados das línguas (e linguagens) problematizar de forma mais efetiva as práticas e políticas (ou falta de) voltadas para o ensino-aprendizagem de línguas adicionais na infância e formação inicial e continuada de professores para esse público.
Além de fornecer, especialmente no primeiro capítulo, um mapeamento das pesquisas sobre ensino de línguas estrangeiras e formação de professores para crianças em diferentes regiões do Brasil, os demais 10 capítulos que integram a coletânea vão tratar de práticas significativas e situadas de construção de conhecimento da língua adicional para crianças (capítulos 2, 3, 4, 8, 10, 11); de crenças de alunos/as sobre a aprendizagem de língua estrangeira na infância (capítulo 5); da formação de professores de línguas estrangeiras para crianças (capítulo 6); de recursos didáticos para o público infantil, voltados à aprendizagem de inglês (capítulo 7); e de políticas públicas a nível municipal para implementação da língua inglesa nos anos iniciais do ensino fundamental (capítulo 9).
Superando totalmente a hipótese do período crítico que por muito tempo dominou (e, em certa medida, ainda influencia) os estudos sobre aquisição de língua estrangeira para crianças, os capítulos desta coletânea desenham paisagens acerca da área de LEC comprometidas com uma linguística implicada com (trans)formações sociais. No (re)desenho esboçado, concepções como bilinguismo, (multi)letramentos, crenças, multimodalidade, gêneros, sequências didáticas, ideologia, globalização, entre outros, são convocados para defender a ideia de que a introdução de línguas adicionais na educação infantil e no primeiro ciclo do ensino fundamental é, antes de qualquer coisa, condição sine qua non para a inclusão social em um mundo no qual os significados são cada vez mais construídos a partir de múltiplas semioses e línguas(gens).
A obra, portanto, engaja os/as leitores/as em profícuos debates sobre questões relacionadas ao ensino-aprendizagem e à formação de professores de línguas adicionais para crianças, incitando-os/as a pensar em (inter)ações que tragam tais questões para o centro de políticas públicas em âmbito nacional e regional. Deixo registrada a urgência de participar desses debates e (inter)ações. Boa leitura!
Paula Tatianne Carréra Szundy
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Associação de Linguística Aplicada do Brasil (presidente, biênio 2016-17)
Referências
BRASIL. SEF/MEC. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, DF: MEC, 1996.
______. SEF/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais – 3º e 4º ciclos do Ensino Fundamental – Língua Estrangeira. Brasília, DF: SEF/MEC, 1998.
JACQUEMET, M. Transidiomatic practices: language and power in the age of globalization. Language & Communication, n. 25, p. 257-277, 2005.
PHILLIPSON, R. English for globalization or for the world’s people? International Review of Education, v. 47, n. 3-4, p. 185-200, 2001.
