Cidade e Sociologia: Autores, Conceitos e Abordagens

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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

À Ianna, que ilumina minha vida; à nossa bonequinha Valentina, que nos torna mais felizes e unidos; e aos estudantes do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro: estes, além de alunos, são companheiros no interesse sociológico pela cidade.

APRESENTAÇÃO

Olhando a cidade, discutindo a sociedade

Pessoalmente, creio que as cidades fascinam. Elas, sem dúvida, também amedrontam: afinal, é muito provável que boa parte dos aspectos desagradáveis da vida em sociedade se concentrem predominantemente nelas. Mas, acima de tudo, as cidades fascinam. E fascinam não só pelo seu brilho concreto, as luzes noturnas que se apresentam nos seus caminhos, mas também pela face simbólica desse brilho, pois é o lugar das oportunidades e das possibilidades. A prova estatística disso é a movimentação, ainda bastante dinâmica, entre o meio rural e os centros urbanos.

Esta pequena obra compõe-se de duas partes: a primeira, Cidade e Sociologia: escolas, teorias e problemáticas, refere-se ao século XIX e à primeira metade do século XX, e a segunda, Cidade e Sociologia pós-Escola de Chicago: tendências e problemáticas atuais, contempla o período que se inicia nos anos 1950.

Esta última parte tem sua gênese em 2009, ano em que ingressei como docente do famoso Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Eu tinha vivenciado outras experiências profissionais em redes públicas municipais e estadual, e inseria nelas temas urbanos como parte do programa oficial da disciplina Sociologia, no Ensino Médio regular. Porém, a sistematicidade conceitual, teórica e metodológica que aplicaria só se tornou possível nas turmas com as quais tomei contato no Pedro II, como professor. Por isso nasce da lida com os(as) estudantes do ensino básico, o chão da escola, o interesse de refletir sobre a cidade por intermédio dos seus intérpretes, não apenas com a aceitação dos conteúdos enquanto educandos e educandas, mas também com as transformações que eles, com suas reflexões autônomas, por vezes autorais e questionadoras, docemente obrigam-me a fazer.

Contudo, em termos factuais, foi nos anos de 2012 e 2013 que elaborei a primeira versão desta obra. Como material didático de um curso de extensão universitária para professores e professoras na modalidade a distância, a proposta era introduzir os temas da Sociologia Urbana de forma sistemática, abordando conceitos, teorias e metodologias. Tal roteiro não estava contemplado no documento orientador dos conteúdos ministrados no Ensino Médio da rede estadual do Rio de Janeiro, o Currículo Mínimo, mas encontrava-se inserido no programa de Sociologia para o Ensino Médio do Colégio Pedro II, viabilizando experimentações teórico-conceituais e temáticas, guardadas as peculiaridades do nível de ensino em questão.

Houve, no processo de montagem e de implementação, como que uma retroalimentação entre o ensino básico, representado especialmente por turmas de 3ª série, e os(as) docentes do ambiente virtual de aprendizagem. Ou seja, os avanços e retrocessos de cada um deles serviam como indicadores de adaptações e ajustes no outro.

Este livro, propositalmente exploratório, direciona-se a acadêmicos(as) e professores(as) das disciplinas que compõem as Ciências Humanas e Sociais, seja na Sociologia, na Antropologia ou na Ciência Política e, ainda que precária e muito parcialmente, na Geografia, na História e outras. Nos capítulos que lhe dão corpo, visito as reflexões sobre a cidade de representativos autores, mas também tomo a liberdade de convidar o leitor/leitora e colega professor(a), no final de cada um destes capítulos, a realizarem uma atividade envolvendo o tema em debate com discentes do Ensino Médio.

Será interessante para os(as) estudantes brasileiros conhecerem alguns dos problemas do cenário latino-americano que animaram os teóricos de distintas abordagens. Processos ou situações de dependência, mudança social, urbanização, metropolização, reforma urbana, planejamento e política urbana objetivam instigar o(a) estudante a analisar a si próprio(a) e a seus circuitos e trajetos cotidianos.

