O Negro em Folhas Brancas:: Ensaios sobre as Imagens do Negro nos Livros Didáticos de História do Brasil (Últimas Décadas do Século XX)
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O Negro em Folhas Brancas: - Mairon Escorsi Valério
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2019 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Às vítimas do racismo de cada dia e aos eternos seguidores do
I have a dream
Para os pequenos Gael, Marina e Pedro
À Natália Fraccaro
(in memoriam)
Não nos enganemos: a imagem que fazemos de outros povos, e de nós mesmos, está associada à História que nos ensinaram quando éramos crianças.
Marc Ferro (s.d.)
PREFÁCIO
Dentre os inúmeros desafios que a formação inicial de professores enfrenta, como temos dito em outros textos, o trato com o preconceito e a discriminação encontra-se entre os mais sensíveis, especialmente quando refletidos em imagens nos livros didáticos. Isso se dá não somente porque lidar com preconceito e discriminação exige o enfrentamento de questões delicadas, como diferença e gênero, mas, sobretudo, porque abordar os temas que lhes são relativos exige crítica às representações sociais, a partir das quais se lê e se dá a ler o mundo.
Abordar o preconceito e a discriminação implica, necessariamente, em uma postura de questionamento em relação aos modelos cristalizados, não raras vezes acionados para estabelecer lugares sociais e fundamentar hierarquias. Para o debate e subversão, são exigidos de nós reflexão consubstanciada e fundamentação especializada.
A reiteração do reconhecimento da relevância do tema é muito apropriada nesse momento particular em que se discute a adoção de livros didáticos chancelados por programas nacionais, os quais analisam seus conteúdos e suas construções didáticas de modo pormenorizado. Este livro promove reflexões diversas a quem o lê. De maneira especial, entende-se a necessidade de fortalecimento da formação inicial de professores para que todo livro didático seja utilizado como objeto de crítica
.
Os livros didáticos assumem um lugar quase absoluto no processo
nas aulas de História, na ponderação de Selva Guimarães Fonseca (1993). Kátia Abud (1984, p. 81) pontua que não há nenhum professor que nele não se apoie
em suas práticas em sala de aula.
Ao longo das últimas décadas, pesquisadores da envergadura de Esmeralda Negrão, Célia da Silva, Ana Célia da Silva e Mauro Cezar Coelho, têm criticado, sob perspectivas e temporalidades distintas, a reiteração do lugar secundário e tratamento inferiorizado dispensado aos indígenas e aos negros nos livros didáticos. A despeito das ponderações das avaliações nacionais, tais estereotipias ainda ocupam posições relevantes nos livros didáticos utilizados na escola básica em nível nacional. Fúlvia Rosemberg, Chirley Bazilli e Paulo Vinícius Baptista da Silva (2003), por exemplo, enfatizam a inadequação
nos processos de formação inicial de professores para o trato com o livro didático em sala de aula pelos docentes que o utilizam cotidianamente.
A educação ofertada nas escolas tem por objetivo promover uma crítica à memória desde o século XIX. A imagem do livro didático como senhor absoluto
nas aulas de história ainda se faz presente nos processos de aprendizagem de crianças e adolescentes, os quais têm sido formados, não raro, internalizando o lugar secundarizado destinado aos negros
no seu material didático de uso diário.
Objetivos que são políticos em razão da demanda por reparação advinda dos movimentos negros e indígenas requerem uma reorientação da memória histórica, no sentido de as identidades serem reconhecidas e respeitadas, problematizando o paradigma da ausência
. E são educacionais, por perceber uma educação efetivamente democrática de todos os elementos da sociedade brasileira, valorizando-os igualmente, pois bem sabemos que o Brasil se constitui por identidades diversas que se entrelaçam, todavia se distinguem.
Rever essa narrativa e incorporar narrativas de todos os povos e valorizar a diversidade, a diferença baseada no respeito ao outro como formação cidadã, requer formação circunstanciada e reorientação da aprendizagem, sobretudo na formação de docentes da escola básica no sentido da ampliação da percepção e de seu repertório teórico-conceitual, notadamente sobre como o racismo afeta crianças e adolescentes para subvertê-lo nos processos de formação desses agentes em sala de aula.
Relacionar níveis de importância entre conhecimentos específicos
e conhecimentos pedagógicos
e conhecer para quem se ensina, como pontua Flávia Caimi (2017), sem hierarquizações, nos parece ações pródigas para potencializar o uso do livro didático como objeto de crítica
.
O livro O negro em folhas brancas: ensaios sobre as imagens do negro nos livros didáticos de História do Brasil (últimas décadas do século XX) que a leitora e o leitor têm em mãos ultrapassa a relevância de mera contribuição complementar ao rol de livros e artigos sobre preconceito e discriminação nas imagens nos livros didáticos disponíveis no cenário brasileiro. A qualidade e escopo alcançados a seis mãos neste livro e a acuidade teórico-conceitual pontuada por perspectivas institucionais e regiões distintas dão ao trabalho uma visão ampla que ultrapassa fronteiras regionais.
