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Velhices Rurais
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Velhices Rurais

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Duas grandes contribuições destacam-se nesta obra: a primeira é a compreensão de experiências sobre o envelhecimento nos contextos "rurais", pois muitos pesquisadores estudam a população idosa, não levando em conta suas particularidades, construindo generalizações a partir de contextos urbanos; a segunda contribuição é trazer ao leitor uma forma de compreender as velhices rurais na perspectiva do desenvolvimento social ampliado, este não se limitando aos fatores econômicos, sociais, culturais e ambientais, mas abordando, também, a compreensão das imaterialidades, pois desenvolvimento diz respeito a cada indivíduo, e, para compreendê-lo, é necessário construir caminhos analíticos mais complexos. Acredita-se que o bem-estar dos indivíduos, e aqui mais especificamente dos idosos rurais, não diz respeito apenas às suas condições, mas às "situações" em que estes se encontram, e para com as quais temos que ter responsabilidade e comprometimento como cidadãos.
LanguagePortuguês
Release dateApr 24, 2020
ISBN9788547340636
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    Velhices Rurais - Cristiane Tonezer

    Cristiane.jpgimagem1imagem2

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Aos idosos rurais, que me ensinaram que ser é mais importante que ter...

    PREFÁCIO

    A autora desta obra cresceu em um espaço rural, interior de um município chamado Encantado, herdou o amor pela agricultura e por tudo que dela provém. Porém, ao mesmo tempo em que vivia a liberdade de uma criança do interior, reconhecia os lugares rurais em um processo contínuo de empobrecimento e a migração para os centros urbanos na tentativa de uma vida melhor. Cristiane Tonezer desenvolveu com muito empenho, e sacrifícios, estudos que a levaram ao Desenvolvimento Rural como central em uma graduação universitária pública do estado do Rio Grande do Sul. Com muita determinação, avançou nos estudos de pós-graduação na mesma área. Cursou mestrado e doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desenvolvendo pesquisas em temáticas comprometidas com a academia e a relevância social. Disputou e conquistou bolsas de estudo que viabilizaram sua transferência para Porto Alegre e reafirmaram seu compromisso em dar respostas ao investimento público na sua formação. A tese de doutorado que dá origem a este livro, intitulado Velhices Rurais, analisou o envelhecimento no espaço rural e as ações e serviços prestados aos idosos nos municípios de Camaquã e Canguçu, situados na Metade Sul do Rio Grande do Sul, considerando uma noção ampliada de desenvolvimento.

    Os achados de campo são analisados como elementos que se constituem em fatores agravantes das desigualdades e dificultam a integração inclusiva dos idosos e idosas nas transformações do mundo contemporâneo. Observa-se que estes, em particular, carecem de maior atenção das instituições, sendo que seu isolamento tensiona a própria ideia de desenvolvimento para além da sua dimensão econômica.

    Com auxílio institucional e esforço pessoal, a autora fez doutorado sanduíche de seis meses em Portugal, onde teve contato com populações de idosos rurais. Nesse período, foi realizado um estudo de campo no concelho de São Brás de Alportel, que possibilitou mapear ações e serviços disponibilizados a esse grupo e análises comparativas entre Portugal e o Brasil rural.

    Reconhecendo o envelhecimento populacional como uma das principais conquistas sociais, a autora observa que esse fenômeno traz grandes desafios, devido às transformações e às vulnerabilidades decorrentes, e ao despreparo das sociedades para o seu enfrentamento. Afirma que a situação de pobreza, isolamento, dificuldades de acesso, vulnerabilidade e abandono, vivida por muitos idosos rurais, leva à necessidade de analisar essas áreas, destacando-se a importância de pensar formas de inclusão dessa população. Frente a essas constatações, argumenta que as políticas públicas voltadas aos idosos nos espaços rurais no Brasil refletem um viés produtivo (velhos são improdutivos), pois, além de precárias, também desconsideram a ideia de desenvolvimento social em seu sentido amplo.

    No diálogo com a literatura, produzido na obra, a autora apresenta elementos teóricos e conceituais sobre rural, espaço, envelhecimento individual e envelhecimento demográfico, sobre a concepção de idoso adotada e a ideia de geração como categoria analítica. Busca articular o envelhecimento demográfico e a noção de desenvolvimento social ampliado considerando um olhar holístico, para além das limitações econômicas que caracterizam a noção dominante de rural. Apresenta, também, os singulares, criativos e éticos caminhos metodológicos do estudo empírico, que contribuirão, acredito, para outros estudos de leitores interessados na temática.

