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Análise do Comportamento e suas Aplicações: Desafios e Possibilidades Volume 1
Análise do Comportamento e suas Aplicações: Desafios e Possibilidades Volume 1
Análise do Comportamento e suas Aplicações: Desafios e Possibilidades Volume 1
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Análise do Comportamento e suas Aplicações: Desafios e Possibilidades Volume 1

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O livro “Análise do Comportamento e suas aplicações: desafios e possibilidades”, surgiu do interesse de apresentar alguns recortes das mais diversas áreas de atuação do Psicólogo, em que tem sido aplicada a tecnologia comportamental exatamente com o intuito de entender essas relações e o fenômeno comportamental que vigora em torno delas, divulgando e esclarecendo sobre a prática do analista do comportamento na pluralidade de áreas de atuação da psicologia. Este livro dá uma amostra excelente do que é atualmente o trabalho profissional do analista do comportamento no Brasil. São 11 capítulos neste primeiro volume reunindo grandes nomes que se destacam em sua geração.

LanguagePortuguês
Release dateSep 4, 2020
ISBN9786599113321
Análise do Comportamento e suas Aplicações: Desafios e Possibilidades Volume 1

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    Análise do Comportamento e suas Aplicações - Isabelle Cacau de Alencar

    Análise do Comportamento e suas aplicações: desafios e possibilidades

    Volume 1

    Organizadoras

    Isabelle Cacau de Alencar

    Denise Lettieri

    Déborah Fernandes Vieira Lobo

    Published by Imagine Publicações.

    Distributed by Smashwords.

    Copyright 2020 Imagine Publicações LTDA.

    Nota sobre o licenciamento da obra

    Este livro é licenciado para o seu uso pessoal privado. Este livro não poderá ser vendido ou dado para outra pessoa. Se você quer compartilhar este livro com outra pessoa, por favor, compre uma cópia adicional para cada pessoa que o receberá. Se você está lendo este livro e ele não foi comprado para o seu uso pessoal privado, então, por favor, vá ao Smashwords ou ao seu revendedor favorito e compre a sua cópia. Obrigado por respeitar o trabalho duro das organizadoras e autoras do livro.

    Comitê Editorial e Revisão Técnica: Felipe Lustosa Leite, Carlos Rafael Fernandes Picanço, Hernando Borges Neves Filho.

    Coordenação e Editor-chefe: Felipe Lustosa Leite .

    Diagramação: Carlos Rafael Fernandes Picanço .

    Direção Geral e Relações Públicas: Felipe Lustosa Leite.

    Editor de Planejamento: Carlos Rafael Fernandes Picanço.

    Revisão ortográfica: Sofia Hernandes Siqueira.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    _____

    Análise do comportamento e suas aplicações : desafios e possibilidades, volume 1 [livro eletrônico] / organização Isabelle Cacau de Alencar, Denise Lettieri, Déborah Fernandes Vieira Lobo. -- 1. ed. -- Fortaleza : Imagine Publicações, 2020.

    ePub

    Vários autores.

    Bibliografia

    ISBN 978-65-991133-2-1

    1. Comportamento - Análise 2. Comportamento (Psicologia) 3. Psicologia comportamental I. Alencar, Isabelle Cacau de. II. Lettieri, Denise. III. Lobo, Déborah Fernandes Vieira.

    20-43358

    CDD-150

    _____

    Índices para catálogo sistemático:

    1. Comportamento : Análise : Psicologia 150

    Maria Alice Ferreira - Bibliotecária - CRB-8/7964

    OEBPS/images/image0001.png

    IMAGINE PUBLICAÇÕES LTDA

    Rua Doutor Gilberto Studart, 55, Sala 1503 – T1

    CEP: 60192-105 – Cocó – Fortaleza, Ceará

    Telefone: (85) 3879-5046

    E-mail: editora@imaginepublica.com.br

    Website e loja: www.imaginepublica.com.br

    Sumário

    Sobre as organizadoras

    Lista de autoras e autores

    Apresentação

    Prefácio

    Capítulo 1

    Vivendo como um analista do comportamento: quando conhecimento científico se converte em autoconhecimento

