Estudos Críticos da Linguagem
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Seguindo o ensinamento, os autores desta obra – professores e pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará – visam ao estudo da linguagem sob perspectivas socioculturais, com um viés crítico, ou melhor, perspectivas atravessadas pela intervenção no mundo em busca da ecologia do saber. Sem delinear fronteiras fixas e duras, a estrutura da obra é uma rede de teorias que se entrecruzam nos grandes temas de: Perspectivas da Linguagem, Mídias e Gêneros e Gêneros Discursos.
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Estudos Críticos da Linguagem - Dina Maria Martins Ferreira
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2017 do autor
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
A palavra ‘crítica’ é frequentemente usada para
designar uma postura reflexiva e indagadora
em relação aos fenômenos da vida.
Quando me refiro a uma linguística crítica,
quero, antes de mais nada,
me referir a uma linguística voltada para questões práticas.
Não é a simples aplicação da teoria para fins práticos,
mas pensar a própria teoria de forma diferente,
nunca perdendo de vista o fato de que
o nosso trabalho tem que ter alguma relevância –
relevância para as nossas vidas,
para a sociedade de modo geral.
[E] esse tipo de relevância está relacionada [...]
à dimensão ética dos estudos sobre a linguagem.
~ Kanavillil Rajagopalan
AGRADECIMENTOS
São muitos os agradecimentos, mas vou resumi-los em torno do entusiasmo que motivou e atravessou este livro.
Agradeço ao enthusiasmos (grego: en = dentro, theos = deus) deste projeto que se iniciou no ano passado e que nos fez abrigar ‘dentro de si o deus’ motivador que gera a força e o poder do entusiasmo na produção do conhecimento.
Agradeço ao amigo Kanavillil Rajagopalan, nosso querido indiano-brasileiro, por sua presença nesta obra, em prefácio e epígrafe, que renova o entusiasmo não só em seus pares professores, mas também, e principalmente, nos pós-graduandos-autores, cujo entusiasmo pela ciência e pela vida nos contaminou a ponto de o apelidarmos de ‘guru’.
Agradeço a Elayne Gonçalves Silva, que nos ajudou ao colocar esta obra dentro das exigências da Capes, com seu trabalho minucioso e de excelência.
Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Estadual do Ceará, que sempre nos impele ao entusiasmo da produção do conhecimento.
Agradeço ao magnífico reitor Jackson Sampaio, pelo Jardim de Akademo que nos oferece, em cujo périplo abre as portas àqueles que plantam no Jardim Uece.
Agradeço a nossa vontade entusiasta e apaixonante de aqui estarmos presentes com nossas letras.
APRESENTAÇÃO
DA COLETÂNEA AO CONHECIMENTO
Conhecimento é o ato de entender a vida
[e] a dúvida é o princípio da sabedoria.
~
Aristóteles
Apresentar este livro-coletânea é me dirigir não só a acadêmicos titulados, mas também, e principalmente, a iniciantes que oferecem sua garra; garra que, muitas vezes, manifesta-se em seus corpos por movimentos que engrandecem o universo do conhecimento. Diria, pela minha experiência de orientadora de mestrado e de doutorado, que já são ‘donos’ de conhecimentos que alentam a produção científica.
Somos um grupo de pesquisadores, professores e pós-graduandos do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (PosLA) da Universidade Estadual do Ceará (Uece) dedicados à pesquisa, à produção e à difusão de conhecimento. Os autores desta coletânea são, em sua maioria, os acadêmicos da Linha de Pesquisa 3 – Estudos Críticos da Linguagem –, que visa ao estudo da linguagem sob perspectivas socioculturais, com um viés crítico, ou melhor, perspectivas atravessadas pela intervenção no mundo em prol de uma ecologia do saber.
E, ao me propor a organizar este livro, o afeto e o acolhimento dão o tom à ciência e a seus percursos aqui expostos. Se a ciência só tem valor, como diz Einstein, se intervir no social, acho que estamos cumprindo um desejo que se realiza.
