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O Dia Da Sua Chegada
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O Dia Da Sua Chegada
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O Dia Da Sua Chegada

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About this ebook

* Amor * Estrelas * Poesia * Metafísica


« Adormeço com um pensamento, com uma certeza. Para mim, o amor não está na terra, O amor está nas estrelas. »
 
«  Num mundo sem fôlego, um rapaz e uma garota se cruzam, abrem seus corações, se valorizam. Eles nunca deveriam ter se conhecido, mas o universo decidiu que sim. Porque a garota tem uma mensagem para o rapaz. Uma mensagem do futuro, uma mensagem de amor. Ele aceitará ouvi-la e se oferecerá à promessa trazida pela noite? »

« O amor é o grito do amanhecer. O amor é o hino da noite. "Victor Hugo

Le Monde. Ele. Ela. A Noite.

Tenho observado ele há muito tempo.
Ele, o rapaz sempre de lado. Aquele que não quer ser notado. Aquele que quer ser ignorado. Aquele que não quer falar.
Ele nunca olha para a frente, o rapaz com os olhos constantemente colados ao chão. A vida e o tempo parecem deslizar sobre ele como um dia chuvoso. Cinza, triste, melancólico.


***
Ele me fala sobre sua infância.
Ele nem sequer retém as lágrimas, ele não tem vergonha de largar a dor à minha frente. No entanto, fui avisada que os homens se retraíam, que não gostavam de mostrar as suas mágoas, que isso os fazia sentir fracos, inferiores. Isso é uma tolice. Como abrir seu coração e falar sobre o seu sofrimento seria um sinal de fraqueza?
O coração precisa se levantar. Ele precisa ser preenchido, precisa de amar. Ele não esquece, não substitui. Nunca. Mas ele pode crescer. Ainda. Novamente. Outra vez. Para acolher. Para se preencher. Para se fortalecer. Para exaltar.
O coração crescer.
Novamente. Outra vez.
Para amar.
Para amar sem limites.
Para amar até o infinito, eternamente.

Ele: O rapaz destroçado.
Ela: A garota vestida de cores que veio das estrelas
A noite: a promessa de algo diferente, mais poderoso, maior.

LanguagePortuguês
PublisherBadPress
Release dateOct 18, 2020
ISBN9781071571811
O Dia Da Sua Chegada

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    O Dia Da Sua Chegada - Isabel Komorebi

    O Dia Da Sua Chegada

    Por

    Isabel Komorebi

    Traduzido por

    Valéria Cristina Ferreira Ventura

    Sobre a autora :

    Isabel Komorebi vive a meio caminho entre o mundo real e o mundo da fantasia, entre tudo e nada, num pequeno lugar secreto, onde as estrelas se fundem na grandiosidade do céu.

    Suas histórias falam de amor, imaginação, gentileza, elevação do coração e imensidão.

    ––––––––

    Para descobrir o meu mundo e longos trechos dos meus livros :

    www.isabelkomorebi.com

    Para qualquer contacto : isabelkomorebi@gmail.com

    (Querido leitor, não hesite em me escrever terei todo prazer em responder :) 

    ––––––––

    © Isabelle Komorebi, 2019

    Fotografia de capa :

    © iStockphoto.com/Cofeee

    Para me seguir :

    © Twitter : Isabel Komorebi

    © Facebook : Isabel Komorebi Auteure

    © Instagram : isabelkomorebi

    ––––––––

    Bibliografia (em francês)  :

    La petite voix qui chante au fond de votre cœur (2018)

    (A pequena voz que canta do fundo do seu coração)

    La contemplation des lignes (2019) (A contemplação das linhas )

    Notre amour emporté par les flots (2020)  (O nosso amor levado pelas ondas)

    Uma palavra da autora

    Meu caro leitor, minha cara leitora,

    Se você leu os meus dois primeiros livros, talvez devesse perguntar a si mesmo, « mas o que será que ela inventou para nós desta vez? »

    «O dia que da sua chegada»  é um livro bastante especial, porque eu não tinha planejado escreve-lo. Ele veio sozinho, assim sem mais nem menos. Acredito que ele não esperava por isso, que eu o escrevesse.