    Nicolau Chaud de Castro Quinta

    Capítulo 2

    A análise funcional como ferramenta do analista do comportamento

    Victoria Boni Albertazzi

    César Antonio Alves da Rocha

    Capítulo 3

    Inter-relação entre pesquisa e tecnologia comportamental

    Amilcar Rodrigues Fonseca Júnior

    Capítulo 4

    A metáfora como recurso do terapeuta comportamental: revisitando cinderela

    Florença Lucia Coelho Justino

    Capítulo 5

    Comportamento governado por regras na clínica analítico comportamental

    Cainã Gomes

    Capítulo 6

    Aquisição de tato discriminado de eventos privados: desafios na clínica

    Camila Cardoso Carvalho Soares

    André Lepesqueur Cardoso

    Felipe de Souza Soares Germano

    Capítulo 7

    Questionamento reflexivo: um modo de intervir sem emitir regras para o cliente

    Carlos Augusto de Medeiros

    Capítulo 8

    Terapia de aceitação e compromisso (ACT): a conciliação do viver e do sofrer

    Rodrigo R.C. Boavista

    Capítulo 9

    Atração sexual de clientes por seus terapeutas: procedimentos da psicoterapia analítica funcional

    Artur Vandré Pitanga

    Luc Vandenberghe

    Capítulo 10

    Dependência afetiva: uma análise comportamental sobre sua origem, problemas relacionados e estratégias de intervenção

    Amona Priscila Fernandes Lima

    Capítulo 11

    É possível tratar a insônia sem o uso de medicação? O que a terapia comportamental e cognitivo-comportamental podem fazer para ajudar pacientes insones?

    Luiz Antonio Bernardes

    Sobre as organizadoras

    Denise Lettieri

    Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília – UniCeub (2004). Graduada em Administração de Empresa pelo Centro Universitário UDF (2002). Mestre em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília – UniCEUB (2017). Especialização em Análise Comportamental Clínica pelo IBAC (2005). Aperfeiçoamento em Terapias Comportamentais Contextuais pelo CEFI/CIPOC (2019). Formação em Terapia Comportamental Dialética pelo Behavioral Tech / The Linehan Institute (2017). Diretora e responsável técnica da Atitude Clínica Psicológica fundanda em 2006. Diretora e gestora da Atitude Cursos fundada em 2013. Vice-presidente (gestão 2019/2020) da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC). Membro da Associação de Ciências Comportamentais Contextuais (ACBS).

    Isabelle Cacau de Alencar

    Graduada em psicologia pela Universidade de Fortaleza (2009), mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2012) e especialista em Neuropsicologia pelo Hospital das Clínicas da USP (2014). Professora da Graduação em Psicologia, no Centro Universitário 7 de Setembro, em disciplinas de Análise do Comportamento. Atua em clínica particular como terapeuta clínica e supervisora para surdos e ouvintes.

    Déborah Fernandes Vieira Lôbo

    Graduada em Psicologia pela Universidade de Fortaleza - Unifor. Mestre em Ciências do Comportamento, àrea de atuação Análise do Comportamento, pela Universidade de Brasília - UnB. Professora do curso de Psicologia da Unifor e da Uni7. Atua em clínica particular como terapeuta analítico-comportamental infantil, de adultos e supervisora clínica.

    Lista de autoras e autores

    Amilcar Rodrigues Fonseca Júnior

    Doutorando e mestre em Psicologia Experimental pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário Padre Anchieta (UniAnchieta). Foi professor do curso de Psicologia dessa mesma instituição e, atualmente, é professor do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Possui experiência em Análise Experimental do Comportamento e é membro do Laboratório de Análise Biocomportamental (LABC) da USP e do Grupo de Pesquisa de Controle Aversivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