Sumário
CAPÍTULO 1
O ESTADO DA ARTE DE PESQUISAS SOBRE ENSINO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PARA CRIANÇAS NO BRASIL
Juliana Reichert Assunção Tonelli
Lívia de Souza Pádua
CAPÍTULO 2
A EDUCAÇÃO BILÍNGUE ELETIVA NO BRASIL: DESAFIOS E PERSPECTIVAS DO BILETRAMENTO
Sheylla Chediak
CAPÍTULO 3
A INTRODUÇÃO DA LÍNGUA INGLESA NO EFI PÚBLICO À LUZ DOS MULTILETRAMENTOS: POSSIBILIDADES E REFLEXÕES
Christiane Batinga Agra
Sérgio Ifa
CAPÍTULO 4
OFICINA DE LÍNGUA INGLESA PARA CRIANÇA: UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA COM GÊNERO TEXTUAL EM AÇÃO
Vera Lucia de Oliveira Pereira Buose
Leandra Ines Seganfredo Santos
CAPÍTULO 5
LETRAMENTO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: AMPLIANDO O EXERCÍCIO DE CIDADANIA DAS CRIANÇAS BRASILEIRAS
Maria Eugênia Sebba Ferreira de Andrade
Mariney Pereira Conceição
CAPÍTULO 6
FORMAÇÃO CRÍTICA DOCENTE E SEU REFLEXO NO ENSINO CRÍTICO DE INGLÊS PARA CRIANÇAS: EXPERIÊNCIAS TRANSFORMADORAS
Flaviane Montes Miranda Lemes
CAPÍTULO 7
Multimodalidade e design gráfico: websites educacionais em inglês para CriançAS de 6 a 10 anos
Simone Frade
Raquel Bambirra
Reinildes Dias
CAPÍTULO 8
ENSINO DE INGLÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA PARA CRIANÇAS: A QUALIDADE DO INSUMO ORAL
Camila Sthéfanie Colombo
Douglas Altamiro Consolo
CAPÍTULO 9
POLÍTICA PÚBLICA PARA IMPLEMENTAÇÃO DO ENSINO DE LÍNGUA INGLESA NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: O EXEMPLO DE ROLÂNDIA, PR
Mariana Gomes Bento de Mello
CAPÍTULO 10
OS RUMOS DO ENSINO DE ALEMÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DA TEORIA À PRÁTICA OU DA PRÁTICA À TEORIA?
Clarissa Leonhardt Borges
Karen Pupp Spinassé
CAPÍTULO 11
THE CRAZY CAR STORY: UM PROJETO EM LÍNGUA INGLESA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Helena Vitalina Selbach
Simone Sarmento
SOBRE OS AUTORES
CAPÍTULO 1
O ESTADO DA ARTE DE PESQUISAS SOBRE ENSINO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS PARA CRIANÇAS NO BRASIL
Juliana Reichert Assunção Tonelli
Lívia de Souza Pádua
Introdução
A crescente oferta de aulas de línguas estrangeiras nas séries iniciais de escolarização (educação infantil e ensino fundamental 1) confere urgência às pesquisas que, de alguma forma, se ocupam de questões diretamente relacionadas ao ensino, à aprendizagem e à formação de professores para atuar no contexto de línguas estrangeiras para crianças (doravante LEC) no Brasil.
O presente capítulo objetiva apresentar o resultado de um mapeamento feito entre os anos 2013 e 2016 de pesquisas desenvolvidas em Programas de Pós-graduação (stricto senso) no Brasil sobre ensino, aprendizagem e formação de professores de LEC. Considerando o crescente número de pesquisas que se ocupam de tal temática, os integrantes do grupo de pesquisa Felice (UEL/CNPq)³ identificaram e reuniram pesquisas desenvolvidas em nosso país para, além de (re)conhecêe-las, avançar e contribuir com pesquisas futuras.
O movimento que usualmente precede o desenvolvimento de investigações que se propõem a ampliar as temáticas exploradas em um determinado campo de pesquisa, envolve apresentar um panorama dos trabalhos previamente realizados com vistas a identificar lacunas a serem preenchidas por outras pesquisas situadas em temáticas próximas. Foi neste movimento que decidimos compilar os trabalhos que se ocupam do ensino, da aprendizagem e/ou da formação de professores de LEC.
Para o levantamento das pesquisas recorremos ao banco de teses da Capes bem como aos sites de universidades públicas de cada Estado da federação brasileira. A identificação e o registro dos trabalhos encontrados foram feitos pelos integrantes do grupo Felice em função de nossos interesses de pesquisa e do levantamento de temáticas próximas. Durante tal processo, identificamos também um número substancial de pesquisas na área realizada no Programa de Pós-graduação e Linguística Aplicada (LAEL) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Por este motivo, além dos trabalhos defendidos em programas de pós-graduação stricto sensu de Instituições de Ensino Superiores (IES) públicas (estaduais e/ou federais), também foram reunidos no mapeamento aqueles desenvolvidos no LAEL da PUC/SP⁴.