    Para mim, esta história é acima de tudo um conto, uma fábula, um poema.

    Eu falo de amor, é claro. Mas também de transformação. E das estrelas.

    Sim, das estrelas. Porque, como meu herói, eu gosto de erguer os olhos para contemplar a abóbada celeste e imaginar o que poderia estar acontecendo no outro extremo do universo.

    Eu já disse que amo o imaginário, o fantástico e a ficção científica?

    Não? Então feche os olhos e  e preencha o vazio.

    Imagine que está frio. Muito frio. Glacial.

    Abra-se para o possível.

    E imagine que poderia existir  algo mais.

    E, para entrar no clima, você pode ouvir a trilha sonora de:

    Hostiles, de Max Richter[1].

    L’assassinat de Jesse James par le lâche Robert Ford, de Nick Cave[2] e Warren Ellis[3].

    Insterstellar, de Hans Zimmer[4].

    A todos aqueles que se amam. Para além do corpo, para além do tempo, para além do espaço.

    «O amor é o grito da aurora. O amor é o hino da noite. »

    Victor Hugo

    1.

    Agora.

    Ele.

    Quando eles chegaram, o mundo não estava pronto para eles.

    Não estava pronto para aceitar um terremoto, um tornado, um caos como este. Não podíamos suportar ficar chateados em nossas vidas perfeitas, nós, pequenos seres egoístas, pensando que estávamos sozinhos na imensidão do universo. 

    Aconteceu pouco depois do meu nascimento. Era uma quinta-feira. Pelo menos acho que era.  Não sei a data exata. Ela foi apagada, esquecida, como tantas outras coisas sobre eles.

    Um dia, eles se apresentaram ao mundo.

    O mundo ficou entusiasmado. O mundo estava em êxtase.

    Então o mundo entrou em pânico. O mundo fechou-se sobre si mesmo. O mundo os rejeitou.

    Os Outros. Os Diferentes. Os Estranhos.

    Eles.

    O mundo está preocupado, tremendo em segredo há dezenove anos.  Os nossos líderes têm estado observando eles, vigiando-os. Mas só de longe. Pois nunca se sabe, eles podem ser deuses que vieram para julgar nossos pecados, passados e presentes, e não devem ser contrariados. 

    Algumas pessoas dizem que foi por causa de todas aquelas sondas enviadas pela NASA que eles vieram, que eles nos encontraram. 

    «Há décadas que sondamos os confins do universo. », disseram alguns.

    «Por isso é natural que o universo tenha finalmente respondido a nós. », seguiram-se alguns outros.

    Um dia você pensa que está sozinho na imensidão. E no dia seguinte, de repente, todas as suas certezas desmoronam.

    Eu os vi retransmitidos pela internet, em todos os programas da época. Agora quase ninguém fala mais deles, como se devessem ser esquecidos, apagados. O mundo dizia para si mesmo: se eu não falar com eles, se eu os ignorar, talvez eles finalmente decidam partir? E então eu vou fazer como todo o resto, vou fingir que nada aconteceu.

    De qualquer forma, os seres humanos tornaram-se estranhos para si mesmos, fantoches tristes jogando a comédia da vida. Então, por que se preocupar com eles, se não podemos sequer se preocupar com nós mesmos?

    No entanto, ficamos excitados, fazemos intriga, e sempre ficamos irritados pelo lado religioso. São eles que constantemente nos lembram que estão entre nós e que Deus não pode tolerar isso. Ele deve chorar quando ouve isso, Deus, de onde ele está, na sua pequena nuvem nas profundezas do universo. Por que deveríamos ser só nós? Por que queremos ter a pretensão absurda de ser a sua única criação?