    Amona Priscila Fernandes Lima

    Graduada em psicologia no Centro Universitário de Brasília - UniCEUB. Especialista em Análise do Comportamento pelo IBAC - Instituto Brasiliense de análise do comportamento. Mestranda no programa de pós-graduação do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB. Atua no consultório realizando atendimentos de adultos e adolescentes, no formato de terapia de casal, família e grupos terapêuticos. Também atua em um projeto de treinamento de terapeutas para atendimentos de grupos terapêuticos e no atendimento de grupos terapêuticos para dependentes afetivos. Conduz em parceria grupos terapêuticos e de supervisão. Membro da Associação Brasileira de Psicologia e Medicina Comportamental (ABPMC). É colunista do site Comporte-se e coordenadora institucional da Atitude Cursos. Áreas de atuação clínica: Análise Comportamental Clínica; supervisão clínica.

    André Lepesqueur Cardoso

    Mestre e Doutor em Ciências do Comportamento pela UnB. Professor do IESB (DF), IBAC e coordenador do curso de psicologia da IESGO (GO). Psicólogo clínico analítico comportamental, pesquisador autônomo e consultor em gestão de pessoas.

    Artur Vandré Pitanga

    Graduado em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (2006), Mestre (2009) e Doutor (2016) em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Professor na Faculdade de Psicologia do Centro Universitário de Anápolis-GO – UniEvangélica. Leciona princípios básicos do comportamento, behaviorismo, terapia analítico comportamental com ênfase em terapia de aceitação e compromisso (ACT) e psicoterapia analítico funcional (FAP). Realiza orientações profissionais em terapia analítico comportamental para estudantes e terapeutas iniciantes. Atua como terapeuta comportamental na cidade de Anápolis, Goiás

    Cainã Gomes

    Graduação em Psicologia pela PUC-SP, especialização em Terapia Analítico-Comportamental pelo Centro Paradigma de Ciências do Cmportamento e mestrado em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela PUC-SP, com período sanduíche na Ghent University, sob orientação do professor Dermot Barnes-Holmes. Cursou o Dialectical Behavior Therapy Skills Training e o Intensive Training em Terapia Comportamental Dialética (DBT) pelo Behavioral Tech / The Linehan Institute. Recebeu o prêmio de Student Spotlight Award 2017 da Association for Contextual Behavioral Science. É membro do grupo RFTAC. É professor, orientador e supervisor clínico do curso de Qualificação Avançada do Centro Paradigma de Ciências do Comportamento. Atua como psicólogo clínico no InPBE - Instituto de Psicologia Baseada em Evidências.

    Carlos Augusto de Medeiros

    Formado mestre e doutor pelo programa de Processos Comportamentais da UnB em Análise Experimental do Comportamento. Professor, Supervisor de Estágio em Clínica e Coordenador do Curso de Mestrado em Psicologia do Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. Pesquisas em comportamento verbal, correspondência verbal e regras e sensibilidade comportamental. Psicólogo Clínico. Propositor da Psicoterapia Comportamental Pragmática.

    César Antonio Alves da Rocha

    Formado em Psicologia (UEM), Especialista em História e Filosofia da Ciência (UEL), Mestre (UFPR) e Doutor em Psicologia (UFScar). Atualmente é pesquisador de pós-doutorado da Universidade de São Paulo e bolsista da FAPESP (processo 18/10699-5).

    Camila Cardoso Carvalho Soares

    Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Especialista em Análise Comportamental Clínica pelo IBAC. Psicóloga clínica analítico comportamental e psicóloga social.

    Felipe de Souza Soares Germano

    Psicólogo e Mestre em Psicologia com ênfase em Educação pelo Centro Universitário de Brasília (UniCEUB). Doutorando em Ciências do Comportamento com ênfase em Análise do Comportamento pela Universidade de Brasília (UnB). Professor no curso de formação em Análise Comportamental Clínica no Instituto Brasiliense de Análise do Comportamento (IBAC). Professor convidado em cursos de Especialização em Análise do Comportamento Clínica e/ou Aplicada. Orientador de trabalhos de conclusão de curso nos níveis de formação, graduação e especialização. Psicólogo clínico com enfoque em atendimentos de adultos. Desenvolve trabalho de consultoria em Psicologia do Esporte com atletas de Taekwondo em parceria com a Diretoria de Esporte e Lazer (DEL) da UnB.

