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Em Busca da Sustentabilidade Perdida:: Lazer e Turismo Diante das Desigualdades Socioambientais
Em Busca da Sustentabilidade Perdida:: Lazer e Turismo Diante das Desigualdades Socioambientais
Em Busca da Sustentabilidade Perdida:: Lazer e Turismo Diante das Desigualdades Socioambientais
Ebook440 pages5 hours

Em Busca da Sustentabilidade Perdida:: Lazer e Turismo Diante das Desigualdades Socioambientais

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Em busca da sustentabilidade perdida é um livro que aborda o lazer e o turismo como resultados de uma construção histórica que ocorreu no mundo ocidental a partir do final do século XVIII. Discute a passagem de um olhar economicista, que produziu grandes transformações no espaço, gerando impactos negativos na natureza e na cultura local, para alternativas associadas às ideias de sustentabilidade. A questão central que orientou esta escrita diz respeito às práticas de lazer e turismo, buscando promover a inclusão social e contribuir para a conservação da natureza/do meio ambiente.
LanguagePortuguês
Release dateSep 16, 2020
ISBN9786558202295
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    Book preview

    Em Busca da Sustentabilidade Perdida: - Sidnei Raimundo

    Editora Appris Ltda.

    1.ª Edição - Copyright© 2019 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi realizado o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nos 10.994, de 14/12/2004, e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO SUSTENTABILIDADE, IMPACTO, DIREITO, GESTÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

    Para Francisco e Frederico,

    Ambos, com suas personalidades distintas, me ampliaram as visões do mundo.

    Produzir este livro não foi fácil, mas foi muito menos custoso se comparado ao desafio constante de aprender a ter coragem, para mostrar a esses dois lindos meninos os melhores caminhos da vida.

    APRESENTAÇÃO

    Este livro é fruto de uma trajetória de vida desde o início de minhas atividades profissionais e acadêmicas. É um exercício para contribuir para o avanço do Lazer e Turismo como campos do conhecimento, relacionados a uma abordagem interdisciplinar de atuação com colaboração das ciências naturais e humanas. Em última análise, os resultados do livro almejam uma melhoria da qualidade de vida da sociedade a partir de momentos de lazer e turismo dos cidadãos.

    Penso que minha trajetória profissional e acadêmica teve um contributo anterior, de vivências desde a infância. Nasci num bairro periférico de Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, no contato entre a cidade que avançava e o campo, que remanescia em formas de chácaras e sítios envoltos por loteamentos. Um convívio amplo entre as diversidades do viver em sociedade, no meio de pessoas menos abastadas, ora na cidade, com alguns serviços disponíveis – comércio, lazer –, ora a dois passos da roça, em meio aos poucos rebanhos de um rural que se esvaía, que me permitia tomar leite diretamente do ubre das cabras, nadar em lagos sem nenhum tratamento, passear de bicicletas por ruas sem asfaltos (e ficar deslumbrado quando máquinas da prefeitura chegaram para pavimentar as primeiras ruas do bairro) e fazer as traquinagens típicas de menino.

    Esse contato entre o mundo urbano e rural, tão próximos, vividos na ingenuidade da infância, foi drasticamente alterado na adolescência, quando do primeiro trabalho como metalúrgico. O contato com a linha de produção em uma indústria que fabricava eixos para caminhões, com as atividades repetitivas que os operários executavam, me apresentou, sem que eu ainda soubesse, o mundo da alienação. Uma ruptura drástica entre o viver pleno da infância e o segmentado desse trabalho rotineiro. Rotina essa que de tempos em tempos era quebrada por uma ou outra greve, mais ou menos poderosa. Onde aprendi, sem ainda ter lido obras marxistas, que a sociedade era composta por classes e a riqueza entre elas era injustamente distribuída.

    Todas essas vivências deveriam estar pululando em minha mente quando ingressei no curso de Geografia na Universidade de São Paulo. A Geografia do 1° e 2° graus (ou ensino fundamental e médio, atualmente), minhas referências e a matéria de que mais gostava até então, demonstrou-se incompleta diante do mundo que se apresentou para mim e que passou a orientar meus trabalhos profissionais e acadêmicos e a minha vida como um todo: os estudos da relação entre a sociedade e a natureza. A Geografia me permitiu aprimorar aquelas sensibilidades que me acompanhavam desde criança.

