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Heróis e Anti-Heróis do Sertão de Lins do Rego
Heróis e Anti-Heróis do Sertão de Lins do Rego
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Ebook192 pages2 hours

Heróis e Anti-Heróis do Sertão de Lins do Rego

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A obra Heróis e anti-heróis do sertão de Lins do Rego convida o leitor de literatura a uma reflexão sobre os romances Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1953), do reconhecido romancista paraibano. Tomados como "ciclo do cangaço, misticismo e seca" por José Aderaldo Castello, esses dois romances são lidos, criticamente, aqui, como um só: o primeiro tem sua continuidade no segundo, conforme nos alerta o próprio autor, José Lins do Rego.
LanguagePortuguês
Release dateApr 16, 2020
ISBN9788547339036
Heróis e Anti-Heróis do Sertão de Lins do Rego

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    Heróis e Anti-Heróis do Sertão de Lins do Rego - David Vinnícius Lira Campos

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    PREFÁCIO

    ANTE NÓS OU (ANTI) HEROÍSMOS EM ROMANCES DE SERTÃO

    Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1953) abordam temas como Cangaço e Messianismo e são obras ambientadas num sertão, que é mais que cenário, e juntas constituem o que se convencionou chamar Duologia do cangaço em Zé Lins.

    Em nítida simetria de discussão, é do estudo e análise dessas narrativas que trata o livro Heróis e anti-heróis do sertão de Lins do Rego. Muito louvável a iniciativa dos jovens pesquisadores em evidenciar temas tão significativos para o debate em Literatura, atualizando nele questões referentes à matéria épica, ao discurso em modalidade trágica ou às personagens em perspectiva de análise, todas encaminhadas de maneira bastante producente.

    Em "Pedra Bonita e Cangaceiros: o narrar mimetiza o conflito épico das ações", Sousa faz uma breve apresentação dos romances analisados e da temática que une os dois romances. É das relações da obra na atualização com o épico que trata, dando ênfase à narrativa em focalização múltipla, e ao plano discursivo que não só mimetiza em muitos aspectos o falar regional dos personagens, como a vida clandestina que levavam no cangaço.

    No capítulo sobre o "Cangaço e messianismo: a dupla face da maldição em Pedra Bonita e Cangaceiros", Campos discorre sobre os fenômenos supramencionados no título, e no modo como aqueles interferem sobremaneira na vida do protagonista Antônio Bento. Toma o jovem Bento para o que chama de metáfora da encruzilhada representada pelo trajeto que constrói a identidade da personagem nas narrativas analisadas, observando que em torno disso foi construída, de fato, a sua argumentação crítica.

    Já em A hibridez do herói em Lins do Rego: Aparício entre o épico e o moderno, Oliveira toma o protagonista mencionado como interesse de análise do seu trabalho, a partir de abordagem crítica que concebe o herói cangaceiro sob um escudo ético que o leva a entrar no bando de duas maneiras: como meio de vida ou por vingança. Insiste nas questões do heroísmo épico, bem como na crença que norteia a sina trágica da família Vieira, esta igualmente evidenciada pelos demais autores em interesse crítico de estudo.

    Em A construção do trágico na mãe dos cangaceiros: decadência no sertão de José Lins do Rego, Duarte & Silva elegem o discurso trágico da personagem Josefina como corpus para a análise pretendida e, na construção deste, avaliam a relação que se estabelece entre misticismo e crença numa sina familiar, materializada em questões como: a estagnação da propriedade onde vive, os silêncios do marido e a entrada dos filhos no cangaço. Para as autoras, dessa percepção culmina a decadência da mãe, manifesta ao extremo da loucura e suicídio da personagem.

    O capítulo Violência e cangaço no romance do sertão de Lins do Rego, sob a autoria de Castro & Rodrigues, procura fazer uma análise do personagem Bentinho, quando relacionado ao cangaço, na representação das reações e posturas da sociedade. Dá ênfase à discussão sobre a violência em Cangaceiros, com especial destaque para as atitudes violentas manifestas por representantes do Cangaço e do poder estatal. Nesse propósito, retomam, inclusive, outras obras literárias, e não somente de Zé Lins, para ilustrar a argumentação em curso.

