Discover millions of ebooks, audiobooks, and so much more with a free trial

Only $11.99/month after trial. Cancel anytime.

O Caso Marinski
O Caso Marinski
O Caso Marinski
Ebook461 pages7 hours

O Caso Marinski

Rating: 0 out of 5 stars

()

Read preview

About this ebook

O Caso Marinski começou como um mundano caso aborrecido à volta de um marido desaparecido. Ok, ele era um marido rico desaparecido, mas era apesar de tudo, apenas um marido desaparecido. O caso começou a desenvolver-se até um que envolvia roubo, rapto, chantagem e assassinato. Mas será que houve mesmo um rapto? E quem é que estava exactamente a chantagear quem? Quem é que fez o assalto? Quem cometeu os assassinatos? Quem é que se pode confiar? Quem é que se pode acreditar? Será que há mesmo alguém que está a dizer a verdade? O que é que eles têm a esconder? Qual era a ligação entre um roubo de jóias que ocorreu quatro anos antes? Nada é o que parece. Tom Kendal, detective privado, teve a tarefa de resolver o mistério. Normalmente ele era muito bom a resolver puzzles mas, de alguma forma, este era diferente. Não era questão de não ter nenhuma das peças. Oh não, ele não estava com falta de pistas. Era apenas que numa das peças parecia encaixar bem.O Caso Marinski começou como um mundano caso aborrecido à volta de um marido desaparecido. Ok, ele era um marido rico desaparecido, mas era apesar de tudo, apenas um marido desaparecido. O caso começou a desenvolver-se até um que envolvia roubo, rapto, chantagem e assassinato. Mas será que houve mesmo um rapto? E quem é que estava exactamente a chantagear quem? Quem é que fez o assalto? Quem cometeu os assassinatos? Quem é que se pode confiar? Quem é que se pode acreditar? Será que há mesmo alguém que está a dizer a verdade? O que é que eles têm a esconder? Qual era a ligação entre um roubo de jóias que ocorreu quatro anos antes? Nada é o que parece. Tom Kendal, detective privado, teve a tarefa de resolver o mistério. Normalmente ele era muito bom a resolver puzzles mas, de alguma forma, este era diferente. Não era questão de não ter nenhuma das peças. Oh não, ele não estava com falta de pistas. Era apenas que numa das peças parecia encaixar bem.

LanguagePortuguês
PublisherPHOENIX
Release dateMar 1, 2020
ISBN9781071535202
O Caso Marinski

Read more from John Holt

Related to O Caso Marinski

Related ebooks

General Fiction For You

View More

Related articles

Reviews for O Caso Marinski

Rating: 0 out of 5 stars
0 ratings

0 ratings0 reviews

What did you think?

Tap to rate

Review must be at least 10 words

    Book preview

    O Caso Marinski - John Holt

    Capítulo Um

    A Residência dos Bradley

    Quatro Anos Atrás

    Rutland Hall, o lar da família Bradley desde o início da década 20 era uma mansão vitoriana, larga, desconexa, de tijolos vermelhos e situada a poucos quilómetros da cidade. Construída em meados da década de 1880 por Henry Lawrence Rutland, um filantrópico rico que tinha feito a sua vasta fortuna com a chegada dos caminhos de ferro, passava um ar de estabilidade, permanência, riqueza e grande poder. Originalmente, o Hall foi usado como um orfanato, idealizado especificamente para os filhos dos trabalhadores ferroviários que ou tinham morrido de causas naturais ou tinham morrido durante o decorrer do seu trabalho.

    Tristemente, a estabilidade e autoridade do edifício foram de curta duração e o seu poder e riqueza provaram ser algo limitados. Finalmente foram forçados a fechar as suas portas algures pelo fim de 1912m devido à falta de fundos e apoios.

    A propriedade permaneceu vazia por um número de anos, gradualmente deteriorando-se, e no final, a desmoronar-se por falta de reparações. A passagem dos anos teve a sua marca. A chuva e o vento castigaram o edifício. As telhas estavam deslocadas. As janelas estavam partidas. A água da chuva entrou no edifício, causando estragos extensivos. Mais danos foram causados mais tardes como resultado de um pequeno fogo na ala leste. Na altura foi pensado tratar-se de fogo posto, para poder reclamar o valor do seguro. Apesar de uma investigação exaustiva, não foram encontradas provas substanciais e o prémio foi pago por inteiro. Chegou a planear-se até a demolição do edifício e reordenar o lugar mas mais uma vez as finanças foram um grande obstáculo e os trabalhos nunca avançaram. Esta ideia foi sucedida por uma série de outros planos, todos idealizados para fazer com que o edifício voltasse a ter utilidade. Uma escola foi sugerida, ou talvez um hospital, ou até mesmo um hotel. De qualquer forma, os fundos não estavam acessíveis para qualquer tipo ideias, e os todos os planos acabaram por cair por terra. Como uma consequência, o edifício permaneceu abandonado e a continuar a deteriorar-se.