    Com um pouco das vicissitudes da vida e um pouco de dedicação ao tema, acabei entrando num campo de atividade que talvez, inconscientemente, permitiu reencontrar minhas meninices no mundo rural: o trabalho no Instituto Florestal do Estado de São Paulo, que gerenciava à época as áreas protegidas, como parques, estações ecológicas, reservas florestais, entre outras unidades de conservação. O privilégio de participar, recém-formado, de uma equipe com agrônomos, historiadores, biólogos, assistentes sociais, psicólogos, pedagogos... me fez ampliar as visões de mundo e me sensibilizou para atividades ou problemas que merecessem uma abordagem interdisciplinar, em que todos esses profissionais formados em campos distintos podiam opinar a respeito do manejo de áreas protegidas. Essa perspectiva interdisciplinar contribuiu, anos mais tarde, para meu ingresso numa instituição de ensino e pesquisa – a Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) – que teria como prerrogativa pedagógica e de pesquisa essa abordagem interdisciplinar apoiada numa estrutura não departamental.

    O campo de estudo do Turismo chegou um pouco mais tarde em minha vida, mas ainda no início dos anos 1990, quando, já formado na graduação, tive o privilégio de trabalhar numa equipe para avaliar problemas socioambientais de empreendimentos turísticos na Bahia. Para mim, era direcionar os ainda poucos conhecimentos geográficos – a relação sociedade x natureza – ao tema do turismo. Isso ampliou meu repertório de contatos com profissionais desse campo de estudos, notadamente da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA-USP –, com os quais nunca tinha me relacionado até então, notadamente com o grupo coordenado pela Prof.ª Dr.ª Doris Ruschmann, uma das precursoras no Brasil sobre o tema da sustentabilidade no turismo. De certa forma, a natureza interdisciplinar do Turismo, como campo de conhecimento, reforçou minhas convicções sobre a necessidade do tratamento interdisciplinar para enfrentamento dos problemas socioambientais.

    E os estudos do Lazer, como outro campo do conhecimento também interdisciplinar, chegam à minha vida em alguns momentos esporádicos, por meio de alguns trabalhos específicos em Instituições de Ensino Privadas onde lecionava, mas ganhou força e meu total interesse na fase da EACH-USP, pós 2006. O contato com colegas especialistas nesse campo de atuação, verdadeiras sumidades nesse assunto, me fizeram ampliar as possibilidades de pesquisa, não mais voltadas ao turista e ao turismo, mas ao cidadão, em seu momento de tempo livre ou disponível, tendo o direito constitucional de acesso ao Lazer. Daí a necessidade de pensar políticas públicas para esse setor.

    Relacionando todos esses aportes, acabei por construir uma linha de ensino e pesquisa voltada ao estudo do lazer e turismo em áreas protegidas, procurando analisar os locais adequados (resilientes), as atividades propostas e os sistemas de gestão visando ao manejo para os visitantes, para as comunidades do entorno ou interior dessas áreas e para que os locais não sofressem depleções ambientais.

    Essa trajetória resultou neste livro, materializado como produto de quase 30 anos de jornada, desde a graduação em Geografia até o presente momento como Prof. Dr. da EACH-USP. Uma trajetória que foi se consolidando no entendimento das práticas de lazer e turismo em áreas protegidas, destacando os impactos socioambientais dessas atividades com vistas a buscar um dos maiores desafios da contemporaneidade: a sustentabilidade! No caso, a sustentabilidade do lazer e turismo.

    A sustentabilidade se transformou num termo esgarçado, polissêmico, com setores antagônicos da sociedade apresentando suas formas de sustentabilidade. Isso traz no bojo da sustentabilidade uma complexidade e uma contradição, com alguns pesquisadores abandonando o uso desse termo em suas pesquisas ou realizando uma crítica severa; parte delas poderá ser vislumbrada ao longo desta obra.