    Florença Lucia Coelho Justino

    Graduada pela UFSCAR, especialista em Psicologia Clínica - Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR) pelo ITCR - Campinas e doutora em Psicologia pela UFSCar. Atua há 07 anos como psicoterapeuta, professora e supervisora clínica

    Luc Vandenberghe

    Graduado em Psicologia Clínica (1995) e Mestre (1998) pela Universidade de Gent / Bélgica (1995). Doutor (2001) em Psicologia pela Universidade de Liège / Bélgica. Professor no curso de Psicologia na PUC de Goiás, Supervisor de estágio e orientador nos programas de pós-graduação em Psicologia e em Ciências Ambientais e de Saúde. Atua como psicoterapeuta e terapeuta de casal na cidade de Goiânia, Goiás.

    Luiz Antonio Bernardes

    Mestre em Análise Experimental do Comportamento pela PUCSP, aluno do MBA em Economia Comportamental pela ESPM, especialista em Terapia Cognitivo-comportamental pela USP e psicólogo pela UFSJ. Atua como psicólogo clínico e professor em cursos de pós-graduação na PUC-MG, FEPI, UNIPAC, UNIFENAS e UNISAL.

    Rodrigo R.C. Boavista

    Graduado em Psicologia pela Faculdade Ruy Barbosa (FRB/BA), Mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento (PUC/SP), Especialista em Clínica Analítico Comportamental de Adultos (Centro Paradigma de Ciências do Comportamento) e Especialista em Psicologia Clínica (CRP). Atua como supervisor clínico e terapeuta comportamental com prática clínica baseada nas Terapias de Terceira Geração/Onda, em especial na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Faz parte do grupo de pesquisadores do Programa de Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo do Hospital das Clínicas de São Paulo (PROTOC – HCFMUSP). É terapeuta no Centro Terapêutico Máximo Ravenna (SP) e leciona em diversas instituições de pós-graduação pelo Brasil. É autor do livro Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT): Mais uma possibilidade para clínica comportamental (ESETec, 2012) dentre outras obras.

    Nicolau Chaud de Castro Quinta

    Psicólogo clínico, graduado (2004), mestre (2008) e doutorando em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

    Victoria Boni Albertazzi

    Formada em Psicologia (PUC-SP), Mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento (PUC-SP). Professora do Centro Paradigma de Ciências do Comportamento.

    Apresentação

    A Análise do Comportamento, muitas vezes referida como análise experimental do comportamento, é constituída por um corpo de conhecimentos, uma metodologia e uma filosofia da ciência que produz uma forma sistemática de ver o mundo. Nessa direção o analista do comportamento precisa desenvolver a capacidade de identificar eventos comportamentais, identificar eventos ambientais, relacionar eventos ambientais e comportamentais, compreender as relações identificadas e resolver problemas ligados a esses tipos de relações. (Teixeira, 2002).

    O livro Análise do Comportamento e suas aplicações: desafios e possibilidades, surgiu do interesse de apresentar alguns recortes das mais diversas áreas de atuação do Psicólogo, em que tem sido aplicada a tecnologia comportamental exatamente com o intuito de entender essas relações e o fenômeno comportamental que vigora em torno delas, divulgando e esclarecendo sobre a prática do analista do comportamento na pluralidade de áreas de atuação da psicologia.

    A psicologia do comportamento como é estudada hoje muito deve a B. F. Skinner. Seus estudos sobre o processo de aprendizagem nos animais convenceram-no de que o estudo do comportamento humano é parte de uma ciência natural. Skinner e seus seguidores confiaram na utilidade e relevância dos princípios do comportamento derivados dos estudos sobre o comportamento animal em relação aos problemas humanos (Ferster,1979). Achados desses estudos, somados ao de vários outros pesquisadores, produziram premissas que fundamentam o conhecimento científico proposto pela Análise do Comportamento.

