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A Lenda de Ron Añejo
A Lenda de Ron Añejo
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A Lenda de Ron Añejo

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Ron é o melhor malandro de barcos do mar caribenho. Com sua base na ilha fictícia tropical de Kayak, ele vive uma vida gloriosa com um orçamento extremamente apertado, sendo capaz de conseguir pelo menos rum e comida. Com um otimismo inabalável, ele confronta o mundo e, enquanto ele tiver o seu barco de madeira esburacado, ele consegue se divertir independente de qual seja o próximo desastre.

LanguagePortuguês
Release dateJul 1, 2020
ISBN9781071554210
A Lenda de Ron Añejo

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    A Lenda de Ron Añejo - Ed Teja

    A LENDA DE RON AÑEJO

    POR

    ED TEJA

    CAPÍTULO UM: COMO CONHECI RON AÑEJO

    AO VIR A PRIMEIRA VEZ PARA A ILHA - o que eles chamam de viajar dos Estados Unidos em uma rota direcionada ao sul ao longo da cadeia de ilha do Caribe -, eu estava levemente direcionado a Trindade. Eu velejava sozinho em um saveiro de fibra de vidro de quase dez metros; me virando, como dizem. Tortura, era o que eu achava. Não foi uma boa viagem. Eu comprei o barco de um vendedor maligno em Fort Lauderdale. Se você visse... Bom, deixa pra lá, eu carrego parte da culpa. Isso foi o que aconteceu.

    Eu havia herdado uma pequena quantia de dinheiro recentemente. Não era uma fortuna, mas o suficiente para que eu pudesse viver anos sem trabalhar se fosse bem cuidadoso. Se, é claro, eu não tentasse fazer isso em um lugar que você precisasse de um carro, um apartamento caro, aquecedor, e roupas caras. Por ser extremamente preguiçoso, a ideia de fazer pouquíssimo esforço na vida era muito atraente. Eu ruminei as possibilidades e o meu cérebro nada original decidiu que eu estava destinado a viver nos trópicos.

    Que ideia romântica! O que, eu deveria ter perguntado, poderia ser melhor do que os trópicos? E o que jeito melhor de a aproveitar do que em um saveiro, velejando por dentre magníficas ilhas tropicais? Afinal de contas, vento era grátis. Ou pelo menos eu achava que sim.

    Em minha ganância de achar um barco que eu pudesse pagar para fugir dessa parte civilizada do planeta e ir velejar ao longo do Caribe, eu, inadvertidamente, violei uma das mais importantes regras ao se comprar um barco: nunca compre de um cara que age como seu melhor amigo assim que te conhece, e que frequentemente usa roupas que você jamais gostaria de ser pego usando. Era uma boa regra, porém difícil de seguir as vezes.

    Nesse caso eu imagino ter me deixado convencer que só porque o barco flutuava bem, essa pequena pedra preciosa (A esse preço não vai durar muito; estou surpreso que ainda esteja aqui!) era válida e completamente o que eu precisava. Para ser justo, o barco era bom e provavelmente era maravilhoso de acordo com o que o seu designer imaginou. Tinha um casco bom, uma quilha cheia e aguenta bastante vento. Rápido e nervoso, ele tinha um leme delicado; claramente, se eu entendesse algo de barcos, eu teria percebido que era um puro-sangue, feito para brisas leves e águas calmas. Lidava bem com a costa, aguentava bem as mudanças climáticas e seria perfeito para um dia passeando ou competindo, mas não para longas viagens. Infelizmente, eu não sabia disso. Na verdade, eu deveria admitir nesse exato momento que eu não tinha ideia do que tornava um barco bom para velejar ou mesmo sabia que nenhum tipo de barco seria bom para uma vida velejando a fora.

    O nome do barco era Carma. O nome me soava tão bem, tão anos sessenta, que eu esqueci de perguntar se havia sido nomeada assim para carma bom ou ruim. Ou até mesmo o carma de quem.

    Certamente navegou bem no nosso test drive, ou para os meus olhos não treinados, parecia maravilhoso. Minha experiência com veleiros, como você pode ter notado, era bem limitada. Eu havia lido muito sobre, e sempre fui um grande crente em minha habilidade de absorver o que está escrito. Afinal, não foi por isso que eu gastei tanto dinheiro na faculdade? E o vendedor concordou comigo sobre o seu potencial. Pensando bem, ele concordou comigo em praticamente toda coisa estúpida que eu disse, e me deixou convencer sozinho em efetuar a compra. Ela era fácil de manusear, ele disse, e se apressou em demonstrar todas as ótimas qualidades dela. Ela ia bem a favor e contra o vento; o motor a levava para dentro e para fora do cais; a geladeira mantinha a cerveja gelada; o barômetro mostrava a pressão atmosférica - resumindo, ela se comportava perfeitamente.

