Um sonho de profissão: A jornada de um médico na construção de uma carreira única
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Como gerenciar uma carreira médica? Como construir uma carreira sólida e com credibilidade?
Composto por oito capítulos, a obra convida o leitor a acompanhar a história de André Prado, um jovem cardiologista que se envolve em uma pesquisa sobre Gestão da Carreira Médica.
Para realizar este sonho e desvendar os mistérios da construção de uma trajetória bem-sucedida, André percorrerá diversas cidades e conhecerá inúmeros profissionais renomados.
Suas simples perguntas podem se desdobrar em inúmeros outros questionamentos que vão desde como coletar informações sobre o mercado e tomar decisões até a montagem do consultório, a formação de uma imagem de valor e a conquista dos primeiros pacientes.
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Um sonho de profissão - Renato Gregório
abaixo.
CAPÍTULO 1
TAL PAI, TAL FILHO
Ainda naquela noite, a notícia chega à vizinhança, mas as pessoas parecem não acreditar. Afinal, Frederico era um homem cuidadoso com sua saúde, fazia exames e check-ups regulares. Era visto ainda como um jovem, tamanha era sua vitalidade. Embora não fosse um atleta, costumava caminhar três ou quatro vezes por semana em uma praça próxima a sua casa. Não fumava e gostava apenas de tomar suas cervejinhas nos fins de semana.
Logo os telefonemas começam a chegar e a notícia rapidamente cruza toda a cidade. Amigos, familiares, pacientes e outros médicos: todos querem mais detalhes sobre o que havia acontecido.As informações se desencontram. Na tentativa de saber mais sobre o cardiologista, o caminho é o celular do seu único filho. O telefone de André não para mais de tocar.
O jovem médico, no entanto, acredita não ter mais condições de atender ninguém. Ele fala apenas com sua esposa, pois precisa muito de apoio. Elaine ficou com a função de atender as pessoas, amigos e familiares. Até mesmo um vereador, influente na região, entrou em contato para dar suas condolências. De uma hora para outra, Frederico Prado havia se transformado no centro das atenções. Na porta de sua casa, pessoas conversam e aguardam pela chegada de algum parente. Mas naquela noite, ninguém aparece.
André ainda está no hospital. Sentado, ele permanece desolado na sala de espera, completamente vazia. Começa a esfriar e isso começa a incomodá-lo, pois ele está sem casaco. Seu olhar está distante. O baque foi muito grande. De uma hora para outra, sua mente parece ter ficado totalmente oca. Receber a notícia da morte de seu pai fez com que todos os seus pensamentos sumissem.
Após minutos – que parecem horas – seu olhar continua concentrado no nada. O frio fica mais intenso, mais gélido. Ele tira, então, o telefone do bolso e o coloca sobre a cadeira ao seu lado. A essa altura, já havia silenciado o toque de seu aparelho, deixando o aparelho apenas para vibrar. A cada nova chamada, André se limita a verificar no visor se era a sua esposa do outro lado da linha. Se o número é diferente do dela, ele o ignora.
O relógio marca dez da noite. André precisa esfriar a cabeça para pensar no que fazer. Ele tem que avisar diversas pessoas que mantinham compromissos e negócios com seu pai, embora saiba que, a esta altura dos acontecimentos, a maioria já foi informada. De qualquer forma, era responsabilidade sua fazer o anúncio oficial, além de assumir possíveis compromissos que eram de seu pai. Frederico era um homem bastante articulado, com amigos e contatos em praticamente todas as áreas. Mas André ainda não tem noção do quanto seu pai estava envolvido em uma série de atividades.
Um homem toca o ombro de André, tirando-o da sua imersão em pensamentos. Ele levanta o rosto e vê que quem está a sua frente é o pediatra Carlos Ribeiro, amigo pessoal de Frederico.
– Vim assim que soube. – diz Carlos, com uma grande tristeza transparecendo no rosto.
