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Moral da História
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Moral da História

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O livro Moral da História busca atualizar o discurso filosófico, considerando a moral, a ética, a arte e a literatura, como veículos transportadores de lições que ganham forma por meio das fábulas, parábolas e de apólogos – recursos utilizados desde a antiguidade. O autor segue os passos de Homero (sec. IX a. C) e Hesíodo, quando principiaram os ensinamentos por meio do gênero poético.
LanguagePortuguês
Release dateJul 23, 2020
ISBN9786555234374
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    Moral da História - Ademar Bogo

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Para Maria Nalva, João Marcos, Tainan e Alexandre.

    PREFÁCIO

    Fábulas e apólogos de sete faces

    O poeta-ensaísta Ademar Bogo, traquejado criador de cabras e cartógrafo sensível dos anseios populares, dispensa apresentação. Tal qual o lendário Orelana, bode sertanejo que ruminava espantos nos quadrinhos de Henfil, ele também adquiriu, à custa da ruma de livros que devorou e das andanças que fez por estes Brasis, uma rara sabedoria e argúcia. Felizmente, para bem de seus pares, Bogo não é uma caricatura dos intelectuais de gabinete, como aparentava ser o parceiro da Graúna e do cangaceiro Zeferino. Ao contrário: discípulo fiel de Karl Marx, nosso filósofo nunca se propôs a tão somente interpretar o mundo – sua meta sempre foi transformá-lo.

    De fato, já há algum tempo, Bogo tem se dedicado a socializar conhecimentos com aqueles que travam o bom combate nos roçados e arruamentos delirantes desta nossa Bruzundanga. Quando escreveu suas Cartas de Amor, em 2002, ele ainda era um aprendiz de mateiro, abrindo trilhas sinuosas no emaranhado bosque das ideias entrevistas pelos militantes sociais. Agora, bem mais calejado nas veredas da teoria e da práxis, habilita-se a uma tarefa igualmente árdua e admirável, segundo ele próprio enuncia nesta Moral da História: atualizar o discurso filosófico, considerando a moral, a ética, a arte e a literatura, em um tempo em que a mentira e a violência viajam na velocidade da luz e chegam a cada coração sem compaixão(BOGO, 2020, p. 11).

    A missão reveste-se de relevância ainda maior pelo público a que se destina, constituído por estudantes de Filosofia, jovens de distintas tribos e aqueles que atuam em movimentos populares e pastorais sociais ou promovem atividades culturais no campo e na cidade. Ou seja, a ambiciosa meta deste singelo compêndio é decodificar para letrados e sem-letras temas que desafiam o pensamento crítico desde o advento da modernidade, entre eles as aporias da ética, a questão da identidade e o tortuoso périplo da dialética em plagas tropicais.

    Para tanto, o autor valeu-se de dois recursos mui eficazes: o fio condutor de sua pesquisa e a linguagem usada para transmiti-la aos leitores. No primeiro passo, ele recuou até a Grécia Clássica de Homero e Hesíodo, em busca das lições de aedos e rapsodos que filosofavam por meio de poemas; depois, assuntou as relações morais em outras épocas, valendo-se de fábulas, parábolas e apólogos, gêneros discursivos que fazem a resistência do passado ecoar sobre o presente, rasgando as cortinas do real sensível para edificar o real inteligível (BOGO, 2020, p. 11).

    No fértil terreno da expressão, a fim de embelezar o texto, Bogo não abdicou da veia lírica, optando por encadear sua prosa com a cadência de um Rap jamaicano. Graças a esse estilo escritural, o livro inteiro pode ser lido como um extenso poema, em que cada período e cada parágrafo acusam a presença de ritmo, rima e métrica. Não se pense que o artifício é mero diletantismo do repentista – ao contrário: o desejo do trovador tropical é que sua mensagem possa ser discutida, cantada ou encenada, na forma de recital, de teatro ou de jogral.

