Mineração e Unidade de Conservação: legislação e seus conflitos de interesse
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Mineração e Unidade de Conservação - Clemerson de Sales
APRESENTAÇÃO
A temática desenvolvida neste estudo tem como foco o licenciamento das atividades dos empreendimentos minerários instalados no perímetro e entorno de Unidade de Conservação (UC) no âmbito do Estado do Amazonas.
Buscando reflexões do Instituto Socioambiental – ISA, por meio do livro Mineração em Unidades de Conservação na Amazônia brasileira (ISA,2006), sabe-se que a atividade de mineração não pode ser realizada, em nenhuma hipótese, dentro de Unidade de Conservação de Proteção Integral e nas Reservas extrativistas (RESEX). Isto porque, essas atividades vão de encontro aos objetivos da categoria de Proteção Integral e aos objetivos da RESEX. Apesar da restrição legal, a atividade de extração mineral obedece tal marco regulatório? E como se comportam as demais classes de UC?
Em um levantamento preliminar, sabe se que do total de 3.254 processos de intenção minerária no estado do Amazonas, 337 já estão em pesquisa, lavra garimperira ou em extração mineral no perímetro e entorno de Unidades de Conservação localizadas no estado do Amazonas, sendo que 78 empreendimentos ocupam espaço no interior e entorno de Unidade de Proteção Integral.
Além disso, há a influencia de mais de um empreendimento com atividades afins ocupando uma mesma unidade de gestão ambiental, nesse caso, em uma unidade de conservação, o que gera impactos negativos provenientes do efeito sinérgico e cumulativo.
Visto tais questões, o objetivo deste estudo é desenvolver propostas que otimize a eficiência do licenciamento ambiental e do ordenamento da atividade minerária no interior e entorno de Unidades de Conservação no âmbito do estado do Amazonas, apresentando conceitos básicos, questões legais (leis, resoluções, decretos), aspecto jurídico e administrativo dos órgãos de regulação, bem como suas fragilidades, caracterização espacial dos conflitos entre áreas de interesse mineral em UCs, para, por fim, ilustrar a temática do caso do Parque Estadual Rio Negro – Setor Norte e Parque Nacional Anavilhanas sob influência das lavras de extração de areia localizadas em seu entorno.
O Parque Nacional Anavilhanas localiza-se no estado do Amazonas, com território distribuído pelos municípios de Manaus e Novo Airão. É formado por um complexo de cerca de 400 ilhas. O Parque Estadual Rio Negro – Setor Norte encontra se próximo à Anavilhanas e está inserido no município de Novo Airão. Ambos possuem acesso por meio fluvial, uma vez que são banhados pelo rio Negro. Integram o Mosaico do Baixo Rio Negro. A importância do Parque é dada em função da proximidade com Manaus e por apresentarem belezas cênicas singulares. Dessa forma, o turismo em Anavilhanas é relevante. Porém, as belezas cênicas contrastam com balsas e dragas provenientes da extração de areia.
Por estar próximo ao mercado consumidor – Manaus – somado ao fato da área de extração encontrar-se fora dos limites dos parques, bem como por oferecer uma jazida aluvionar de areia relevante, a área desperta interesse de grandes empresários do setor da construção civil. No entanto encontra-se em zona de amortecimento de ambos parques e o transporte do minério é viabilizado pela única via fluvial, o rio Negro, que corta o parque Anavilhanas.
A metodologia de trabalho caracterizou-se pela pesquisa exploratória bibliográfica e documental (legislação vigente, documentos dos órgãos de controle da atividade mineral, órgãos gestores do Parque Nacional Anavilhanas e Parque Estadual Rio Negro – Setor Norte, entre outros). A pesquisa ainda contou com observação em campo e processamento de dados geográficos para elaboração dos produtos cartográficos.
