Não / Sarau inconsciente de um alter ego esquizofrênico
By Paula Febbe
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"Não", pois foi a primeira palavra que eu disse na vida e sempre tive este fato como curiosidade.
"Não", pois meu pai morreu há, mais ou menos cinco anos, e quero me permitir seguir sem a presença dele ou da morte dele em mim, pois a fase em que escrevi o "Não" foi quando deixei de reconhecê-lo como pai.
Sim.
Antes da morte.
"Não", pois o que chama amor foi conhecido por mim durante essa fase.
Lanço este livro agora, tantos anos depois, para que quem fui seja lido, acolhido e finalmente, eu deixe aquela Paula ir, para que ela não mais faça parte de mim, ao mesmo tempo, que quem fui deixe de ser meu para começar a pertencer a vocês.
O "Sarau", peça de teatro feita com os textos do "Não", é um deboche em relação ao intelectualismo extremo, às vezes, existente no meio artístico, do teatro e dessa coisa toda de grandeza da arte que nós, como artistas, precisamos carregar. É, acima de tudo, uma desconstrução do ego. É, sem dúvida alguma, também, uma sátira. Não é sério. Nunca nasceu para ser sério. Nunca será.
Paula Febbe
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Book preview
Não / Sarau inconsciente de um alter ego esquizofrênico - Paula Febbe
Paula Febbe
Não
São Paulo
2020
1ª edição
Copyright @ Cartola Editora
Ficha técnica:
F289n
Febbe, Paula, 1983 -
Não / Paula Febbe - São Paulo: Cartola Editora, 2020.
1020kb. ; 21 cm.
ISBN:978-65-990307-9-6
1. Literatura brasileira - Poesia. I. Título.
CDD: B869-1
CDU: 82-1(81)
Revisão:
Rodrigo Barros
Diagramação e projeto gráfico:
Rodrigo Barros
Capa:
Patricia Del Sole
1ª edição
Todos os direitos desta edição reservados à Cartola Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prévia autorização por escrito da editora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sumário
Verde
Asilo particular
Conhecidos
Antiquário
O samba catequese
Ausente
Hábito
Manhã
Guerra
Malditos
Detalhes
Gringa
Natal
Contexto
Cena de amor
Nós e o não
Canibal
O jantar
Meu motivo de tensão
Isca
A voar
Instrumento
Meu texto Woody Allen
A meu homem
Visionários míopes
Cinzas
Relevâncias
Meu Shakespeare
Os líderes
O líder
Inseto
Manhã
Ode à brilhante reflexão sobre o Ipod
Política expressa
A morte de um pai ausente
Acontecimentos
Viagem até onde se vê as estrelas no céu
A correção
Processo
Reprise
Ele
De cor
Hipótese
Fé
Filme
Mestre cervejeiro
A prostituta
O infiel
Foi ele!
A tentativa de alívio
A cadeira
As regras da casa
A visão
A náusea
O segundo copo
O terceiro copo
Descontrole
O canto
Meu diálogo Tarantino
Úmido
Minha filha
Futuro do pretérito
O quase
A ilha
Pão de pedra
Já li
A porta
A melhor bala de morango
Estranhas alucinações depois do café
Sr. Qualquer Um
Obrigada! Obrigada!
Minha coisa com plumas
O texto ruim
Nirvana
Não
Estou sentada em uma cadeira que já foi muito usada, no meio de um palco grande, em um teatro perto de minha casa. O teatro é decadente. Bonito ainda, porém decadente.
O Não
não é nada além de uma coletânea de meus textos adolescentes e início da fase adulta.
Não
, pois foi a primeira palavra que eu disse na vida e sempre tive este fato como curiosidade.
Não
, pois meu pai morreu há, mais ou menos cinco anos, e quero me permitir seguir sem a presença dele ou da morte dele em mim, pois a fase em que escrevi o Não
foi quando deixei de reconhecê-lo como pai.
Sim.
Antes da morte.
Não
, pois o que chama amor foi conhecido por mim durante essa fase.
Lanço este livro agora, tantos anos depois, para que quem fui seja lido, acolhido e finalmente, eu deixe aquela Paula ir, para que ela não mais faça parte de mim, ao mesmo tempo, que quem fui deixe de ser meu para começar a pertencer a vocês.
O Sarau
, peça de teatro feita com os textos do Não
, é um deboche em relação ao intelectualismo extremo, às vezes, existente no meio artístico, do teatro e dessa coisa toda de grandeza da arte que nós, como artistas, precisamos carregar. É, acima de tudo, uma desconstrução do ego. É, sem dúvida alguma, também, uma sátira. Não é sério. Nunca nasceu para ser sério. Nunca será.
Paula Febbe
O ser humano e toda a necessidade de ver o que ele mesmo nega.
Paula Febbe
Verde
24 de março de 2009
Vê seu reflexo em um espelho;
Enxerga um menino que não sorri;
Em um piano notas não tocadas são sequestradas por uma memória imaginativa;
Outros fazem música por ele;
O menino não sorri;
A melodia não faz sentido, mas atenta ao mundo exterior;
Às vezes ele esquece que há um mundo exterior;
Dentro de casa, uma cortina de veludo cobre metade de seu rosto;
Enquanto isso, elas o observam do lado de fora…
Os mantos escuros competem com o ruído estridente do vento;
O tapete caçado acolhe gentilmente aquela solidão;
Ele ainda a quer! Incansavelmente.
O menino não sorri, mas solidifica brincadeiras em um pulso aberto;
O mundo externo existe!
Roupas negras voam, dançando amigavelmente com o vento forte que também atinge a sepultura de alguém que ainda vive;
Mas alguém espera que ele se vá, mesmo que seja apenas pelo costume de ver o fim;
O beijo observado traz uma estranha sensação. Não consegue respirar!
Elas o observam do lado de fora;
Os mantos escuros competem com a sensação de vazio do começo da manhã;
Os assovios competem com o ruído estridente do vento;
O frio enfraquece e atinge até o que sobrou das folhas verdes que ainda sobrevivem no jardim secreto;
O verde ofusca a verdade e, finalmente, faz a prática da ousada teoria;
Elas o observam do lado de fora;
A cortina de veludo não cobre mais metade de seu rosto;
O menino não sorri, mas solidifica brincadeiras em um pulso aberto;
Elas o observam do lado de fora;
Eles não tocam mais nenhum instrumento;
O frio atinge as folhas verdes que ainda sobrevivem no jardim secreto;
Ele tem a sensação de estar se afogando;
Suas roupas negras voam,