O velho está morrendo e o novo não pode nascer
By Nancy Fraser
4/5
()
About this ebook
O colapso político, ecológico, econômico e social global – simbolizado pela eleição de Trump, Bolsonaro e outros governantes de extrema-direita que dizem ser antiestablishment, embora façam parte dele – destruiu a fé de que o capitalismo neoliberal pode beneficiar a maioria do povo dentro da democracia. Fraser explora como essa fé foi construída no final do século XX, equilibrando dois princípios centrais: reconhecimento (quem merece direitos) e distribuição (quem merece renda). Quando eles começam a se desgastar com as sucessivas crises nas primeiras décadas do século, novas formas de populismo surgem à esquerda, para os 99%, e à direita, para o 1%.
Fraser argumenta que esses são sintomas da maior crise de hegemonia do neoliberalismo, um momento em que, como Gramsci disse, "o velho está morrendo e o novo não pode nascer". O livro é acompanhado de uma belíssima entrevista do editor da revista Jacobin, Bhaskar Sunkara, com Fraser, que argumenta termos a oportunidade de transformar o populismo progressista em uma força social emancipatória, podendo, assim, reivindicar uma nova hegemonia.
Read more from Nancy Fraser
Pensamento Feminista: Conceitos fundamentais Rating: 4 out of 5 stars4/5A grande regressão: um debate internacional sobre os novos populismos — e como enfrentá-los Rating: 4 out of 5 stars4/5Feminismo para os 99%: um manifesto Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDebates feministas: Um intercâmbio filosófico Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
Related to O velho está morrendo e o novo não pode nascer
Related ebooks
Como nasce e morre o fascismo: Clara Zetkin Rating: 5 out of 5 stars5/5O ponto zero da revolução: trabalho doméstico, reprodução e luta feminista Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAlthusser e o materialismo aleatório Rating: 5 out of 5 stars5/5ANTIFA - O Manual Antifascista, Mark Bray Rating: 3 out of 5 stars3/5Rosa Luxemburg: Dilemas da ação revolucionária Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAmanhã vai ser maior: O que aconteceu com o Brasil e possíveis rotas de fuga para a crise atual Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO indivíduo, a sociedade e o Estado e outros ensaios Rating: 5 out of 5 stars5/5Racismo Estrutural: Uma perspectiva histórico-crítica Rating: 5 out of 5 stars5/5Ética e pós-verdade Rating: 5 out of 5 stars5/5Raça, classe e revolução: A luta pelo poder popular nos Estados Unidos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsManifestações ideológicas do autoritarismo brasileiro: Escritos de Marilena Chaui, vol. 2 Rating: 5 out of 5 stars5/5Bandeiras tornam-se objetos de estudo (violência, aborto, sindicalização) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO populismo reacionário: ascensão e legado do bolsonarismo Rating: 5 out of 5 stars5/5Deus e o Estado Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPensar sem corrimão: Compreender (1953-1975) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA revolução alemã Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsConformismo e resistência: Escritos de Marilena Chaui, vol. 4 Rating: 5 out of 5 stars5/5Primeiro eles tomaram Roma Rating: 5 out of 5 stars5/5Interseccionalidades: pioneiras do feminismo negro brasileiro Rating: 5 out of 5 stars5/5Pensamento Feminista Brasileiro: Formação e contexto Rating: 5 out of 5 stars5/5O feiticeiro da tribo: Vargas Llosa e o liberalismo na América Latina Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO 18 de brumário de Luís Bonaparte Rating: 5 out of 5 stars5/5ABC do socialismo Rating: 5 out of 5 stars5/5O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMarxismo Negro: A Criação da Tradição Radical Negra Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsNem com Marx, nem contra Marx Rating: 4 out of 5 stars4/5O leitor de Marx Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAnseios: Raça, gênero e políticas culturais Rating: 4 out of 5 stars4/5Petrogrado, Xangai Rating: 0 out of 5 stars0 ratings
International Relations For You