    Em cada um dos capítulos do livro será possível identificar como essa abordagem, através da utilização do seus princípios e pressupostos, acrescentaram na compreensão dos mais diversos problemas e demandas que envolvem o comportamento humano.

    Denise Lettieri

    Referências

    Ferster, B. C. (1979). Princípios do comportamento . São Paulo: Hucitec, 2ed.

    Teixeira, A. M. S. (2002). Capacitação de analistas do comportamento: habilidades básicas. Em Teixeira et al, Ciência do Comportamento – Conhecer e Avançar (V. 1., 1º Ed). Santo André: ESETec.

    Prefácio

    João Claudio Todorov

    Um operante foi primeiro definido como uma pressão a uma barra de metal pequena de tal forma a poder ser repetida rapidamente, na famosa (para o bem ou para o mal) Caixa de Skinner. A frequência de pressões à barra varia com a consequência (água ou alimento, por exemplo), que pode ser contínua ou intermitente. A frequência com que o alimento é apresentado depois de uma resposta é nossa variável independente. A frequência de emissão da resposta é nossa variável dependente. Dizemos então que a frequência do comportamento operante é função da frequência do reforço que produz. É a contingência operante , uma relação condicional.

    A partir da definição podemos procurar operantes na natureza. Se pudermos manipular as consequências e observarmos mudanças relacionadas a essas mudanças, dizemos que se trata de comportamento operante. Acontece que fora do laboratório é difícil encontrar respostas de tão curta duração em ambientes tão controlados. Talvez por isso os primeiros experimentos com seres humanos foram feitos em verdadeiras adaptações da Caixa de Skinner, com alavancas para serem pressionadas e dinheiro ou doces como reforço (e.g., Holz, Azrin & Ayllon, 1963). Os primeiros trabalhos de análise aplicada também procuram comportamentos simples, no sentido de facilitar observação e programação de consequências (e.g., Baer & Sherman, 1964). Entretanto, a definição de operante evoluiu (Todorov, 2002). A partir da pesquisa básica com esquemas de reforço, de controle aversivo, de situações experimentais de escolhas, preferências, influência de situações anteriores, e tantas outras variáveis independentes, mas os trabalhos de análise aplicada, o conceito de operante é muito mais amplo. Catania conclui que operante é o comportamento que faz parte de uma contingência tríplice estímulo discriminativo, comportamento, consequência (Catania,1973), qualquer que seja a complexidade ou duração desse comportamento. Pesquisas mostram que padrões de respostas em esquemas de primeira ordem podem ser controlados por esquemas de segunda ordem (e. g., Todorov & Monteiro, 1981).

    Contingências são enunciados do tipo se..., então.... Descrevem relações entre eventos e são muito usadas como variável independente na Análise Experimental do Comportamento Operante. Relações entre eventos como variáveis independentes também são usadas no estudo experimental do comportamento de pessoas em grupo e do comportamento de grupos de pessoas.

    A contingência tríplice se refere ao comportamento de indivíduos. No ambiente natural raramente a contingência operante de dois termos (resposta e consequência) é válida para qualquer situação. É mais comum a observação de relações descritas pela contingência tríplice: se na situação S2 o comportamento R1 ocorrer, então a consequência S1 será apresentada (Skinner, 1953/2004; Todorov, 1985, 2002; de Souza, 2000). Um terceiro tipo de contingência se aplica ao comportamento de pessoas em grupo. Quando as contingências tríplices que descrevem as relações do comportamento dos membros do grupo são entrelaçadas (o comportamento de um fornece a situação para que o comportamento de um segundo membro seja reforçado, e assim por diante) o efeito sobre o ambiente pode ser um produto agregado – um efeito sobre o ambiente que não existiria sem o trabalho em colaboração dos membros do grupo (Todorov. 2012; Glenn et al. 2016). Um produto agregado é o resultado de contingências tríplices entrelaçadas que envolvem pelo menos duas pessoas.

