Nova Iorque das Ruas e do Texto: uma leitura de Maggie, uma Garota das Ruas, de Stephen Crane
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Book preview
Nova Iorque das Ruas e do Texto - Saide Feitosa da Silva
Carr
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os que experienciaram comigo os altos e baixos desta dura jornada. Muitas pessoas ajudaram, direta ou indiretamente, na realização deste trabalho, sou grato em especial:
Primeiramente, dedico este livro, com amor e respeito: a Deus, meu encorajador; aos meus filhos, Layla Guimarães Feitosa, Benício Malveira Feitosa & Maria Louise Guimarães Mota, filha de coração; minha inspiração, fortaleza e razão maior de todos os meus esforços; à minha mãe, Maria Elita Feitosa da Silva (in memoriam); à minha irmã, Sâmila Feitosa da Silva (in memoriam); ao meu avô, João Agostinho de Paiva Feitosa (in memoriam); à minha avó Tereza Custódio de Paiva; ao meu pai, Militino Izidoro da Silva; às minhas irmãs, Sângela Feitosa da Silva e Sandra Melissa Feitosa da Silva; à minha companheira Taynara dos Santos Malveira; a todos os meus familiares, amigos, ex-alunos, companheiros de trabalho e especialmente aos meus Professores com todo o carinho e respeito.
À Prof.ª Dr.ª Luciana Marino do Nascimento, minha orientadora, o meu muito obrigado por toda a ajuda, pela dedicação, paciência, serenidade e sabedoria na orientação segura para a realização deste trabalho.
À Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e todos os profissionais que lá trabalham, por me proporcionar a realização deste mestrado.
À Universidade Federal do Acre (UFAC), instituição onde exerço a carreira de professor, por me liberar das minhas atividades docentes para a realização desde mestrado.
Ao Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por me proporcionar este curso.
Aos Profs. Drs. Juan Marcello Capobianco, Michela Rosa di Candia e Rogério Casanovas Tílio pelas análises criteriosas e pelos direcionamentos importantes a mim prestados durante o meu exame de qualificação e arguição de dissertação.
A todos os professores do Programa Interdisciplinar de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ao Rio de Janeiro, cidade onde eu tive o privilégio de realizar meu mestrado.
Aos meus amigos e colegas de pós-graduação, Luciano Mendes Saraiva, Valtenir Soares de Abreu, José Cabral Mendes, Willianice Soares Maia e Marcelo Leal Lima pelo convívio, compartimento de moradia, suporte, cooperação e especialmente pela generosidade durante o período da minha permanência no Rio de Janeiro para o cumprimento do meu mestrado e doutorado.
Aos Professores Doutores Luiz Barros Montez, Ana Flávia Lopes M. Gerhardt, Kátia Cristina do Amaral Tavares, William Soares dos Santos e Ana Tereza de Andrade pelos ensinamentos, direcionamentos e estímulos durante o processo acadêmico.
A todos os meus amigos e colegas de curso, em especial Elizabete Pessoa, Jane Miranda, Norma da Silva, Adelzita de Souza, pela cooperação mútua e troca de conhecimento.
APRESENTAÇÃO
‘Maggie, a girl of the streets’, de Stephen Crane é o objeto de estudo da pesquisa realizada por Saide Feitosa da Silva em seu Mestrado realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Saide apresentou essa proposta de estudo, pois havia um desejo seu de fazer parte do grupo de estudos Literatura e cidade e também de dialogar com o projeto, por mim desenvolvido, intitulado Cartografias urbanas: centros e margens.
Ao estudar os discursos da modernidade que embasaram o fenômeno urbano do século XIX (e New York foi um produto desse acelerado desenvolvimento), o autor dá conta de como foram trágicos os desdobramentos dessa modernidade que foi prometedora de uma vida de novidades e de entretenimento, cuja personagem, filha de imigrantes irlandeses, foi a prova viva das ilusões da modernidade.
Ao construir discursivamente duas cidades, Crane mostra a New York de Maggie, a jovem do Bowery e a New York das luzes, das orquestras e do teatro, ou seja, a cidade do sonho americano
. Ambas as cidades são estudadas por Saide ao descortinar as ideologias e normas que regem o funcionamento do espaço urbano e os aspectos discursivos e identitários que envolvem as personagens da Slam fiction
em tela.
Assim, o autor conduz seu leitor a uma viagem terrestre cujo guia é Maggie, flâneur que transita no espaço movente da urbe, seduzida tal qual o burguês diante da vitrine e do fetiche da mercadoria, espaço esse onde todos querem tomar parte e provar um pedaço da maçã na Big Apple City.