Como se trata de uma ‘coletânea’, dividi o livro em três partes, e cada parte em quatro capítulos. Os capítulos inserem-se nas devidas partes de acordo com sua temática mais relevante. Minha preocupação foi chamar atenção do leitor desde o Sumário, ao colocar aspas simples em cada termo que determina a alocação do capítulo. No entanto é importante ficar claro que essa marca – aspas simples – não cerceia a composição de uma rede de temas e teorias que se entrecruzam nos 12 capítulos desta obra. Ao nos posicionarmos ideologicamente como acadêmicos que lutam pela ecologia do saber e pela intervenção no mundo, não poderíamos pleitear fronteiras duras e fixas entre as produções do conhecimento que oferecemos.
Esta obra tem, então, as Perspectivas de Linguagem
como primeira parte.
No capítulo Realidade linguística na linguística aplicada INdisciplinar: nova concepção
, Expedito e Ticiane¹ desenvolvem uma concepção de realidade linguística pelos campos lexicais (apoiados em Coseriu) e pelos estudos enunciativos desenvolvidos por Benveniste. Desse tronco constrói-se um percurso que passa pelo dialogismo (de Bakhtin), pela linguística histórica (de Faraco) e pela iniciação em Pragmática (de Benveniste), seguindo pelos estudos atuais da Linguística Aplicada INdisciplinar, em que Moita Lopes e Blommaert/Rampton são os porta-vozes. Por essa rede, os autores oferecem possibilidades de compreensão do contexto contemporâneo que atravessa várias áreas do saber.
Em Agência na linguagem: do diferente ao semelhante
, eu, Dina, alio as prerrogativas das Ciências Sociais às dos Estudos da Linguagem, com a finalidade de demonstrar como as duas áreas se entrecruzam, na medida em que não podemos pensar linguagem fora do social. Do lado das Ciências Sociais, Touraine, Bourdieu e Crozier/Friedberg dialogam com os estudiosos da linguagem Pêcheux, Fairclough e Austin, no que diz respeito aos conceitos de sujeito, ator, agente e protagonista de e na linguagem. E, para aplicação dessa rede conceitual, utilizo a cantora, compositora e poeta brasileira Karina Buhr como exemplo de sujeito agente, que desempenha uma função – ator social – e que se torna protagonista de seu projeto no movimento feminista.
Em Por uma pragmática menor: tensões entre linguagem, corpo e política
, Jony aborda a filosofia de Gilles Deleuze e Félix Guattari, principalmente no clássico Mil Platôs, articulando conceitos: de palavras de ordem e atos de fala atribuídos a corpos; de corpo sem órgão enquanto criação de corpo à disciplina do organismo; e de máquina de guerra como uma gramática de revide, desterritorializando processos de subjetivação ancorados em identidades de gênero. Além disso, problematiza uma pragmática menor como uma política minoritária, que pode potencializar um fazer pesquisa em pragmática linguística.
Em Entextualizações em ‘Menos que Nada’: textos que viajam na obra de Slavoj Žižek
, Claudiana e Maria de Fátima nos mostram que a leitura de tal livro é como uma viagem que vai de surpresa em surpresa
²; que a prática discursiva, a produção e a circulação de textos na obra de Žižek nos faz entender a fluidez nos processos de atribuição e interpretação de sentidos; e que um modo de pensar metafórico em termos de viagem ou jornada assinala(m) o estado de constante movimento dos processos de significação
³.
A segunda parte é designada de Mídias e Gêneros
.
Em Corpo tecnorgânico na cibercultura: efeitos sobre sexo e gênero
, Tibério discute: as teorias contemporâneas aplicadas aos estudos do corpo, gênero e sexualidade (apoiado em Bento, Butler e Barbero), fazendo relação entre tecnologia e sujeito em um momento histórico que chama de ‘pós-humanismo’; clama por uma revisão de categorias discretas da sexologia do século XX, já que a dinâmica da cibercultura está desinstitucionalizando subjetividades e identidades sociais; e reflete sobre os efeitos do trabalho material e do simbolismo social nas identificações de gênero e no cinismo que transpassa a erotologia tradicional.
Em Feminino no funk midiático
, Marcos demonstra o gênero em constante processo de criação e recriação, por meio de atos de fala e atos de corpo (Butler, Pinto e Irigaray). A partir de uma crítica feminista, relaciona o fazer feminino à performatividade da linguagem, em seu tom contestatório dos papéis sociais determinados pelo sexismo heteronormatizante. E, como exemplo analítico, dirige-se à figura feminina no funk midiático que circula em rede, com a apresentação de dois vídeos.