    * * *

    James Meredith Bradley eventualmente comprou a propriedade pouco tempo depois do seu regresso da Rússia, algures para os finais de 1917. Ele então passou quase quatro anos e uma quantia considerável de dinheiro a renovar a propriedade e a tentar recuperar a sua glória perdida, tal como era antes. O edifício estava longe de ser belo, apesar de não ser também exactamente feio. Parecia estar algures no meio entre o amar e o odiar. Tinha no entanto uma certa personalidade, sendo dificilmente um edifício cheio de estilo. Faltava-lhe charme. Faltava-lhe vivacidade. Era, contudo, decorativo. Não, não exactamente decorativo. Ornamentada era provavelmente o melhor termo para descrevê-lo. Ornamentado em excesso, alguns poderiam dizer. Extremamente exagerado, diriam outros, com torres desnecessárias e arcobotantes que foram adicionados no virar do século. Não havia, no entanto, discórdia no facto que no seu tempo o edifício foi funcional, útil e prático com os seus quartos largos e tectos altos. Pelo menos funcionou funcionalmente como uma instituição. Os quartos deram excelentes salas de jantar comuns, ou dormitórios. No entanto, como um lar privado, bem, esse era um assunto completamente diferente.

    A propriedade tinha no geral dois andares de altura apesar de haver uma série de quartos localizados entre o espaço do telhado e a secção principal do edifício. Estes quartos foram fornecidos originalmente para certos membros chave dos funcionários do orfanato. Agora eram usados como alojamentos dos criados. Na entrada principal da casa, havia um pórtico curvado, alinhado com grossas colunas feitas de pedra de calcário. Isto foi adicionado algures no final da década de 30, como uma tentativa vã de melhorar a aparência do edifício. Tendo resultado ou não nesse aspecto, trata-se de uma questão de opinião, apesar da opinião geral ser de que tinha falhado e falhado de forma bastante miserável. Acima do pórtico estava situada uma zona de varada que dava saída para o quarto principal. Para a zona leste do edifício, apenas foi construído um andar adicional algures em meados da década de 80, para dar acomodações separadas ao motorista e à sua família. Nas traseiras estava uma estufa de madeira e apenas mais um andar adicionado, que contém a biblioteca e a sala de música, que dava vista para o relvado do sul e o lago. Do lado direito do edifício principal estava um bloco de garagens, com espaço para cinco carros. De um lado estava uma escadaria de ferro fundido que levava aos quartos acima. Originalmente estes quartos formavam as acomodações  para o motorista e a sua família. No entanto, com o passar dos anos, os quartos tornaram-se insatisfatórios para servirem de habitação e eles não correspondiam aos requerimentos rigorosos da habitação moderna. Não tinham aquecimento apropriado, eram frios e húmidos. Gradualmente deixaram de ser usados e foram, eventualmente, fechados. A área estava agora a ser usada apenas para efeitos de arrumação.

    * * *

    Em frente à casa estava um relvado que se estendia até à área do bosque mais ou menos cem metros a norte. Ao longo do lado este do relvado estava uma linha de árvores coníferas que se esticavam na direcção do rio. Perto do rio, uma tenda branca manteve-se vazia e silenciosa, com as suas enormes lonas a bater gentilmente com a brisa. Esperava de ser libertada das mesas e cadeiras que repousavam no seu interior; esperava para que as louças esquecidas e copos fossem levados. A tenda seria depois recolhida, desmontada e removida. Era tudo o que permanecia para mostrar que tinha havido uma espécie qualquer de celebração.

    Pouco tempo atrás, a tenda tinha sido uma colmeia de actividade que vibrava ao som da música de dança e de pessoas a dançar e a cantar. Amigos e vizinhos que tinham vindo de quilómetros na vizinhança para ajudar Robert James Bradley e a sua mulher Irene, a celebrar o seu trigésimo aniversário de casamento. Comeram os pratos mais refinados e beberam as melhores bebidas e, conforme a posterior opinião de todos, no geral passaram bons momentos.

    Agora estava tudo quieto. Agora a área estava completamente deserta. A última garrafa de vinho tinha sido consumida já há muito tempo. A última porção de comida foi comida. A última valsa foi tocada. A última dança acabou. A banda já tinha guardado os seus instrumentos musicais e ido embora. A mesa de decorações jazia agora esmorecida e desamparada. As toalhas de mesas outrora de linho impecavelmente branco estavam agora desgrenhadas e manchadas com vinho e pedaços de comida. Garrafas vazias estavam deitadas por todo o lado assim como as louças e os copos de cristal partidos que tinham tido, até recentemente, estado a transbordar com o melhor champanhe. Alguns copos caíram, com os restos do seu conteúdo a escorrer lentamente pela sua superfície e a pingar pela borda da mesa. A comida que sobrou estava lá onde tinha sido descartada. Serpentinas e bandeiras coloridas mal estavam presas no tecto. Os guardanapos de papel estavam amachucados no chão, perto das beatas de cigarros esmagados e maços vazios. O último dos convidados tinha ido finalmente embora.