    O fato é que o termo sustentabilidade está bastante difundido e consagrado, e, embora haja tais contradições, optei por mantê-lo como elemento-chave deste livro, com vista a melhorar seu entendimento para uma mudança nas formas de análise em como a sociedade usa seus recursos e pratica o lazer e turismo. Mas, para tanto, alguns recortes necessitaram ser feitos, pois a polissemia com relação à sustentabilidade é de fato grande. Os recortes pelos quais optei neste livro focam os atores hegemonizados, ou seja, os segmentos da sociedade mais fragilizados e que participam pouco dos processos de tomada de decisão sobre seus interesses e necessidades, sobre suas territorialidades e sobre os quais, com frequência, há proposta de inclusão em processos produtivos como meros serviçais.

    A garantia de uma inclusão social desses grupos é a orientação sobre sustentabilidade deste livro. Inclusão como prerrogativa de uma ação política (empoderamento) dessas pessoas, como garantia da posse ou do uso de seus territórios, ou de ter acesso a espaços comuns – os commons – em suas práticas cotidianas, inclusas as de lazer e turismo e ainda como forma de participação mais autônoma na renda e emprego gerados por empreendimentos de lazer e turismo.

    Contudo o universo de empreendimentos e equipamentos voltados ao Lazer e Turismo é igualmente complexo, e a ideia de abordagens sobre sustentabilidade também divergente. Por exemplo, na escala de um hotel ou restaurante, com frequência, as ações sobre sustentabilidade estão associadas a formas de redução de gastos com matérias-primas e energia e com a busca por sistemas de tratamento de efluentes e resíduos sólidos mais eficientes. O que levou alguns pesquisadores, como Joan Martinez Alier, a destacarem o termo ecoeficiência como elemento central desses empreendimentos, ou como principais argumentações de seus proprietários sobre o tema da sustentabilidade. Sua crítica é de que a abordagem da ecoeficiência é um olhar reducionista sobre a sustentabilidade, por não considerar questões socioculturais. Não discuto a abordagem da sustentabilidade nessa escala dos equipamentos de Lazer e Turismo. Minhas opções neste livro se configuram tendo como fio condutor o debate sobre manejo de áreas protegidas e sustentabilidade do lazer e turismo. Ou seja, numa escala mais ampla, ou de um equipamento que tem uma finalidade coletiva e/ou pública e não individualizada como uma empresa privada do setor. Também não se trata aqui de demonizar a empresa privada, mas ao contrário, apresentar possibilidades de conexões entre agentes privados e públicos na gestão de áreas protegidas e parques urbanos.

    Entendo que a oportunidade de apresentar as ideias e abordagens desses recortes sobre sustentabilidade no lazer e turismo é resultado da consolidação de um conjunto de conhecimentos oriundos das Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, mas em suas conexões com as da Natureza, que permitem a análise de problemas e conflitos socioambientais. Assim, o tema central deste livro, que versa sobre o manejo de áreas protegidas, parques urbanos e demais áreas verdes e a concepção e avaliação da sustentabilidade do lazer e turismo, está apoiado em três linhas de análise: os espaços destinados a essas práticas, as atividades neles desenvolvidas e os sistemas de gestão ambiental, como contribuição à formulação e implementação de políticas públicas voltadas à sustentabilidade.

    Para apresentar essas ideias sobre sustentabilidade no lazer e turismo, foi necessário discutir a ascensão do turismo moderno e atualmente entendido. A ideia central foi apresentá-lo como um elemento importante da socioeconomia mundial, mas, ao mesmo tempo, como atividade que gera problemas socioambientais, como será mostrado no capítulo 1.

    Em seguida, são apresentadas as concepções sobre a natureza na sociedade ocidental e, a partir dela, os processos de criação das primeiras áreas protegidas (unidades de conservação). Estas atualmente são consideradas como os principais instrumentos de proteção ambiental e, ao mesmo tempo, os principais espaços onde a sociedade pode se conectar à natureza, visitando-a. Contudo o modelo de criação de áreas protegidas como as entendemos hoje surgiu nos Estados Unidos do Século XIX, e esse modelo gerou sérios conflitos ambientais. O Brasil e vários outros países que importaram esse modelo acabaram por potencializar tais conflitos socioambientais. Essas questões são debatidas no capítulo 2.

