Como ganhar uma eleição: Uma manual político da Antiguidade Clássica para os dias de hoje
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Entre as orientações estão práticas ainda reconhecidas: Prometa tudo a todos. Diga aos conservadores que você tem repetidamente apoiado valores tradicionais. Diga aos progressistas que você sempre esteve do lado deles. Dê esperança às pessoas. Até os eleitores mais cínicos querem acreditar em alguém. Dê às pessoas a sensação de que você pode tornar o mundo delas melhor e elas se tornarão seus seguidores mais devotados – pelo menos até depois da eleição, quando você irá inevitavelmente desapontá-las. E ainda: Conheça as fraquezas dos seus oponentes. Puxe o saco dos eleitores abertamente. Cobre todos os favores.
Mais de dois mil anos depois, o texto revela que a Roma de Cicero está mais próxima de nós do que imaginamos, com um ambiente fortemente marcado pela sede de poder, falsas promessas, ação de operadores políticos (os divisores), doações escusas para campanhas, escândalos e corrupção.
Essa herança direta da Antiguidade presente na nossa política atual é destacada pelo historiador e cientista político Newton Bignotto em uma leitura crítica do texto, que tem apresentação do especialista em Antiguidade Clássica Philip Freeman, Ph.D por Harvard. A edição bilíngue, com tradução direta do latim feita pelo professor Amós Coêlho da Silva e glossário, conta ainda com um histórico dos resultados das eleições daquele ano. Cicero venceu?
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Book preview
Como ganhar uma eleição - Quintus Tullius Cicero
Todos os dias, enquanto estiver descendo para
o Fórum, pense consigo mesmo: "Sou um homem
novo, quero o consulado, Roma é a meta!"
© 2012 by Philip Freeman
© Bazar do Tempo, 2018
Título original: How to Win an Election: An Ancient Guide for Modern Politicians e publicado no Brasil mediante acordo com a Princeton University Press. Baseado no texto clássico Commentariolum Petitionis.
Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei n. 9610 de 12.2.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora.
Este livro foi revisado segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.
EDITORA Ana Cecilia Impellizieri Martins
COORDENAÇÃO EDITORIAL Maria de Andrade
INTRODUÇÃO Philip Freeman
POSFÁCIO Newton Bignotto
TRADUÇÃO DO LATIM Amós Coêlho da Silva
TRADUÇÃO DO INGLÊS Léa Süssekind Viveiros de Castro
REVISÃO TÉCNICA Bruno Torres dos Santos
COPIDESQUE Rosemary Zuanetti
REVISÃO Luiz Coelho e Elisabeth Lissovsky
PROJETO GRÁFICO E CAPA Jair de Souza e Natali Nabekura
DIAGRAMAÇÃO Estúdio Insólito
IMAGEM DA CAPA Busto de Marcus Tullius Cicero. Autor desconhecido, Roma Antiga. Museu Chiaramonti, Vaticano.
AGRADECIMENTO Heloisa Murgel Starling e Deonísio da Silva
Cicero, Quintus Tullius.
C568c Como ganhar uma eleição: um manual político da Antiguidade
Clássica para os dias de hoje / Quintus Tullius Cicero; introdução Philip Freeman; posfácio Newton Bignotto; tradução Amós Coêlho da Silva. – Rio de Janeiro (RJ): Bazar do Tempo, 2018.
128 p.: 12,5 x 18 cm
Inclui bibliografia
Título original: Commentariolum Petitionis
ISBN 978-85-69924-41-8
1. Campanha eleitoral. 2. Roma – Política e governo – Obras anteriores a 1800. I. Bignotto, Newton. II. Silva, Amós Coêlho da. III. Título.
CDD 324.720937
Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422
SUMÁRIO
Introdução
Philip Freeman
Breve comentário sobre a candidatura
Quintus Tullius Cicero
O resultado das eleições
Glossário
Eleições, desde a Roma Antiga, um jogo de poder, paixão – e corrupção
Newton Bignotto
Bibliografia sugerida
INTRODUÇÃO
Philip Freeman
No outono de 64 a.C., Marcus Tullius Cicero, o maior orador que a Roma Antiga produziu, estava concorrendo a cônsul, o cargo mais alto na República romana. Ele tinha quarenta e dois anos e era filho de um rico negociante da pequena cidade de Arpinum, ao sul de Roma. Seu pai tinha providenciado para que Marcus e seu irmão mais moço, Quintus, recebessem a melhor educação possível e tinha até mandado os rapazes para a Grécia para estudar com os mais notáveis filósofos e oradores da época.
Marcus era um orador talentoso e possuía uma inteligência brilhante, à altura da sua língua de ouro. O que lhe faltava era a vantagem de um berço nobre. A sociedade da Roma Antiga era altamente classista e considerava homens como Marcus Cicero inadequados para presidir a República. Ele estava determinado a provar que estavam enganados.
O jovem Marcus tinha completado um ano rotineiro no serviço militar sob o comando do pai do futuro general romano Pompeius, o Grande, que um dia iria defender o estado contra Julius Caesar. Este Pompeius, mais jovem, se tornou patrono de Marcus e o ajudou em sua subsequente carreira política. Aos vinte e cinco anos, Marcus venceu sua primeira causa no tribunal romano, defendendo um homem bem relacionado de acusações de assassinato. Sua reputação cresceu nos anos seguintes conforme ele representou com sucesso muitos homens importantes – vitórias que também o ajudaram a galgar posições políticas na República. Ele já tinha servido admiravelmente nos cargos prestigiados, mas de segunda linha, de questor e pretor. Entretanto, nenhum homem fora das famílias nobres havia sido eleito cônsul em trinta anos, tornando improvável a conquista deste objetivo por parte de Marcus.
No entanto, em 64 a.C., os outros candidatos a cônsul – mais notadamente Antonius (conhecido como Hybrida) e Catilina – eram tão repulsivos que alguns dos membros da nobreza taparam o nariz e apoiaram Marcus Cicero. Ainda assim, a ideia de um forasteiro vindo de uma cidade pequena se tornar um dos dois cônsules a governar a velha República, a liderar milhões sobre as terras mediterrâneas, era demais para muitas das famílias de sangue azul. Marcus teria que enfrentar uma campanha longa e difícil se quisesse vencer.
A essa altura, Quintus, o mais prático, decidiu que seu irmão mais velho precisava de conselho. Quintus era quatro anos mais moço do que Marcus. Tinha um temperamento fogoso e, às vezes, cruel. Embora ofuscado por seu irmão mais velho, ele era ferozmente leal a Marcus e reconhecia que o sucesso do irmão iria abrir caminho para sua própria fama e fortuna. Ele tinha até se casado com a obstinada Pompeia, irmã do melhor amigo de Marcus, Atticus, e tinha tido um filho com ela dois anos antes, embora o casamento fosse sempre instável.
Como a campanha para cônsul estava começando, Quintus escreveu um curto panfleto para Marcus sobre campanha eleitoral na forma de uma carta. O resultado é um texto pouco conhecido que, de alguma forma, sobreviveu por séculos, e que se chama em latim Commentariolum Petitionis. Alguns especialistas em literatura romana duvidam que Quintus tenha escrito o