Estudos Psicofônicos: Aprimorando os conceitos do conhecimento Espírita: Vol.I

PREFÁCIO

Caro(a) leitor(a), que a paz do Mestre Jesus esteja conosco, nos auxiliando na compreensão da Doutrina dos Espíritos e no conhecimento de nós mesmos, enquanto Espíritos encarnados na busca da iluminação. É com imensa alegria que apresentamos esta obra que, agora, tem em mãos. Esse livro, Estudos psicofônicos – aprimorando o conhecimento espírita, é uma coletânea de estudos teóricos, perguntas e respostas, orientadas pelo Espírito Pedro e realizados desde o ano de 2008 e 2009 no Núcleo de Estudos e Pesquisas de Espiritismo (NEPE) – Divinópolis/MG. Nos dezessete e sete estudos que se seguem, Pedro apresenta, explica e renova importantes aspectos da Doutrina dos Espíritos.

Nesta obra, o leitor poderá redescobrir o Espiritismo. É necessário reinterpretar o Espiritismo para a realidade e as necessidades de hoje. Nessa frase do Espírito Pedro, temos um vislumbre do que esperar desta leitura. Nela, entendemos que a Filosofia Espírita, que é o fundamento do Espiritismo, precisa ser, mais uma vez, contextualizada para a realidade evolutiva da humanidade atual. Porque a Doutrina tem essas características de ser evolucionista, interativa e progressista. Neste contexto, essa coletânea atualiza fundamentos essenciais do Espiritismo à luz de uma interpretação adequada à atualidade e, principalmente, adequada à necessidade dos Espíritos atualmente em percurso na matéria.        

Os textos que lerão em seguida, convidam-nos para uma nova interpretação de conceitos espíritas e desconstrução de alguns aspectos que, hoje, já não são mais pertinentes à situação em que se encontra a humanidade. Demanda leitura calma e minuciosa, buscando interpretar e assimilar os moldes tão necessários homens.                 

Como espíritas, lembremo-nos sempre de aprender, educar e instruir. Temos em nós mesmos, todas as chaves para abrir todas as portas que precisamos. Mesmo que não possamos alcançar todas as respostas que procuramos, mesmo que essas chaves não nos são acessíveis a nível consciente, precisamos criar em nós as possibilidades de alcanças essas revelações. As obras Espíritas, como o livro que está prestes a ler, são o auxílio que nos possibilitarão alcançar essa amplitude de visão.        

Finalmente, com estes breves parágrafos acerca desta coleção tão rica de psicografias, deixamos você, querido(a) leitor(a), para se enriquecer com as considerações dos nossos amigos da realidade Espiritual. Rogamos a Jesus, em sua infinita benevolência que os guie e ilumine nesse caminho de aprendizado e autoconhecimento.

Filipe Alex da Silva

APRESENTAÇÃO

Para além das transformações lingüísticas, há 150 anos decorridos da Codificação Espírita, a evolução do processo cognitivo exige uma contextualização dos conceitos aplicados.

A linguagem possui um dinamismo cujas raízes se nutrem no profundo terreno do conhecimento. Em outras palavras, na medida em que o conhecimento se desenvolve, a formalidade lingüística é pressionada a adequações para melhor comunicar novos elementos deste processo. Observável pelos sentidos esta transformação ocorre no campo linguístico material, mas é movida por novas apreensões do intelecto, de ordem espiritual.

O que move a dinâmica supracitada são as evoluções humanas interpretativas do que existe de absoluto, imutável, do que é eterno. Nesta categoria só existe, atuando como o motor imóvel aristotélico, a Lei Divina ou, se preferir, o conjunto das leis divinas. Sendo a Lei absoluta o que dela apreendemos são conceitos. Estes são necessariamente mutáveis à medida que galgamos um degrau na apreensão do imutável. É, pois necessário ressignificar, reinterpretar, adequar, em fim, contextualizar conceitos para aprimorar nossa capacidade de apreender as maravilhas reveladas por um universo espiritual. Eis um propósito desta obra.

Caro leitor, as páginas que os senhores têm em mãos são frutos dos estudos do NEPE – Núcleo de Estudos e Pesquisas Espíritas, mantido pelo GEEC – Grupo Educação, Ética e Cidadania da cidade de Divinópolis, Minas Gerais. Mesmo sendo um grupo coeso na responsabilidade do trabalho, é heterogêneo em suas funções profissionais, classes sociais, formação acadêmica e idade. Características que fazem das obras resultantes desses estudos objeto de fácil compreensão aos interessados.