O Que Os Pobres Não Sabem Sobre Os Ricos Rating: 5 out of 5 stars5/5Cooperação e desenvolvimento humano: A agenda emergente para o novo milênio Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA Origem do Estado Islâmico: O Fracasso da "Guerra ao Terror" e a ascensão jihadista Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsUm Elo com o Passado: A Rússia de Putin e o Espaço Pós-Soviético Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA luta contra o terrorismo: os Estados Unidos e os amigos talibãs Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsAs Maiores Batalhas E A Grande-estratégia Na Guerra Do Vietnã Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Poder Americano no Sistema Mundial Moderno: Colapso ou Mito do Colapso? Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsGovernança global: conexões entre políticas domésticas e internacionais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsTerra Roubada Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDiplomacia de Defesa: Ferramenta de Política Externa Rating: 5 out of 5 stars5/5Segurança E Policiamento Diplomáticos Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO retorno da geopolítica na Europa: Mecanismos sociais e crises de identidade de política externa Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPor que o mundo precisa de internacionalistas?: Guia completo sobre carreiras e processos seletivos em Relações Internacionais Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLaços de confiança - O Brasil na América do Sul - 1ª edição 2022 Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDe Kautilya: O Arthashastra Rating: 3 out of 5 stars3/5Tragédia e Esperança: Uma Introdução - A Ilusão de Justiça, Liberdade e Democracia Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsDiplomacias Secretas: O Brasil na Liga das Nações Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsLéopold Senghor e Frantz Fanon: Intelectuais (pós) coloniais entre o político e o cultural Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsResolução de Conflitos Internacionais: A Declaração de Teerã Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsContracorrente: Ensaios de teoria, análise e crítica política Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsPoder suave (Soft Power) Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsO Conselho De Estado Imperial E A Política Externa Brasilera Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsMigração Venezuelana No Brasil E Em Roraima Rating: 0 out of 5 stars0 ratingsA política externa brasileira em disputa: agentes e mecanismos do processo decisório na era Lula Rating: 5 out of 5 stars5/5
Related categories
Reviews for O velho está morrendo e o novo não pode nascer
7 ratings0 reviews
Book preview
O velho está morrendo e o novo não pode nascer - Nancy Fraser
Sumário
Prefácio à edição brasileira – O velho está morrendo e o novo sempre vem
O rei populista está nu – Bhaskar Sunkara entrevista Nancy Fraser
Sobre a autora
O velho
está morrendo
e o novo
não pode nascer
Nancy Fraser
© Autonomia Literária, para a presente edição.
© Nancy Fraser
2019.
Publicado originalmente sob o título de The old is dying and the new cannot be born. First published by Verso
2019
Coordenação editorial
Cauê Seignemartin Ameni, Hugo Albuquerque & Manuela Beloni
Tradução
Gabriel Landi Fazzio
Revisão
Lilian Aquino
Capa
Rodrigo Corrêa
Ebook
Rodrigo Corrêa
prefácio à edição brasileira
O velho está morrendo
e o novo sempre vem
por Victor Marques1
Esse pequeno livro é composto de duas partes: a primeira delas, um texto de Nancy Fraser originalmente publicado em
2019
na revista American Affairs, sob o título Do neoliberalismo progressista a Trump – e além
, a segunda, uma entrevista conduzida com Fraser pelo fundador e editor da revista Jacobin, Bhaskar Sunkara. A combinação revela um interessante encontro entre gerações.
Fraser tem feito questão de se referir a si mesma em suas intervenções públicas recentes como uma sixty-eighter
– isso é, da geração de
68
, marcada pela experiência de um período histórico específico e peculiar. Sua postura política e produção teórica carregam traços dessa experiência. Nascida em
1947
, passou a infância nos subúrbios afluentes da classe média branca de Baltimore, uma cidade legalmente segregada, e politizou-se por meio do movimento pelos direitos civis. Engajou-se ainda adolescente na luta contra a segregação racial e a partir daí se somou às mobilizações contra a guerra do Vietnã, ao movimento estudantil que ocupava os campi universitários, à agitação anti-imperialista e à nova onda do feminismo.
