Oficina da Canção: Do Maxixe ao Samba-Canção; a Primeira Metade do Século XX
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Oficina da Canção - Marcos Baltar
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
AGRADECIMENTOS
Agradecemos o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES), que financiou esta obra com recursos do PROEX do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSC.
Agradecemos aos autores parceiros Alberto Gonçalves, Henrique Rodrigues e Giovanna Pacheco, sem os quais este livro não seria possível.
Agradecemos aos participantes das Oficinas da Canção e a toda equipe da Rádio Ponto da Universidade Federal de Santa Catarina, notadamente à colega Valci Zuculoto, pelo convívio enriquecedor.
Agradecemos à equipe do Laboratório de Imagem e Som da Universidade Estadual de Santa Catarina, notadamente aos colegas Márcia Ramos e Rafael Hagemeyer, pelo frutífero diálogo durante a produção deste trabalho.
Agradecemos o apoio da Secretaria de Cultura e Arte da Universidade Federal de Santa Catarina.
PREFÁCIO
No campo da análise da canção popular, será sempre atual a advertência feita por historiadores, sobretudo a partir dos anos 1990, quando a revolução digital deu maior acesso às gravações de época e ampliou a possibilidade de análise sonora das fontes. Naquele contexto, o historiador Marcos Napolitano ponderava que a análise da canção não poderia mais restringir-se à análise do conteúdo poético da sua letra. Outros elementos formais devem ser levados em conta, como a entonação das palavras, adequação à melodia, a conotação de sentidos dados pelo timbre da voz, além de elementos musicais como a harmonia, o ritmo, o andamento, o arranjo instrumental, o gênero musical em que se inscreve. E a partir daí, também seu contexto social: a inserção do compositor/intérprete no mercado, a canção no conjunto de sua discografia, a relação do público ouvinte com o seu ídolo e o significado social que sua obra adquiriu.
Combinar a análise formal da obra poética e musical com a análise social da história da canção popular parecia necessário. Mas, apesar de serem facilmente compreendidas as justificativas para esse tipo de abordagem, criava-se o embaraço metodológico para a execução prática desses pressupostos. Afinal, como fazer tudo isso ao mesmo tempo? E por onde se deveria começar?
Acreditamos que Marcos Baltar e os demais autores conseguiram responder a esse desafio com uma proposta que será facilmente compreendida por quem está lendo este livro. A começar por uma história da canção popular, bem condensada e pontuada, cujo objetivo final é entender melhor a história do nosso país e a identidade do nosso povo
por meio da algumas canções representativas – e a seleção criteriosa aqui é fundamental para compreender o significado que esse repertório adquiriu no imaginário da música popular brasileira, transmitidos e acumulados de geração em geração.
Atento a esse princípio, a análise parte de 10 compositores que marcaram a primeira metade do século XX no Brasil, abordando suas principais canções e detendo-se sobre uma delas numa análise multisemiótica
, envolvendo a estrutura poética e musical da obra. O leitor vai descobrir, numa síntese ao final do livro, o arremate dos pontos de análise, a relação entre forma e conteúdo na significação da canção, trazendo ainda sugestões de leitura para saber mais a respeito do assunto.
Chamo atenção para os textos de apresentação de compositores e suas canções, elaborados para o projeto Essa é pra tocar no rádio, um programa idealizado pelo autor do livro e gravado nos estúdios da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), do qual tive o prazer de participar discutindo a obra de Luiz Gonzaga e a presença nordestina na música brasileira. Um texto leve, bem articulado, estruturado com as marcas da oralidade
, que embala a leitura e a imaginação sobre a época tratada, a vida dos cancionistas e seus dilemas econômicos, políticos, sociais e amorosos no contexto histórico em que viveram. Por outro lado, a análise metodológica das canções demonstram que as conclusões do autor estão ancoradas numa perspectiva sólida, que parte daquilo que a obra é, do modo como a canção diz o que quer dizer e extrai seus efeitos de sentido no ouvinte.
Nesse sentido, Marcos Baltar coordenou uma pesquisa cujo resultado tanto atende às expectativas da leitura curiosa dos amantes da música popular brasileira, quanto serve aos jovens pesquisadores em busca de um método de análise aplicada das canções. Mas também serve de referência para especialistas que encontrarão ali informações organizadas e sistematizadas das canções selecionadas, de importância indiscutível no cenário da história da nossa música. Por isso, mais do que apenas para uma leitura casual, sobre este livro poderíamos parafrasear o título do programa de rádio que lhe deu origem e dizer: esse é para se ter na estante
.
Rafael Rosa Hagemeyer
Departamento de História – Universidade do Estado de Santa Catarina
Florianópolis, 19 de maio de 2019.
