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Ruína: Trilogia Arcanjo, #2
Ruína: Trilogia Arcanjo, #2
Ruína: Trilogia Arcanjo, #2
Ebook161 pages2 hours

Ruína: Trilogia Arcanjo, #2

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About this ebook

Lilith descobriu que é uma bruxa e que seu elemento é o fogo. Apoiada por seus novos companheiros, cujos poderes são a terra, a água e o vento, ela terá que enfrentar as malignas estringes que buscam sua destruição e ruína, embora por trás delas estejam os Elohim, os nove anjos que desafiaram a Deus e foram expulsos para o submundo. Nesta batalha entre o céu e o inferno, Lilith encontrará aliados novos e inesperados, como o luminoso Uriel, o misterioso Yago e o sinistro bibliotecário Zabulón.

Viciante, envolvente e avassalador, este romance continua a trilogia do Arcanjo, repleta de bruxaria, romance e ação. Para fãs de séries como Charmed, The Secret Circle e Supernatural.

LanguagePortuguês
Release dateJul 15, 2020
ISBN9781071556054
Ruína: Trilogia Arcanjo, #2

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    Ruína - Joseph R. Meister

    UM

    Essa noite os pesadelos não me deram trégua. No entanto, não era o sonho angustiado e repetitivo de sempre. Tinha mudado. Desta vez o fogo que me rodeava não queimava, não me fazia tossir nem abrir a boca buscando por oxigênio. As chamas dançavam ao meu redor com alegria, eram afetuosas e protetoras, proporcionavam luz naquele poço de trevas. No meu sonho pude ver Uriel manchado de sangue, com os olhos cheios de espanto. Junto dele, ferido no chão, estava Yago. Encolhido pela dor sobre a poça escura do seu próprio sangue, ainda empunhava a katana, cuja lâmina tinha se partido pela metade. Gritei até ficar afônica, mas não me escutaram. As chamas rodavam em volta de mim como um escudo protetor e o eco da minha voz rebotava contra elas. Queria correr até eles, mas algo me retinha e me impedia de avançar. Uma escuridão, viva e palpável, flutuou e se precipitou sobre eles. O fogo se extinguiu e despertei.

    Naquele domingo, exausta e dolorida, me dediquei a descansar, meditar e pensar nos acontecimentos que haviam ocorrido na minha vida, antes chata e rotineira, e agora arrastada por um rodamoinho de caos. Elisa e Gabriel tinham ido passar o dia afora e eu tinha a casa só para mim. Recostada em um sofá de veludo, com um libro cujas páginas se negavam a virar, pensei em Saray, que não havia se aterrorizado diante do demônio que segundos antes a beijava e a quem havia atirado água-benta na cara, que havia começado a fuga e detido a chuva para evitar que o nível das águas subisse e inundasse o pântano, o que teria causado a morte de muitos convidados da festa. Pensei em Ana, que tinha nos guiado até a caverna e usado a magnetita para enfrentar os três seres diabólicos enviados pelos Elohim, sedentos por acabar com as nossas vidas. Depois lembrei de Víctor que, apesar da sua aversão pela violência, não havia duvidado nem por um segundo na hora de entrar em combate contra o poderoso demônio que lançava bolas de fogo, e que havia fechado o círculo para nos manter a salvo no seu interior, disposto a sacrificar sua vida por nós.

    Também pensei em Yago, na sua dor e seus segredos, na sua maneira de empunhar a espada contra os seres da escuridão que nos caçavam, na frieza dos seus olhos quando lhe disse o nome de Mila e o seu silêncio que me causou uma dor mais profunda do que sua rejeição.

    Por último, pensei em Uriel, no mistério que envolvia aquele garoto calado, terno, doce, além do plano terrenal, que, por fim, tinha se revelado. Por que me custava tanto aceitar? Porque eu tinha admitido tão rapidamente que era uma bruxa, que podia controlar o fogo, que os demônios existiam e tentavam escapar das profundezas e, por outro lado, resistia em pensar na possibilidade de existência de Deus e seus anjos?

    Por uma simples razão.

    Se aceitava que Uriel era um anjo divino, também deixava claro que estava fora do meu alcance, que os sentimentos que haviam brotado no meu coração murchariam e morreriam antes de florescer, que meu amor nunca seria correspondido.