    Amanhã viria a tarefa de limpar tudo. Amanhã um exército de trabalhadores viria a descer pela propriedade para desmontar a iluminação temporária e remover o som de sistema. Outros poderiam ainda desmontar as enormes lonas da tenda. Equipas varreriam e esfregariam e limpariam. No final da tarde de amanhã, todos os traços da festa desapareceriam. Mas por agora, tudo isso teria de esperar. Por agora a causa e e o terreno jaziam silenciosos. Por agora a casa estava mergulhada numa escuridão completa, os seus ocupantes, completamente exaustos, tinham adormecido rapidamente.

    * * *

    O céu estava escuro, nublado e com nuvens negras e densas estavam a começar a formar-se, tapando a luz da lua. Havia uma forte brisa a soprar de leste e era o início para que começasse a ficar bastante frio. O frio soprou das árvores. Ao pé do rio um sapo coaxou e atirou-se para água. Acima uma coruja piou e depois acomodou-se para a noite. Um coelho correu pelo relvado e parou momentaneamente. Levantou-se, apoiando-se nas pernas traseiras e cheirou o ar e depois desatou a correr de volta para o bosque.

    Uma figura difusa espreita entre as árvores, observado silenciosamente. Tinha cerca de um metro e setenta e pesava setenta e dois quilos. Um chapéu preto, afundado na sua testa, cobria o seu farto cabelo castanho escuro. O homem observava silenciosamente a casa. Excepto pelas luzes de segurança localizadas em cada ponta do edifício, estava completamente na escuridão. Olhou para o seu relógio. Pouco passava das duas da manhã. Já estava ali pouco mais de uma hora.

    Há quanto tempo é que ele esperava que esta noite chegasse? Parece que há uma vida inteira. Foram apenas quatro meses? Quatro meses desde que ele a conheceu? Quatro meses, uma semana e três dias para ser exacto. Parece que foi mesmo ontem.

    * * *

    Ele viu-a naquela segunda feira à tarde, conforme ela descia pela High Street. Ela andava como se fosse dela. Estava um dia solarengo e quente. Ele tinha ido à cidade tratar de negócios? Negócios, deveras? O problema era mesmo esse. Não haviam negócios. Ele não tinha trabalho nos últimos três meses. Claro, ele procurou e procurou arduamente mas não havia nada. Nada adequado, isto é. Sim, poderia ter arranjado um trabalho numa fábrica, ou trabalhar atrás de um balcão algures, ou talvez guiar um táxi. Mas isso não era para ele. Procurava algo melhor, muito melhor. Algo um pouco, digamos em grande, que atraísse as atenções. Um executivo soava bem; ou talvez algo no mundo das finanças, ou transportes, talvez. Havia dinheiro nos transportes, dinheiro a sério. Por via marítima, caminhos de ferro, rodoviário, isso seria algo mais adequado à sua personalidade.

    Não é que ele tivesse qualquer tipo de treino apropriado para tal posição. Mas não é aquilo que sabes, certo? É mais o caso de quem conheces. Qual era a razão precisamente para ele estar na cidade naquela tarde? No dia anterior ele tinha recebido uma mensagem. Se ele estivesse interessado numa posição que oferecia uma oportunidade real, deveria ligar para 226 Hatfield no dia seguinte, para ver o Martin. Que era exactamente onde ele ia quando a viu.

    Observou-a conforme ela se movia rapidamente, com os olhos fixos na sua frente, sem virar à esquerda ou à direita. Não prestou atenção a ninguém ou a nada à sua volta. Quem foi imprudente o suficiente para estar no seu caminho, ou saiu depressa ou foi atingido pela mala que ela balançava continuamente. Ela não era exactamente linda, não tendo má aparência também. Mas havia algo nela, para além da sua aparência. Personalidade, se preferir. Carácter, talvez? Oh, ela certamente tinha carácter. Não havia nada nenhuma disputa a esse facto. E sim, ela era glamorosa. Mas acima de tudo, ela tinha... o que era? Estilo! Era exactamente isso. Ela tinha estilo e ela sabia disso. E ela sabia que se sabia disso. E ela sabia que se sabia que ela sabia. Ele estava imediatamente atraído a ela e rapidamente a seguiu, uns poucos passos atrás. Ele não estava exactamente seguro como mas ele estava determinado a conhecê-la. Já se tinha decidido e não havia volta a dar. O quer que acontecesse, ele iria conhecê-la. Então e o Martin e aquela oferta da posição? Encolheu os ombros. Se ele me quisesse assim tanto, ele pensou, apenas terá de esperar, não é verdade?