    As concepções sobre a natureza e a criação de áreas protegidas tiveram forte impacto na consolidação do ecoturismo como prática de lazer e turismo. A partir da legislação e dos conceitos existentes, discuto como é entendida essa atividade, como uma prática diferenciada, não só pelo espaço que utiliza (a natureza), mas também pelas formas como poderia ser executada. Essa discussão é apresentada no capítulo 3.

    Esses três primeiros capítulos dão os aportes para o entendimento da construção teórica e conceitual de uma nova ordem de se praticar o lazer e turismo – o lazer e turismo sustentáveis. Para tanto, realizo no capítulo 4 uma discussão sobre essas ideias dentro de um contexto maior – o do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade –, assim como as estratégias e princípios para pensar o lazer e turismo sustentáveis. Um dos grandes ideólogos da sustentabilidade, Ignacy Sachs, estabeleceu oito princípios para o alcance da sustentabilidade: o ambiental, o natural, o social, o cultural, o econômico, o territorial, o de política nacional e de política internacional.

    Anteriormente e/ou concomitantemente ao estabelecimento desses princípios, as Ciências Naturais e Humanas produziram um conjunto de técnicas para o entendimento das relações entre a sociedade e a natureza e para a análise de conflitos socioambientais. O desafio dos capítulos subsequentes ao capítulo 4 deste livro foi estabelecer uma relação entre os princípios da sustentabilidade e as técnicas desenvolvidas nas diversas ciências, aplicando-as ao campo de estudo do Lazer e Turismo.

    Assim, o capítulo 5 trata da discussão das técnicas desenvolvidas que se relacionam aos princípios ambiental e natural da sustentabilidade do lazer e turismo. A discussão foca-se nos locais, seja num parque urbano ou numa unidade de conservação, apresentando suas características ideais (ambiental e natural) para a prática de um lazer e turismo sustentável.

    Na mesma linha, o capítulo 6 trata da discussão das técnicas desenvolvidas para considerar os princípios social e cultural da sustentabilidade do lazer e turismo. O foco desse capítulo são as atividades de lazer e turismo e como elas podem ser pensadas para que o visitante, seja em um parque urbano ou em uma unidade de conservação, possa aprender pelo lazer e turismo e, assim, adquirir uma consciência crítica e criativa.

    O capítulo 7 apresenta técnicas relacionadas aos princípios econômico e territorial para alcance da sustentabilidade do lazer e turismo. São assim discutidas as formas de gestão e de governança para esses espaços de lazer e turismo. A partir de alguns casos de áreas protegidas no estado de São Paulo, são apresentados os desafios para uma gestão adequada, que leve à inclusão social da população que trabalha com o lazer e turismo.

    O livro esmiúça essa trajetória e destaca, do ponto de vista teórico-conceitual e por meio de estudos de caso, essa busca pela sustentabilidade. Ele representa meu esforço de organização dessas ideias, mas não foi um trabalho solitário ou isolado. Ao contrário, foi fruto de um debate caloroso com diversos outros pesquisadores e estudantes, parte deles grandes amigos, sem os quais seria impossível sua concretização. Assim, gostaria de agradecer aos estudantes do grupo de pesquisa em Territorialidades, Políticas Públicas e Conflitos na Conservação do Patrimônio, da EACH-USP. Principalmente a Alessandra Martins, Denise Scótolo, Fabrício Matheus, Juliana de Castro, Paula do Valle, Paulo Ferreira, Solange Alencar e Vinicius Morende, com os quais pudemos desenvolver alguns aspectos debatidos neste estudo a partir do projeto: Participação Política e Turismo na Gestão de Áreas Naturais no Estado de São Paulo, financiado pelo CNPq, assim como nas discussões calorosas sobre seus mestrados.

    Também fica minha gratidão ao Prof. Dr. Davis Sansolo (Unesp-SV).à Prof.ª Dr.ª Eliana Simões (Unifesp), à Prof.ª Dr.ª Juliana Bussolotti (Unitau), pelas conversas sobre manejo do uso público em unidades de conservação e gerenciamento costeiro, assim como nos debates no projeto de pesquisa: O contexto territorial e ambiental no programa de uso público do Parque Estadual da Serra do Mar, financiado pela Fapesp.