    Era possível amar duas pessoas ao mesmo tempo? O medo, o desamparo, a solidão tinham me deixado cega? De qualquer maneira, já valia à pena pensar mais nisso. Primeiro havia perdido Yago, que se negava a esquecer de seu passado e, depois, havia perdido Uriel, caso que nem sequer tinha futuro.

    Suspirei, exalei todo o ar dos meus pulmões para deixar mais leve todo o lastre emocional e descartei qualquer pensamento negativo. Tinha que ser forte e superar. Se eu queria continuar viva, tinha que imitar a atitude, a decisão e a força de vontade de meus companheiros. Tinha que controlar e dominar meus poderes, aprender a usá-los e nunca vacilar.

    Afinal das contas, eu era uma bruxa.

    Estudaria, praticaria, aprenderia. Deixaria de ter medo, de me apoiar nos demais, de permanecer passiva e aterrorizada enquanto meus amigos arriscavam suas vidas e se esforçavam em me proteger. Logo chegaria o dia em que as estringes, os demônios e os próprios Elohim me temeriam.

    Na segunda-feira, quando voltamos às aulas, tudo havia mudado. Uriel não me esperava no pátio para me dar bom dia com um dos seus sorrisos, sequer estava na sala de aulas. Yago chegou tarde e sentou ao meu lado sem pronunciar uma palavra, mais duro e distante do que nunca. Mila, que compartilhava uma mesa com Alicia, se virou para me presentear com um olhar maldoso e seus olhos exultavam com uma alegria mal contida. No seu canto, afastada dos demais, Suzie passava a língua sobre os lábios como um gato satisfeito. Lançou um olhar ao assento vazio de Uriel e encolheu os ombros com um ar falso de aflição.

    Você está bem, Lilith?, me perguntou Víctor, telepaticamente.

    Sim, respondi automaticamente. Temos que conversar.

    A manhã transcorreu normalmente, entre leituras obrigatórias, comentários sobre textos e operações matemáticas complexas, que não entendi nada.

    Mal se lembrava de como havíamos saído da caverna, depois que Zabulón escrutinou o terreno com seus estranhos olhos e decidiu que o caminho estava livre e era seguro entrar pela escuridão da noite, nem sabia como regressamos à festa, na qual ninguém havia notado nada estranho e Uriel secou as lágrimas e desapareceu sem se despedir, da mesma maneira que Yago, que foi embora com Mila e Alicia. Os amigos de Saray nos levaram de carro para casa. Nem lembrava em que instante Zabulón deixou de proferir suas censuras e desapareceu em uma nuvem de fumaça negra.

    Quando tocou o sinal que anunciava a pausa para o almoço, coloquei as coisas na mochila de pressa e me levantei.

    — Espera, Lilith. — Yago também estava em pé e me olhava com seus olhos azuis de tempestade. Sua voz foi suave, como uma carícia.

    — Não posso. — disse — Estou com pressa. — não sei como pude resistir ao seu magnetismo, porque todo meu corpo era atraído a ele, como se Yago fosse um sol ao redor do qual eu me via obrigada a orbitar.

    Virei de costas e saí da sala com Víctor. Ana e Saray estavam nos esperando do lado de fora.

    — Melhor nos apressarmos, se é que queremos pegar uma mesa na cafeteria — disse Ana, com determinação —. Está muito frio para ficar em um banco do pátio.

    — Podemos ir a um lugar mais tranquilo? — perguntou Víctor em um tom casual —. Precisamos falar de… certas coisas.

    — E quem vai querer escutar vocês? — Alicia e Mila passaram do nosso lado nesse momento, depois de sair da aula. Mila virou e acrescentou com desprezo — Perdedores.

    Um segundo depois, era Suzie quem saía pela porta da sala. Escutou o insulto que Mila havia nos lançado e explodiu em uma estridente gargalhada.

    — E você está rindo do quê? — desafiou Saray — E por que tanta maquiagem que te faz parecer uma palhaça? — a risada se esfumou dos lábios de Suzie, que se fecharam em uma careta de ódio.

    — Desaparece! — ordenou Ana, com uma ameaça implícita gravada nos seus olhos escuros.

    Suzie fechou as mãos com força, mas não disse nada e se afastou pelo corredor, atrás de Mila e Alicia.

    — Ele vem com a gente? — perguntou Saray.