    Apanhou-a no Jerry’s Bar, na esquina da Sunset e Forest, perto da praça da cidade. Era o início da tarde e o bar estava praticamente vazio. Estava escuro no interior e demorou um pouco para que a sua visão se ajustar depois da luz do sol. Percorreu com o olhar o bar. Havia dois homens a discutir animosamente no bar. Dois outros homens estavam sentados no canto mais distante. O Jerry estava no bar. Com um olho no jogo de basebol na televisão, limpava o balcão. Parecia não estar mais ninguém lá. Onde estava ela, questionou-se ele? Foi então que a viu. Ela estava sentada no cubículo do canto. A jovem empregada estava ao pé da mesa, pronta a receber o seu pedido.

    Observou-a por alguns minutos conforme ela tentou decidir aquilo que iria ter. Respirou profundamente e rapidamente foi até lá. Passou pela empregada. Olhou de cima para ela. Um Martini para a senhora, ele disse, conforme se sentou ao seu lado. Eu vou ter um uísque e cola. Ele olhou para ela e sorriu. Traga antes um duplo. Acenou para empregada de forma a que ela se fosse embora.

    Como é que sabia que eu bebia Martíni? perguntou ela, conforme olhava para ele.

    Oh, apenas me pareces o tipo de pessoa, apenas isso, respondeu. Doce, tal como um Martíni. Pausou por um momento, ainda a olhar para ela. Eu não posso dizer coisas destas, ele continuou. Misturado mas nunca abanado, eu diria.

    Ela começou a rir. Nunca me apercebi que revelava assim tanto, respondeu. Olhou para ele, com a cabeça inclinada para um dos lados. Não me parece muito do tipo uísque com cola, continuou.

    Está correcta, absolutamente correcta. Não sou, respondeu ele. Voltou-se e chamou a empregada. Empregada, esqueça a cola. Ela voltou a rir-se novamente.

    Eles entenderam-se logo imediatamente, e estavam surpreendidos por saber que tinham tanto em comum. O seu gosto na música era muito semelhante. Eles partilhavam os mesmos filmes favoritos. Eles gostavam de viajar. Ambos gostavam de teatro. Ambos odiavam a ópera. Começaram a sair juntos.

    Foi cerca de um mês mais tarde quando ele descobriu onde é que ela morava mesmo.

    * * *

    Rutland Hall, ela disse casualmente a responder à sua pergunta. Conheces? Ele conhecia. Quem é que não conhecia? Era um marco local, não era? Mais pela negativa. Foi então que ela mencionou pela primeira vez o rubi. O Rubi Marinski, ela disse com uma voz sussurrada. Conheces?

    Sim, ele sabe disso também. Mas não era apenas um rubi, pois não? Era uma colecção completa de joalharia, incluindo um anel, uma bracelete, colar, brincos, e, claro, o rubi em si em todo o seu esplendor de oito quilates. Havia rumores que a colecção tinha pertencido a uma imperatriz russa, ou condessa, ou algo do género, cem anos atrás. Ou talvez tenha sido duzentos anos. Ou era uma princesa alemã? Ou talvez ela fosse austríaca. Ele não tinha muita certeza dos pequenos detalhes. Ele não estava assim tão interessado. Uma coisa ele sabia, contudo, era que a colecção estava desaparecida há muitos anos.

    Subitamente levantou o olhar. Ela estava a olhar para ele, abanando lentamente a sua cabeça. Desculpa, foi estúpido da minha parte, ela disse. Foi apenas um deslize parvo. Acho que não estava a pensar. Não me estava a concentrar, um lapso momentâneo. Vê o efeito que tens em mim. Eu nunca deveria ter mencionado, ela protestou. Por favor, por favor, esquece tudo sobre isto, ela implorou. Finge que nunca aconteceu, pode ser?

    Ele acenou positivamente e rapidamente concordou em esquecer tudo sobre aquilo. Não te preocupes, não aconteceu nada, ele disse, afagando o braço dela com uma mão e colocando um dedo da outra mão nos lábios. Os meus lábios estão selados. O teu segredo está seguro comigo. Não vou dizer uma palavra. Está completamente esquecido.

    Mas ele não esqueceu. Daquele dia em diante ele pensou naquilo constantemente. Simplesmente não conseguia tirar isso da sua cabeça. Instintivamente sabia que não tinha sido um erro. Ela não era o tipo de pessoa de cometer erros. Não foi apenas um simples deslize, ou um lapso momentâneo de concentração. Oh, não, não foi. Foi dito de forma bem deliberada. Ela sabia exactamente o que ela estava a dizer. Tinha sido tudo planeado, disso não havia qualquer dúvida. Ela queria que ele soubesse. Isso estava claro. Mas porquê? ele interrogava-se. Porque é que ela me diria?