Foi pelo contato com as lutas que, nos anos
70
, no contexto dos debates da Nova Esquerda, Fraser se aproximou da tradição intelectual marxista, em busca de ferramentas teóricas capazes de alimentar e potencializar o enfrentamento prático contra as estruturas de poder e dominação. Conforme os anos
70
avançavam e a temperatura das ruas diminuía, culminando na vitória do projeto neoliberal no começo dos anos
80
, a militante foi aos poucos se convertendo em acadêmica. Dedicando-se ao trabalho teórico, no mais das vezes técnico e especializado, Fraser construiu uma bem sucedida carreira universitária em filosofia, ao conjugar a teoria crítica da Escola de Frankfurt com o pragmatismo americano e o pós-estruturalismo francês.
Com o tempo, tornou-se uma intelectual de renome, hoje professora da New School em Nova York, traduzida em vários idiomas e lida em cursos de graduação e pós-graduação em todo mundo. Seu debate com Axel Honneth a partir do final da década de
90
é definidor para o que se convencionou chamar de a terceira geração da teoria crítica
. Em seu artigo clássico de
1995
, Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça em uma Era pós-socialista
trabalha o par distribuição/reconhecimento como dois fatores constitutivos para uma teoria da justiça integral. Um diagnóstico corrente nesse momento, dominado pelo triunfalismo liberal que se seguiu ao fim da Guerra Fria, era de que nos conflitos de uma época pós-socialista
a luta por reconhecimento
estava destinada a se tornar a forma paradigmática de articular as demandas por justiça, e a identidade
de grupo tenderia a suplantar o interesse de classe
como motor crucial da mobilização política. Nessa leitura, opressão cultural estaria tomando o lugar da exploração econômica como injustiça fundamental, e o reconhecimento o lugar da redistribuição como objetivo central da luta. A argumentação de Fraser, contudo, frisa que essa tendência era também unilateral, uma vez que as injustiças econômicas e culturais encontram-se frequentemente imbricadas, e se reforçam mutuamente. A conclusão de Fraser, portanto, é que uma boa teoria da justiça exigiria uma reflexão crítica tanto acerca do eixo do reconhecimento, como do eixo da redistribuição, e uma alternativa política emancipatória estaria obrigada a conceituar reconhecimento e igualdade sócio-econômica de maneira a que sustentassem mutuamente, ao invés de colocá-los em conflito.
Hoje Fraser se diz reenergizada pelo novo contexto político, reconectada com seus anos de militância política na juventude. O que a levou de volta a ação engajada, em suas próprias palavras a se sentir jovem de novo
, é o sentimento de que há um desejo de mudança no ar, uma abertura para novas possibilidades, um momento de turbulência e de oportunidade, onde as pessoas voltam a se interessar por ideias como o socialismo. Inspirada por uma nova audiência ampla de jovens que mostravam curiosidade por seu trabalho e por discussões sobre marxismo, feminismo e ecossocialismo, Fraser escreve em
2019
, em coautoria com Cinzia Arruzza e Tithi Bhattacharya, o que chama de sua "primeira peça de agitação em
4
décadas": o manifesto do Feminismo para os 99%,
publicado no Brasil pela editora Boitempo. Em um debate com Bhaskar Sunkara, Fraser comenta que são tempos emocionantes para se estar viva
.
Bhaskar gosta de dizer que é de um tempo menos interessante, mas há poucas coisas desinteressantes na sua trajetória de vida. Filho mais novo de uma família de imigrantes de Trindade e Tobago, de origem étnica indiana, Bhaskar foi o único dos irmãos a nascer nos Estados Unidos – em
1989
, poucos meses antes da queda do muro de Berlim. Se politizou durante a adolescência quase ao caso, por curiosidade