    Fora do laboratório os analistas do comportamento trabalham sempre com pessoas em interação, seja no governo, em organizações, como profissionais liberais ou empresários. No poder judiciário atuam, por exemplo, em áreas como adoções, acompanhamento de ações socioeducativas, em terapia quando decidida pelo juiz, em atendimento a casais, entre outros. No legislativo, além das tarefas tradicionais, podem abrir um novo campo no auxílio à redação de leis, regimentos e contratos. No executivo estão presentes em todas as áreas, muito além dos tradicionais envolvimentos com trabalho, educação e atendimento individual. Em organizações atuam em seleção, treinamento, readaptação, pesquisa e trabalhos para desenvolvimento de clima favorável. São cada vez mais frequentes empresas criadas por um ou mais psicólogos associados, que podem atuar em várias áreas, inclusive complementando a formação de jovens psicólogos. Na vida prática fica evidente, por exemplo, que operante não tem tamanho fixo, depende da contingência em vigor e do valor da consequência. Reforços nem sempre são tangíveis, estímulos discriminativos podem funcionar como operações estabelecedoras, ambientes de trabalho podem ser acolhedores, onde as pessoas são reforçadas pelo resultado de seu trabalho, ou podem ser baseados em coerção, onde se trabalha mais para se evitar punição. A ciência do comportamento desenvolvida por Skinner nos dá lentes para examinar o tecido composto por essas interações entre pessoas; as definições são essas lentes, mas não são o tecido.

    Este livro dá uma amostra excelente do que é atualmente o trabalho profissional do analista do comportamento no Brasil. São 11 capítulos neste primeiro volume reunindo grandes nomes que se destacam em sua geração. Como um dos sobreviventes da primeira geração de analistas do comportamento brasileiros deixo aqui minha saudação aos nossos novos lideres.

    Referências

    Baer, D. M. & Sherman, J. A. (1964). Reinforcement control of generalized imitation in young children. Journal of Experimental Child Psychology , 1 (1), 37-49. doi: 10.1016/0022-0965(64)90005-0

    Catania, A.C. (1973). The concept of the operant in the analysis of behavior. Behaviorism , 1 , 103-116.

    Holz, W. C., Azrin, N. H., and Ayllon, T. (1963). Elimination of behavior of mental patients by response-produced extinction. Journal of the Experimental Analysis of Behavior , 6 , 407-412.

    Todorov, J. C. (2002). A evolução do conceito de operante. Psicologia: Teoria e Pesquisa , 18 (2), 123-127. doi: 10.1590/S0102-37722002000200002

    Todorov, J. C. & Monteiro, W. C. (1981). Concurrent second-order schedules of reinforcement: Relative response requirement. Revista Mexicana de Análisis de la Conducta , 7 (2), 141-147.

    Capítulo 1

    Vivendo como um analista do comportamento: quando conhecimento científico se converte em autoconhecimento

    Nicolau Chaud de Castro Quinta

    Pontifícia Universidade Católica de Goiás

    Conhecimento é poder. A origem exata dessa célebre frase é alvo de debates. Sua menção mais antiga é atribuída a uma passagem do livro islâmico Nahjol Balaagha: Conhecimento é poder, e ele pode comandar obediência. Um homem que adquire conhecimento ao longo de sua vida pode fazer pessoas o obedecerem e o seguirem, e será louvado e venerado depois de sua morte. Lembre-se que o conhecimento é um governante, e a riqueza é seu súdito. (Ar-Razi, 1009/2003, p.631). Variações da frase foram atribuídas a autores posteriores como James Bacon, Thomas Hobbes e Ralph Waldo Emerson. A despeito de sua autoria e dos variados contextos nos quais foi utilizada, o sentido dessa expressão é essencialmente um: o conhecimento sobre o universo permite o domínio sobre ele.

    Até o período paleolítico, para que o homem tivesse contato com o fogo, deveria esperar por ocorrências naturais fortuitas de queimadas geradas por raios, as quais comumente atribuía à vontade de seres mágicos (Frazer, 1996). Assim, não dispunha de formas efetivas de produzir e controlar o fogo. Quando descobriu que poderia gerar fogo com a fricção de pedras em superfícies secas, passou a utilizar esse conhecimento para inúmeros fins: gerar luz, calor, cozinhar plantas e animais, aquecer pedras para confeccionar ferramentas, e manter predadores longe. Esse é considerado um dos marcos do desenvolvimento da civilização, marcado pela construção cumulativa de um conhecimento cada vez mais sólido, vasto e profundo sobre a natureza, a partir do qual se observou a transformação do mundo e dos homens naquilo que somos hoje.