    * * *

    Passaram duas semanas antes dele receber a sua resposta, uma resposta que foi surpreendente, embora não fosse de todo inesperada. Há já algum tempo que ela estava a planear em roubar as jóias.

    * * *

    Planeias roubar as jóias Marinski, disse ele descrente. Porque raio tu irias querer fazer isso? Nunca as poderias exibir, elas são demasiado conhecidas por todos para isso.

    Concordo, respondeu ela de forma bastante simples.

    Nunca as poderias vender, continuou ele.

    Certo, ela respondeu. Não as vamos vender, vamos devolvê-las.

    Ele não conseguia acreditar no que ouviu. Vais devolvê-las, ele repetiu. assim, sem mais nada, depois de todo o trabalho que tiveste em ficar com elas?

    Não, não é assim, sem mais nada, disse. "Vamos devolvê-las, por um preço. O velho disse que ia pagar, não te preocupes com isso.

    * * *

    Então era esse o plano dela, mas ela sabia que não o conseguiria fazer sozinha. Ela precisava de ajuda de fora. Ele seria a ajuda que ela precisava. Ajuda que ele estava mais que disposto a dar. E assim o planeamento começou.

    E acerca da segurança? ele perguntou. Quer dizer, deverá haver um circuito de vigilância fechado, e luzes de segurança por todo o lado. Sem esquecer o alarme de sistema. Ele olhou para ela e respirou profundamente. Quero dizer, um sítio como este deve ser um pouco como o Fort Knox.

    Não te preocupes com isso. Podes deixar tudo isso para mim. Eu trato disso, disse. As luzes de segurança e as câmaras, serão lidadas quando chegar o momento. Ele ainda estava inseguro, hesitante. Ela colocou a sua mão no seu ombro. Vai correr tudo bem, vais ver, disse. Ela apertou o seu ombro. O alarme vai estar desactivado, ela continuou. Oh, a porta da frente vai estar destrancada, acrescentou. Como podes ver a segurança não vai ser um problema."

    Ele pensou por uns breves instantes. Os guardas, lembrou-se subitamente. E os guardas e as suas patrulhas? perguntou. Quer dizer, eles patrulham os terrenos, imagino eu.

    Sim, eles patrulham mas isso também não vai ser um problema, disse ela. Vou dar-te todos os detalhes dos horários. Vou dizer-te exactamente quando é que deves entrar na casa. Ela olhou para ele. Vou dar-te a combinação do cofre também. Começou a sorrir e colocou os braços à volta dele. Será tão fácil, disse. Não terás com que te preocupar. Inclinou-se para a frente e beijou-o."Tudo o que tens de fazer é abrir o cofre, tirar as jóias e sair de lá, tão simples como isso. E depois vamos fugir juntos, México, talvez? Sempre gostei de Acapulco. Ou talvez prefiras ir para a América do Sul. O que é que gostaria mais Rio ou Buenos Aires?

    Soava bem mas será que poderia ser assim tão simples? Ele olhou para ela e encolheu os ombros. Talvez, ele murmurou, talvez. Tudo o que era preciso era uma data concreta, o dia em que o roubo iria ser executado. Tudo o resto estava planeado. Ou será que estava mesmo? Mais uma coisa, ele disse de repente. Ela olhou para ele e esperou. Ele encolheu os ombros novamente. Como é que eu entro no terreno? Quer dizer, não posso simplesmente passar pelo portão, posso?

    Não, não podes, pois não? respondeu e começou a rir. Também podes deixar isso para mim. Não vai ser um problema, asseguro-te.

    Ele olhou para ela e respirou de forma profunda. Parece que tens tudo previsto, disse. Respirou profundamente mais uma vez. Já agora, como é que eu saio de lá, ele perguntou?

    Ela começou a sorrir. Pára de te preocupares, ela disse. Vai ser tudo tratado, até ao último detalhe. Ela pausou. Não te esqueças que tenho estado a planear todo este tempo antes de te conhecer.

    Ela parecia ter pensado em tudo. Talvez estivesse certa. Mas tudo começava a soar um pouco demasiado fácil. Estaria ela a ser apenas um bocado demasiado complacente?

    * * *

    Faltava um pouco para a meia noite quando ela saiu da casa. Por essa altura a festa estava ao rubro. Não iriam sentir a sua falta por momentos. Ela seguiu de carro até à barreira de segurança e parou. O segurança olhou por cima do ecrã do computador e saiu da casinha do portão até ao seu carro. Conforme ele se aproximava, ela desceu o vidro do carro. Olá Dave, disse ela.

    Então vai sair? perguntou ele. Não se junta à festa? Olhou para a tenda.

    Não me vou demorar, Dave, respondeu ela, ignorando a sua pergunta direta. Tenho de ir ver alguém, explicou. Tu percebes, ela disse e piscou o olho. Não digas a ninguém, está bem?, acrescentou. Nem ao Charlie. Será o nosso pequeno segredo.