APRESENTAÇÃO
Esta obra é fruto da síntese de dois projetos de extensão do Núcleo de Linguística Aplicada do Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFSC, aprovados pela Secretaria de Cultura e Arte: a Oficina de análise da canção e o programa Essa é pra tocar no Rádio, coordenados por Marcos Baltar, desenvolvidos na Universidade Federal de Santa Catarina, nos anos de 2017 e 2018. O livro é destinado a amantes e pesquisadores da Música Popular Brasileira e pesquisadores da área de linguagens, especialmente professores de educação básica que trabalham com o gênero canção na escola, bem como estudantes universitários de cursos de Letras, Linguística, Música e áreas afins. O leitor sagaz perceberá o ritmo e a tonalidade oral do texto, originalmente produzido para programa de rádio. O livro busca trazer para o contexto educativo e cultural a obra musical fundadora do cancioneiro brasileiro moderno, produzida desde as primeiras gravações da casa Edson, no Rio de Janeiro, do início dos anos 1900, para gramofone, passando pela era do rádio, até meados do século XX, período fértil que antecedeu importantes movimentos musicais, tais como a Bossa Nova, as Músicas dos Festivais, a Jovem Guarda, a Tropicália, o Clube da Esquina, entre outros que marcaram a segunda metade do século passado, tema que será discutido no livro Oficina da canção 2: a segunda metade do séc. XX.
Sumário
INTRODUÇÃO 17
1
CHIQUINHA GONZAGA 25
1. A AUTORA E SUA OBRA 27
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 31
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 34
4. PARA SABER MAIS 45
5. PARTITURA 46
2
PIXINGUINHA 47
1. O AUTOR E SUA OBRA 49
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 51
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 54
4. PARA SABER MAIS 71
5. PARTITURA 72
3
NOEL ROSA 73
1. O AUTOR E SUA OBRA 75
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 78
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 81
4. PARA SABER MAIS 90
5. PARTITURA 91
4
CARTOLA 93
1. O AUTOR E SUA OBRA 95
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 97
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 99
4. PARA SABER MAIS 107
5. PARTITURA 108
5
NELSON CAVAQUINHO 109
1. O AUTOR E SUA OBRA 111
2. HISTÓRIA DE CANÇÕES 114
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 116
4. PARA SABER MAIS 128
5. PARTITURA 129
6
ARY BARROSO 131
1. O AUTOR E SUA OBRA 133
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 135
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 138
4. PARA SABER MAIS 154
5. PARTITURA 156
7
DORIVAL CAYMMI 157
1. O AUTOR E SUA OBRA 159
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 161
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 164
4. PARA SABER MAIS 176
5. PARTITURA 177
8
LUIZ GONZAGA 179
1. O AUTOR E SUA OBRA 181
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 184
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 187
4. PARA SABER MAIS 194
5. PARTITURA 195
9
LUPICÍNIO RODRIGUES 197
1. O AUTOR E SUA OBRA 199
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 201
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 204
4. PARA SABER MAIS 211
5. PARTITURA 212
10
DOLORES DURAN 213
1. A AUTORA E SUA OBRA 215
2. HISTÓRIA DAS PRINCIPAIS CANÇÕES 218
3. ANÁLISE MULTISSEMIÓTICA DA CANÇÃO 221
4. PARA SABER MAIS 228
5. PARTITURA 229
ANEXO 231
REFERÊNCIAS 233
OS AUTORES 241
INTRODUÇÃO
Os gêneros textuais ou gêneros do discurso regulam toda interação humana. Homens e mulheres interagem uns com os outros em diferentes ambientes discursivos sempre por intermédio dos gêneros específicos desses lugares sociais. Os textos são a matéria desses gêneros do discurso e a matéria-prima dos textos são os signos verbais, sonoros e imagéticos. A natureza da interação humana, portanto, é sempre semiótica e sempre ocorre por intermédio de gêneros do discurso.
Nossa proposta nesta obra é tematizar um gênero multissemiótico muito presente na vida das pessoas, cotidianamente: o gênero canção. Trata-se de um gênero que pode ser considerado tanto como gênero oral quanto como gênero escrito, pois embora poetas e poetisas sempre escrevam as letras e músicos e músicas disponibilizem as partituras, cifras e tablaturas das canções, sua difusão ocorre mais na pauta da oralidade, na mídia radiofônica, na televisão, no cinema, em plataformas de áudio na internet e via transmissão do canto de geração para geração.
No domínio da linguística de perspectiva interacionista do Círculo de Bakhtin, Volochinov (1997) e Bakhtin (1997), Schnewly e Dolz (2004) a canção pode ser definida como um mega-instrumento a serviço da interação humana, um gênero do discurso multissemiótico com unidade temática, unidade composicional e estilo. A canção associa signos sonoros, combinados simultaneamente (harmonia) e sucessivamente (melodia), seguindo certa ordem e proporção (ritmo), cujas características principais são altura, duração, intensidade e timbre (MED, 1996), com signos verbais: palavras organizadas em poesia (estrofes e versos) ou em prosa (parágrafos e frases).
No Ocidente,