André se levanta e o abraça. Pela primeira vez, o jovem médico tem a oportunidade de desabafar com alguém. Sem mais se controlar, André chora quase que de maneira compulsiva, amparado pelo amigo de seu pai.
Neste momento, Eva retorna à sala de espera, voltando da lanchonete na qual havia ido para comer alguma coisa. Carlos a cumprimenta enquanto ainda consola André. Ambos conduzem o jovem cardiologista, extremamente abatido, de volta à cadeira. Carlos é o primeiro a falar:
– André, você precisa se recompor. Sei que é difícil, mas o importante é que você não se abale ainda mais com o que aconteceu. Todos nós tínhamos enorme carinho e admiração por seu pai, mas infelizmente nenhum de nós está livre de enfrentar um problema de saúde. Faz parte da vida. – faz uma pausa, como se medisse as palavras que teria que dizer em seguida – Imagino o quanto deve estar sendo difícil e doloroso, pois eu ainda tenho meu pai e o amo muito. Mas tenho que lembrar o tempo todo que além de filho, eu também sou pai. O mesmo vale para você. Enquanto pai e chefe de família, você tem enormes responsabilidades agora.
Enquanto Carlos pede força a André, Eva acaricia maternalmente os cabelos do jovem médico. A secretária acompanhou André desde a sua infância e sabe que seria difícil para o jovem não ter mais Frederico em sua vida. Ainda inconsolável, André recosta sua cabeça no colo da recepcionista, que permanece em pé. Enquanto isso, Carlos sai para conversar com os médicos e para providenciar o que fosse necessário. Amparado por Eva, André chora quieto, em silêncio.
* * *
André está ao lado de sua esposa, enquanto o sepultamento de seu pai está no fim. Mais de 150 pessoas compareceram. André nunca imaginou que seu pai tivesse tantos conhecidos e amigos. Todos só faziam comentários positivos sobre Frederico Prado.
Toda aquela repercussão com a morte de seu pai mexeu com André. Julgava seu pai um profissional quadrado
, conservador, pouco ambicioso e, até certo ponto, acomodado com o status que conquistara. Porém, durante o enterro, André começa a perceber que talvez a situação de seu pai fosse um pouco diferente. Ele mantinha na sua lista de contatos pessoas bastante influentes, como diretores de hospitais e médicos conhecidos em todo o país. O urologista Henrique Constantino e o cirurgião plástico Roberto Quinho, figuras mais do que conhecidas, tinham seus telefones anotados na agenda de Frederico.
Como seu pai poderia conhecer todos estes nomes importantes da Medicina se permanecia preso ao seu consultório? Ao retornar para casa, André pensa em comentar o fato com Elaine, mas ambos estão ainda muito abalados. Afinal, que importância tem isso naquele momento? Seu pai está morto e nada pode mudar este fato.
* * *
Uma semana depois.
Ao chegar em casa, vindo da sua clínica, André é recebido com muita alegria por Elaine e pelo pequeno Dudu. Sua esposa sabe o quanto precisa dar apoio e carinho ao marido naquele momento. Ele ainda está bastante abalado com a perda do pai e parece não aceitar a situação.
– Oi, querido. Que bom que você chegou! Vou pedir para que o jantar seja servido. Como estão as coisas?
– Na mesma. Hoje perdi praticamente a tarde toda tentando localizar médicos e outros profissionais que estavam trabalhando em algum projeto com o papai. É inacreditável. Além de todas aquelas pessoas que estiveram no enterro, ainda há muita gente a ser contatada. Muitos ainda nem sabem que o meu pai morreu.
– E como você vai resolver isso? Será que a dona Eva não tem uma agenda que reúna todos estes contatos?
– Que nada! Você sabe como era meu pai. Anotava tudo em pedaços de papel ou nos blocos de receituário. Todo dia descubro algo novo.