    O guarda não disse nada. Ele sorriu para ela e abriu o portão. Ele tinha percebido, sim. Não era a primeira vez e não seria a última, ele estava bem certo disso. Na realidade, estava a tornar-se em algo frequente. O seu segredo estava seguro com ele, todavia. Ele piscou o olho de volta conforme subiu a cancela e acenou-lhe enquanto ela passou. Ele sabia o que se estava a passar. Não era necessário fazer-lhe um desenho. Não precisava que lhe dissesse. Não era ciência nuclear, certo?

    Divirta-se, disse ele conforme ela passou.

    Ele observou o carro até que estava fora de vista e então baixou lentamente a cancela e voltou à casinha do portão. Pegou na página aberta do livro de registos que estava no balcão e pegou na caneta pronto para entrar os detalhes. Conferiu o relógio. Onze e cinquenta e dois, murmurou. As suas instruções eram para registar tudo no livro, não interessando o quão trivial poderia parecer, não interessando o quão pequeno e insignificante. Tudo tinha que ser registado. Hesitou e começou a sorrir. Isto não contava, raciocinou. Ele não tinha de anotar qualquer detalhe, não sobre ela. Afinal ela era família, não era? Será o nosso pequeno segredo, murmurou. Pousou a caneta e fechou o livro. Olhou para o relógio novamente.

    Mais vinte minutos e o Charlie estará de volta, murmurou. Ele foi até à área da cozinha e serviu-se de um café. Levou-o de volta à sua secretária e sentou-se. Olhou pelos ecrãs das câmaras de segurança. Todas estavam ligadas, e a trabalhar. Não era que não se passasse nada. Não havia qualquer sinais de actividade, aparte da câmara mostrar a área da tenda. Continuou a observar por mais alguns minutos. Ali estavam eles a agitar o champanhe, com os seus vinhos finórios, a comer o seu caviar ou outra comida requintada qualquer. Não há justiça neste mundo, murmurou enquanto se esticou pela secretária e agarrou um pequeno saco de papel castanho. Procurou no interior pelos restos de uma sandes de queijo e tinha começado a comer trinta minutos atrás. Abanou a sua cabeça de forma triste. Olhou novamente para o ecrã. Sabia-lhe bem uma bebida, murmurou e não se estava a referir a café morno. Um uísque escocês e americano escorregariam mesmo bem. Abanou a cabeça novamente e encolheu os ombros. Mais tarde, murmurou de forma triste, Mais tarde.

    * * *

    A praça da cidade estava quase deserta. Do lado mais distante, ele conseguia ver alguns foliões tardios a deixar o Jerry’s Bar. Alguns metros mais à frente, uma figura solitária, completamente de rastos que ia cambaleava aos esses. Uns poucos metros mais à frente estavam duas pessoas a correr pela estrada para apanhar um táxi. Perto ouvia-se o som de uma sirene da polícia e depois o silêncio instalou-se novamente. Continuou à espera na esquina. Olhou para o relógio, meia noite e dez. Já ali estava há pouco mais de dez minutos. Estava frio e a ameaçar chover. Teve de repente um arrepio. Se era pelo frio ou se estava ligado ao que ele ia fazer nas próximas horas, ele não estava certo. Recolheu-se para a frente da loja para se abrigar.

    Assim que o relógio do edifício da Câmara Municipal deu os quinze minutos após a meia noite, o carro dela virou a esquina. Ele ouviu o carro uns segundos antes de o ver. Não dava para enganar aquele barulho de chocalhar, ele o reconheceria em qualquer lugar. Conferiu novamente o seu relógio. Mesmo a tempo, murmurou. Até agora, tudo bem.

    Assim que ela o viu, acendeu e apagou os máximos duas vezes e dirigiu-se lentamente até à esquina onde ele se encontrava à espera. Ele correu desde a entrar.

    Ela desceu o vidro. Rápido, entra atrás, disse. Deita-te no chão e tapa-te com este cobertor. Ela tirou o cobertor do lugar do morto e passou-o para ele. Sem dizer uma palavra, ele fez conforme lhe foi indicado. Ela olhou para ele em baixo. Satisfeita ao ver que ele não estava visível, ela meteu a primeira, olhou para os espelhos e arrancou lentamente.

    Durante a viagem de volta, nenhuma palavra foi dita. Não havia necessidade para nenhuma conversa. Eles já tinham revisto o plano tantas vezes. Todos os detalhes e cada eventualidade foi coberta. Ambos sabiam exactamente aquilo que tinham de fazer. Ambos estavam prontos para prosseguir.