Este núcleo começou seus estudos em outubro de 2008, reunindo-se geralmente no último ou primeiro domingo do mês, durante duas horas, das 19hs às 21hs. Um espírito que se identificou como Marlon, por meio de psicofonia se propôs a explanar sobre a mediunidade e outro, Pedro sobre a Doutrina Espírita. Estão aqui compilados os primeiros 17 estudos de Pedro, isto é, de outubro de 2008 a fevereiro de 2010.

Pedro propunha os temas dos estudos e permitia que os participantes fizessem perguntas. Neste início as perguntas interrompiam sua explanação. Hoje, elas só acontecem após a explanação. Resolvemos mantê-las no momento que aconteceram para sermos mais fiéis aos acontecimentos. Estes estudos foram gravados e, recentemente, voluntários se propuseram a copiá-los e um grupo de traduzi-los para uma linguagem menos coloquial e mais formal, apropriado ao lançamento de um livro.

O Espírito Pedro sensível à necessidade da contextualização oferece elementos de estudo, um trabalho de valor didático e filosófico, no qual analisa com sutileza e proficiência, assuntos ainda obscurecidos por interpretações inadequadas, filtrando à luz da razão, derrubando conceitos equivocados.

Por diversas vezes fomos informados por Pedro que não nos passaria nada que fosse diferente do que já está na Codificação, embora o conteúdo fosse reapresentado com uma linguagem diferenciada, compatível com o progresso ocorrido. Pedro inicia com a desconstrução de vários conceitos que estão inseridos inadequadamente no Espiritismo, atualizando e ampliando os conceitos genuinamente espíritas.

INTRODUÇÃO

Na antiguidade, quando o grande Sócrates caminhava na Terra, por muitas vezes, entrava em transe mediúnico, profético e desdobrando-se do seu corpo físico, visualizava o mundo espiritual.  

Entrava em contato com Jesus e com outros Espíritos superiores em sabedoria e bondade que lhe transmitia conceitos de virtude, de justiça que o mesmo, depois ensinaria aos seus discípulos, entre eles, o mais famoso chamava-se Platão. Em uma de suas obras, Platão contaria a famosa história de analogia que ficou conhecida como o mito da caverna. Nela, um prisioneiro detido na caverna alcançava a luz do Sol e quando retornara para contar àqueles que ali estavam presos não era por eles acreditado e era morto.  

Queria na verdade, lembrar de seu professor, Sócrates, que em deslumbres mediúnicos visualizara o mundo espiritual e voltava para contar aos encarnados presos na caverna, conceitos essenciais da imortalidade da alma e das virtudes.

Aproximadamente, seiscentos anos depois, Jesus viria à matéria pela primeira e única vez, ensinando a imortalidade da alma e as virtudes resumidas no amor. Novamente, trazendo do mundo espiritual as informações imorredouras dos valores espirituais.  

Já na modernidade, a quase dois mil anos, da condenação à morte de Jesus, novamente pela terceira vez, as luzes do mundo dos Espíritos entram na caverna através da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec, na França.  

E os mesmos conhecimentos da imortalidade da alma e das virtudes, moral, ética e amor são repassados aos prisioneiros. Os conceitos são ampliados, detalhados.  

Hoje, se passam mais de 150 anos dessa última tentativa e, novamente, é necessário relembrar, repensar, atualizar, debater para que esses conceitos não se tornem palavras mortas, para que não sejam distorcidos, para que sejam refletidos e praticados.  

É com esses objetivos que começamos nossos estudos e um grupo se esforçou para produzir esses textos e é com esses mesmos objetivos que desejamos que todos os leitores dessa obra possam se maravilhar como Sócrates, Platão, como os discípulos de Jesus, como Kardec diante das revelações espirituais, das mesas girantes e das comunicações que recebia, para novamente interpretar o mundo, a sociedade, a própria vida e o sentido dela, afastando-se, elevando-se para uma esfera de imortalidade e justiça divina.

Pedro (Espírito)

PSICOFONIA 1

INTRODUÇÃO E DESCONSTRUÇÃO DA MATRIZ FUNDANTE CATÓLICA

Pedro (Espírito)

Psicofonia compilada por Maria José Gontijo

Revisão Filipe Alex da Silva

*Todos os estudos deste livro são psicofonias proferidas pelo médium Jomar Gontijo sob inspiração do espírito Pedro, compilação feita por Maria José Gontijo, copidesque do Grupo de Estudo de Ética e Resumos, palavras chaves e revisão de português por Filipe Alex da Silva.

Resumo: Neste primeiro estudo, o espírito João, orientador do NEPE, explica sobre objetivos e metodologia das reuniões de pesquisa e estudo. Responde algumas questões sobre o tema. O espírito Pedro inicia seus estudos por meio da desconstrução de alguns paradigmas da matriz fundante católica ou do cristianismo tradicional. Estuda, especificamente, as questões da salvação e da justificação pela fé, substituídos pelos paradigmas da evolução e da justificação pelas obras.