    Quero deixar meu reconhecimento aos companheiros Prof. Dr. Reinaldo Pacheco e participantes do Grupo de Uso Público – GUP: Julia Machado, Bertholdo Costa, Cesar Alves, Gustavo Espírito Santo, Lorraine Lopes, Luis Pereira, com os quais desenvolvi o projeto Programa de Uso Público das Áreas Protegidas do Rodoanel – RMSP, pelo Depto. de Geografia / FFLCH-USP e Dersa S.A., e cujos resultados também ajudaram a compor o presente estudo.

    Aos professores e colegas da Universidade de Girona, Espanha, nas pessoas do Prof. Dr. Lluis Mundet i Cerdan, que me supervisionou durante a estância de pós-doutorado, e da Prof.ª Dr.ª Dollors Vidal, coordenadora do curso de turismo dessa universidade.

    Aos Profs. Drs. Anna Maria Ribas Palom, David Pavón Gamero, Rosa Maria Fraguel Sasbelló e Dr.ª Ariadna Gabarda, da Universidade de Girona; e Profs. Drs. Pedro Jacobi e Ana Paula Fracalanza, da USP, pelas discussões no projeto Water governance in touristic areas. Cases of study: mature destination (Costa Brava, Spain) Vs non-consolidated destination (North Coast of São Paulo State, Brazil), financiado pela Fapesp, que me possibilitaram a ampliação do conhecimento sobre gestão de recursos naturais.

    Ao amigo Prof. Dr. Antônio Carlos Sarti, com quem dividi a coordenação do curso de lazer e turismo da EACH-USP e com quem sempre estou aprendendo sobre paisagismo, floresta urbana e questões administrativas da universidade;

    Aos professores do Curso de Lazer e Turismo da EACH-USP e de Turismo da ECA-USP, que, de forma ora mais descontraída, ora mais formal, me fazem sempre aprender mais sobre a vida e sobre lazer e turismo.

    Aos professores do Promuspp-EACH-USP e da cátedra da Unesco – Rede Unitwin – sobre Cultura, Turismo, Desenvolvimento, que sempre permitem um debate aberto sobre mudança social e participação política e me ajudam na construção dessas ideias.

    Aos estudantes da graduação em lazer e turismo da EACH-USP. Foram e são sempre enriquecedores os debates nas disciplinas: Abordagem Geográfica do Lazer e Turismo, Lazer, Turismo e Meio Ambiente e Uso Público em Parques Urbanos. De fato, é verdadeira a máxima de que o professor não só ensina, mas sempre aprende com seus estudantes.

    Aos estudantes da pós-graduação em Mudança Social e Participação Política e em Turismo da EACH-USP, cujos debates são igualmente importantes, nas disciplinas Áreas Naturais e Participação Política e Turismo Urbano: processos espaciais e sustentabilidade.

    Aos meus pais, Osvaldo e Elizabeth (in memoriam), lastros da minha existência, percebo seus traços e atitudes no Francisco e Frederico e me tranquilizo pensando em vocês.

    E à Ana, obrigado por toda atenção dispensada para que eu conseguisse compor esse livro.

    PREFÁCIO

    Sustentabilidade! Tema atual, complexo, controvertido, inter e transdisciplinar e, principalmente, inerente à prática responsável do lazer e turismo! O que dizer, então, da busca pela sustentabilidade perdida, da utilização de estratégias e ações corretivas para atenuar ou reverter efeitos danosos provocados pelo homem e que maculam as relações entre sociedade e natureza? O que dizer, ainda, da inclusão social tão necessária para otimizar os benefícios do desenvolvimento do lazer e turismo e, assim, garantir a sustentabilidade? Sem dúvida, essas são questões apaixonantes para todos aqueles que se aplicam ao estudo do lazer e turismo.

    Tenho a honra de apresentar essa proposta de Sidnei Raimundo na obra intitulada Em busca da sustentabilidade perdida: lazer e turismo diante das desigualdades socioambientais, publicada pela Editora Appris.