    * * *

    Trinta minutos mais tarde, ela chegou novamente ao Hall. O segurança levantou o olhar conforme ouviu o carro dela a aproximar-se. Saiu para a cumprimentar. Olhou casualmente através do vidro para o banco de trás. Não aparentava estar alguém com ela no carro, não que ele esperasse que estivesse. Apesar de um dia, pensou ele, ela iria trazê-lo consigo, o seu amigo famoso, então todos poderiam ver como é que ele era. Todavia não era esta noite, ela estava bastante sozinha. O segurança estava surpreendido por a ver de volta tão cedo mas sabia que era melhor não mencionar nada.

    Ele piscou o olho para ela novamente conforme abriu a cancela para a deixar entrar. Bem- vindo de volta, disse a sorrir. Tocou no seu nariz com o dedo. Não se preocupe, sussurrou. É o nosso pequeno segredo.

    O nosso pequeno segredo, repetiu ela conforme passou lentamente. Obrigado Dave, sabia que podia contar contigo.

    Ele observou-a conforme ela passou. Depois olhou para a tenda, distraído pelo som da música e das pessoas a rir. Conferiu o relógio na parede. Faltavam dezasseis minutos para a uma. Tinha sido um longo dia e estava longe de acabar. Ele e o Charlie estavam de serviço até às três e meia, quando seriam rendidos pela outra equipa. Ele mal podia esperar. Regressou novamente para dentro da casinha do portão e para o seu café que estava a arrefecer rapidamente. Bebeu-o rapidamente. Sabia-lhe amargamente. Se havia algo que odiava era café frio. Olhou para o relógio novamente. Perguntou-se se estaria na altura de fazer um novo. Infelizmente não era. "Mais quinze minutos, murmurou. E depois vou fazer a ronda outra vez."

    Arrepiou-se com o pensamento. Estava a ficar frio e parecia que ia chover. Era mesmo isso que ele precisava. Arrepiou-se novamente e aproximou-se do aquecedor. Sentou-se e colocou as mãos perto da grelha. Apenas preciso de um pouco de calor, murmurou para ninguém em particular. Apenas por um pouco de tempo.

    Charlie olhou para cima. Não te instales muito confortavelmente, disse ele. Em breve vais sair, não te esqueças.

    Apenas um minuto ou dois, respondeu Dave. Apenas isso. Charlie assentiu e voltou para a escrita do seu relatório.

    Nenhum deles viu que o carro dela parou junto à zona do bosque. Nenhum deles viu a porta de trás do carro a abrir-se lentamente. Nenhum deles viu uma figura difusa a sair do carro e a correr silenciosamente para a floresta ou o cobertor a cair no chão.

    * * *

    Capítulo Dois

    O Roubo

    Quatro meses, ele repetiu. Quatro meses, uma semana, e três dias, e ali estava ele, no bosque a uma curta distância da casa. Na última banda, ele ouviu a banda e aos risos da festa lá em baixo, ao pé do rio. Ouviu as vozes a serem ocasionalmente levantadas numa discussão repentina, ou a alguém a tentar cantar a música. Observou enquanto a festa eventualmente chegou ao final e os convidados começaram a abandonar. Primeiro, foram saindo aos pares ou sozinhos e depois mais tarde em grupos maiores. Há quase vinte minutos que o último deles saiu. Observou o Bradley e a sua esposa a voltar à sua casa. Viu-os a entrar e a porta da frente da casa a fechar-se atrás deles. Pouco tempo depois, viu as luzes do rés de chão a apagar. Dez minutos mais tarde, as luzes do primeiro andar apagaram-se. A casa estava agora mergulhada em escuridão absoluta.

    Já não falta muito, pensou ele. Mais vinte minutos. Seria quando os seguranças iriam fazer a sua ronda. Mas por essa altura já toda a gente tinha ido embora e área estaria completamente deserta, tinha-lhe dito ela. Duas e meia, não te esqueças, nem um minuto antes e nem um minuto depois.

    * * *

    Os seguranças fazem a ronda uma vez a cada noventa minutos, ela disse uma vez. noventa minutos exactamente, nem mais nem menos. Como um relógio suíço. Eles nunca variam. Ela pausou de olhar para a sua cara. Onze e meia, uma da manhã, duas e meia e por aí fora. Eles passam pela entrada principal. Ele ouviu atentamente. Um guarda fica na casinha do portão enquanto o outro faz a ronda, continuou. Habitualmente um guarda e um cão, às vezes dois.

    Se fosse necessário, ele pensou que conseguiria lidar apenas com um guarda solitário. Contudo não gostava da ideia dos cães, mas não comentou nada. Uma ronda completa leva pouco menos de uma hora, continuou ela. Eles depois ficam no escritório por trinta minutos. A escrever os seus relatórios, a beber um café rápido, talvez petiscar qualquer coisa e depois estão prontos para voltar à ronda novamente. Ele continuou calado. Ela esperava que ele estivesse a prestar atenção e a memorizar tudo. Ouviste o que eu disse? Ele sorriu e acenou em confirmação. Ele ouviu. Ela respirou de forma profunda. Tu deverás estar a postos apenas à uma e meia. Dessa forma podes ter a certeza que o guarda já fez as suas rondas e já se foi embora. Entra na casa não antes das três horas. Por essa altura o alarme já foi desactivado. As luzes de segurança serão desligadas e a porta de entrada estará destrancada.