Por fim, o ensaio, buscou chamar atenção para a problemática, o qual como é conveniente, possui nítido caráter minerário e necessitará que tais empreendimentos, sob a orientação dos órgãos públicos ambientais, busquem adequação.
SUMÁRIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
APRESENTAÇÃO
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
PROBLEMA DO TEMA
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO
MATERIAL E MÉTODOS
REVISÕES DE LITERATURA
ANÁLISE GERAL DA LITERATURA CONSULTADA
CARACTERIZAÇÃO DE MAPAS TEMÁTICOS
ESTUDO DE CASO
ANÁLISE CRÍTICA, PROPOSTAS E RECOMENDAÇÕES
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
1 - MINERAÇÃO NO CONTEXTO NACIONAL
1.1 - ROYALTIES DA MINERAÇÃO
1.2 - MINERAÇÃO NO CONTEXTO REGIONAL
1.3 - CENÁRIO DA MINERAÇÃO NO ESTADO DO AMAZONAS
CONCLUSÃO
CAPÍTULO II
INTRODUÇÃO
2 - IMPACTOS APLICADOS AO SOLO
2.1 - MUDANÇAS DA PAISAGEM
3 - EMISSÕES ATMOSFÉRICAS
3.1 - MANIPULAÇÃO DO MERCÚRIO
4 - RECURSOS HÍDRICOS NA AMAZÔNIA
4.1 - CONSUMO EXACERBADO DE RECURSOS HÍDRICOS
4.2 - CONTAMINAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS
4.3 - IMPACTOS CAUSADOS POR BARRAGENS DE REJEITOS
5 - IMPACTOS SOBRE AS COMUNIDADES
5.1 - DESLOCAMENTO HUMANO E REALOCAÇÃO
5.2 - IMPACTOS DA MIGRAÇÃO DE PESSOAS
5.3 - IMPACTOS SOBRE ÁREA DE INFLUÊNCIA
5.4 - IMPACTOS NEGATIVOS SOBRE OS TRABALHADORES
5.5 - IMPACTOS EM DECORRÊNCIA DO FECHAMENTO DA MINA
5.6 - IMPACTOS SOBRE A VIDA SILVESTRE
5.7 - IMPACTOS SOBRE A COBERTURA VEGETAL
CONCLUSÃO
CAPÍTULO III
INTRODUÇÃO
6 - MARCO LEGAL
6.1 - DISPOSITIVOS LEGAIS MINERÁRIAS A LUZ DO MARCO LEGAL AMBIENTAL
6.2 - DISPOSITIVOS LEGAIS AMBIENTAIS A LUZ DO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO
6.3 - ORGANISMOS DE CONTROLE AMBIENTAL E MINERAL
7 - ARCABOUÇO LEGAL E NORMATIVO RELACIONADOS AO MEIO AMBIENTE NO SETOR MINERAL
7.1 - ASPECTOS CONSTITUCIONAIS
7.2 - LEIS E DECRETOS FEDERAIS
7.3 - RESOLUÇÕES CONAMA
7.4 - OUTRAS PORTARIAS E RESOLUÇÕES
7.5 - NORMAS DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT
7.6 ARCABOUÇO LEGAL DA MINERAÇÃO E MEIO AMBIENTE DO ESTADO DO AMAZONAS
7.7 - NOVO MARCO LEGAL DA MINERAÇÃO
8 - LICENCIAMENTO E LEGISLAÇÃO AMBIENTAL
8.1 - AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA E O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA EFICIÊNCIA
8.2 - A PESQUISA MINERAL
CONCLUSÃO
CAPÍTULO IV
INTRODUÇÃO
9 - A IMPORTÂNCIA DA AMAZÔNIA
9.1 - ÁREAS PROTEGIDAS
9.2 UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
9.3 - ZONA DE AMORTECIMENTO
10 - UNIDADE DE CONSERVAÇÃO E O CONFLITO COM A ATIVIDADE DA MINERAÇÃO
11 - ANÁLISE DA INCIDÊNCIA
11.1 - A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
12 - GARIMPO DO RIO MADEIRA
12.1 - AMEAÇAS DA LAVRA GARIMPEIRA ÀS UCs
12.2 - O COMPROMISSO INTERNACIONAL
12.3 - AS COOPERATIVAS DE GARIMPEIROS
CONCLUSÃO
CAPÍTULO V
INTRODUÇÃO
13 - EXTRAÇÃO DE AREIA NO AMAZONAS
13.1 - ÁREA DO ESTUDO
13.2 - COLETA DE DADOS
13.3 - PROCESSOS DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL
13.4 - IMPACTOS NEGATIVOS DETECTADOS
14. - CONCLUSÕES GERAIS
15 - RECOMENDAÇÕES PROPOSTAS
15.1 MINERAÇÃO EM UNIDADE DE CONSERVAÇÃO QUESTÃO ABORDADA E DISCUTIDA
15.2 - MINERAÇÃO EM ZONA DE AMORTECIMENTO
15.3 - ASPECTOS LEGAIS E ADMINISTRATIVOS DO LICENCIAMENTO AMBIENTAL