    A transição do conhecimento filosófico para o científico, assim como a formalização da ciência e sua subdivisão em áreas de conhecimento refletem um domínio cada vez mais amplo e especializado do homem sobre o mundo. A Física, a Química e a Biologia são partes dessa divisão. Cada um desses campos se propõe a investigar partes e fenômenos específicos do universo. O conhecimento produzido pelas ciências básicas fundamenta o desenvolvimento de tecnologias utilizadas pelos ramos aplicados da ciência, como a Medicina e a Engenharia. Os rumos tomados pela evolução da humanidade são em grande parte definidos pelo desenvolvimento da ciência.

    Dentre todos os fenômenos naturais os quais a humanidade se propõe a conhecer e dominar, talvez o mais complexo e mais importante seja o comportamento humano.   Ao dizer que o poder do homem parece ter aumentado desproporcionalmente à sua sabedoria, Skinner (1953/1998, p.4) chama atenção para a forma como a tecnologia e o conhecimento científico podem se voltar contra a própria humanidade quando empregados de forma irresponsável. O resultado disso são guerras, desastres ambientais, crescimento populacional descontrolado, e problemas sociais com os quais não estamos preparados para lidar. Na lacuna entre essa realidade e um uso responsável e mais proveitoso da ciência, existe o comportamento humano. Produzir conhecimento é comportar-se, e aplicá-lo também. Com essa preocupação Skinner conclui: Os métodos da ciência têm sido um sucesso enorme onde quer que tenham sido experimentados. Apliquemo-los, então, aos assuntos humanos (1953/1998, p.5).

    A partir dessa preocupação surgiu a Análise do Comportamento, ciência fundamentada no Behaviorismo Radical que se caracteriza   pelo esforço em manter-se fiel aos métodos que se mostraram eficazes na produção de conhecimento em outras ciências naturais. Adota como objeto de estudo o comportamento definido como produto observável da interação entre o indivíduo e o ambiente. Diferencia-se das outras psicologias pela rejeição de processos internos, fictícios, hipotéticos e não observáveis como foco de explicação (Baum, 1994/1999). O comportamento é fenômeno observável, resultado de um histórico de aprendizagem e interação com o mundo que nos cerca a partir de nossa constituição biológica. Fenômenos comportamentais como falar, mover-se, pensar, perceber, sentir e tudo aquilo que o indivíduo é capaz de fazer são compreendidos sob esta perspectiva.

    Liberdade, escolha e autoconhecimento

    Investigar cientificamente o comportamento é, portanto, conhecer como o ser humano funciona. Assim como acontece com outras formas de conhecimento, este nos dá poder sobre uma parte de universo, e neste caso uma parte muito especial: nós mesmos.

    A ideia de que o conhecimento produzido cientificamente poderia fornecer ao indivíduo maior domínio sobre seu próprio comportamento pode parecer vazia se acreditamos na máxima o homem é senhor de si mesmo, ou seja, que indivíduos são livres para gerirem a si próprios da forma como quiserem. Uma rápida observação do mundo ao nosso redor facilmente revela a falsidade dessa noção: se tivéssemos absoluto domínio sobre nosso próprio comportamento, não existiriam transtornos mentais, vícios, procrastinação e comportamentos autodestrutivos. As habituais falhas em se atingir metas de ano novo, dietas começadas na segunda-feira, e outros recorrentes conflitos envolvendo autocontrole demonstram não só que as pessoas geralmente falham em prever seus próprios comportamentos, mas que tais comportamentos não são livres. Talvez o elemento de maior impacto da teoria freudiana na Psicologia foi mostrar que o homem não é nem mesmo senhor de sua própria casa (Freud, 1917/1996, p.311), mas sujeito a determinantes muitas vezes desconhecidos. O Behaviorismo enquanto proposta determinista de investigação do comportamento concorda com essa posição.