Em Habitus linguístico na rede social: diálogo multimodal – série Stranger Things
, Fábio dialoga com textos multimodais (Callow e Leezemberg), compostos por diferentes modos semióticos, que confirmam o habitus linguístico manifestado nas interações entre os membros de comunidades discursivas. Utiliza-se da rede social Show Time, especificamente dos comentaristas da série Stranger Things, pelo modelo ShowMe, para verificar presença e frequência de categorias de análise dos comentários, demonstrando que os usuários não só utilizam imagens na maioria de seus comentários, como também respondem afetivamente a outros também multimodais, criando uma cadeia comunicativa, senão uma cadeia multimodal.
Em Signo ideológico no discurso publicitário
, Jamille analisa o discurso publicitário da cerveja da marca Devassa, utilizando-se dos conceitos teóricos de ideologia e de signo ideológico (Bakhtin e Brait). Defende que os sentidos são constituídos por fatores sociais, políticos, culturais e ideológicos. E, ao analisar a sexualidade da mulher negra, mostra não só o preconceito contra a negritude como também a reificação da figura feminina pela sexualidade em relação ao consumidor masculino.
A terceira volta-se para os Gêneros Discursivos
.
Em "Embate de vozes em entrevista política do Jornal Nacional:(des)legitimação do discurso de outrem, Soraia, no contexto efervescente das eleições à presidência do Brasil de 2014, demonstra que as entrevistas com candidatos, enquanto espaço de confronto, trazem polêmicas discursivas, abertas e veladas, mostrando que os efeitos produzidos por essas polêmicas (cf. Bakhtin) constroem sentidos objetivados ideologicamente pelos interlocutores – no caso, a entrevista da então candidata a presidente Dilma Rousseff ao jornalista Bonner. E em sua análise comprova que
toda e qualquer palavra estará sempre povoada pela palavra do outro"⁴.
Em Estilização da identidade feminina em ‘relatos de vida’
, Dulce, utilizando-se do discurso biográfico de mulheres – relatos de vida –, indaga se não estão ocorrendo ressignificações de estereótipos (Bhabha) já estabelecidos pela ordem masculina
. Por meio das categorias feminilidade
e feminilitude
(Martins Ferreira), orientadas por características físicas, psicológicas e tom de voz, chega ao estilo de ser
. E, pelo estilo de ser, busca nos ‘relatos de vida’ identidades da ordem da legitimação, da resistência e de ordem social masculina em relação a uma matriz cultural de gênero heteronormativa.
Em Estética e perspectiva ético-cognitiva: poema ‘dna’ de Arnaldo Antunes
, João Batista e Marcos Roberto revisitam os postulados da Estética Geral e Sistemática (Bakhtin), para entender: o discurso como artefato e objeto estético; as relações entre o ato cognitivo, estético e ético; e a especificidade humana de dar sentido ao mundo a partir de suas posições axiológicas. E, para tal empreitada, analisam o poema ‘dna’, de Arnaldo Antunes, chamando atenção para o fato de que a organização composicional e conteudística deve ser integrada à unidade da cultura, como uma totalidade impregnada de valores da vida, da cultura e da arte.
E em Para a ‘Escrita’ acadêmica: crítica a orientações hegemônicas
, Vanessa e Gustavo analisam o Guia prático para a redação científica, de Volpato, com a finalidade de criticar as ‘receitas’ homogeneizantes sobre o fazer científico, que desconsidera as especificidades das diferentes culturas disciplinares (Rajagopalan e Bazerman). Fazem um diálogo epistêmico, demonstrando a dificuldade dos iniciantes na academia diante de tais tipos de orientações generalizantes.
Boa leitura!
Dina Maria Martins Ferreira
PREFÁCIO
POSTURA CRÍTICA: UM OLHAR PARA O MUNDO
Estão de parabéns os autores dos textos reunidos neste livro – todos eles professores ou pós-graduandos da Universidade Estadual do Ceará. Também é louvável a iniciativa por parte da Prof.ª Dr.ª Dina Maria Martins Ferreira de estimular seus colegas e alunos a se unirem em torno de uma proposta comum e se empenharem nesta aventura prazerosa de unir esforços e produzir um volume de textos destacando os diversos aspectos da abordagem crítica em estudos relacionados à linguagem e ao seu funcionamento no mundo real.
