Sísifo desce a montanha
Descrição
Nesta coletânea de poemas, Affonso Romano de Sant'Anna retoma temas de livros anteriores, como a história, viagens físicas e metafísicas e a convivência com animais. Dialogando com o mistério da vida, do tempo, do universo e da morte, o poeta, do alto de seus mais de 70 anos, e uma vivência que inclui as utopias dos anos 60, a experiência da sala de aula, gestões como a que promoveu na Biblioteca Nacional (1990-1996) e o exercício diário da palavra escrita e recitada em lugares como Alemanha, Irlanda e México, apresenta uma obra que desafia a ideia de aleatoriedade que uma coletânea pode conter. Tudo aqui é pensado, coeso, com a organicidade de quem pratica a coerência e sabe que tem a oferecer ao leitor um painel de rara maturidade estética e existencial.
Sísifo desce a montanha é um livro cujo tema central é a morte – os medos, as angústias, os enigmas, as inquietações que rondam o assunto. O poema Véspera clarifica que não existe quem esteja preparado para a hora última, para a hora derradeira, que ninguém está à espera da morte, que ninguém está realmente pronto para o ponto final. No entanto, como pode (erroneamente) parecer, este não é um livro sobre a morte. Este é um livro sobre a vida, sobre o grande aprendizado que é viver, confirmando a máxima de que, até o último sopro de respiração, o ser humano é um eterno aprendiz. A finitude é uma das grandes questões da humanidade, senão a maior. Sísifo desce a montanha é um livro sobre a nossa breve existência neste mundo cheio de nuances, gradações e variantes.
Sobre o autor
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Amostra do livro
Sísifo desce a montanha - Affonso Romano de Sant'Anna
Affonso Romano de Sant’Anna
Sísifo desce a montanha
Sumário
Meus três enigmas
Erguer a cabeça acima do rebanho
Depois de ter visto
Ritual doméstico
Parem de jogar cadáveres na minha porta
Ostra
Onde estão?
Édipo (acuado)
Aquelas questões
Todos eles querem representar Hamlet
As nuvens
Radar
Como se desce uma montanha
Preparando a cremação
1
2
3
Além de mim
Independem de mim
As muitas mortes de um homem
2
3
4
Cai a tarde sobre meus ombros
O que se afasta
Alívio
Lentidão e fúria
Eu sei quando um fruto
Num certo lugar
3 × Nietzsche
1
2
3
Platão e eu
Deus está condenado
Poética da respiração
Predecessores
A fala de Deus
Na boca do deserto
Uma voz de muezim
O inacabado
Na tumba de Ramsés III
Hieroglifos
Tutankamon
Sarcófago de livros
Outra poética
Gerações 1
Gerações 2
Gerações 3
Gerações 4
Geração 1937
Batalha dos três reis
Ameríndia
Pequim 1992
Num parque do México
No caminho dos Incas
Acrópole
Índia: Hotel Agra Ashok
Sobre os telhados do Irã
Obama, venha comigo a Cartago
No fundo do mar
O entorno
Levaram os seis filhotes
O gato
Cavalo
Sapo Alfredo
Como se o touro viesse
Compreensão
Caixa-preta
Diante da TV
Possibilidades
Elisa Freixo
Não lugar
Habitação
Tempoesia
No labirinto
Jogando com o tempo
Fiz 50 anos
Vício antigo (2)
Carmina Burana mais anônimo francês
Agenda
Esclerose e/ou Malevitch
Num restaurante
Suplício corporal
Remorso
Numa esquina em Bogotá
1
2
Vida secreta
Devo estar meio distraído
Dona Morte
A comensal
Medidas
À porta
Morre mais um importante
Triunfo das joias
Pobrezas e riquezas
Tenho olhado o céu
Gonzalo Rojas nos contaba
Vista do avião
Museu do Prado, 27/3/2001
Véspera
Gênesis invertido
Escravidão poética
Está se cumprindo o ritual
Aos que virão
Exercício de finitude:
Créditos
O Autor
"A gradual deseroização de si mesmo
é o verdadeiro trabalho que se elabora
sob o aparente trabalho."
Clarice Lispector
MEUS TRÊS ENIGMAS
Tenho pouco tempo
para resolver três enigmas que me restam.
Os demais
ou não os resolvi
ou resolveram
me abandonar
exaustos de mim.
São de algum modo obedientes.
Só ganham vida
se os convoco.
Isto me dá a estranha sensação
que os controlo.
Complacentes
me olham
do canto de sua jaula.
Enigma que se preza
não se entrega
nem se apressa em estraçalhar
o outro com fúria de fera.
No entardecer
os três enigmas sobrantes
me espreitam
soberanos.
Às vezes, mesmo arredios
aceitam meus afagos.
Na dúbia luz da madrugada
parecem desvendáveis.
O dia revem.
Eles me olham (penalizados)
e começam
(de novo)
– a me devorar.
ERGUER A CABEÇA ACIMA DO REBANHO
Erguer a cabeça acima do rebanho
é um risco
que alguns insolentes correm.