    Então foi isso, algumas semanas depois, carregado com mais ou menos 50 quilos de livros sobre como velejar e como navegar, eu fui para o sul em direção ao paraíso. Cada canto e buraco do barquinho estava apinhado de material se sobrevivência: latas de chilli, latas de corned beef*, latas de cerveja, e um estoque infinito de geleia e manteiga de amendoim (eu estava certo de que não encontraria nada disso nas ilhas remotas por onde eu ia perambular). Fiquei surpreso ao ver o quão rápido preenchi o espaço de estoque. O barquinho não possuía prateleiras e armários suficiente para colocar provisões para semanas. Sim, é claro, aquilo deveria ter me alertado sobre as intenções do designer sobre esse projeto. Mas eu estava animado demais para prestar atenção nesse tipo de presságio.

    Enquanto eu me preparava para partir, um veterano em um barco de madeira acabado ancorado ao lado me convidou para uma bebida de despedida. Ele havia ouvido aos meus planos pacientemente, me ofereceu alguns conselhos úteis sobre o que levar e onde achá-lo, me observou abastecer o barco como se fosse uma mala barata, e sacudiu a cabeça em decepção o tempo inteiro. Minha última noite em terra no bom e velho E.U. da A., ele brindou comigo com uísque barato e disse, Aqui vai uma dica para você. Se você alguma vez se sentir meio, bom, sem sorte, enquanto estiver pelas ilhas, procure por Ron Añejo. Ele saberá o que fazer.

    Ron Añejo? Nunca ouvi falar dele, eu disse.

    Se ficar nas ilhas em direção ao vento por um tempo, você está destinado a conhecê-lo, ele disse. Está por aí há um tempo já.

    Onde ele está?

    Ele deu de ombros. Não saberia dizer. Ele aparece nos lugares mais surpreendentes. Mas se você precisar de ajuda, pergunte pelo Capitão Ron Añejo. Alguém vai saber onde ele está, mesmo se você estiver em Honduras.

    *corned beef é carne de bovino inicialmente tratada em salmoura e posteriormente fervida em vinagre em fogo lento.

    Eu arquivei o nome desse estranho e conveniente salvador de velejadores de águas distantes na minha cabeça sob a categoria de informação inútil, divisão de mitos e histórias sobre o mar e me foquei novamente na minha viagem. Bom, pra ser sincero, eu estava pensando muito mais nas lindas mulheres de pele escura das ilhas que eu planejava conhecer, e sobre bebidas grandes e geladas com guarda-chuvas. Eu não pensei que eu fosse precisar de ajuda em nenhuma dessas áreas.

    Nem preciso dizer que desde a primeira passagem para Bermudas, a viagem não alcançou as minhas expectativas. Primeiro eu achei que o tempo estava horrível para a estação. Os mares empurravam a mim e ao Carma para lá e pra cá. Nós afundávamos e furávamos ondas que a faziam tremer. Eu continuei cada vez mais devagar, porém por mais que aquilo ajudasse um pouco, o problema principal, e minha miséria principal, continuavam. O mar ardiloso venceu meu piloto automático em questão de segundos, e eu fiquei preso manejando o leme o tempo todo. Ficar com frio, molhado, e trabalhando o tempo todo não era o que eu esperava quando comecei minha nova vida. Começou a assentar em mim a ideia de que eu tinha me inscrito para isso e muito mais.

    Então, não levou muito tempo para que eu percebesse que eu e meu barquinho estávamos, vamos dizer, com muita areia no nosso caminhãozinho? A luz dessa epifania finalmente veio, não através de alguma iluminação mística, mas porque eu ouvi a pessoas em outros barcos falando pelo rádio. Enquanto eu estava sendo escorraçado até a morte, esmagado pelas ondas, ou tendo minhas entranhas reviradas por elas, menos de dois quilômetros de distância, vendo o inferno que eu estava passando, essas pessoas estavam falando sobre estar fazendo uma viagem rápida, ou sobre o quão gostoso é velejar nessa deliciosa brisa. Em certo ponto, o capitão de uma lugre-escuna me chamou pelo rádio para descobrir o que descobrir o que diabos um barco de corrida da primeira classe estava fazendo em mar aberto. Ele pensou que eu talvez precisasse de ajuda. Eu precisava, mas não do tipo que você pode conseguir de um estranho que está de passagem.

