O amigo da Morte: Tradução Exclusiva Clássicos Raredes
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Quando Gil Gil estava com 19 anos, Rionuevo morreu e ele foi expulso do palácio. Desesperado por perder sua posição e seu amor, pensa no suicídio como forma de se libertar, mas quando ia beber um veneno, uma figura que se apresentou como A Morte o deteve.
A Morte se ofereceu para ser amiga do rapaz. Gil aceitou aquela amizade, e a Morte, então, prometeu-lhe prosperidade e o amor de Elena.
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Book preview
O amigo da Morte - Pedro Antonio de Alarcón
Título original: El amigo de la muerte
Obra de domínio público
Título traduzido: O amigo da morte
© 2020 B. Pellizzer
© 2020 Editora Raredes
Todos os direitos reservados
Autor: Pedro Antonio de Alarcón
Tradutor: B. Pellizzer
Projeto gráfico: Equipe Editora Raredes (@raredes.editora)
Imagem da capa: Death ealer, de Leonardo Yip, via Unplash
Capa: Equipe Editora Raredes
Diagramação: Equipe Editora Raredes
Revisão: Victor Anziani e Sofia Mendez
A321a
ALARCÓN, Pedro Antonio de
O amigo da Morte / Pedro Antonio de Alarcón; tradução B. Pellizzer. – 1ª. Edição – Rio do Sul – SC: Raredes, 2020.
Tradução de: El amigo de la Muerte
Livro Eletrônico.
1. Ficção espanhola. I. Pellizzer, B. II. Título
CDD: 863
Direitos dessa edição reservados à
Editora Raredes
Rua Pedro Frankenberger, 281 – Bela Aliança
Rio do Sul – SC
CEP 89.161-313
editora.raredes@gmail.com
ISBN: 978-3-95926-778-6
Verlag GD Publishing Ltd. & Co KG
E-Book Distribution: XinXii
www.xinxii.com
Table of Contents
Méritos e serviços
Mais serviços e méritos
De como Gil Gil aprendeu medicina em uma hora
Digressão que não vem ao caso
O certo pelo duvidoso
Conferência preliminar
Os aposentos reais
Revelações
A alma
Até amanhã
Gil volta a ser feliz, e acaba a primeira parte desse conto
O sol no ocaso
Eclipse lunar
Enfim..., médico!
O tempo ao contrário
A morte recupera sua seriedade
Conclusão
Canción de la muerte
O cachorro e seu reflexo (El perro y su reflejo)
Notes
Méritos e serviços
E
ra um pobre rapaz, alto, magro, amarelo, com bons olhos negros, cara limpa e as mãos mais bonitas do mundo; muito mal vestido, de porte altivo e humor insuportável. Tinha dezenove anos e se chamava Gil Gil.
Gil Gil era filho, neto, bisneto, tetraneto e Deus sabe o que mais, dos melhores sapateiros do lugar e, ao sair à luz do mundo, causou a morte de sua mãe, Crispina López, cujos pais, avós, bisavós e tataravós também honraram a mesma profissão.
Juan Gil, pai legal de nosso melancólico herói, não foi do tipo que amou seu filho desde que soube que nasceria: o amor se apresentou apenas quando lhe contaram que o menino havia saído do ventre materno, mesmo que aquela saída o tivesse deixado sem esposa, de onde me atrevo a pensar que o pobre pai de primeira viagem e Crispina López foram um exemplo de casamento curto, mas ruim.
Seu casamento foi tão curto que durou somente o tempo necessário para gerar aquele fruto... mais ou menos. Quero dizer, com isso, que Gil Gil foi prematuro, ou, melhor dizendo, nasceu sete meses depois do casamento de seus pais, o que não significa exatamente o que todo mundo pensa que significa... Ainda assim, e julgando apenas pelas aparências, Crispina López merecia ser mais chorada do que chorou seu marido, pois, ao lhe entregar a sapataria paterna, Lavalle, em dote, além de uma beleza quase excessiva e muita roupa de cama e de vestir, um riquíssimo paroquiano — nada menos que um conde, e Conde de Rionuevo! —, que cultivou, durante alguns meses (acredito que sete), o estranho capricho de calçar seus pequenos e delicados pés com o trabalho tosco do bom Juan, representante indigno dos santos mártires Crispim e Crispiano que, de Deus, gozam...
Mas nada disso tem que a ver com meu conto chamado O amigo da Morte.
O que, sim, nos importa saber é que Gil Gil ficou sem pai, ou seja, sem o honrado sapateiro, aos quatorze anos de idade, quando já começava a se transformar, ele também, em um bom remendador. E que o nobre Conde de Rionuevo, compadecido do pobre órfão, ou encantando por suas claríssimas luzes, o que foi, ao certo, ninguém soube, o levou para seu próprio palácio na qualidade de pajem, mas não sem grande aversão por parte da senhora condessa, que já havia tido notícias do menino parido por Crispina López.
Nosso herói havia recebido alguma educação — ler, escrever, fazer contas e doutrina cristã —; de modo que pôde começar, desde cedo, com o latim, sob a direção de um frade que estava sempre dentro da casa do conde e, verdade seja dita, esses foram os anos mais felizes da vida de Gil Gil; felizes, não porque carecesse, o pobre, de desgostos (que lhes dava, e muitos, a condessa, que o tratava a pontapés), mas porque acompanhava seu protetor, durante as noites, até a casa do Duque de Monteclaro, e o Duque de Monteclaro tinha uma filha, presumida a universal e única herdeira de todos os seus bens e direitos havidos e por haver, além de ser muito bonita..., mesmo que seu pai fosse bastante feio e desajeitado.
Elena tinha acabado de chegar aos doze fevereiros quando Gil Gil a conheceu; e como, naquela casa, o jovem se passava pelo filho de uma nobre família arruinada — embuste piedoso do Conde de Rionuevo —, a aristocrática menina não deixou de brincar com ele das coisas que os meninos brincam com as meninas, chegando mesmo a chamá-lo, certamente como brincadeira, de namorado, e até a cobrar dele algum carinho quando os doze anos dela se converteram em quatorze, e os quatorze dele se converteram em dezesseis.
Assim transcorreram três anos mais.
O filho do sapateiro viveu, todo esse tempo, em uma atmosfera de luxos e prazeres: passou a fazer parte da corte, lidou com a realeza, ganhou boas maneiras, gaguejou em francês (que estava na moda), e aprendeu, enfim, equitação, dança, esgrima, algo de xadrez e um pouco de necromancia.
Mas eis que a morte apareceu pela terceira vez e, desta vez, mais impiedosa que as anteriores, ao jogar por terra todo o futuro de nosso herói. O Conde de Rionuevo morreu ab intestado¹, e a condessa viúva, que cordialmente odiava o protegido de seu falecido, comunicou-lhe, com lágrimas nos olhos e veneno no sorriso, que deveria abandonar aquela casa sem perda de tempo, pois sua presença a fazia pensar em seu marido, e isso a entristecia.
Gil Gil não conseguia decidir se estava acordando de um sonho lindo ou vivendo um cruel pesadelo. Recolheu as roupas que o permitiram pegar e abandonou, chorando, aquele que já não era um teto hospitaleiro.
Pobre e sem família ou lar que o acolhesse, o miserável infeliz lembrou que, em certo beco do Bairro das Vistillas, possuía um humilde galpão e algumas ferramentas de sapateiro guardadas em um baú; tudo isso estava a cargo da velha mais velha da vizinhança, em cuja casa o miserável infeliz havia encontrado carícias e até compotas enquanto Juan Gil ainda era vivo. Foi para lá: