Performance Arte: Modos de Existência
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Performance Arte - Ludmila Almeida Castanheira
Editora Appris Ltda.
1ª Edição - Copyright© 2018 dos autores
Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.
Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.
Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.
Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Dedico este livro à memória de Pagu,
que por 12 anos me ensinou a graça de ser gata.
Agradecimentos
A cada uma das minas
dos coletivos, rodas, eventos, convívio feminista, enfim. Obrigada pela partilha. Por me ajudarem a ser quem me tornei, NOSOTRAS.
Samilo Takara, os meus olhos risonhos e gratos querem te contar como nossa solidão partilhada tornou alegre o longo caminho que fiz para dentro.
Rodrigo Casteleira (Pecê), um xêro
entre entidades que se encontram tal como as nossas bandeiras feministas, negras, LGBTTQIA*, fechativas
, babadeiras
, lacradoras e até o chão.
Na minha pele carrego todas as changas
, e a criação nunca mais foi a mesma depois do nosso encontro. Um demorado olhar em seus olhos, Monstra Errátika querida. Que seus dedos redondos não parem de desenhar no ar as mil subversões que perambulam pela sua cabeça. E que você não se canse de traduzi-las em ações e textos. Porque a gente é tão mais lenta e está tão mais atrás de você. Não nos espere.
Cláudia Ruiz Herrera, Arthur Scovino, Ricardo Alvarenga, Felipe Bittencourt, Raquel Aguilera: este livro é pretexto para eu estar com vocês e tanta gente maravilhosa que faz da performance isso que nos escapa. Obrigada pela conversa, pelo com-dividir.
Flávio Rabelo, meu sempre padinho
, pelo tempo, obrigada.
Rodrigo Munhoz, Amor Experimental, pela phophura
, obrigada!
Rodrigo Emanoel Fernandes... Um viva ao nosso jeito esquisito de fazer tantas coisas. Festivais de Apartamento, inclusive.
Aos alunos e alunas do curso de Teatro – Licenciatura em Artes Cênicas (UEM): quantos insights transcritos aqui ocorreram em nossas aulas! Trabalhar com vocês me impede de ceder ao peso com o qual costumam operar as instituições. Dito de outra forma: vocês são um jeito de respirar mais fundo. Rafael, obrigada pela pelo presente de me deixar ver, pelo frescor dos seus olhos, as teorias e práticas a que tenho me dedicado ao longo dos anos.
Às perdas e lutos pelo caminho. Aos vinhos, vinis e vitrolas, às bicicletas, brechós e buzinas. Aos deuses e deusas que trepam, ao corpo que sou,
obrigada!
Apresentação
Este livro gostaria de não ser livro. Ou ao menos gostaria de suspender as maneiras como costumamos ler. Se possível, este livro gostaria de não ser lido solitariamente e que não se faça silêncio ao lê-lo. Este livro quer ser lido de ponta cabeça, de frente para as janelas, no meio da rua, experimentando, tanto quanto possível, os riscos de atropelamento.
Este é um livro-performance, de performance, sobre performance, inegavelmente feito com o corpo: músculos e secreções no encontro com outros corpos que o habitam. Desenha contornos tênues sobre os trabalhos idiossincráticos de performeros e performeras, capturando-os momentaneamente em suas trajetórias fragmentadas. Ao tomar parte nesses deslocamentos, este livro convida a participar das fricções em que o Eu se desmantela: no livro, a amizade é tomada como potência política, e quer fundar territórios de partilha. Este livro depende da disponibilidade alheia.
Na medida em que corre o risco de, este livro busca escapar à armadilha de oferecer-se como receituário. Ele chama à criação de um conjunto de condutas qualificadas a partir das quais furar, dobrar, amassar, recriar práticas cotidianas: os modos de existência
deliram sobre a possibilidade de reaver nosso envolvimento na recriação de nós e do mundo, a despeito da esmagadora sensação de impotência promovida pelas determinações do capital.
Este livro avança por descontinuidade. As páginas equivalem a fios de cabelos, amontoados de folhas secas, assemblages, mais do que a meridianos e placas: ao invés de oferecerem síntese, abandonam-se à deriva das associações possíveis. A escrita sobre a arte acaba (ela também) se tornando artística. Os Programas Performativos a invadem e tomam a maneira de descrever performances, revisitar propostas teatrais e elaborar, enfim, toda ideia cuja pretensão seja vir a ser texto.
Prefácio
Sobre um modo para insistir…
A escrita de Ludmila abarca esses tempos, aliás, em tempo! Sua maneira de contar está atravessada pela adoção de uma série de enunciados que outrora foram também disparados por outras agentes da arte ao propor a reinvenção/reforma daquilo que estava atrelado à ordem do dia. O recurso em questão foi e ainda é capaz de gerar estratégias conceituais que estendem as noções de um contorno cotidiano da pessoa, feito uma potência em consonância com aquilo que passa de maneira despercebida pela vida. Trata-se de um lugar que reivindica um olhar orientado por um processo metalinguístico e que, por sua vez, opera no sentido de inverter as lógicas internas, ou predeterministas, acerca de um percurso em específico. A autora também tangencia um jogo imbricado, com uma temporalidade que opera sob a perspectiva dos programas performativos, evidenciados pelo trabalho desenvolvido por Eleonora Fabião. É fato também que essa fricção com o cotidiano subverte a ideia de um passatempo simples, ao admitir a complexidade de um tutorial orientado por um conjunto de poéticas que ampliam a percepção dos tempos e espaços.
Portanto, os ecos de outrora, materializados pelos acontecimentos gerados por meio das instruções de Allan Kaprow; pelos statements de Tehching Hsieh; pela utilização do Manual do Instituto da Arte/Vida
de Linda Montano; ou mesmo com a "Grapefruit" de Yoko Ono; existem, resistem e insistem em revidar ao achatamento da subjetividade em nossa respectiva silhueta diária. Não obstante e por isso, a potência de quem escreveu este livro habita uma tessitura que pede por cumplicidade, posto que revela toda a constituição dos diversos aspectos que têm povoado o dissenso nesses últimos tempos, motivo que reforça a importância da continuidade presente nas reconfigurações cotidianas; a fim de se evitar uma paralisia ante os fenômenos que ocorrem por ruptura, em detrimento a qualquer tipo de transição processual. Portanto, esta obra se dispõe a falar para um instante, de modo que pode ser lida enquanto uma sucessão de instantes, bem como para uma audiência que se lança para os mais distintos meios contemporâneos de arte ou mesmo por qualquer outra plataforma. Dito isso, é possível conceber a sua leitura em outros tantos contextos ou períodos da vida, visto que é para quem deseja emprestar para si um contato com outras realidades possíveis de serem revisitadas.
Sendo assim, importa aquilo que confere um lugar ao reconhecimento desse tempo e o compartilhamento de uma experiência. Um saber lidar com a condição gasosa
, enevoada
de alguns conceitos em trânsito e seus constantes desdobramentos intempestivos, razão pela qual a autora escolheu com felicidade a arte de um instante que emerge, por sinal, a arte da performance.
São Paulo,15 de maio de 2017
23h43
Rodrigo Munhoz
(Outro) Prefácio
(torto)
Troca de Mensagens entre Ludmila Castanheira e Rodrigo Munhoz, entre os dias 15 e 16 de maio de 2017.
Ludmila: Munholito, obrigada!
Ficou sérião, né?
Eita!
Rodrigo: Hahahahahahahaha, tá achando