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Ousada Para Amar
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Ousada Para Amar

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About this ebook

UM MOMENTO

Um momento mudou a minha vida para sempre.

Com aqueles grandes olhos verdes voltados para mim, eu sabia que jamais seria a mesma.

Mas às vezes, na vida, o que queremos é exatamente o que está fora de alcance.

A dor de perdê-la da minha vida foi indescritível.

Uma dor ardente e pungente que, em todos esses vinte anos de vida, jamais havia experienciado.

Eu me lembrava dela.

Todos os dias.

Em todo encontro ruim que meus amigos me forçaram a ir.

Em todo feriado que passei sozinha, sem tê-la para conversar.

Até que nos cruzamos outra vez.

E a encontrei novamente.

Meu pai sempre me dizia que o amor aparece de surpresa, quando menos se espera.

Foi isso que aconteceu com ela.

Charlie foi a minha menina desde aquele momento, e eu faria de tudo para protegê-la.

De tudo.

"Ousada para amar" é um livro da série : The Beautifully Broken", mas pode ser lido separado.

CRÍTICAS DE "OUSADA PARA AMAR":

"Segurou minha atenção desde o início e me deixou virando as páginas, mas com a esperança de não acabar."
-Heather Lyn, Autora

"Foi doce e eomocionante, tudo que um bom romance tem que ser."
-LLS Book Blog

LanguagePortuguês
PublisherNext Chapter
Release dateJun 2, 2020
ISBN9781071544136
Ousada Para Amar
Author

Amanda Kaitlyn

Writing is a passion I've known and loved since grade school. There is a certain freedom in writing for no purpose but to get the words down on a page. To tell a story you feel only you can tell. When I'm not writing or thinking about writing or planning on writing - I spend most of my time with either family or the important and wonderful people I love. I am an addicted paranormal and romance reader. I am a college student. I am a wine drinker.  Much love,  Amanda

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    Ousada Para Amar - Amanda Kaitlyn

    Dedicatória

    Nada disso seria possível sem os meus amigos, meus amores, meus leitores. Vocês tornam os meus sonhos realidade, e minhas palavras têm valor porque vocês as aceitam e as amam ao ler cada uma das minhas histórias. Não há palavras para expressar o meu amor por vocês.

    Prólogo

    Charlotte

    MINHAS MÃOS se pressionaram contra as laterais do corpo ao observá-la se afastar de mim pelo que eu esperava ser a última vez. Com um leve suspiro, desgrudei-as do tronco e as passei pelo meu cabelo longo e castanho, que batia quase no meio das costas.

    Merda.

    A imagem daquele rosto lindo, delicado, e dos olhos cintilantes que ela tinha estava marcada na minha memória, e pereci sob ondas de uma dor prolongada ao afastar a lembrança. Não consegui escapar do sofrimento quando fechei os olhos e enquanto o meu coração batia tão forte e alto que o escutei. Minha linda e inocente Ally.

    Se eu soubesse como era profunda e amorosa a estima que ela tinha por nossa amizade, não teria me aproximado. Teria parado de aparecer no estúdio de gravação onde ela trabalhava meio período para dar apoio aos irmãos mais velhos. Não teria concordado em ensiná-la quando suas notas despencaram no ano passado. Simplesmente não teria.

    Mas havia concordado. Fiquei por perto, porque, em algum momento entre o dia em que nos conhecemos, as conversinhas por cima dos livros didáticos e os rápidos olhares que ela me lançava quando achava que eu não a estava olhando, comecei a sentir algo por ela que eu não tinha nenhum direito de sentir.

    Ela tinha dezesseis anos, pelo amor de Deus.

    Mas como minha mãe sempre me dizia quando eu era criança: O coração tem razões que a própria razão desconhece.

    Por algum motivo maluco, insano e inapropriado, o meu coração a havia escolhido.

    Ainda assim, não era certo.

    O telefonema que eu havia recebido hoje, mais cedo, de uma gravadora superfamosa abriu meus olhos sobre o quanto eu tinha me deixado levar pelo efeito que ela me causava. Eu sabia que tinha de me livrar de Ally de algum jeito, de alguma forma. Apenas não sabia quando nem como isso seria feito.

    Aparentemente, o destino havia intervindo para tomar a decisão por nós.