    Alguns feiticeiros estão convencidos de que sabem reconhecê-los, Eles, os Estrangeiros desceram à Terra de seus pentáculos pendurados nas estrelas. Parece que se nota na forma como falam, como andam, como se parecem.

    Diz-se que, com o tempo, alguns se fundiram na massa, adotando nosso modo de vida, nossos costumes, nossas cidades, nosso modo de ser, sendo discretos, para se adaptarem, para se assemelharem a nós. Que idiotice. Quem gostaria de se parecer conosco? Para que nos copiar? Por que eles iriam querer ser como nós?

    Eu nunca vi nada. Nunca vi mais nada de estranho, de diferente, de estranho. Provavelmente porque eu não me importo, e se há algo para ver, eu me recuso a abrir os olhos. O cosmos é suficientemente vasto, eles podem ir onde quiserem, podem dar um passeio, podem visitar se puderem, seria bom para eles ir passear pela galáxia. Não me importa se não estamos sozinhos no universo. Porque, afinal, ele faz o que quer, o universo.

    — Ei, oh! Toc toc! Há alguém neste cérebro?

    O Matt cai nas bancadas, ao meu lado, num estrondo. Seu peso faz a madeira do banco em que eu sentei tremer e rachar. O cheiro habitual dele sufoca, sento o cheiro vindo de longe, meu velho amigo da caixa de areia. Ele cheira a cigarros, mentol e suor. Desde criança, eu lhe digo para parar com os três. Desde criança, ele me manda para o inferno.

    Quando eu não respondo, ele finge me dar um murro na cabeça com o seu punho.

    — Ouvi dizer que você está pensando, ele provoca.

    — Ouvi dizer que você é um idiota, eu retruco.

    Ele inclina a cabeça para o lado, me detalha, depois começa a rir e me dando um tapinha nas costas. Eu pulo e faço uma careta. Todas as vezes ele me partia uma costela de novo.

    Oh sim, eu esqueci de mencionar. Matt tem cerca de dois metros de altura e quase cento e vinte quilos. Vê um rato ao lado de um touro? Eu sou o rato, Matt é o touro. Não, eu não estou exagerando. Mas não pense que estou me queixando da nossa diferença de tamanho. Ele tem tudo nos músculos, e eu tenho tudo no cérebro. Eu fico tão desconfortável em um campo de futebol quanto ele fica diante de uma equação com três incógnita. A culpa é da loteria celestial.

    Ele abre minha bolsa sem pedir minha permissão, procura lá dentro, e tira minha garrafa de água, que ele esvazia de uma só vez.

    — O que você está fazendo aqui, amigo? ele me pergunta.

    —  Foi você quem me pediu para vir, eu lembro.

    Ele torce o nariz e de repente parece chateado.

    — No jogo de amanhã, tonto! Pedi que você viesse me ver abater o time adversário, não me ver cuspir os pulmões durante o treinamento!

    — Você não especificou.

    — Tenho certeza do contrário.

    Matt volta a mexer na minha mala e tira um pacote de biscoitos. Os seus olhos brilham de felicidade. Ele sempre viu na comida as respostas para as questões existenciais de sua curta vida.

    — Você não vai comê-los? ele me perguntou antes de coloca-los em sua boca.

    Eu não respondo nada. Não gosto de responder a perguntas às quais Matt não se importa com as respostas. Porque não importa o que eu fosse dizer, ele iria comer aqueles biscoitos de qualquer maneira. Então eu acabo abanando minha cabeça, enquanto ele começa a triturar meus biscoitos com seu queixo largo.

    Sim, triturar. Matt não mastiga, ele está acima disso. Ele esmaga, comprime, quebra, mas não mastiga. Nunca. Mastigar é para ratos como eu.

    — Você já terminou?

    — O quê?

    —  Por estar sempre amuado.

    Eu encolho os ombros e continuo sem responder. Sim, eu estou amuado, e daí? Minha tutora reclama o suficiente, eu recebo seus comentários toda vez que a vejo. Ela me pergunta por que eu sou assim. Duro, frio, melancólico.