    Tratando sobre "As múltiplas faces de Domício em Pedra Bonita e Cangaceiros, de José Lins do Rego", Sousa, Costa & Quaresma procuram analisar a personagem mencionada tendo por suporte de caracterização a categoria do personagem redondo. Segundo defendem, de todos os personagens que atuam nos dois romances, Domício é o único a sofrer transformações as mais radicais. De violeiro, cuidador de terra e gado da família a beato e posteriormente cangaceiro, tais mudanças, a que chamam os autores de múltiplas faces, constituem-se surpresas para os leitores, funcionam também como fatores que reforçam a esfericidade do personagem.

    Por fim, no último capítulo do livro, intitulado A arte do cantador no sertão de Lins do Rego: Dioclécio, a voz, a viola e a estrada, Alves & Dantas concedem atenção em discutir elementos de concepção da cultura popular, ainda que de forma preliminar, para em seguida apresentar Dioclécio, o cantador e personagem nos dois romances em estudo, amigo de Bento e para o qual terá uma participação definitiva sobre os destinos dele no último romance da Duologia. Ele que, não por menos, é um poeta volante e vai constituir para Bento a sua possibilidade de mudança no texto, quando o induz a fugir do impasse a que este chegara.

    A propósito do cantador, lembrar a deixa do personagem reguiano, que arte é invenção, acréscimo, criação de interpretação, também. E se já por isso merece tantas vezes ser revisitada, congratulamo-nos com os autores e autoras que compõem em unidade a perspectiva deste livro de Heróis e anti-heróis do sertão..., recomendando a apreciação crítica e desejando a todos(as) uma excelente leitura. Vale a pena!

    Dr.ª Lígia Regina Calado de Medeiros

    Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

    APRESENTAÇÃO

    A obra que ora lançamos é o resultado de atividades de pesquisa e extensão realizadas por professores, alunos e ex-alunos da Unidade Acadêmica de Letras do Centro de Formação de Professores da Universidade Federal de Campina Grande.

    Tais atividades desenvolveram-se durante o ano letivo de 2017 na forma de Projeto de Extensão, na modalidade FLUEX – Fluxo Contínuo, da citada universidade e tomaram como objeto de apreciação os romances Pedra Bonita e Cangaceiros, de José Lins do Rego. Essas obras, publicadas em 1938 e 1953, respectivamente, integram, junto a inúmeras outras de diversos autores, um painel amplo a que, por afinidade estética e temática, a crítica literária denominou romance de 30.

    Atendo-nos à vasta produção literária de José Lins do Rego, cabe ressaltar o seguinte: a maior parte dos romances desse escritor paraibano constitui o ciclo da cana-de-açúcar, sendo esse subconjunto, ainda hoje, o mais conhecido pelo leitor comum e o mais estudado pelos pesquisadores. Não, porém, é o que ocorre com as narrativas de que ora nos ocupamos.

    Os romances a que José Aderaldo Castello denominou ciclo do cangaço, misticismo e secaPedra Bonita e Cangaceiros – atraíram o nosso interesse não só por ocupar posição secundária na fortuna crítica de José Lins do Rego, mas pelo valor estético que encerram.

    Outro motivo justifica a nossa escolha: a conjugação de temáticas que, ao longo de décadas, passaram a constituir o imaginário do sertão nordestino: o cangaço, a seca, o messianismo e aspectos peculiares da cultura regional forjada na tradição oral (que reverbera na narrativa erudita), como o repente dos violeiros e a poesia dos folhetos.

    Como agentes épicos e protagonistas de conflitos que envolvem questões sociais e crenças messiânicas, os personagens de Pedra Bonita e Cangaceiros são, a um só tempo, heróis e anti-heróis, sofrem e fazem sofrer. Tudo isso nos chega pelo olhar do narrador e de narradores-personagens, cujas perspectivas nem sempre são consensuais, mas que compõem uma totalidade agônica, que parece não chegar jamais a um desfecho apaziguador.

    Esses romances nos oferecem uma leitura inquietante dessas questões que marcaram e que, de algum modo, ainda marcam a vida presente e a memória recente dos que fazem este pedaço do Brasil: o sertão do Nordeste.