15.4 - MONITORAMENTO DA ATIVIDADE MINERÁRIA
15.5 - ESTUDO DE CASO
15.6 - PASSIVOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE MINERÁRIA NO AMAZONAS
16 - REFERÊNCIAS
17 - ANEXO – FLUXOGRAMA DO PROCESSO DE LICENCIAMENTO/AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA/LAVRA DE MINERAÇÃO
18 - APÊNDICE – MAPAS TEMÁTICOS DO ESTADO DO AMAZONAS
Landmarks
Capa
Folha de Rosto
Página de Créditos
Apresentação
Bibliografia
LISTA DE ABREVIAÇÕES E SIGLAS
AAE - Avaliação Ambiental Estratégica
AAI - Avaliação Ambiental Integrada
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas
ACP - Ação Civil Pública
AIA - Avaliação de Impacto Ambiental
AM - Amazonas
ANM - Agência Nacional de Mineração
APA - Área de Proteção Ambiental
APP - Área de Preservação Permante
ARIE - Área de Relevante Interesse Ecológico
ARPA - Áreas Protegidas da Amazônia
ASV - Autorização de Supressão Vegetal
CETEM - Centro de Tecnologia Mineral
CEUC - Centro Estadual de Unidades de Conservação do Estado do Amazonas
CF - Constituição Federal
CFEM - Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais
CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
CEMAAM - Conselho Estadual de Meio Ambiente
CNRH - Conselho Nacional de Recursos Hídricos
CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente
CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CRI - Categoria de Risco
DAM - Drenagem Ácida de Mina
DEMUC - Departamento de Mudanças Climáticas e Gestão de Unidade de Conservação
DF - Distrito Federal
DIPAR - Diretoria de Procedimentos Arrecadatórios
DNPM - Departamento Nacional de Produção Mineral
DPA - Dano Potencial Associado
DOU - Diário Oficial da União
EIA - Estudo de Impacto Ambiental
ESEC - Estação Ecológica
FLOREST - Floresta Estadual
FNDCT - Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
ICMBio - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
IEC - Instituto Evandro Chagas
INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
INPA - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
IPAAM - Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas
IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
ISA - Instituto Socioambiental
LI - Licença de Instalação
LO - Licença de Operação
LOP - Licença de Operação para Pesquisa Mineral
LP - Licença Prévia
MD - Margem Direita
ME - Margem Esquerda
MME - Ministério de Minas e Energia
MG - Minas Gerais
NRM - Normas Reguladoras de Mineração
OIT - Organização Internacional do Trabalho
ONG - Organização Não Governamental
PA - Pará
PAFEM - Plano de Fechamento de Mina
PAREST - Parque Estadual
PARNA - Parque Nacional
PAE - Plano de Aproveitamento Econômico
PCA - Plano de Controle Ambiental
pH - Potencial Hidrogeniônico
PIB - Produto Interno Bruto
PNA - Parque Nacional Anavilhanas
PNAP - Plano Nacional de Áreas Protegidas
PNM - Plano Nacional de Mineração
PNMA - Política Nacional de Meio Ambiente
PNSB - Política Nacional de Segurança de Barragens
POP - Procedimento Operacional Padrão
PR - Procuradoria da República
PRAD - Plano de Recuperação de Áreas Degradadas
RADA - Relatório de Avaliação de Desempenho Ambiental
RAL - Relatório Anual de Lavra
RDS - Reserva de Desenvolvimento Sustentável
RCA - Relatório de Controle Ambiental