    Mas o que posso fazer quanto a isso?

    Eu não gosto da vida em que estou preso.

    Eu não gosto do meu reflexo no espelho.

    Eu não gosto da companhia de pessoas da minha idade, ou qualquer outra pessoa.

    Não gosto do mundo em que vivo.

    Porque ele nunca teve nada para me oferecer, esse mundo.

    Eu sou assim, essa sou eu. Nenhum propósito. Nenhum desejo. Apenas uma sobrevivência diária.

    Pode ser que o resultado de perder meus pais muito jovem . Ter-se tornado muito rapidamente uma criança destruída, danificada, saltando de paraquedas num resquício de uma família reconstituída e desfeita, sem ter pedido nada, gritando em silêncio numa casa que lhe é estranha, e onde ninguém parece querer ouvir o seu sofrimento.

    — Você está vivo, brilhante, com a vida à sua frente. O que mais você quer, meu rapaz? é o que ela sempre me diz, a velha senhora que me resgatou debaixo do seu telhado.

      Não sei, insisto em responder.

    —  E o que é essa cara de enterro que você faz cada vez que eu te vejo? A adolescência não devia já ter acabado ?

    — Acho que não.

    Desculpa, mas não posso fingir estar bem nesta vida. Recuso-me a seguir o resto da humanidade, recuso-me a encenar a comédia da minha vida.

    Eu fecho os olhos e respiro fundo. Estou farto de discutir. A minha curta vida está girando na minha cabeça como um velho disco riscado. Um disco que nunca vai mudar, e que vai continuar a tocar até que ele finalmente quebre. Eu decidi me levantar.

    — Você já está indo embora? Matt me pergunta, surpreso.

    — Sim.

    — Você vai onde?

    Eu verifico o meu relógio.

    —  Exame de biologia. Em dez minutos.

    O meu amigo está rindo.

    — Outra vez ? Você já não fez um na semana passada?

    — Essa é uma eletiva.

    Matt olha para mim com uma mistura de desgosto e admiração. É isso mesmo, amigo, eletivas, tenho muitas, enchi tanto a minha agenda que parece um balão pronto a explodir. Você pode correr como um coelho em seu campo, mas quanto ao resto ...

    — Você é uma mala sem alça, hein? ele continua.

    — Desculpe por ser inteligente, eu rosno.

    Ele explode.

    — Desculpe por ser legal. Não te esqueças que sou um daqueles populares que arrumam as garotas bonitas.

    Não pude deixar de contra-atacar. :

    —  Sim, e não se esqueça de que eu sou uma das pessoas que irá consertar seu corpo e o seu rosto bonito quando você estiver desfigurado por todos aqueles cães com quem você joga bola.

    Matt levanta seu corpo enorme, rangendo em todos os lugares, as arquibancadas tremem e rangem sob seu peso. Então ele me empurra para a frente. Ainda noto que ele fez um esforço para não me pressionar muito.

    — Então saia! Ele ri. Vá jogar o cérebro que quer salvar o mundo!

    Eu resmungo enquanto massageio os meus ombros, se isto continuar, um dia vai me partir ao meio, e eu terei que me consertar. Antes de nos separarmos, ele finalmente pergunta:

    — Vejo você hoje à noite, hein? Na festa?

    Ele me disse isso com um grande sorriso. O bom do Matt é que ele nunca guarda rancor contra mim e contra a minha natureza taciturna por muito tempo. Ele é simpático por natureza, sempre de bom humor. Uma boa pessoa. Mas uma boa pessoa que fica contente por eu estar fazendo os seus trabalhos de casa de ciências.

    — Talvez, eu disse, saindo por minha vez.

    — Haverá garotas.

    Eu encolho os ombros.

    —  Eu não estou interessado.

    — Aos outros ! Todos caras da nossa idade estão interessados. Anda, vamos embora! Eu prevejo que hoje você vai se apaixonar!

    —  Você prevê o futuro agora ?

    Ele assente e estufa o peito.