    A obra está baseada na tese de Livre-docência de Sidnei Raimundo defendida na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH-USP –, onde atua como professor associado. Conquistou seu Doutorado em Geografia (na área de Análise Ambiental e Dinâmica Territorial) na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp –, concluiu o Mestrado em Geografia (Geografia Física) na Universidade de São Paulo e o Bacharelado e a Licenciatura na mesma instituição de ensino. Complementou sua formação acadêmica na Espanha, na Universidade de Girona, onde realizou estágio pós-doutoral. Atuou, também, no Instituto Florestal do Estado de São Paulo, desenvolvendo trabalhos relacionados ao manejo (gerenciamento) de parques, estações ecológicas e outras áreas protegidas. Na EACH-USP, além de desempenhar função docente, nos cursos de graduação e pós-graduação, é líder do grupo de pesquisa Territorialidades, Políticas Públicas e Conflitos na Conservação de Patrimônios e coordenador da Cátedra Unesco – Rede Unitwin – sobre Cultura, Turismo e Desenvolvimento.

    Li e reli várias vezes a obra de Sidnei Raimundo, não por ter dificuldades em entendê-la, mas pela riqueza de detalhes e pela profundidade das análises. O autor soube estabelecer conexões entre a teoria e a prática, valendo-se de sua formação no campo da Geografia e da aplicação de seus conhecimentos ao estudo do lazer e turismo. A farta bibliografia referente a diversos ramos do saber desperta o interesse do leitor para o estudo de temas correlatos.

    Difícil ignorar a apresentação primorosa e pertinente que o autor faz de sua obra. Nela, num breve momento autobiográfico, Sidnei Raimundo, mostrando sensibilidade, remete o leitor à sua infância, apresentando reflexões reveladoras de traços de sua personalidade e das razões de suas escolhas, primeiro pela Geografia, depois pelo lazer e turismo. Em sua narrativa, expõe o percurso de sua formação intelectual e profissional mesclada à vivência pessoal. Revela, assim, a sua identidade profissional, resultante de um processo construtivo em diferentes fases e como foi incorporando experiências ao longo de sua trajetória, que lhe permitiram compreender, na perspectiva interdisciplinar, o conhecimento de temas e problemas ligados às inter-relações entre a natureza e a sociedade, ou seja, relações socioambientais. Dedicando-se ao entendimento das práticas de lazer e turismo em áreas protegidas, destacando os impactos socioambientais dessas atividades, Sidnei Raimundo, em seu percurso acadêmico, aplica-se ao estudo de um dos maiores desafios contemporâneos: a sustentabilidade.

    Ao longo dos sete capítulos de seu estudo, Sidnei Raimundo, utilizando referências de outros autores para discutir suas ideias e pontos de vista sobre o tema e fundamentar seus argumentos, discorre sobre as oito dimensões propostas para a sustentabilidade: ambiental, natural, social, cultural, territorial, econômica, política nacional e internacional. No processo de exposição, o autor relaciona fatos, estudos, opiniões e problemas, sugerindo possíveis soluções. O recurso à análise retrospectiva e cronológica transparece em todo o desenvolvimento do tema. Vale-se o autor, também, da história para pesquisar a evolução dos fatos analisados e do significado do passado no presente. Fotos, mapas, gráficos e quadros elucidativos conferem visibilidade à tese apresentada.

    A partir do estudo do lazer e turismo como atividades contemporâneas e seus impactos ambientais, o autor resgata os primórdios dessas atividades, enquanto fenômenos sociais e econômicos, e registra as características que diferenciam os vários momentos dessas atividades, estendendo suas análises ao Brasil. Valendo-se da visão crítica, aponta as transformações ocorridas nos espaços e os impactos gerados que culminam na necessidade do estabelecimento de regras e de planejamento. Observa que aqueles mais conscientes e responsáveis passaram a aspirar por um desenvolvimento sustentável e por formas alternativas capazes de contornar os problemas derivados do uso abusivo e inadequado dos recursos naturais.

    Recorrendo, ainda, à análise retrospectiva, o autor registra as complexas relações entre sociedade e natureza marcadas por conflitos territoriais, sociais, culturais e econômicos que passaram a ser definidas como conflitos ambientais.