    Estabelecida a via de navegação, cabe avaliar a amplitude do plano de voo. À primeira vista, a missão do argonauta evoca a ambição de um enciclopedista do século XVIII, à feição de um Diderot pós-moderno ao sul do Equador. Ledo engano: Bogo está longe de subscrever os ideologemas traiçoeiros da razão emancipadora de Immanuel Kant e dos pensadores do velho idealismo alemão. Ele não ignora que as luzes do Esclarecimento – a cálida exortação a que se tenha coragem de fazer uso do próprio entendimento (Sapereaude!) para superar as trevas da menoridade humana – logo se tornaram as amarras da razão instrumental, reificante e monológica, que tanto observa, esquadrinha e normaliza, quanto calcula, classifica e subjuga.

    Não por acaso, Bogo concede uma atenção privilegiada às faces opostas e complementares de Jano, o deus romano de dois rostos – um, voltado para trás, cuida do passado; o outro, virado para frente, vigia o presente e o futuro. O mote já fora glosado por Walter Benjamin ao digredir sobre um quadro de Paul Klee intitulado AngelusNovus– um anjo de asas abertas, olhos arregalados e boca dilatada que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Benjamin compara-o ao anjo da História, cujo rosto dirige-se para o passado: para nós, uma cadeia de acontecimentos; para a criatura alada, uma

    catástrofe única, acumulando ruína sobre ruína e dispersando-as aos nossos pés. Ele gostaria de se deter para acordar os mortos e juntar os fragmentos, mas uma tempestade sopra do paraíso e o impele rumo ao futuro – essa tormenta é o que chamamos de progresso (BENJAMIN, 1987, p. 226).

    Embora longo e denso, o roteiro filosófico da Moral da História é prazeroso, não só pelo estilo da escrita, mas também pelas escalas que o timoneiro elegeu para deleite dos viajantes. Esopo, Fedro e La Fontaine são revisitados com muita leveza e há ainda espaço para vates brasileiros de enorme talento e perspicácia, como Gregório de Matos, o Boca do Inferno, o primeiro dos grandes cronistas de Bruzundanga. Bogo rende uma vênia imprescindível ao poeta que soube desvelar como ninguém as mazelas do antigo regime colonial, com um estilo parabólico e fabulado que satiriza os poderosos e se posta ao lado das massas empobrecidas – aquelas destituídas de voz e organização para enfrentar a exploração e os desvios morais que, pela astúcia do poder, se ampliavam sempre mais (BOGO, 2020, p. 20).

    A jornada prossegue nessa toada por motes bem provocantes, entre eles as igualdades e falsidades democráticas, o direito ao direito, o amor e o patrimônio e os dilemas da Humanidade. É um périplo ambicioso, já dissemos, mas a viagem se torna airosa e amena no balanço das ondas do Rap, em companhia de Marx, Nietzsche, Brecht, Machado de Assis, Graciliano Ramos e até do saudoso mestre potiguar Luís da Câmara Cascudo, o maior folclorista de nossa terra. Não é de se espantar: quem passou a vida criando bodes e apascentando versos sabe muito bem com quantas fábulas e rimas se conta a moral da História. E o tenaz esforço do trovador não terá sido em vão: este poema-ensaio há de ser cantado e glosado em saraus e místicas, salões e galpões, escolas e assentamentos, por essa gente fabulosa que não cansa de mostrar seu valor.

    Vila Isabel, terra de Noel, 02/01/2020.

    Luiz Ricardo Leitão

    Escritor e professor associado da UERJ,

    doutor em Estudos Literários pela Universidade de La Habana (Cuba)

    e coordenador do Acervo Universitário do Samba (UERJ).

    Referência

    BENJAMIN, Walter. Sobre o conceito da história. In: BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre arte e literatura [Obras escolhidas, v. 1]. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987, p. 226.

    APRESENTAÇÃO

    Este livro é destinado aos estudantes de Filosofia, à juventude e aos leitores em geral que atuam em movimentos populares, pastorais sociais ou que desenvolvem atividades culturais.

    Buscamos atualizar o discurso filosófico, considerando a moral, a

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