REBIO - Reserva Biológica
REFAU - Reserva de Fauna
RENCA - Reserva Nacional do Cobre e Associados
RESEX - Reserva Extrativista
REVIS - Refúgio de Vida Silvestre
RIMA - Relatório de Impacto Ambiental
RL - Reserva Legal
RO - Rondônia
RPPN - Reserva Particular do Patrimônio Natural
SDS - Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas
SEMA - Secretaria Estadual de Meio Ambiente
SEMAD - Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SEUC - Sistema Estadual de Unidades de Conservação do Amazonas
SMM - Secretaria de Minas e Metalurgia
SIG - Sistema de Informação Geográfica
SIGMINE - Sistema de Informações Geográficas da Mineração
SISMINE - Sistema de Gestão da Produção Mineral
SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação
SPHAN - Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
TM - Trade mark - marca de comércio
TI - Terra Indígena
UC - Unidade de Conservação
UEA - Universidade Estadual do Amazonas
UFAM - Universidade Federal do Amazonas
UFPR - Universidade Federal do Paraná
ZA - Zona de Amortecimento
PROBLEMA DO TEMA
A problemática dessa abordagem inicia com a seguinte questão:
As atividades de mineração instaladas no entorno ou no interior de Unidade de Conservação cumprem as condições de operação ou restrições impostas pelo licenciamento ambiental?
Quando não cumprido os termos para mitigação dos impactos, há perturbações em diferentes níveis às comunidades locais. Assim, a função da área protegida perde sua função, até mesmo sua razão de existir.
Tal questionamento levanta a problemática dos conflitos de interesses adversos que assolam as Unidades de Conservação. Uma vez que, se por lei é protegida, os objetivos da UC são ameaçados pela mineração que carrega em seu âmbito jurídico o desenvolvimento arcaico a qualquer custo.
Fechamos esta apresentação com outro questionamento, apenas reflexivo: Qual a visão de desenvolvimento que queremos para a Amazônia?
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Desenvolver propostas que otimize a eficiência do licenciamento ambiental e do ordenamento da atividade minerária no interior e entorno de Unidades de Conservação no âmbito do Estado do Amazonas.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Analisar o marco regulamentário da atividade minerária frente à questão ambiental, apontando as inseguranças jurídicas, bem como as fragilidades administrativas dos órgãos que regulamentam a atividade mineral;
- Caracterizar as sobreposições do interesse da atividade minerária em UC;
- Identificar as deficiências do licenciamento ambiental durante o trâmite processual de empreendimentos identificados no estudo de caso.
JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO ESTUDO
O setor da mineração, mesmo com tantos investimentos, com elaboração de procedimentos, protocolos, instruções, manuais e normas para o setor da mineração, bem como em alguns casos, mesmo com a salvaguarda dos aspectos ambientais – Licenciamento Ambiental, os descasos com as normas ambientais, normas trabalhistas, são frequentes. Soma se a isso, o fato da atividade minerária liderar as estatísticas nacionais de impactos socioambientais e está marcada com o maior acidente ambiental brasileiro – Tragédia em Brumadinho.
Dessa forma é necessário