    A proposta de emprego da Universal Music Group era uma oportunidade única na minha vida e, se eu não a aceitasse, sabia que me arrependeria.

    Por isso estava de partida.

    Escutei meu voo sendo anunciado, quando a voz de Ally tomou conta da minha mente:

    — Você está indo embora, não está?

    — Estou, meu amor. Eu tenho que fazer isso. É o meu sonho.

    — Eu sei, estou tão feliz por você, Charlie.

    Eu me lembro de dar um passo na direção dela de mãos dadas, a dela muito menor.

    — Você vai ficar bem?

    — O que... por que está me perguntando isso?

    — Que merda, Ally. Achei que soubesse.

    Houve uma pausa longa e dramática enquanto trocávamos olhares, e vi a mistura de confusão e dor explodir nos seus lindos olhos castanho-chocolate.

    — Não vou voltar, Ally.

    Embarquei no avião com a sua voz doce, angustiada, martelando na minha mente como um disco furado.

    — Por quê?

    Capítulo 1

    Ally

    CINCO ANOS DEPOIS

    O CHEIRO DE CAFÉ fresco e açúcar granulado invadiu minhas narinas assim que entrei na cafeteria do meu irmão mais velho, Lucas, e de sua esposa. O aroma do café e dos doces confeitados era divino e entrei na longa fila de clientes, ansiosa pela minha dose de cafeína.

    — Ally? É você? — Escutei meu nome, me virei para onde o som vinha e avistei a minha cunhada, Kaelyn, correndo na minha direção de trás do balcão. Com um largo sorriso, caí nos seus braços abertos e senti seu suspiro de alívio no ombro. Eu tinha dirigido a noite inteira e estava morta, mas ainda animada por finalmente estar aqui.

    Havia me formado ontem em Artes, e dizer que me senti bem para caramba seria eufemismo. Foi fantástico. Era ainda melhor estar perto da família outra vez, mesmo que eu não estivesse de volta em casa, em Chicago, como queria.

    Quando meu irmão me pediu para ajudá-los na cafeteria pelos próximos três meses, pensei que seria divertido passar um inverno agradável e relaxante no Sul do país.

    Afinal, minhas esculturas podiam esperar.

    — Estou tão feliz que você está aqui! Vamos nos divertir muito nesse inverno! — disse Kaelyn no meu ouvido, com uma voz animada. Assenti com a cabeça, meu sorriso até se alargou no rosto. Quando ela me abraçou mais forte contra sua lateral e avançamos na fila, eu lhe dei um abraço de volta ainda mais apertado.

    Agora que a tinha visto, este lugar parecia muito mais aconchegante do que eu pesava ser possível, parecia que eu estava exatamente de volta em casa.

    Nossa, como senti falta dessa garota.

    Nós nos sentamos nos bancos grandes que afundam de tão acolchoados e ficam contra a parede das janelas, as quais iluminam o espaço com uma luz natural brilhante. Meus olhos absorveram tudo, e senti meu corpo rejuvenescendo apenas pelo clima do local.

    Como nunca tinha vindo aqui antes?

    A cafeteria e panificadora estava na família de Kaelyn havia duas gerações, e agora pude ver por que era tão importante para ela. Lucas queria que ela vendesse sua parte do negócio e se mudasse de volta para Chicago com ele e as duas lindas filhas, mas ela foi contra. Kaelyn queria terminar o ano antes de transferir sua metade da The Joyous Cup para sua sócia e melhor amiga, Meghan.

    Por eu ter crescido no coração da cidade dos ventos, como Chicago é conhecida, foi inevitável querer que ela e meu irmão voltassem para casa, onde minha família morava. Desde menininha, estive rodeada de pessoas que me amavam e se importavam comigo. Minha família era muito unida e, embora, claro, isso pudesse ser um pouco sufocante, amei cada momento.

    — E aí? Como foi a viagem? Pegou algum trânsito?

    — Não, foi bem tranquila. Parei por algumas horas no meio do caminho. Quem diria que olhar para a estrada podia me deixar tão cansada?

    Kaelyn riu baixinho, sacudindo a cabeça.

    — Ainda não consigo acreditar que você veio dirigindo. Aliás, sozinha. Meu bem, Luke teria dirigido por você.

    Eu a acalmei com um aceno de mão, despreocupada.