Profa. Dra. Luciana Marino do Nascimento
UFRJ/UFAC
Maio/2020
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I – MODERNIDADE, DISCURSO E CIDADE
1.1 Caminhos para a modernidade
1.2 A cidade como novidade no século XIX
1.3 O discurso da modernidade
CAPÍTULO II – A LITERATURA DE CRANE
2.1 Crane e Maggie
2.2 Crane e a ficção urbana
2.3 Crane e o Naturalismo
CAPÍTULO III – NOVA IORQUE, THE BIG APPLE
3.1 A prosperidade americana
CAPÍTULO IV – NOVA IORQUE SOB A PENA DE CRANE
4.1 A Nova Iorque de Maggie: duas cidades
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANEXOS - IMAGENS DE NOVA IORQUE: CIDADES DO AVES
INTRODUÇÃO
The Irish have been coming here for years, feel like they own the place. The got the airport, city hall, concrete, asphalt, they even got the police. Irish, italian, jews and hispanics religious nuts, political fanatics in the stew, living happily not like me and you, that’s where I lost you… New York
U2 – New York¹
Os irlandeses têm vindo para cá há anos, eles se acham os donos do lugar. São deles o aeroporto, prefeitura, concreto, asfalto, até mesmo a polícia. Irlandeses, Italianos, Judeus e Hispânicos - malucos religiosos, fanáticos políticos em um mesmo caldeirão, vivendo felizes, não como eu e você, então é onde eu te perdi... Nova Iorque
U2 – Nova Iorque
Esta obra teve por objetivo geral fazer um estudo do romance Maggie: a girl of the streets de Stephen Crane, publicado em 1896, tendo como foco a representação da cidade de Nova Iorque em fins do século XIX, quando a modernidade e suas inovações são acompanhadas pela literatura, buscando entender quais discursos imortalizaram essa cidade, dentre eles, o posterior epíteto Big Apple, adentrando na cidade transfigurada da realidade nova-iorquina onde circulam as personagens de Crane, bem como o processo articulatório relacional existente entre os fatores culturais, históricos e ideológicos na formação discursiva ficcional.
Com relação aos objetivos específicos, o estudo visou compreender como, na narrativa de Crane, o espaço citadino foi encenado e como os discursos sobre o urbano se articularam a partir da personagem Maggie. No sentido de destacar as duas cidades construídas pelo autor, foco principal da análise, buscamos entender se o ambiente opressor da cidade de Nova Iorque influenciou na construção identitária da personagem principal, em se tratando de discurso, ideologia e identidade.
Partindo dos objetivos norteadores do trabalho, algumas perguntas de pesquisa foram propostas, a saber: como a cidade de Nova Iorque foi representada nos discursos que a imortalizaram? Como o espaço citadino foi encenado e como os discursos sobre o urbano se articularam a partir da protagonista Maggie? O ambiente opressor citadino influenciou na construção identitária da personagem principal, em se tratando de discurso, ideologia e identidade?
Esses questionamentos foram discutidos durante a pesquisa, e foram relevantes para a compreensão da importância da narrativa para as construções discursivas, identitárias e culturais das personagens por meio do espaço citadino, característica essa asseverada pelo Naturalismo, com base na transfiguração da realidade trazida para a ficção.
Nesse sentido, a pesquisa intitulada "Nova Iorque das ruas e do texto – uma leitura de Maggie: a girl of the streets, encontra-se sintonizada com a Linguística Aplicada (LA) e com a Linha de Pesquisa Discurso e Transculturalidade, pois trata de um aspecto cultural na medida em que enfoca a literatura sobre os grandes centros urbanos, evidenciando os costumes, os hábitos e o modo de vida das pessoas, em pleno desenvolvimento industrial na cidade de Nova Iorque. À vista disso, pelo fato de a
LA envolver outros campos epistêmicos de pesquisa" (MOITA LOPES, 1996, p. 21), vislumbramos um ambiente profícuo de análise e, por conseguinte, melhor entendimento das literaturas sobre os grandes centros urbanos do final do século XIX, assunto caro para as pesquisas concernentes às cidades modernas dentro de obras literárias, notadamente as de caráter naturalista.
Com relação à interdisciplinaridade, o autor afirma que além de operar com o conhecimento teórico advindo de várias disciplinas [...] a LA também formula seus próprios modelos teóricos, podendo colaborar com o avanço do conhecimento não somente dentro de seu campo de ação como também em outras áreas de pesquisa
(MOITA LOPES, 1996, p. 21). Além de Moita Lopes, outros estudiosos da LA serviram de aporte teórico para a fundamentação do trabalho.
Ademais, por estar imbricada a LA a outros campos epistemológicos por meio da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, objetivando analisar, compreender e buscar entendimentos para questões relativas à linguagem cotidiana, utilizá-la-emos como veículo corroborador para a confirmação ou não dos resultados de nossa investigação. Levando-se em consideração a interdisciplinaridade, Moita Lopes (2006) afirma que há a possibilidade ou a necessidade de questões teóricas pertencentes a outras disciplinas servirem como mediadoras da LA.
Com referência ao entendimento de uma concepção de LA desvinculada de lógicas solucionistas
na prática de pesquisas como era feito pouco tempo atrás, Moita Lopes nos propõe uma visão transgressiva
com relação às práticas de pesquisas em LA atualmente. Sobre essa concepção indisciplinar de LA o autor assevera: A LA não tenta encaminhar soluções ou resolver os problemas com que se defronta ou constrói. Ao contrário, a LA procura problematizá-los ou criar inteligibilidades sobre eles, de modo que alternativas para tais contextos de usos da linguagem possam ser vislumbradas.
(MOITA LOPES, 2006, p. 20). É dentro dessa concepção de Linguística Aplicada que esta pesquisa se encontra embasada, abstraindo-se intelecções das duas cidades construídas por Crane.
No tocante ao conceito de cultura, Raymond Williams explica que ela adquire diferentes acepções, dependendo do campo epistemológico empregado. A priori, o referido autor nos chama a atenção para os seguintes entendimentos para a palavra cultura, afirmando: "do latim coleve, [...] tinha uma gama de significados: habitar, cultivar, proteger", (WILLIAMS, 2007, p. 117). Ao longo do tempo, ainda segundo o teórico galês, as concepções sobre cultura foram se desdobrando dentro de diferentes contextos históricos. Diante dessa complexidade de conceituações sobre cultura, o autor aproxima os sentidos antropológico e sociológico reputando cultura da seguinte maneira:
[...] ‘modo de vida global’, distinto, dentro