    Aos poucos a verdade bateu. Eu comecei a compor cartas de ódio a todas as revistas de veleiros em cada parada, e a contemplar um processo de ação contra suas alegações de que velejar é divertido, que acabaram por colocar minha vida em risco. Duas semanas desde de o começo de minha nova e tranquila vida, eu estava um caco. Eu tinha medo de ficar parado e assistir ao meu dinheiro evaporar, medo de me aventurar para fora do porto quando via o mínimo sinal de nuvens no céu.

    Sistematicamente as coisas no barco começaram a falhar. Guinchos emperraram, pedaços do convés se mostraram mais fracos do que o necessário, e uma vez eu os arrancava, o convés vazava. A geladeira deu problema e minha cerveja ficou quente. Eu tentei consertar. Depois comecei a procurar por um profissional, mas não consegui achar ninguém nas ilhas que já tivesse visto a marca x de geladeira antes ou que estivesse disposto a tentar. Porém, havia muitos que estavam perfeitamente dispostos a me vender uma nova e, frente a perspectiva de cerveja quente, eu cedi.

    Eu não esperava deterioração tão rápida do meu palácio flutuante. Na verdade, na Flórida, eu havia achado engraçado quando o vendedor me deu um kit de reparos como presente de despedida. Naquele momento, a ideia de que eu ficaria por aí reparando velas parecia absurda o suficiente para gargalhar. É claro, eu não pensei que quando o falhador de velas (eles chamam de enrolador de velas, mas essa não foi a minha experiência) emperrou, o que foi precisamente calculado para acontecer quando ventos muito fortes ameaçavam a sua existência; até mesmo uma boa venda vai para o cacete. Não havendo nenhum tipo de ajuda de reparos por entre as ilhas, eu tive que aprender a costurar, e não era nada divertido. Doloroso é a palavra que me vem à mente. Eu não pensava que um sail palm* era equipamento necessário, mas se você está tentando reparar uma vela sem um, você absolutamente vai entender que é.

    Ainda assim, eu me ajeitei e fui. Inocentemente, eu achei que estava finalmente estava em bons termos com tudo conforme eu me dirigia a ilha romântica de St. Elsewhere. Foi aí que meu motor bateu as botas. Ele produziu um som vil enquanto eu entrava no porto principal, e fumaça preta me acompanhava como se fosse um halo de infâmia até o ancoradouro na marina. Eu ouvi um estrondo decisivo conforme desligava.

    Eu havia trabalhado como um mecânico na minha vida passada, e a aparência forte e industrial do meu motor havia sido tranquilizadora. Até agora havia soado bem e eu presumi que motores de barcos tinham que ser mais fortes do que motores de carros e caminhões. Agora a extensão de ingenuidade de tal pensamento estava clara. Marinizada não significava, como você pode pensar, impermeável para ambientes marinhos cruéis. Não, simplesmente significava caro.

    Com as poucas ferramentas que eu tinha no barco, eu adentrei no motor e não gostei mesmo do que descobri. E gostei ainda menos quando eu chamei um mecânico local de diesel da marina chamado Lucius, e descobri que esse era um modelo que uma empresa italiana havia feito por apenas um ano e havia descontinuado. O resto do produto deles consistia em sapatos. Então, não haviam peças disponíveis para compra. Nem na Itália, nem nos Estados Unidos, e muito menos nas ilhas. Então, ao invés de ter o privilégio de pagar a alguém uma quantidade absurda de dinheiro do jeito que a gente faz em casa, eu recebi uma leve sacudida da cabeça do mecânico e o triste resultado, tá quebrado. Novato em relação ao modo como as pessoas da ilha falam, eu levei um tempo para o diagnóstico triste e sem esperança assentar completamente. Na verdade, não tinha sido absorvido até que ele suspirou, "Vai ter que arranjar um próximo." O que, é claro, significava um novo.

    Eu fui checar com os oficiais e, diante daquela paisagem tropical exuberante, em um barraquinho com telha de latão que ficava entre uma horda de palmeiras e um McDonald's novinho, eu aprendi mais duas coisas super importantes sobre a vida na ilha. Primeiro, algumas ilhas têm taxas de muito rígidas (eu só quero ancorar, não comprar a joça da ilha, foi ouvido de um velejador furioso), e que de muitas delas você não consegue usar aqueles maravilhosamente grátis números de 0800 para conseguir ajuda. Então, para a tristeza de minha sorte pessoal adequada, eu me encontrei jogando um jogo de importar/exportar pelas próximas semanas. Nesse jogo, você, conhecido como a vítima, tenta arranjar um item novo ou usado de um país para o outro, sem terminar com a dívida nacional dos dois países e instigar a ira de todos os oficiais de alfândega no processo.

    O novo motor funcionava bem depois que eu e Lucius finalmente o instalamos – uma simples questão de remover metade da cabine do piloto para abrir espaço para o motor -

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