Além desta parte introdutória, este capítulo está organizado em três partes. Na primeira, trazemos uma breve retomada histórica das pesquisas sobre LEC no Brasil. Em seguida, trazemos dados quantitativos de trabalhos identificados em cada Estado brasileiro e, por fim, traçamos algumas reflexões sobre o levantamento realizado.
1 Retomada histórica de pesquisas sobre LEC no Brasil
O ensino de LEC no Brasil vem se destacando e se tornando extremamente relevante para professores-pesquisadores da área e, devido a isso, o número de pesquisas nesse âmbito cresce significativamente (TONELLI, 2005; SANTOS, 2005 e 2009; ROCHA 2006 e 2010; RINALDI 2011).
O mapeamento congregou pesquisas acerca do tema as quais foram desenvolvidas entre os anos de 1987⁵ e 2016⁶. No ano de 1987 apenas uma dissertação foi defendida enquanto que no ano de 2016, identificamos dez trabalhos finais⁷, dissertações e/ou teses defendidas.
A primeira delas foi desenvolvida por VILLANUEVA (1987), defendida no Programa de Pós-graduação em Letras, da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Já na década de 1980 a pesquisa "A Potential English Syllabus Design for Elementary School In Brazil" objetivou produzir um currículo de inglês para as escolas brasileiras de primeiro grau. A partir da análise dos interesses e das necessidades dos alunos e os possíveis objetivos dos cursos de língua inglesa, a autora faz uma apresentação detalhada da situação tomada como base quando da elaboração do currículo de uma escola particular de ensino do 1º grau do sistema educacional brasileiro. Dentro do currículo proposto, a principal preocupação repousava no ponto de vista das exigências semânticas dos alunos e das formas linguísticas a serem trabalhadas. A autora sugere que, a partir daquele currículo, modificações e desenvolvimento de propostas apresentadas sejam examinadas e adequadas a outras realidades de ensino e aprendizagem.
As últimas pesquisas adicionadas ao mapeamento⁸ - todas defendidas em 2016 – foram: 1) Alessandra Ferraz Tutida na Universidade Estadual de Londrina (UEL) com o título Ensino de língua inglesa para crianças: questões sobre formação de professores e os saberes da prática
; 2) Ana Paula Lourdes dos Santos, da Universidade de São Paulo, denominada A fala privada no processo de ensino-aprendizagem da língua inglesa para crianças entre quatro e cinco anos em uma escola internacional
; 3) Cristiane Batinga Agra, na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), nomeada Inglês se aprende na escola pública – reflexões sobre a introdução da língua inglesa à luz dos multiletramentos
; 4) Deise Suzumura, da UEL, com o título Ensino de inglês para crianças pequenas: estudos para adaptação do manual do professor que acompanha o livro didático
cookie and friends starter; 5) Gabriela Fraletti de Souza Rubbo, da UFPR, intitulada
Por que aprendemos línguas estrangeiras? com a palavra, as crianças; 6) Juliana de Carvalho Moral Queiroz Pereira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), denominada
O ensino de língua inglesa na educação infantil: considerações sobre formação e prática docente; 7) Juliana Freitag Schweikart, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), sob o título
A formação inicial do professor de línguas por meio do uso de recursos tecnológicos no ensino de língua inglesa para crianças: conflitos e contradições; 8) Joana de São Pedro, com a tese defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp):
Língua inglesa, transculturalidade e transdisciplinaridade no ensino fundamental I: percursos e representações docentes, 9) Lívia de Souza Pádua, da UEL, sob o título
O portfólio como instrumento avaliativo no ensino-aprendizagem de língua inglesa para crianças; 10) Márcia Elaine de Oliveira, da UEL denominada
Alguém como nós: uma iniciativa de reorganização do contexto de ensino de inglês para crianças no município de Londrina
; 11) Mariana Guedes Seccato, da UEL, denominada Políticas de ensino de língua inglesa para crianças: reflexões e proposições
; 12) Mariana Menezes Paglione da PUC/SP, com a dissertação Comportamentos do professor para uma gestão eficaz do professor de sala de aula de inglês
; 13) Michele do Carmo, da UEL intitulada As brincadeiras de imitação como ferramenta contribuidora no ensino de língua e cultura espanhola para crianças
; 14) Paula Telles da Costa Fernandes, da PUC/SP, denominada Inglês em ONGs: entre o fracasso e a possibilidade
e, 15) Vera Lucia De Oliveira Pereira Buose, da Universidade do Estado do Mato Grosso (Unemat), sob o título O Uso de sequência didática em práticas de língua inglesa com crianças do Programa Mais Educação
.