Palavras chaves: matriz fundante católica, cristianismo tradicional, salvação, Soterologia, justificação pela fé, evolução, justificação pelas obras, fora da igreja não há salvação.

INTRODUÇÃO:

João, mentor do grupo

Que a paz do Mestre Jesus possa neste momento repousar em vossos corações suavizando vossos sentimentos e inspirando-vos para receber a luz do mais alto.

Como sempre, é uma alegria imensa estar com vocês hoje, no começo de uma nova oportunidade de crescimento.

Peço desculpas porque tão grande é vossa expectativa que me sinto pequeno na capacidade de poder satisfazê-los. Mesmo assim, estamos aqui toda uma equipe espiritual para oferecer os nossos conhecimentos e os nossos sentimentos benfazejos para cada um de vocês.

Como coordenador deste grupo, tenho algumas considerações para fazer.

Eu, João, continuarei a coordenar esta nova atividade. O médium vagarosamente poderá se habituar com esta forma de comunicação, psicofonia intuitiva, já conhecida de vocês. Marlon apresentará um estudo específico e técnico sobre a mediunidade, para não somente esclarecer vossas dúvidas como também para orientar vosso desenvolvimento mediúnico, por meio de exercícios, como também o do próprio médium. Pedro, que trabalhará especificamente a Doutrina Espírita e seus princípios. Continuarei por minha vez, sempre elucidando e enfatizando mais o Evangelho, os sentimentos e suas consequentes ações.

Quanto à metodologia, o Grupo deve decidir qual a melhor. O que sugerimos é que deve haver realmente um preparo diário, no mínimo no dia da reunião, para que todos possam manter-se na melhor vibração possível se ligando a bons sentimentos e pensamentos; evitando sofrer raiva, estresse, brigar, guardar ressentimentos, para que o clima da reunião possa ser o mais harmonioso possível. É importante também um pequeno preparo que antecede a reunião. Evitar chegar na hora exata, buscando chegar, no mínimo, cinco minutos antes para fazer uma prece e sintonizar ao mais alto.

Na reunião devemos iniciar com uma pequena preparação, seja prece ou uma pequena leitura de uma página evangélica, trazida por alguns dos membros, uma leitura salutar que algum participante tenha feito durante a semana.

Não é bom deixar todas as questões para o momento do estudo. Elas podem ser elaboradas em casa e trazerem por escrito, pois assim poderemos preparar melhor as questões e trazê-las com uma abordagem mais profunda.

Como os estudos serão gravados poderão revê-los e questionarem sobre eles. É importante que não fiquem dúvidas.

Outro detalhe importante: estes são os espíritos que o médium tem mais afinidade. Existem outros espíritos que estão aguardando médiuns que tenham mais afinidade.

QUESTÕES

P1- Gostaríamos que nos esclarecesse melhor a questão da metodologia a ser adotada para estes estudos.

R1 - As perguntas podem ser feitas no mesmo dia do estudo. O que sugerimos é que os temas devem ser estudados em casa, com mais profundidade, porque podem surgir outras dúvidas, porém o diálogo, para nós, é muito importante. Outra questão é sobre a metodologia de comunicação, sobre a reprodução dos estudos. Realmente é muito cedo para se pensar nisso, estes estudos serão bons para vocês, para este grupo, para o crescimento de cada um. Se, posteriormente, verificarem que estes conhecimentos foram úteis e bons para cada um de vocês, poderemos pensar em reproduzi-los e divulgá-los para outras pessoas. Mas façamos de cada um de nós um laboratório onde estes conhecimentos serão experimentados, e se os resultados forem positivos, então pensaremos em divulgá-los; não antes.

P2- Qual a sua opinião a respeito de convidar outros indivíduos espíritas para participar dos estudos?

R2 - Devemos ser muito criteriosos quanto a estes convites, para que estes indivíduos não quebrem o clima harmônico da reunião. Não devemos convidar, por exemplo, irmãos que não conhecem a Doutrina Espírita, que não saibam fazer uso da palavra, tomando demasiadamente o tempo, não permitindo que as outras pessoas perguntem ou irmãos cujo ego e a vaidade própria, sejam tão grandes que denigram todo trabalho que não seja deles próprios, porque poderão trazer discórdia. Devemos buscar principalmente a sinceridade daquele que quer participar, se ele é sincero no sentido de querer crescer, aprender e progredir, se está aberto a novas experiências, a novos conhecimentos. Este sim pode ser convidado sem nenhum problema. Quanto a isso deixo a cargo de vocês.

P5- O espírito Pedro que estará trabalhando conosco nestes estudos tem alguma ligação com alguma instituição espírita específica?