    Os resultados apresentam um descritivo dos municípios, das instituições e dos participantes do estudo de origem desta obra. Dessa forma, desvendam elementos objetivos que evocam a materialização das políticas públicas setoriais para o envelhecimento e sua configuração, ou não, em ações e serviços aos idosos nos lugares estudados. Por fim, são desenvolvidas reflexões que articulam as bases teóricas de leitura dessa realidade.

    O estudo em tela é, certamente, uma contribuição sensível e relevante para o conhecimento e visibilidade dessas vidas rurais muitas vezes esquecidas e vulnerabilizadas pela ausência de políticas públicas.

    Agradeço à autora a oportunidade de escrever essas palavras e penso que Cristiane dá provas de comprometimento e responsabilização com sua função de pesquisadora e docente do ensino superior. Será, certamente, uma leitura de descobertas, útil para devolver cidadania a esses cidadãos e cidadãs brasileiros. Boa leitura!

    Professora doutora Marta Julia Marques Lopes

    Professora titular da UFRGS, atua no

    Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural

    APRESENTAÇÃO

    Encaminhando-me para o final de 2018, aproveito minha licença maternidade de forma prazerosa ao sentar à sombra de uma árvore e, entre uma conversa e outra, um chorinho e outro, tecer esta obra junto a minha mãe e minha filha, Flora, que já em seus primeiros meses recebe o nome de um grande ser humano – minha bisavó –, uma parteira valente em um período em que as mulheres não sofriam apenas as dores do parto, mas também o peso de uma sociedade rural machista, situação que infelizmente se perpetua. Por esse e outros motivos, que veremos nesta obra, é importante compreender as velhices rurais...

    Minha trajetória acadêmica é marcada por estas e outras inquietações. Já no Curso de Graduação em Desenvolvimento Rural que se iniciou no ano de 2001, participei de um projeto de pesquisa com agricultores da região do Vale do Taquari – Rio Grande do Sul, em que foi possível constatar, por meio de informações demográficas, o aumento da população de idosos e a diminuição da população jovem, o que confirma o envelhecimento rural nessa região.

    Os conhecimentos e experiências vivenciadas durante a graduação foram impulsionadores da busca de aprofundamentos teóricos e conceituais no mestrado. Destaca-se que, já no primeiro ano de curso, fui convidada a inserir-me em um Programa Interdisciplinar de Pesquisa (Prointer). A partir dessa vinculação, desenvolveu-se um estudo em Santana da Boa Vista, município da Metade Sul, que teve como objetivo investigar a temática do envelhecimento demográfico rural e as mudanças ocorridas nas condições de vida da população de idosos desses espaços, a partir do acesso aos benefícios previdenciários. Nesse estudo, observou-se número significativo de mulheres idosas morando sozinhas, além da baixa escolaridade dos entrevistados, elementos que se constituem em fatores agravantes das desigualdades. Em relação à situação econômica, apesar de serem observadas melhorias nas condições materiais de vida desses idosos, decorrentes dos benefícios da previdência, evidenciou-se a precariedade de algumas moradias. Entre essas precariedades, destacaram-se a ausência de luz elétrica, água encanada e instalações sanitárias, fatores estes que comprometem o bem-estar dessa população. Em relação à saúde, observou-se que muitos desses idosos apresentavam sinais e sintomas não diagnosticados nos serviços de saúde, que, no entanto, afetam sua qualidade de vida e estão relacionados principalmente à saúde bucal, visão, audição e estados depressivos. Observou-se que, com problemas dessa natureza, encontravam-se desassistidos no âmbito do sistema de saúde. Em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), em sua dimensão de atenção gratuita, muitos idosos se mostraram insatisfeitos e, ao serem inquiridos, geralmente citavam a concentração dos serviços nos espaços urbanos, as más condições estruturais e de qualidade de atendimento à saúde, a falta de especialistas no município, e dificuldades de acesso e acessibilidade geográfica pela necessidade de deslocamentos e falta de transporte público regular.

    Assim, mesmo constatando o impacto positivo da previdência rural, observou-se que idosos, em particular, carecem de maior atenção das instituições públicas e não públicas, sendo que seu isolamento tensiona a própria ideia de desenvolvimento em sentido amplo, para além da sua dimensão econômica.