    Quando estava crescendo, meu pai conseguiu um emprego como motorista de caminhão em um ano em que os negócios não iam bem na oficina. Na maioria das vezes, eu o acompanhava nas longas viagens, se caíssem no fim de semana ou fossem no inverno. Eu amava a sensação do barulho fraco de um motor potente sob mim e da estrada à frente. Mas, depois de quase trinta horas atrás do volante, eu estava exausta.

    Estava desesperada para chegar à pensão que tinha reservado para o inverno e enfiar meu corpo estafado em uma banheira quente e agradável.

    — Você parece exausta, Ally. Que tal eu fechar mais cedo e te levar para o hotel? — A mão de Kaelyn repousou sobre o meu joelho reforçando suas palavras, mas sacudi a cabeça, não queria incomodá-la. Eram só alguns minutos de carro, de qualquer maneira.

    — Não, não. Está tudo bem, Kel. Mas vou indo nessa.

    Eu me levantei, a abracei e senti seus braços delgados ao redor da minha cintura me abraçando com a mesma intensidade.

    — Manda um beijão e um abraço para o palerma por mim, tá? — eu disse em seu ouvido. A afeição pelo meu irmão estava evidente no tom da minha voz.

    Ela se afastou assentindo com a cabeça, e eu saí no ar fresco e revigorante da noite. Após enfiar a mão dentro da bolsa preta pendurada no ombro, peguei as chaves, destranquei o carro e me sentei mais uma vez na frente do volante.

    Só mais alguns minutos, falei para mim mesma, engatando a marcha e retornando à rua, neste momento sem tráfego, rumo ao que seria a minha casa pelo inverno.

    A pensão se localizava entre dois carvalhos largos e antigos, e o único estacionamento que consegui encontrar foi um espaço logo ao lado da porta da frente.

    Meus pés doíam quando entrei e coloquei a mala e a bagagem de mão no carrinho que encontrei ao lado da porta de dentro.

    — Bem-vinda à Pensão Bunk and Bean! Meu nome é Bree, como posso ajudá-la?

    A voz familiar me despertou do meu bocejo longo e muito bem merecido, e um sorriso se formou nos meus lábios quando uma mulher bem pequena se virou para mim atrás do balcão.

    — Meu Deus! Ally?

    Assentindo com a cabeça, larguei a bolsa no carrinho onde estava a mala e corri até a atendente, a abraçando assim que me aproximei o suficiente.

    — Não acredito que você está aqui, Bree! Senti tanta saudade sua!

    Ela foi a primeira a se desvencilhar do abraço, seus olhos brilhavam de tanta empolgação.

    — Como você está? Caramba, menina, tem tanto tempo que não te vejo!

    Sequei uma lágrima perdida no rosto, concordando com a cabeça. Bree e eu éramos melhores amigas desde quando eu me entendia por gente. Nossas mães eram melhores amigas, até se chamavam de irmãs quando estávamos crescendo. Era natural ter nos tornados amigas de forma tão rápida quando criança. Balancei a cabeça com uma lembrança abençoada de todas as peripécias que fizemos naquele tempo. Éramos carne e unha. Assim que pudemos sair de casa sem nossas mães protetoras rondando por perto, estávamos prontas para a malícia. Sem dúvida, minha lembrança favorita foi quando colocamos água e gelo em uma jarra de metal e a acoplamos à porta do depósito de ferramenta do meu pai, fazendo com que ele fosse atingido com água gelada assim que a abrisse. Ver o olhar no rosto do meu pai ao nos avistar escondidas, rindo alto nas moitas ali perto, não tem preço.

    Quando me mudei da nossa cidade natal, Chicago, em Illinois, perdemos o contato. No começo, foram pequenos detalhes. Perdíamos nossos telefonemas diários, uma visita de volta para casa era cancelada ou eu me esquecia de fazer uma chamada de vídeo com ela depois da aula, alguma noite. Foi difícil estar tão longe da cidade grande e adorável onde eu havia crescido. Foi ainda mais difícil me acostumar a viver sem a constante presença das minhas melhores amigas, Bree e a sua irmã mais velha, Charlotte. Não percebi o tanto que Bree e eu tínhamos nos distanciado até termos nos reconectado.