R5 - Kardec deixou tão claro na escala espírita, que cada espírito é uma individualidade e encontra-se em patamar de evolução próprio, ou seja, existem espíritos muitos evoluídos, como Mestre Jesus,mas existem também aqueles menos evoluídos, abaixo de vocês. Marlon, Pedro e eu somos espíritos em certos graus de desenvolvimento diferenciado. Eu passei por certo desenvolvimento intelectual e hoje me esforço em trabalhar os sentimentos. Marlon é um espírito que estuda e conhece mais os temas relativos a mediunidade e Pedro é um conhecedor da Doutrina dos Espíritos e tem o objetivo de contextualizá-la no mundo físico, como tal, tem conhecimento dos escritos de várias instituições, porque esta renovação ou contextualização é feita em vários pontos do planeta, por vários médiuns. Nós não nos restringiremos a apenas um ponto de vista, mas a vários, buscando uma visão mais ampla, uma visão pluridimensional em relação aos estudos.

ESTUDO

Iniciando os nossos estudos, gostaria de trabalhar um conceito importante, que vocês devem pesquisar e debater: a matriz fundante católica ou do cristianismo tradicional. Este ainda é o paradigma moral desta época. Quero propor para as suas análises, o novo paradigma proposto pela Doutrina Espírita.

A palavra matriz é muito significante, ela vem do latim mater = mãe, significa a origem dos nossos conhecimentos; fundante vem de fundação, de base, muito ligada então a matriz, e católica foi a forma que se institucionalizou o cristianismo primitivo no ocidente, a partir do ano 300 d.C., quando foram acrescentando-se conceitos que durariam mais de dois mil anos.

Importante observar o seguinte: fomos católicos durante várias reencarnações. Os espíritos que codificaram a Doutrina Espírita foram católicos quando encarnados, os iniciadores do Espiritismo no Brasil encarnados também eram, antes de se tornarem espíritas. Os mentores Emmanuel, de Francisco Xavier e Joana d’Ángelis de Divaldo Franco, eram católicos em suas últimas reencarnações.

Matriz também significa, em matemática, uma grandeza de várias dimensões. Têm-se matrizes bidimensional, tridimensional, de várias dimensões que representam. Em nossa analogia, cada dimensão representa um conceito, que influencia o pensamento e o comportamento, seja no movimento espírita ou na sociedade.

A primeira grandeza dessa matriz que gostaria de analisar é a questão soterológica.

Esta dimensão da matriz é relevante para o entendimento da vida e do seu sentido. A igreja católica e depois as doutrinas protestantes são soterológicas. A palavra "Soterologia" σωτήριος [Soterios], que significa salvação. Doutrinas soterológicas são doutrinas salvacionistas e estas vêm de uma proposição mais antiga que o cristianismo, vem do judaísmo, da doutrina do pecado original, que é aquela doutrina que afirma que todos somos pecadores, ou seja, não importa o que você é, o que faz, se é homem ou mulher, bom ou ruim, é um pecador originalmente.

Segundo esta doutrina todos somos pecadores, por culpa de alguém que pecou lá atrás, no início da Criação. Essa doutrina está enraizada no cristianismo tradicional. Para seus adeptos, Cristo veio para salvá-los. A função de Jesus é salvá-los do pecado original, isto é, ele é o Salvador. Esta crença muito influencia na vida deles, e está tão arraigado em nossa cultura, que existe mesmo dentro daqueles que participam do movimento espírita. Dentro daqueles que não entenderam a essência renovadora do conhecimento espírita, mas apenas a letra.

Qual é o paradigma da doutrina espírita? Será que acreditamos que temos o pecado original? O paradigma novo da doutrina espírita chama-se de lei Evolução. Não é mais uma doutrina soterológica, não afirma que temos o pecado original, apenas éramos ignorantes e simples no início de nossa caminhada evolutiva. Quando pensamos em termos do paradigma da evolução, não há mais a necessidade de ser salvo, de salvação.

Meditem e tragam para mim na próxima reunião o quão é importante superar essa ideia de pecado original, de necessidade de salvação e como é importante a ideia de evolução, o que isso muda em nossa vida.

A segunda grandeza da matriz fundante católica que permanece ainda no movimento espírita, porque os espíritas egressos do catolicismo e de outras religiões do cristianismo tradicional não conseguiram compreender, ainda, a Doutrina Espírita, como deveria ser, é o que chamamos justificação pela fé. Os irmãos protestantes, aliás, se aprofundaram muito mais nisso que os irmãos católicos. Eles pensam que apenas a fé é suficiente. Mas a fé compreendida como apenas crença não justifica nada. A fé é o primeiro passo para a justificação. Para o Espiritismo a justificação é pelas obras. Justifica-se pelas obras porque nas obras é manifestada a fé, o pensamento, vontade, razão e sentimento,