    Ele não estava muito entusiasmado em ficar a passear por lá entre a uma e meia e as três mas foi o que ela disse e foi isso que ela queria que fosse feito. E as câmaras de segurança? ele perguntou. Será que os seguranças não reparariam que as câmaras se desligassem de repente? Os ecrãs ficariam em branco. Não iria isso levantar suspeitas?

    Não tens que te preocupar, ela disse. Têm havido problemas com a câmara da entrada frontal já há algumas semanas. Tem estado muito instável. De repente vai-se abaixo e depois mais tarde simplesmente volta a funcionar, ela explicou. Tem sido declarado e os engenheiros de serviço têm vindo cá já muitas vezes. Ela pausou por momentos e sorriu. Naturalmente que quando eles vieram, funcionava perfeitamente. Sem qualquer tipo de problema, muito estranho. Eles estão completamente baralhados. Não terá sido nada mais do que uma simples ligação defeituosa algures, mesmo que nunca a tenham conseguido encontrar. Continuou ela. Então os guardas não vão pensar que se passa algo estranho. Além de que o novo equipamento foi encomendado e está prestes a ser instalado bem em breve.

    Ele está longe de ficar convencido e não estava inteiramente feliz acerca da situação mas ela deve saber o que faz, racionalizou ele. Ok, disse. Parece que não te esqueceste de nada. Olhou para ela por um momento ou dois. Tudo, excepto como é que eu fujo depois? Quero dizer, vais-me levar até lá, essa parte está clara e compreendida. Ele encolheu os ombros. Mas como é que saio de lá?

    Ela começou a rir. Isso é fácil, ela respondeu. Apenas sais, tão simples como isso. Apenas sais de lá a andar. Ele não disse nada mas parecia intrigado. No dia a seguir à festa, o sítio vai estar cheio de trabalhadores a limpar tudo, ela explicou. Haverá pessoas a desmontar o som de sistema, a desmontar o sistema de som temporário, a desmontar a instalação de luz temporária, a tenda. Ele continua sem dizer nada. Haverá pessoas a limpar os destroços, as garrafas vazias e os restos de comida. Tudo e mais alguma coisa. Eles vão estar a limpar tudo.. Tu serás um desses trabalhadores. Conforme eles começarem a ir-se embora, quando eles terminarem, tu simplesmente vais com eles. Vais passar despercebido. As pessoas vão presumir que estás com um dos outros grupos. Não te vão estranhar.

    Ele não estava convencido. Mas mais uma vez ele apercebeu-se que estava completamente nas mãos dela. Ele estava completamente sobre o controlo dela. Ele odiava estar nessa posição onde estava obrigado a seguir as suas instruções. Ele não gostava. Não gostava nem um pouco mas ele sabia que não tinha escolha. Qualquer tipo de escolha.

    Ela olhou para ele atentamente. Será que poderia confiar nele? Confiar realmente? Ela sabia que estava a correr um grande risco mas tinha que confiar nele, sabia disso. Não havia volta a dar, não agora. Eles tinham que ir em frente. Eles estavam a planear já há vários meses. Eles decidiram colocar o plano em acção na noite da festa de aniversário e era assim que iria ser. A festa era a oportunidade de ouro. Eles não podiam adiar. Ela não podia recuar, ele sabia demasiado. Ela não tinha escolha.

    Três horas, ela repetiu. Três. Ele manteve-se calado. Compreende, ela disse com firmeza, apertando o seu braço. É o mais importante. O timing é crucial.

    Ele deu uma palmadinha na sua mão. Não te preocupes, percebo perfeitamente. Três horas em ponto. Eu estarei lá. Sem problema. Vai ser canja. Como apanhar flores. Não te vou desiludir. Podes contar comigo. Ele olhou para ela por uns momentos. Não tens que te preocupar, disse lentamente. Apenas faz a tua parte e tudo o resto vai correr bem.

    Ok, ela respondeu aliviada. Uma vez lá dentro, não vais ter mais do que quarenta e cinco minutos para conseguires as jóias e voltares para a mata.

    Era um pouco apertado, pensou ele, mas deveria ser tempo suficiente. Teria que ser tempo suficiente. Os seguranças estariam de volta às quarto, então havia muita pouca folga, se é que havia alguma.

    * * *

    Ia ser apertado mas era esse o plano que concordaram seguir, era dessa maneira que teria de ser feito. Ele teve que esperar até às três da manhã. Então eles poderiam prosseguir com o plano. O alarme estaria fora

    Enjoying the preview?
    Page 1 of 1