Por fim, abordar autores e suas respectivas ideias é como abrir uma janela para que o(a) leitor(a) se aproxime dos temas de interesse das ciências humanas, ideia que repito na Conclusão desta obra, por acreditar na força de suas palavras. Para o escopo de um livro curto, e, portanto, direto e introdutório, inclusive nesta Apresentação, vale mais sua proposta de não se concentrar em temas, mas sim nos seus propositores e no arcabouço conceitual que trazem consigo. Este arcabouço conceitual é amplo o suficiente para proporcionar um desenho genérico do pensamento, bem como satisfatoriamente sucinto para que se tenha algumas impressões sobre a cidade na Sociologia.

O autor

Sumário

Sociologia Urbana: uma introdução

A cidade

Abordagem sobre a cidade

Cidade versus urbano

À guisa de conclusão

1ª PARTE

Cidade e Sociologia: escolas, teorias e problemáticas – Século XIX e primeira metade do século XX

CAPÍTULO 1 - Friedrich Engels e a crítica do materialismo histórico-dialético à sociedade industrial inglesa do século XIX

A situação da classe operária na Inglaterra (1845): a oficina do mundo e a questão urbana como problemática do capitalismo

Engels, a pesquisa de campo e de fontes

Realidade, crítica e denúncia social

Considerações finais

Pequeno exercício sociológico

Sugestões de filmes

CAPÍTULO 2 - Georg Simmel e Max Weber: conceitos e categorias sobre a cidade

Por que Simmel e Weber?

Max Weber e a tipologia das cidades

Georg Simmel: uma Sociologia formalista aplicada ao entendimento da vida (mental) metropolitana

Reserva, atitude blasé e a intelectualidade como proteção

Considerações finais

Pequeno exercício sociológico

Sugestões de filmes e blogs

CAPÍTULO 3 - Escola de Chicago: a cidade como campo de estudo e a emergência da Sociologia Urbana como área científica

Contexto: influências, primeiros pensadores e temporalidades

A Escola de Chicago e a perspectiva da cidade

Ecologia humana, questões urbanas e a centralidade de Robert Park

Louis Wirth e o urbanismo como modo de vida

Teoria urbana, urbanização e urbanismo em Louis Wirth

Influências teóricas, características essenciais do urbanismo e relações humanas

Considerações finais

Pequeno exercício sociológico

Sugestões de filmes

2ª PARTE

Cidade e Sociologia pós-Escola de Chicago: tendências e problemáticas atuais

CAPÍTULO 4 - Henri Léfèbvre, Manuel Castells e a ótica marxista na Sociologia europeia pós-Escola de Chicago

Por que Léfèbvre e Castells?

Henri Léfèbvre, inventor do direito à cidade

Manuel Castells e a Nova Sociologia Urbana

Castells e as críticas à Léfèbvre e à Louis Wirth

Considerações finais

Pequeno exercício sociológico

Sugestões de filmes e blogs

CAPÍTULO 5 - Paul Singer e Lúcio Kowarick: subproletariado, espoliação urbana e a desigualdade brasileira

Quem é quem

Marxismo e economia

A Sociologia e o urbano como tema

Paul Singer e a economia política da urbanização

Metrópole e subdesenvolvimento industrial

Subproletariado, espoliação e desigualdades

Considerações finais

Pequeno exercício sociológico

Sugestões de filmes

CAPÍTULO 6 - Teresa Caldeira, Mike Davis e as formas de violência e de segregação social

Cidade: sinônimo de segregação e de violência

Favelas e condomínios de luxo: cidade sem muros e cidade de muros?

Considerações finais 

Pequeno exercício sociológico

Sugestões de filmes

Conclusão

REFERÊNCIAS

Sociologia Urbana: uma introdução

Não existe acordo unânime entre os sociólogos sobre quais as características fundamentais da cidade e quais as de importância secundária.

(MORRIS, 1972)

A cidade

De acordo com investigações arqueológicas, os primeiros aglomerados sedentários e com forte densidade populacional apareceram no fim do período Neolítico. Por volta de 3500 a.C., na Mesopotâmia, e de 3000-2500 a.C., na China e Índia, as técnicas e as condições sociais e naturais de trabalho permitiram aos agricultores produzirem mais do que tinham necessidade para subsistir. A partir daí, como vivenciamos, esses aglomerados se complexificaram de tal maneira que as megacidades se contam às centenas e, num futuro próximo, tal estimativa será feita na