    Novos paradigmas, estabelecidos por uma visão idealizada da natureza, levaram à adoção de diversas medidas visando à proteção ambiental. Numa abordagem crítica, o autor analisa casos brasileiros no tocante à preservação dos recursos naturais e à criação de áreas protegidas, revelando suas características, funções e problemas. Aponta exemplos nacionais e internacionais e examina diversas abordagens da sociedade ocidental quanto aos ressignificados atribuídos à natureza. Destaca que, sob a ótica capitalista, a natureza foi transformada em mercadoria, gerando um dos mais significativos segmentos do mercado – o ecoturismo. A abordagem desse segmento merece atenção especial quando o autor trata da religação com a natureza nas práticas de lazer e turismo. O autor se debruça sobre as raízes do Ecoturismo e sobre a força dessa modalidade cujos princípios, que nortearam as ideias sobre sustentabilidade, acabaram por fomentar outras formas de se praticar e de entender o lazer e turismo. No Brasil, políticas públicas do Ministério do Turismo contribuíram para o desenvolvimento de ações e programas visando ao planejamento e gestão, não apenas do Ecoturismo, mas, também, de outras modalidades surgidas na esteira do ambientalismo.

    Considerando que a prática dessas modalidades ocorre, geralmente, em destinos ligados à natureza, o autor vai além da busca pela sustentabilidade, extrapolando sua preocupação para os atores, e clama pela responsabilidade de todos os envolvidos: operadores, turistas e comunidades locais. Apresenta e discute, também, as políticas de manejo e o uso público de unidades de conservação e as leis existentes sobre o assunto.

    Lazer e turismo sustentável? Com essa interrogação, o autor registra sua dúvida pela busca por outra abordagem para pensar o lazer e turismo. Discorre sobre o processo histórico das ideias sobre sustentabilidade, bem como sobre as estratégias construídas no campo das ciências naturais e das ciências humanas. Visando a uma práxis socioambiental, o discurso remete à inclusão social como uma estratégia para reduzir problemas no meio ambiente e minimizar as divergências socioeconômicas entre os atores envolvidos.

    Aponta a necessidade de uma abordagem mais científica no que se refere às bases teóricas e conceituais. Destaca, numa visão cronológica, o modelo tradicional de lazer e turismo do qual decorrem as transformações culturais e sociais e seus efeitos que levaram os estudiosos a repensar essas atividades, chegando à ideia do desenvolvimento sustentável. Novos paradigmas se impuseram no planejamento, na gestão e, também, na prática do lazer e turismo. Apoiado em vários autores, Sidnei Raimundo sistematiza os princípios ou dimensões do Ecoturismo, modalidade que se propõe a ser sustentável.

    Destaca, ainda, que a busca pela sustentabilidade evoca uma abordagem interdisciplinar, reforçando a ideia de um entendimento para além da perspectiva econômica, uma vez que há forte correlação (até mesmo dependência) entre os conhecimentos construídos na natureza e as ciências sociais. Ao expor as técnicas pertinentes aos princípios ambiental e natural para alcance da sustentabilidade, Sidnei Raimundo identifica e examina correntes de pensamento, procurando aproximá-las do estudo do lazer e turismo. Inúmeros exemplos, tanto do Brasil quanto do exterior, esclarecem tais técnicas que podem ser aplicadas ao turismo e, também, à Geografia.

    Valendo-se da análise crítica, o autor mostra a evolução das diferentes correntes de pensamento, nas quais se baseiam os princípios ambiental e cultural considerados essenciais para o alcance da sustentabilidade em lazer e turismo.

    O autor prossegue seu estudo na busca por um lugar ideal para a prática do lazer e turismo na natureza, estendendo sua análise às cidades, especificamente aos parques urbanos. Não deixa de considerar o lazer e turismo nas unidades de conservação, exemplificando o zoneamento dessas áreas e os princípios do manejo dos impactos da visitação com o uso de técnicas adequadas.

    As análises da paisagem física, acrescidas da ocupação humana, enriquecem a pesquisa e mostram a preocupação do geógrafo Sidnei Raimundo. O autor revela domínio do tema e conhecimento profundo das relações que se estabelecem entre natureza e sociedade na busca por um lugar ideal para a prática do lazer e turismo. Sem descuidar do registro dos efeitos positivos e negativos, gerados pelos visitantes, propõe ações capazes de garantir a sustentabilidade nessas áreas.

    Ao tratar de locais sustentáveis para lazer e turismo em áreas urbanas, o autor considera que esses espaços exigem uma abordagem diferente daquela aplicada às paisagens naturais de uma unidade de conservação. Considera

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