Quando se fala em abordagem crítica, estamos nos referindo a uma atitude diante da própria atividade de conduzir nossas pesquisas, uma atitude no que diz respeito à questão de direcionar nosso olhar para o mundo e, acima de tudo, a um desejo de fazer com que nossa postura enquanto acadêmicos tenha algum impacto palpável sobre nosso objeto de pesquisa. Nesse sentido, a abordagem crítica coloca em cheque uma longa tradição de fazer pesquisa que se vangloria do distanciamento proposital de seu objeto de pesquisa, movida por uma determinação ferrenha de não deturpar
a ordem das coisas observadas, resistindo a qualquer impulso que leve o pesquisador a sair da sua toca e a intervir na realidade que ele constata.
A postura crítica não é subproduto ou simples desdobramento de uma metodologia específica. Também não há técnicas de pesquisa que automaticamente caracterizem o pesquisador como alguém crítico ou que o ajudem a se transformar em um. Ou seja, o trabalho crítico não é algo que nasce de um procedimento que automaticamente resulta nos fins desejados. Para ser crítico, o pesquisador precisa ter certa desconfiança em relação a todas as conclusões a que ele chega, especialmente quando o caminho trilhado parece oferecer conclusões simples e certeiras. E isso inclui suas próprias certezas, fruto de sedimentação do seu próprio pensamento e das conclusões nele baseadas.
A função de tal desconfiança saudável não é simplesmente desestabilizar tais conclusões pelo simples prazer de fazê-lo; pelo contrário, é oriunda de uma convicção de que a passagem de tempo e as mudanças constantes que ocorrem no mundo real podem fazer com que surja a necessidade de rever nossas posições e convicções que se ergueram sobre elas. A função de tal desconfiança diante de nossas certezas fortemente arraigadas, e por esse motivo raramente questionadas, é de estarmos atentos ao fato incontestável de que é a teoria que precisa estar de acordo com a realidade e constantemente ajustar-se em sintonia com a realidade, e não ao contrário.
Quando não se colocam nossas mais convincentes teorias em questionamento periódico, elas tendem a se transformar em verdadeiras doutrinas e, por conseguinte, tendem a nos cegar quanto a suas próprias limitações ou até seus defeitos. Como resultado, o defensor de uma tal teoria transforma-se em um fanático doutrinário, cuja única meta é a defesa da teoria, e não mais a explicação ou interrogação da realidade para qual a teoria foi proposta em primeiro lugar. A própria ciência – toda e qualquer ciência – corre o perigo de cair nessa armadilha de raciocínio. Ela não é mais questionada, mesmo diante de novos dados escancaradamente desafiantes. A tão decantada revolução científica não ocorre pelo caráter doutrinário que a ciência adquire nessas circunstâncias. A partir desse momento, a teoria age mais como um filtro sobre a realidade, em vez de explicá-la. Ela se torna outra ideologia qualquer.
É contra essa ideologia que insurge o pensamento crítico. Longe de pressupor essa ou aquela visão teórica, esse ou aquele posicionamento ideológico, o pensamento crítico valoriza livre exercício de pensar, não importando o destino de tais indagações, muito menos ideias formadas de antemão sobre ela. O que move o pensamento crítico é, como bem apontou Horkheimer, uma proposição da ordem existencial que nos lembra que o estado das coisas constatado no mundo que nos cerca não precisava estar daquele mesmo jeito, pois não é mais daquela forma como se apresenta, pois houve manipulações maquiavélicas de partes interessadas no passado e, por conseguinte, é passível de ser modificado, bastando apenas vontade e garra para fazê-lo.
Tenho certeza que este livro proporcionará aos leitores uma oportunidade de aguçar o espírito crítico com o qual todos nós fomos abençoados ao chegar ao mundo, mas que foi impiedosamente abafado por força de uma longa tradição de pensar positivista que inculcou em nós uma atitude de alienação, em nome da famigerada ideia da ‘neutralidade científica’ que, na prática, significou nada mais que a aceitação complacente de um status quo ao agrado de alguns poderosos.