    Os organizadores

    Sumário

    PEDRA BONITA E CANGACEIROS: O NARRAR MIMETIZA

    O CONFLITO ÉPICO DAS AÇÕES 13

    Elri Bandeira de Sousa

    CANGAÇO E MESSIANISMO: A DUPLA FACE DA

    MALDIÇÃO EM PEDRA BONITA E CANGACEIROS 37

    David Vinnícius Lira Campos

    A HIBRIDEZ DO HERÓI EM LINS DO REGO:

    APARÍCIO ENTRE O ÉPICO E O MODERNO 53

    Amauri Morais Oliveira

    A CONSTRUÇÃO DO TRÁGICO NA MÃE DOS CANGACEIROS: DECADÊNCIA NO SERTÃO DE JOSÉ LINS DO REGO 67

    Ana Cláudia Claudino Duarte

    Maria das Graças da Silva

    VIOLÊNCIA E CANGAÇO NO ROMANCE DO SERTÃO

    DE LINS DO REGO 87

    Netanias Mateus de Souza Castro

    Manoel Freire Rodrigues

    AS MÚLTIPLAS FACES DE DOMÍCO EM PEDRA BONITA E CANGACEIROS, DE JOSÉ LINS DO REGO 103

    Elionaldo Rofino de Sousa

    Edicleide dos Reis Quaresma

    Iago Formiga da Costa

    A ARTE DO CANTADOR NO SERTÃO DE LINS DO REGO:

    DIOCLÉCIO, A VOZ, A VIOLA E A ESTRADA 115

    Kedyane da Silva Alves

    Tacio Lacerda Dantas

    SOBRE OS AUTORES 127

    PEDRA BONITA E CANGACEIROS: O NARRAR MIMETIZA O CONFLITO ÉPICO DAS AÇÕES

    Elri Bandeira de Sousa

    1 Apresentação dos romances

    Os romances Pedra Bonita (1938)¹ e Cangaceiros (1953)² complementam o painel ficcional sobre o Nordeste brasileiro, construído por José Lins do Rego entre os anos 30 e os anos 50 do século XX, que tem como dominância os romances do ciclo da cana-de-açúcar, mas constituem um quadro à parte. Ambientados no sertão nordestino, mais precisamente o interior de Pernambuco, os citados romances aprofundam a discussão de dois temas tocados de forma secundária nos romances do ciclo: o messianismo e o cangaço. Vivendo essa face dupla e contraditória do sertão, marcado pelas secas e por problemas de ordem social, os irmãos Bentinho, Domício e Aparício são, ao mesmo tempo, heróis e anti-heróis. Sua trajetória, crivada pela suposta maldição do sangue da família, desperta os sentimentos de recusa e de aprovação, no plano interno, por parte de governos, de coronéis, do povo em geral e, certamente, dos leitores, no plano externo.

    Neste trabalho, procedemos à leitura desses dois romances como constituintes de uma só narrativa, ou seja, o segundo como continuação do primeiro, apesar da mudança de ambiente e do acréscimo de personagens que surgem na segunda narrativa. Assim, sugerimos a leitura de Pedra Bonita e Cangaceiros nessa mesma ordem, que corresponde à da intriga completa e à da ordem de publicação.

    Pedra Bonita

    Este romance se divide em duas partes, que narram o conflito épico entre duas comunidades: Primeira Parte: a Vila do Açu e Segunda Parte: Pedra Bonita.

    A Primeira Parte corresponde ao tempo presente da ação. Focaliza a vila do Açu, seu cotidiano de lugarejo parado no tempo, e se encerra com a expectativa de partida de Bentinho para o Araticum, a terra de seus pais, onde passaria uma temporada de três meses, durante a qual o padre Amâncio estaria no Recife em uma visita pastoral. A Segunda se inicia com a apresentação do velho casal Bento Vieira e Josefina, pais de Bentinho, Aparício e Domício, e sua propriedade ao pé da serra do Araticum, onde tudo parecia estar como há cem anos. Em seguida, o narrador, por meio de uma analepse, faz a ação recuar aos tempos do assassinato de Aparício Vieira, pai de Bento Vieira. No segundo capítulo dessa parte, Bentinho já se acha no Araticum, junto aos pais e irmãos, onde se inteira acerca da história de maldição que

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