Em 1993⁹, Thomé defendeu a dissertação de mestrado intitulada Aprendizagem do inglês por crianças pré-escolares: relato de um experimento
, na USP.
Em 1996¹⁰, identificamos apenas uma dissertação defendida no Programa de Pós-graduação em Linguística e Língua Portuguesa na Unesp, com o título O processo de aquisição de língua estrangeira por crianças brasileiras em sala de aula: reflexões sobre a teoria de Krashen
de autoria de Denise Martins de Abreu e Lima. Houve, novamente, uma ruptura na publicação¹¹ de pesquisas acerca da temática entre os anos de 1997 a 1999, pois o próximo trabalho localizado data de 2000. A partir de então, o fluxo de defesas começou a ocorrer de modo contínuo, havendo ao menos uma por ano.
No Gráfico 1 apresentamos os períodos em que ocorreram os maiores números de publicações de teses e dissertações em LEC em nosso país.
gráfico 1 – anos com maior número de defesas de pesquisas em lec no brasil
Fonte: As próprias autoras.
O Gráfico 1 revela que os anos com maior número de pesquisas defendidas foram 2007 com 7, 2009 com 8, 2011 com 11, 2013 com 7, 2014 com 10 e 2016 com 15.
No ano de 2007, as pesquisas defendidas foram: Educação infantil: a porta de entrada para o ensino-aprendizagem de língua inglesa
PUC/SP de autoria Ana Maria Linguevis; 2) A influência do material didático na motivação de aprendizes da língua inglesa em contexto de ensino público
de Cristiane Oliveira Campos-Gonella, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR); 3) Performance de crianças falantes do português brasileiro no
Test of Early Language Development (TELD-3) de autoria de Elisabete Giusti, na USP; 4)
Livro didático dedicado ao ensino de língua estrangeira na educação infantil: noções de ensino e aquisição de vocabulário de autoria de Letícia Carpolíngua Giesta, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); 5)
Uma experiência de desenvolvimento de projetos didáticos na educação infantil bilíngue de Marizilda Guimarães Lemos Martins, na USP; 6)
Pode ser em Inglês? Não. Em Português primeiro: ensino de língua inglesa para crianças em contextos emergentes no país: um estudo de caso, de autoria de Rinaldo Vitor da Costa, na Unicamp e; 7)
Perception and Production of English Final Stops by Young Brazilian EFL Students", defendida por Violeta Toledo Piza Arantes, na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
O ano de 2009 teve um total de nove pesquisas defendidas: 1) A cultura de aprender língua estrangeira (inglês) de alunos de 1ª e 4ª séries do ensino fundamental
escrita por Ariane Fernandes Antonini, da Unicamp; 2) Entre a língua portuguesa e a francesa: um estudo exploratório em instituição francófona no estado de São Paulo
, de Cláudia de Mendonça Cascapera; 3) A mediação no ensino-aprendizagem de inglês para crianças: o papel do lúdico
, de Cristiane Castelani Dellova da PUC/SP; 4) A educação infantil bilíngüe (português/inglês) na cidade de São Paulo e a formação dos profissionais da área: um estudo de caso
, de Fernanda Meirelles Fávaro, da PUC/SP; 5) Língua inglesa em anos iniciais do ensino fundamental: fazer pedagógico e formação docente
de autoria de Leandra Ines Seganfredo Santos, da Unesp; 6) Os contos infantis no ensino-aprendizagem de inglês como língua estrangeira
desenvolvida por Leysiane Cristina Pavani, da PUC/SP; 7) Formação de professores para educação infantil bilíngue
, de Norma Wolffowitz- Sanchez, da PUC/SP; 8) As aventuras de Alice no País das Maravilhas e na Emia: Winnicott e a educação
, de autoria de Marcia Lagua de Oliveira da USP.