Kanavillil Rajagopalan
Titular em Semântica e Pragmática e pesquisador A1 do CNPq
Universidade do Estado de São Paulo
SUMÁRIO
pARTE I - PERSPECTIVAS DE LINGUAGEM
1 - REALIDADE LINGUÍSTICA NA LINGUÍSTICA APLICADA INDISCIPLINAR: NOVA CONCEPÇÃO
Expedito Eloísio Ximenes
Ticiane Rodrigues Nunes
1.1 REALIDADE LINGUÍSTICA
1.2 LINGUÍSTICA APLICADA INDISCIPLINAR E REALIDADE LINGUÍSTICA
1.3 OUTRA CONCEPÇÃO DE REALIDADE LINGUÍSTICA
Referências
2 - AGÊNCIA NA LINGUAGEM: DO DIFERENTE AO SEMELHANTE
Dina Maria Martins Ferreira
2.1 DESIGNAÇÕES: CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS
2.1. Perspectivas sociológicas
2.1.1.1 Sujeito e indivíduo
2.1.1.2 Sujeito e ator (agente)
2.1.1.3 Sujeito e agente (ator)
2.1.1.4 Sujeito ator-agente-protagonista
2.2 PERSPECTIVAS DISCURSIVO-LINGUAGEIRAS
2.2.1 Sujeito discursivo
2.3 DO SEMELHANTE AO MESMO, E DO DIFERENTE AO SEMELHANTE
2.3 (NÃO) PROTAGONISMO NO DISCURSO DE GÊNERO FEMININO
Referências
3 - POR UMA PRAGMÁTICA MENOR: TENSÕES ENTRE LINGUAGEM, CORPO E POLÍTICA
Jony Kellson de Castro Silva
3.1 LINGUAGEM: QUESTÃO DE POLÍTICA
3.2 CORPO QUE SE CONECTA
3.3 GRAMÁTICA DE REVIDE?
3.4 #SEXOÁGIL: DEVIR-MULHER
Referências
4 - ENTEXTUALIZAÇÕES EM MENOS QUE NADA: TEXTOS QUE VIAJAM NA OBRA DE SLAVOJ ŽIŽEK
Claudiana Nogueira de Alencar
Maria de Fátima Medina Lucena
4.1 EMERGÊNCIA EM FLUXOS DE (DES)CONTEXTUALIZAÇÃO
4.2 INCORPORAÇÕES TRANSLOCAIS
Referências
PARTE II - MÍDIAS E GÊNEROS
5 - CORPO TECNORGÂNICO NA CIBERCULTURA: EFEITOS SOBRE SEXO E GÊNERO
Tibério Caminha
5.1 REALIDADE ALIENÍGENA E CORPO POLIMÓRFICO
5.2 CORPO INDETERMINADO E GÊNERO INCONDICIONADO
5.3 CULTURA DA ALTA TECNOLOGIA E CORPO HÍBRIDO
Referências
6 - FEMININO NO FUNK MIDIÁTICO
Marcos Alberto Xavier Barros
6.1 GÊNERO SOB PERSPECTIVA CRÍTICA
6.2 CRÍTICA FEMINISTA
6.3 PERFORMATIVIDADE
6.4 POSSIBILIDADES DE AGÊNCIA E GÊNERO
6.5 PERFORMATIVIDADE DO FEMININO: ANÁLISE EM VÍDEOS DE FUNK
Referências
7 - HABITUS LINGUÍSTICO NA REDE SOCIAL: DIÁLOGO MULTIMODAL – SÉRIE STRANGER THINGS
Fábio Nunes Assunção
7.1 HABITUS LINGUÍSTICO
7.2 MODELO SHOWME
7.3 REDE SOCIAL TVSHOW TIME
7.4 STRANGER THINGS: DIMENSÕES AFETIVA, COMPOSICIONAL E CRÍTICA
Referências
8 - SIGNO IDEOLÓGICO NO DISCURSO PUBLICITÁRIO
Jamille Maranhão de Sousa
8.1 CÍRCULO DE BAKHTIN E ANÁLISE DIALÓGICA DO DISCURSO
8.2 IDEOLOGIA
8.3 O SIGNO IDEOLÓGICO
8.4 ANÚNCIO PUBLICITÁRIO – DEVASSA
Referências
PARTE III - GÊNEROS DISCURSIVOS
9 - EMBATE DE VOZES EM ENTREVISTA POLÍTICA DO JORNAL NACIONAL: (DES-)LEGITIMAÇÃO DO DISCURSO DE OUTREM
Soraia Alves Barbosa
9.1 CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM NO ESTRUTURALISMO
9.2 CONCEPÇÃO DE LINGUAGEM PARA ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA (ADC)
9.3 PERSPECTIVA DIALÓGICA DO CÍRCULO DE BAKHTIN
9.4 ANÁLISE: POLÊMICAS DISCURSIVAS ABERTA E VELADA
Referências
10 - ESTILIZAÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA EM ‘RELATOS DE VIDA’
Dulce Valente Pereira
10.1 REVISÃO DE LITERATURA
10.2 ANÁLISE ETNOGRÁFICA: ALGUMAS REFLEXÕES