    Quando nos abraçamos outra vez e recordamos as nossas aventuras de criança, agradeci a Deus que existia algo chamado rede social. Havíamos nos reencontrado na internet no ano passado e, felizmente, estávamos mais próximas que nunca, principalmente agora que eu passaria o inverno aqui. Fiquei tão feliz por ela estar aqui.

    — As últimas semanas foram uma loucura, Bree. Tendo que entregar os projetos finais e meus irmãos chegando na cidade para minha formatura, eu tinha certeza que ia enlouquecer antes da colação acabar!

    Sua risada doce e descontraída preencheu os meus ouvidos.

    Às vezes eu pensava que era uma loucura a gente conseguir se dar bem.

    Éramos o oposto em quase todos os aspectos. Eu era esperta e feliz, ficava excessivamente empolgada para cada fase da vida, ansiosa para enfrentar o mundo. Sempre fui desse jeito, preferia saias longas, esvoaçantes, de cores neon, daquelas que brilham, e possuía livros suficientes para uma vida inteira.

    Eu era assim.

    Bree era baixa, tinha a beleza da pele escura e do cabelo castanho ondulado que recaía sobre as costas. Seus olhos eram da cor das profundezas do mar, um azul-marinho com salpicos de verde e amarelo. Ela sempre usava cores escuras: preto, marrom ou cinza. Por preferir um terninho de calça ou uma jeans confortável da Levi, ela odiava se vestir de forma elegante e se via um tanto gótica. Sua maquiagem escura refletia essa ideia: o rosto adornado com batom vermelho rubi e sombra prata. As linhas tênues do delineador preto como a noite deixaram seus olhos ainda mais claros quando ela levantou a cabeça, e eu sorri.

    Em todos esses anos em que eu a conhecia, ela nunca havia mudado.

    Eu amava tanto isso, porque sabia que ela era completamente verdadeira.

    Crescer sob os olhares atentos do público significava que a maioria dos amigos que fiz, quando criança, tinha segundas intenções. As meninas viravam minhas amigas para se aproximar dos meus irmãos músicos. Os garotos, na esperança de ter uma chance na gravadora da família. Quase nenhum relacionamento meu começou com uma amizade verdadeira. A princípio, isso me fez sofrer. Mas depois percebi que, com o tempo, saberia quem eram os meus amigos de verdade. No final do ensino médio, entendi quem essa amiga tinha sido o tempo inteiro.

    Bree.

    — Estou orgulhosa para caramba de você. Sabia que ia conseguir. Quando você foi embora, fiquei com raiva. Não vou mentir. Mas você é minha melhor amiga. Minha confidente. A irmã que escolhi ter. — Uma risada alta me deixou sem entender, mas ela só apertou a minha mão. — Mas não consegui ficar com raiva de você por muito tempo. Você foi fodona e foi atrás do seu sonho de esculpir.

    Um largo sorriso aflorou no meu rosto com aquela honestidade, e eu a abracei outra vez. Ela me deu um abraço de volta com a mesma intensidade, e eu entendi que ela estava aqui. Em Fredricksburg, Texas.

    Minhas sobrancelhas se cerraram com essa constatação, pois isso simplesmente não fazia sentido. Tínhamos crescido em Illinois. A família dela estava em Illinois. Por que ela estava aqui agora?

    — O que está fazendo aqui, Bree?

    Ela recuou, abrindo um sorriso ainda mais largo com a minha pergunta.

    — Sou a dona desse lugar. Meu marido e eu o compramos depois que os proprietários anteriores, os Wilsons, faleceram. Não é um amor esse lugarzinho?

    Meu coração apertou no peito de forma quase dolorosa. Nossa, eu tinha perdido tanta coisa enquanto estive distante. De alguma forma, minha melhor amiga, antes uma cínica e romântica desiludida, foi lá e se casou. Se o brilho nos seus olhos fosse algum sinal, ela estava feliz. Estava vivendo a vida que sempre esperei que ela tivesse. Rodeada de amor e felicidade, livre da dor que a infância lhe havia proporcionado. Minha melhor amiga tinha finalmente encontrado a felicidade.

    — Ah, estou tão feliz por você. Nossa, a gente perdeu tanta coisa da vida uma da outra, né? — comentei, acariciando o seu rosto enquanto um sorriso radiante e incontido se formava.

    — Meu ouvido até dói, Bree. Agora você fica se gabando para os clientes?