Renilson Rosa Ribeiro, Mairon Escorsi Valerio e Gláucia Fraccaro refletem sobre as imagens do negro nos livros didáticos, por meio da problematização do preconceito racial enraizado
nos livros didáticos de História e sobre a sua produção, por intermédio de interlocuções teórico-conceituais nacionais e estrangeiras. Esses autores recorrem, competentemente, aos estudos e livros didáticos realizados e produzidos sobre o tema entre os anos de 1980 e 1990 e, com absoluta coerência, examinam os problemas estudados e apresentam dados de pesquisa sobre a questão analisada.
A forma precisa com que os autores tratam as percepções de discriminação relacionadas ao negro no livro didático de História permite aos leitores uma revisitação ao enraizamento
desses estereótipos e amplia possibilidades didáticas de problematizá-los em sala de aula a partir de reflexão consubstanciada e fundamentação especializada, eis uma relevância, entre tantas, a ser sublinhada sobre esta obra.
A literatura especializada sobre formação docente inicial e continuada debate, sob dimensões diversas, questões educacionais em âmbito nacional e, por conseguinte, do material didático utilizado pelos docentes na escola básica como os livros didáticos. Publicações como O negro em folhas brancas: ensaios sobre as imagens do negro nos livros didáticos de História do Brasil (últimas décadas do século XX) devem, certamente, figurar nas bibliografias dos cursos de formação inicial e continuada, de programas de pós-graduação da área de Ciências Humanas e de todos os cursos para formação continuada de professores e professoras da educação básica das universidades brasileiras.
Desejo que o livro tenha ampla circulação e que a reflexão crítica nele trazida possa ser compartilhada em todos os espaços nos quais o compromisso com a escola se faça presente. E almejo, ainda, que a partir de uma leitura como essa, seja fortalecida a premissa de que a escola se presentifique no horizonte da formação inicial e continuada de professores de História. E, anseio também que os problemas afetados pelas redes de ensino sejam enfrentados por professores qualificados para busca de encaminhamentos consubstanciados para a consolidação de uma educação antirracista. Este livro é um convite a esse debate!
Boa leitura!
Professora doutora Wilma de Nazaré Baía Coelho
Universidade Federal do Pará (UFPA)
Referência
ABUD, Kátia Maria. O livro didático e a popularização do saber histórico. In: SILVA, Marcos A. (Org.). Repensando a História. São Paulo: ANPUH; Marco Zero, 1984, p. 81-87.
CAIMI, Flávia E. O livro didático de história e suas imperfeições: repercussões do PNLD após 20 anos. In: ROCHA, Helenice Aparecida Bastos; REZNIK, Luís; MAGALHÃES, Marcelo de Souza (Org.). Livros didáticos de História: entre políticas e narrativas. Rio de Janeiro: FGV, 2017, p. 23-45.
FONSECA, Selva Guimarães. Caminhos da História ensinada. Campinas: Papirus, 1993.
ROSEMBERG, Fúlvia; BAZILLI, Chirley; SILVA, Paulo Vinícius Baptista da. Racismo em livros didáticos brasileiros e seu combate: uma revisão da literatura. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 1, 2003, p.125-146.
Sumário
FOLHEANDO AS PRIMEIRAS PÁGINAS
(DO PRECONCEITO)
Gláucia Fraccaro
Mairon Escorsi Valério
Renilson Rosa Ribeiro
ERA UMA VEZ... A HISTÓRIA CONTIDA E CONTADA NOS LIVROS DIDÁTICOS
Mairon Escorsi Valério
Renilson Rosa Ribeiro
AS LETRAS QUE SEGREGAM: RACISMO, HISTORIOGRAFIA
E LIVRO DIDÁTICO
Renilson Rosa Ribeiro
RETRATOS... A IMAGEM DO NEGRO NOS LIVROS DIDÁTICOS
DA DÉCADA DE 1980
Mairon Escorsi Valério
O NEGRO NAS PÁGINAS DA HISTÓRIA ENSINADA A REPRODUÇÃO DO RACISMO NOS LIVROS DIDÁTICOS
DOS ANOS 1990
Gláucia Fraccaro
O NEGRO EM FOLHAS BRANCAS RACISMO E ENSINO DE HISTÓRIA
Gláucia Fraccaro
Mairon Escorsi Valério
Renilson Rosa Ribeiro
POSFÁCIO
MEMÓRIAS DE UM FAZER: POR OUTRAS CORES NOS
LIVROS DIDÁTICOS 1
Alexandra Lima da Silva
Referências
FOLHEANDO AS PRIMEIRAS PÁGINAS
(DO PRECONCEITO)
Gláucia Fraccaro
Mairon Escorsi Valério
Renilson Rosa Ribeiro
Aquilo que vem ao mundo para nada perturbar
não merece respeito nem paciência.
René Char (citado por Stephen Jay Gould, 1998)
O presente livro tem a finalidade de apresentar