    Já no doutorado, surge o interesse em ampliar os estudos sobre o envelhecimento a partir de uma análise multissetorial e multi-institucional, ou seja, a necessidade de analisar diferentes setores e diferentes instituições, na busca pela compreensão do oferecimento (ou não) de ações e serviços aos idosos rurais dos municípios de Camaquã e Canguçu na perspectiva do desenvolvimento social ampliado. Uma experiência importante de ser citada, que auxiliou na construção deste estudo, foi o doutorado sanduíche de seis meses em Portugal. Nesse período, foi realizado um estudo a campo no concelho de São Brás de Alportel, que possibilitou mapear ações e serviços disponibilizados aos idosos rurais. Como resultado, foi possível observar um rural cada vez mais envelhecido, com idosos sobrevivendo quase que exclusivamente dos benefícios da previdência, que não são suficientes para atender a todas as suas necessidades básicas. Observou-se também que as ações e serviços que são oferecidos pelas instituições analisadas em São Brás de Alportel, além de limitadas, localizam-se quase que em sua totalidade na sede do concelho, o que faz com que muitos idosos rurais enfrentem problemas na hora de acessá-los.

    Frente a essa trajetória de estudos e hoje inserida no Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais e Dinâmicas Regionais da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó), recebo inúmeros convites para palestrar sobre o tema do envelhecimento rural tanto nos contextos acadêmicos como de instituições públicas municipais. Esses convites me fazem perceber um aumento do interesse dos pesquisadores e a preocupação de algumas instituições públicas com a problemática supracitada. Surge, assim, o livro Velhices Rurais, uma adaptação de minha tese de doutorado que tem como objetivo dar maior visibilidade a essa temática.

    A autora

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Sumário

    INTRODUÇÃO 17

    CAPÍTULO 1

    ENVELHECIMENTO, DESENVOLVIMENTO SOCIAL AMPLIADO

    E OS IDOSOS RURAIS 29

    1.1 RURAL, ESPAÇO, ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO E INDIVIDUAL, IDOSO E GERAÇÃO: ARTICULANDO CONCEITOS 29

    1.2 O ENVELHECIMENTO RURAL NA METADE SUL DO

    RIO GRANDE DO SUL: ELEMENTOS PARA O DEBATE DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL AMPLIADO 33

    1.3 EXPERIÊNCIAS DE ENVELHECIMENTO NO RURAL?

    ARTICULANDO IDEIAS EM TESE 47

    CAPÍTULO 2

    OS MUNICÍPIOS, AS INSTITUIÇÕES E OS

    PARTICIPANTES DO ESTUDO 55

    2.1 OS MUNICÍPIOS DE CAMAQUÃ E CANGUÇU 55

    2.2 AS INSTITUIÇÕES ANALISADAS E OS

    PARTICIPANTES DA PESQUISA 60

    CAPÍTULO 3

    ENVELHECIMENTO E VULNERABILIDADES DO RURAL DE CAMAQUÃ E CANGUÇU 65

    3.1 ENVELHECIMENTO: EVIDÊNCIAS E PERCEPÇÕES DOS

    PARTICIPANTES DA PESQUISA 65

    3.2 NO PAPEL E NA PRÁTICA: AS AÇÕES E SERVIÇOS OFERECIDOS (OU NÃO) AOS IDOSOS RURAIS DE CAMAQUÃ E CANGUÇU 69

    3.2.1 Habitação/condições materiais – conforto e vida digna 69

    3.2.2 Integração social e lazer – convívio e inclusão 77

    3.2.3 Educação – valorização e potencialidades 83

    3.2.4 A saúde, a vulnerabilidade geracional e as desigualdades espaciais 90

    3.2.5 Proteção social e direito à vida sem violência 103

    3.2.6 Renda e necessidades humanas básicas 111

    3.2.7 O transporte e a acessibilidade a bens e serviços –

    universalidade e equidade? 123

    CAPÍTULO 4

    O DESENVOLVIMENTO DOS DE FORA... DE TUDO – É POSSÍVEL PENSAR EM DESENVOLVIMENTO SOCIAL AMPLIADO

    PARA O RURAL? 129

    4.1 DAS CONDIÇÕES ÀS SITUAÇÕES: AS MÚLTIPLAS

    VULNERABILIDADES DOS IDOSOS NO RURAL DE

    CAMAQUÃ E CANGUÇU 129

    4.2 NA TEORIA E NA PRÁTICA: CAMINHOS PARA O

    DESENVOLVIMENTO SOCIAL AMPLIADO RURAL NA METADE SUL DO RIO GRANDE DO SUL A PARTIR DA PERCEPÇÃO DAS

    INSTITUIÇÕES E DOS IDOSOS EM ESTUDO 133

    CONSIDERAÇÕES FINAIS 143

    REFERÊNCIAS 149

    INTRODUÇÃO

    A preocupação com o envelhecimento não é algo novo, pelo contrário, a velhice é tida como uma preocupação da

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