    Uma voz grave e crescente veio da porta do lobby de entrada, e meus olhos se voltaram para a direção do som. Ao repousarem sobre o homem alto e forte que não só estava de pé na porta, mas também a ocupava por inteiro, engoli em seco, surpresa.

    — Oi, achei que você ia demorar um tempo para chegar em casa. Como foi a reunião?

    Bree ficou de pé e caminhou até ele, ajeitando as mãos de imediato para tocá-lo no rosto sujo. Em transe, observei claramente aquele homem que aparentava ser durão e ter rosto de pedra se amolecer no momento em que ela o tocou. Curvando os joelhos apenas ligeiramente, ele passou os braços largos e musculosos ao redor das costas de Bree e a tocou na bunda, enquanto a levantava sobre o seu corpo, que devia ter pelo menos um e noventa e cinco de altura. Bree acariciou o rosto dele com a mão, sorrindo, e os dois trocaram olhares que gritavam o quanto sentiam um pelo outro. Minha melhor amiga estava apaixonada.

    — Foi bem. O empreiteiro vai levar um pé na bunda se não parar de me enrolar. Não preciso que ele discuta comigo. Só preciso que ele termine essa merda. — Mesmo com a raiva entranhada no tom de voz, seu corpo se moldou contra o dela de forma bem justa e suas mãos a apertaram na bunda em um pedido silencioso.

    — King, quero que você conheça uma pessoa. Para de me apalpar, seu ridículo.

    Ele debochou um pouco e elevou o corpo de Bree alguns centímetros até que as bocas se tocaram.

    — Não me diga o que fazer, mulher.

    — Me deixa descer.

    Ele franziu o cenho, lhe deu um beijinho e cedeu à exigência feita em baixo tom de voz.

    — Ally, esse é o meu marido, Kingsley. King, amor, conheça minha melhor amiga do ensino médio, Ally.

    Ele se aproximou estendendo uma mão enorme para mim.

    — Estou muito feliz em te conhecer, Ally. Bree sentiu a sua falta de um jeito bastante intenso.

    Apertei a sua mão e assenti com a cabeça.

    Eu também senti falta dela.

    — Eu também. Parece que você a faz muito feliz.

    Bree repousou a cabeça sobre o ombro dele, provando que minhas palavras eram verdade.

    Um sorriso sutil, quase reservado, se aflorou no rosto de King.

    — É. — Ele concordou com a cabeça. — Acho que sim.

    As mãos de Bree se apoderaram da dele, que a agarrava na cintura, quando ela fez uma confissão que eu sabia que vinha do fundo do coração:

    — Ele salvou a minha vida.

    ***

    O vento soprava suave no meu rosto, meus pés pisavam sobre as folhas esmagadas à medida que eu caminhava em direção ao pequeno parque no meio da cidade, no dia seguinte. Depois de ter passado um tempo um tanto quanto necessário com Bree e o marido, eu não conseguia tirar o sorriso do rosto. Era tão, tão bom voltar a ficar perto de quem me fazia feliz, me fazia rir. Embora ainda não tivesse visto o meu irmão, eu sabia que esse sentimento de felicidade plena apenas cresceria nesse lugar assim que o visse. Afinal, Luke era o meu maior fã. Caramba, mas não era para isso que serviam os irmãos mais velhos?

    O vento do dia fresco de inverno ficou mais forte, e minha mão foi atrás do pequeno zíper da minha jaqueta preta de microfibra, puxando-o para cima até que atingisse o meu queixo. No céu, o sol brilhava com vigor, e os raios de luz caíam em cascata sobre as colinas relvadas do Parque Fell.

    Havia outra colina íngreme ao final da grama, onde o solo verde levava a uma estrada estreita de terra. Notei uma casinha pitoresca de alvenaria ali perto. Cerrei os olhos, focando em uma pequena placa acima da porta. Ao me aproximar, minhas mãos deslizaram para o fundo dos bolsos da jeans escura que estava usando da marca Lucky. Com o aviso mais nítido à medida que me aproximava, minha curiosidade aumentou.

    Quem diria que um abrigo para animais estaria localizado no centro do pequeno parque onde escolhi caminhar?

    Desde criança, eu tinha um amor muito especial por animais de todo tipo. Cachorros, gatos, qualquer um em que pudesse passar a mão. Eu os amava.