Neste momento, o pequeno Dudu é quem chama a atenção, fazendo gestos para o pai, que prontamente responde com um caloroso abraço. A morte do pai fez com que André se apegasse ainda mais ao filho. É como se o choque tivesse feito com que ele acordasse para o fato de que todos os seres a sua volta são extremamente vulneráveis. Minutos depois, já na sala de jantar, o médico retoma a conversa com a esposa, parecendo até mais disposto, principalmente ao falar dos trabalhos de Frederico.
– Não consigo imaginar como o meu pai desenvolvia tantos trabalhos e projetos ao mesmo tempo. Como é possível que ele conheça tanta gente? Isso é inacreditável. Ele tinha inclusive um convite para ser diretor dos serviços de Cardiologia de um grande hospital da capital. Você pode imaginar isso?
– Sempre achei seu pai totalmente à frente do seu tempo, sempre com ideias novas... – admite Elaine, enquanto enche seu prato com várias folhas de alface, de rúcula e de agrião, sem contar as fatias de tomate e de cebola e os grãos de soja e de ervilha. Á noite, para ela, o jantar se resume sempre a apenas uma saladinha.
– Sempre achei meu pai tão teimoso, difícil de lidar. – continua André – Eu não o via envolvido com mais nada a não ser com aquele consultório de 40 anos de idade e com as suas idas à universidade. A verdade é que ninguém sabia ao certo em que trabalhava o doutor Frederico.
– Querido, eu sei que, mesmo discordando tanto do seu pai, você o admirava muito. – diz Elaine, segurando suavemente a mão do marido neste momento – Tenho certeza que seu pai, onde quer que ele esteja, tem muito orgulho de você. Ele sabe que o filho está no caminho certo.
– Eu não tenho tanta certeza. Agora que estou tendo acesso às coisas dele, como dados bancários, por exemplo, começo a pensar se ele não estava certo desde o começo. Imaginei que teria muito trabalho para colocar em ordem as suas contas, dívidas a pagar, o inventário... Mas, pelo contrário, ele era muito organizado. Tinha inclusive uma conta somente para o consultório, com dinheiro em caixa. Suas contas pessoais também estão em ordem, com tudo em dia e um bom dinheiro guardado. Se ele quisesse, ele poderia ter comprado até uma cobertura de frente para o mar com todo este dinheiro.
– Puxa! – admira-se Elaine – Eu não imaginava que o doutor Frederico tivesse economias.
– Para você ver! Até dinheiro aplicado na Bolsa de Valores ele tinha. Encontrei também convites para que ele desse palestras e aulas em diversas universidades pelo país afora. Eu fico absolutamente surpreso com tudo isso, porque vai contra a imagem que eu sempre tive dele, de um profissional pouco arrojado.
– E você se achava tão diferente do seu pai...
– Você não está entendendo. Eu sou muito diferente dele, sim. Este é justamente o ponto. Não entendo como ele pôde ter conquistado tantas coisas levando aquela vida simples. Não sei explicar, mas a sensação que eu sempre tive é que ele não queria nada além daquele consultório. Meu pai parecia já estar satisfeito. Agora, depois da sua morte, descubro um Frederico Prado que estava envolvido em uma série de projetos e atividades, com muito dinheiro em caixa e que, além disso, era um homem famoso a ponto de receber convites para dar palestras por aí.
– Mas, querido, qual é o problema disso? Você não seria capaz de fazer o mesmo?
– É claro que sim. Tenho muitas coisas ainda para conquistar na minha carreira. Só que, sinceramente, não vejo evolução nenhuma nos últimos anos, por mais que eu me esforce. A clínica está indo bem, mas vendo agora tudo o que meu pai fez, não tenho tanta certeza se estou no caminho certo. A situação dele era muito mais sólida que a minha. – André faz uma pausa e, depois, dá um breve suspiro antes de continuar – A verdade é que eu nem sei como a clínica dá certo, pois eu apenas chego e espero o próximo paciente entrar. Acho até que só tenho pacientes por causa do meu pai. Ele construiu uma carreira e eu sobrevivo hoje graças a