    Virei e pude ver Yago, que nos observava indeciso, sem se atrever a dar um passo na nossa direção. Essa indecisão, como tantas outras, me fez falar por ele.

    — Não. — respondi em voz alta, para que ele me ouvisse — Com certeza tem coisas melhores para fazer.

    Me afastei pelo corredor, sem olhar para trás. Ser tão dura com ele me custava um grande esforço, era uma atitude de conflito com meus sentimentos, mas não podia admitir que Yago não confiasse em mim, que mantivesse seus segredos depois que tinha compartilhado dos nossos.

    — Uma briga de namorados? — sussurrou Saray ao meu lado. Jurava que não havia movido seus lábios. Entre suas muitas virtudes, entre as quais se destacava o sarcasmo, tínhamos que acrescentar agora a ventriloquia.

    — Cala a boca! — rosnei. Imediatamente depois, uma lixeira metálica aparafusada na parede começou a exalar fumaça.

    Saray pegou a garrafa de água que sempre trazia e esvaziou seu conteúdo na lixeira. Escutei um sussurro.

    — Cuidado — disse, irônica —. A menina está pegando fogo.

    Não aguentei. Saray era capaz de provocar um sorriso de qualquer pessoa quando queria, ainda que seus comentários tivessem sido incisivos ou dolorosos.

    Saímos ao pátio, apagado e sem vida pela ausência de Uriel, sob um céu cinza-chumbo, deprimente, e dali fomos para a rua, indo a um local que não estivesse entupido de alunos para poder conversar com mais tranquilidade.

    — Vamos perder a seguinte aula — notou Víctor.

    — Que tragédia! — exclamou Ana com deboche — Não sei se poderei me recuperar.

    Chegamos à cafeteria Dolce vita e entramos. Havia um par de mesas ocupadas, mas o mezanino, onde haviam instalado uns sofás em volta de umas mesas baixinhas, estava vazio e foi ali que nos instalamos depois de fazer nossos pedidos ao garçom. A pintura das paredes, de um vermelho intenso, a pouca iluminação, com velas acesas no interior de uns porta-velas marroquinos e a música suave de fundo, contribuíam para criar uma atmosfera de intimidade relaxada.

    O garçom veio com a bandeja, distribuiu os cafés e saiu discretamente.

    — Esse lugar é acolhedor — disse para romper o gelo.

    — Costumamos vir aqui de vez em quando... — falou Víctor.

    — Muito bem, Lilith — Ana o interrompeu — O que está acontecendo?

    — Por onde você quer começar? — perguntou Saray com ironia — Esse assunto já escapou do nosso controle. Era divertido ser bruxa. Ter poderes paranormais e todo o resto. Mas isso é um pesadelo.

    — Quero... — comecei mal — Quer dizer, eu gostaria de estudar o grimório, queria aprender, queria usar mais meus poderes assim como vocês fazem. Não vou continuar sendo uma menininha assustada que se esconde atrás dos amigos quando aparecem problemas.

    — Seria bom se praticássemos — opinou Víctor, com os olhos brilhantes, desprendendo centelhas de emoção —, que colocássemos em uso a sabedoria do grimório. Eu descobri coisas interessantes. Mas, antes, deveríamos ter as pedras preciosas. Se supõe que podem potencializar as nossas habilidades e está mais do que claro que nos faz muita falta.

    — Esta tarde tenho que ir à joalheria para pegá-las. — Ana afirmou com a cabeça — Amanhã mesmo já poderíamos começar a praticar com elas. Víctor, você vai nos ensinar, não é?

    — Claro! — respondeu. Depois fez uma pausa, como se recapacitasse — No entanto, Zabulón tinha razão em uma coisa. Temos sido atrapalhados e descuidados. Esgotamos nossas energias em um ataque, deixamos que escapassem sem freio e isso pode resultar em um erro fatal.

    — O bibliotecário já nos deu esse sermão. — espetou Saray com enfado — Você está começando a falar como ele.

    — Pois eu acho que faz muito sentido — opinei cautelosa.

    — Por exemplo — continuou Víctor, sem ligar para a relutância de Saray nem para o perigoso silêncio de Ana —, o que Saray fez no cemitério ao conter a chuva e lança-la como uma onda contra os demônios foi surpreendente, mas a deixou completamente esgotada. Quando Ana usou a magnetita na caverna, desatou todo o seu poder, mas esgotou suas energias e isso a deixou

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