    Não conseguia contar em uma mão quantos bichos de estimação tive quando criança.

    O tempo longe de casa não tinha mudado isso.

    Um sorriso animado se aflorou nos meus lábios quando segui rumo àquela casinha. Mas, quanto mais me aproximava, percebi que não era mesmo uma casa de verdade. Eram três chalés de alvenaria unidos, conectados por um grande alpendre que os circundava, construído de madeira da cerejeira. Atrás do prédio, havia um grande pasto onde vi as cabeças de alguns cavalos pastando. A empolgação dentro de mim levou meu coração a palpitar como o de uma garotinha, ainda assim não conseguia sair daquele lugar com o qual havia esbarrado.

    Entrei com cautela, mas a grande porta de madeira rangeu ao se fechar atrás de mim. O chão foi a primeira coisa que observei. Era de madeira pura, laminada, e ao notá-lo, pude perceber que fora instalado manualmente. Já tinha visto meus irmãos mais velhos fazendo trabalho de construção suficiente para saber que essa não era uma tarefa fácil. Meus olhos se desviaram, então, para um grande lobby de entrada e um corredor estreito e longo que, muito provavelmente, levaria aonde os animais eram mantidos.

    Minha alma quase saiu do corpo de susto quando uma voz feminina saiu de trás do balcão da recepção, à minha frente.

    — Já, já a atendo, senhora.

    Um calafrio percorreu a minha espinha ao ouvir aquela voz estridente, e minha mão chegou a tocar a maçaneta da porta pela qual eu havia acabado de passar. Como se, a qualquer momento, eu fosse fugir.

    Talvez eu fosse.

    Não entendi a mistura de temor e curiosidade que zunia agora em minhas veias, como adrenalina líquida. Não sabia por que de repente me questionei o motivo de ter entrado no prédio, em primeiro lugar.

    Adentrei ainda mais a fundo ao escutar os passos da mulher se afastando da mesa, muito provavelmente para pegar algo no escritório.

    Por algum motivo, o som daquela voz havia mexido comigo.

    Eu não fazia ideia de como ela era familiar, já que não tinha nem alguns dias que eu estava aqui. Como podia conhecê-la se nunca tínhamos nos encontrado, na verdade?

    Talvez ela fosse outra amiga antiga do Norte, onde cresci.

    Merda, ou talvez eu estivesse enlouquecendo por falta de sono.

    Entre a longa viagem de Nova York, ir dormir tarde ontem à noite e a fadiga causada pela mudança drástica do tempo, é provável que eu estivesse mesmo perdendo a cabeça.

    Estava prestes a me afastar do balcão da recepção e seguir na direção da grande de carvalho larga, quando a mulher surgiu do escritório do fundo e ficou à vista pela primeira vez.

    Não. Minha voz interior gritou quando dei um passo inconsciente para trás, quase como por puro instinto. Não podia ser, falei para mim mesma, sacudindo a cabeça, incrédula.

    — Ally — ela chamou, sua voz estridente muito mais clara agora que estava na minha frente. Só uma mulher me chamava desse jeito. Era um fantasma do meu passado, mas, neste momento curto e específico, era bem real.

    — Ch-Charlie?

    Capítulo 2

    Charlotte

    MEU CORAÇÃO PAROU quando olhei aquela mulher de pé, à minha frente. E, porra, que mulher! A garotinha que conheci na adolescência tinha crescido e ficado alta, com o corpo curvilíneo, atraente, mas uma coisa não havia mudado: aqueles mesmos olhos castanhos penetrantes que tantas vezes assombraram os meus sonhos. A garotinha que tinha se tornado minha amiga anos atrás estava em pé exatamente diante de mim, como se tivesse sido fruto da minha imaginação.

    Sacudindo a cabeça, dei um passo adiante, senti a pilha de papel na mão, de repente, ficando leve enquanto a segurava. Parecia um sonho, mas quando ela piscou, com os olhos cintilantes e expressivos presos em mim, eu soube que meus sonhos jamais poderiam lhe fazer jus.

    — Ch-Charlie? — ela perguntou, um leve gaguejar na voz me dizendo o tanto que ela era real. Quando mais jovem, toda vez que ela estava nervosa ou com medo, sua voz tremia como uma folha na árvore. Era o que a denunciava, podia-se dizer.

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