Em 2011, as 11 pesquisas defendidas foram as desenvolvidas por: 1) Ana Paula de Lima (Unicamp), intitulada Análise de propostas de avaliação de rendimento em livros didáticos de inglês para o ensino fundamental
; 2) Bianca Rigamonti Valeiro Garcia (USP) com o título Quanto mais cedo melhor (?): uma análise discursiva do ensino de inglês para crianças
; 3) Claudia Gil Ryckebusch (PUC/SP) nomeada A roda de conversa na educação infantil: uma abordagem crítico-colaborativa na produção de conhecimento
; 4) Débora Sousa França Affonso (USP), sob o título Música e bilinguismo: como a identidade cultural das crianças pode se evidenciar em suas composições musicais
; 5) Danielle Gazzotti (PUC/SP) denominada Resolução de conflitos em contextos de educação infantil bilíngue
; 6) Fannie Sampaio Santos Pereira Novais (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB) nomeada O processo de aprendizagem de língua inglesa retratado em narrativas de crianças e adolescentes camponeses: o caso da Escola Estadual Rural Taylor Egídio
; 7) Flávia Catena (UFSC) com o título Percepção consciente (noticing) e aprendizagem do sintagma nominal adjetivo(s) + substantivo do inglês em diferentes idades
; 8) Maria Eugênia Sebba Ferreira de Andrade (Universidade de Brasília - UnB) intitulada Muito além da ribalta: crenças de terceiros, segundos e primeiros agentes sobre o processo de ensino-aprendizagem de inglês para crianças
; 9) Sheylla Chediak (Universidade Federal de Rondônia - UNIR), com o título Biletramento - português e inglês: um estudo nos três primeiros anos do ensino fundamental em uma escola bilíngue em Porto Velho-RO
; 10) Simone Rinaldi (USP-SP) denominada O futuro é agora: possíveis caminhos para a formação de professores de espanhol como língua estrangeira para crianças
; 11) Tatiana de Oliveira Nino Vanzo (UNESP) com o título "Socialização linguageira, aspectos culturais e uso de code-switching em uma criança bilíngue".
Em 2013 foram encontradas por meio do mapeamento sete pesquisas, sendo estas: 1) Ensino infantil da língua inglesa no Brasil : uma análise discursiva da evidência do ‘quanto mais cedo melhor’
defendida na Unicamp por Alan Febraio Parma; 2) As representações sociais dos professores de língua inglesa do ensino fundamental I
, de autoria de Carine Schenekenberg Guedes, na da UnB; 3) Língua estrangeira para crianças na escola internacional/bilíngue (Português/Inglês): multiletramentos, transculturalidade e educação crítica
, escrita por Elisa Sobé Neves, também da UnB; 4) Avaliação de uma Unidade Didática para Ensino-Aprendizagem de inglês para crianças
, de Gabriela Dias Yamasaki, da PUC/SP; 5) Inglês nos anos iniciais do ensino fundamental público: de representações de professores a políticas linguísticas
, defendida na Unicamp, por Karina Aparecida Vicentin; 6) Ensino de inglês nos anos iniciais do ensino fundamental: um estudo de política pública no município de Rolândia/PR
, escrito por Mariana Gomes Bento de Mello, da UEL; 7) "A Atividade de contação de histórias nas aulas