    A ausência do livre-arbítrio como ponto de partida de nossas ações não só parece coerente com tais observações, mas é também necessária para uma compreensão científica do comportamento humano. A ciência caracteriza-se pela busca de ordem nos fenômenos naturais. A Análise do Comportamento investiga a ordem entre eventos comportamentais e ambientais. Conhecendo ordens e padrões, estamos em posição de apontar quais variáveis ambientais levam à ocorrência de determinados comportamentos, e temos maior segurança para decidir o que deve ser modificado no ambiente para que o comportamento mude. Sem isso, as tentativas de mudar nosso próprio comportamento e o de outras pessoas tendem a ser mentalistas, supersticiosas, primitivas e ineficientes, tal como o homem pré-histórico pedindo fogo aos céus. Sem o reconhecimento da existência de regularidades na determinação do comportamento, não existiria o que se estudar em uma ciência psicológica.

    Rejeitar essa noção de liberdade e aceitar uma ciência determinista não significa negar a existência de escolhas. Ao decidir entre ler este texto e não outro, ou entre ler um texto ao invés de assistir televisão, você fez uma escolha. É possível que você esteja realmente determinado a ler este texto até o fim em uma única sentada, mas não consiga. Talvez escolha fazer uma pausa de alguns segundos para conferir mensagens no celular mas, contrariando seu planejamento, passa vários minutos mexendo nele. Ainda que em algum nível você possa se sentir livre para fazer qualquer uma dessas atividades, o fato de que algumas delas são muito mais prováveis que outras indica que o comportamento é determinado. Escolher é comportar-se de uma forma dentre diversas alternativas possíveis (Catania, 1998/1999). Para a Análise do Comportamento, nossas escolhas obedecem a leis e princípios universais que regem interações entre o indivíduo e o ambiente. Conhecer os enunciados dessa ciência nos ajudaria, então, a compreender nossas próprias escolhas e as de outras pessoas.

    O intuito do presente texto é discutir formas como o analista do comportamento pode se beneficiar dos conhecimentos oriundos dessa ciência para tomar decisões, fazer escolhas e se autogerir. Alguns temas e conceitos centrais da Análise do Comportamento serão apresentados brevemente, seguidos por observações de como seu entendimento pode ser utilizado na tomada de decisões. Uma apresentação ampla e completa dos principais conceitos da área, assim como um aprofundamento técnico e conceitual dos termos mencionados estão fora do escopo deste texto. Para este fim, recomenda-se a obra Aprendizagem: comportamento, linguagem e cognição (Catania, 1998/1999).

    Vontade, autocontrole e comportamento operante

    O comportamento operante é definido como aquele cuja frequência ou probabilidade de ocorrência é afetada pelas consequências que produz no ambiente. Andar, conversar, ler e planejar são exemplos de comportamentos operantes. O raciocínio básico do comportamento operante é: se as respostas em questão produzem consequências reforçadoras, acontecerão com mais frequência. Se não produzem consequências importantes ou se produzem consequências punitivas, a probabilidade de que tais respostas voltem a ocorrer diminuirá. Assim, qualquer resposta que ocorra regularmente ou com uma frequência elevada muito provavelmente produz consequências reforçadoras. Se você tem o hábito de ler, o contato com aquilo que lê deve ser reforçador para você. Se não costuma fazer atividades físicas, as consequências dessas atividades – saúde e um corpo melhor – provavelmente lhe são pouco reforçadoras, ou pelo menos não tão reforçadoras como aquilo que você faz ao invés de exercitar-se. Portanto, para entendermos a alta ou baixa probabilidade de ocorrência de uma resposta qualquer, buscamos identificar as consequências que produz no ambiente.

    O efeito de um reforçador está condicionado a elementos do ambiente na presença dos quais foi produzido. Se falo de meus problemas pessoais com um amigo e escuto palavras confortantes,

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