10.3 ANÁLISE ETNOGRÁFICA DA IDENTIDADE FEMININA EM RELATOS DE VIDA
Referências
11 - ESTÉTICA E PERSPECTIVA ÉTICO-COGNITIVA POEMA ‘DNA’ DE ARNALDO ANTUNES
João Batista Costa Gonçalves
Marcos Roberto dos Santos Amaral
11.1 CRÍTICA DA ESTÉTICA MATERIAL E PROPOSTA DA ESTÉTICA GERAL
11.2 OBJETO ESTÉTICO E AUTORIA
11.3 ANÁLISE ESTÉTICO-DIALÓGICA DO POEMA ‘DNA’, DE ARNALDO ANTUNES
Referências
12 - PARA A ESCRITA CIENTÍFICA: CRÍTICA A ORIENTAÇÕES HEGEMÔNICAS
Maria Vanessa Batista Lima Pinheiro
Gustavo Cândido Pinheiro
12.1 DISCURSO ACADÊMICO, INTERAÇÃO E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
12.2 PRAGMÁTICA E RETÓRICA DO DISCURSO CIENTÍFICO
12.3 GUIA PRÁTICO PARA REDAÇÃO CIENTÍFICA
12.3.1 Percurso conceitual do Método Lógico
12.3.2 Reflexões e críticas
Referências
SOBRE OS AUTORES
PARTE I
PERSPECTIVAS DE LINGUAGEM
1
REALIDADE LINGUÍSTICA NA LINGUÍSTICA APLICADA INDISCIPLINAR:
NOVA CONCEPÇÃO
Expedito Eloísio Ximenes
Ticiane Rodrigues Nunes
O termo ‘realidade linguística’ foi introduzido por J. Trier em 1931, mas foi Eugenio Coseriu, em Princípios de Semântica Estrutural, de 1977, quem amplamente divulgou o conceito, que utilizou para sistematizar a Teoria dos Campos Lexicais, já lançada por K. Hayse e G. Ipsen (FAULSTICH, 1980) e para demonstrar que a existência dos campos está condicionada à linguagem em uso, pois é por meio do uso que conseguimos delimitar a atuação dos vocábulos.
Tomando como ponto de partida a concepção de realidade linguística trabalhada por Coseriu (1981) e os estudos realizados no âmbito da disciplina Tópicos em Linguística Aplicada: Multiculturalismo, Plurilinguismo e Identidade, ofertada pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), chegamos à indagação de como ensaiar uma concepção de realidade linguística a partir dos conceitos estabelecidos pela Linguística Aplicada Indisciplinar (doravante LA Indisciplinar).
As leituras e as discussões realizadas no decorrer da disciplina nos motivaram a produzir este capítulo com o objetivo de desenvolver uma concepção de realidade linguística sob a perspectiva da LA Indisciplinar, proposta por Blommaert e Rampton (2011) e Moita Lopes (2013; 2016), porquanto a LA Indisciplinar transcende o pluri código linguístico e tem nas relações e tensões sociais um ambiente em que o conflito acontece pela e na linguagem. Juntamos a esses autores os pressupostos de Coseriu (1981) com a teoria dos campos lexicais e os de Benveniste (1974) com os estudos enunciativos. Além dessa rede teórica, ressaltamos o diálogo entre Coseriu (1981), Benveniste (1974), Bakhtin (2006) e Faraco (2005). Estes pesquisadores não apenas defendem suas concepções de realidade linguística, mas também demonstram o contraponto entre a idealização e a comprovação da existência de uma realidade de linguagem vivida pelos falantes de uma língua.
Enquanto a concepção de uma LA interdisciplinar retoma a questão, de alguma forma, da realidade linguística, na contemporaneidade, não podemos esquecer que os primeiros escritos (COSERIU, 1981; BENVENISTE, 1974) já