    — Sim, me chame:  Matt o Majestoso Adivinho !

    Ele está diante de mim com a máxima seriedade, mexendo com as mãos debaixo do meu nariz, como um mágico faria.

    Hoje você vai se apaixona, ele repete. E assim, esta noite, vou dar uma boa gargalhada na tua cara.

    Eu não tenho tempo para reagir. De repente ele está numa posição defensiva, à espera da minha reação. Porque ele me conhece de cor este tempo todo. Só que não corro o risco de bater nele,  com o meu tamanho de rato. Enviar-lhe um comentário azedo é tudo o que posso me permitir. Mas agora, não, pela primeira vez, estou rindo. De bom coração. E isso não me acontece muitas vezes. O meu amigo abre bem os braços e os eleva ao céu em vitória.

    — Finalmente! Pensei que você ficaria chateado o dia todo!

    — Você é um idiota.

    — Bah, o que é que eu disse? O amor é lindo, não é?

    — Você se apaixona toda semana.

    —  Eu sou um grande romântico!

    — Você sempre se empolgue muito rápido.

    — Eu tenho um coração sensível.

    — Coração de alcachofra, sim.

    — Você verá que quando chegar a sua vez.

    —  Eu vou me esquivar.

    — Você não poderá, amigo.

    Eu gentilmente o repreendo e o deixo em seu treinamento.

    — Então, até logo! Alguns de nós têm de trabalhar aqui.

    Mas eu o ouço gritando comigo do fundo do campo:

    — É melhor você trazer seu traseiro hoje à noite! Se não, eu vou buscá-lo e eu vou levá-lo lá pela força!

    Olho para o céu, pois sei que ele é perfeitamente capaz disso e que me recuso a desembarcar nesta festa, lançado à força sobre os seus ombros, como um vulgar saco de batatas.

    Eu caminho com um passo rápido, consulto o meu relógio outra vez, vou acabar me atrasando para o maldito exame. Deixo o campo para ir para o edifício principal e o campus me engole.

    Me apresso em corredores lotados. Olho para todo os lados. Estudantes, armários, salas de aula. Um copia e cola interminável que me deixa tonto. Acabo abaixando a cabeça para não ver mais o que me faz querer vomitar. Mas a culpa de estar aqui é minha, só posso culpar a mim mesmo. Eu pensei que eu ficaria mais descansado na faculdade do que no ensino médio, mas esse não é o caso. É ainda pior. Me sinto mal. Não consigo respirar. Eu grito.

    Eu ainda estou andando. Mas desta vez mais devagar, olhos no chão. Como se eu não quisesse chegar ao meu destino, quase implorando para os meus pés voltarem para trás. Recuar. Sair. Correr.

    Correr para escapar da minha vida.

    E então, de repente, assim, tudo muda.

    Eu paro. Alguém me empurra. Não, na verdade, Alguém cai em cima de mim. Alguém escorrega. Eu seguro. Alguém  está em cima de mim. Eu endireito Alguém. Ouço o som de uma bolsa que cai ao chão e se rasga.

    Levanto o rosto e olho para  Alguém.

    Alguém é uma garota.

    — Desculpa, disse ela, envergonhada. Eu não estava olhando para onde ia.

    — Não foi nada, digo a ela.

    Ela inclina-se para pegar as suas coisas, depois levanta-se para me encarar. O que me atrai imediatamente são seus cabelos. São de um preto absoluto, sem qualquer reflexo, de uma escuridão tão profunda como a mais bela das noites sem estrelas. São longos. Muito longos. Muito longo, sem dúvida. Indisciplinados. Selvagens. Eles envolvem um belo rosto de pele bronzeada, olhos de chocolate e lábios vermelhos tão brilhantes que me cegam.

    A garota está usando uma roupa improvável que me espeta os olhos. Um suéter de malha muito grande, shorts jeans e meias coloridas.

    Ela me dá um sorriso tímido, com lábios tão bonitos, tão vermelhos que eu gostaria de prova-los agora mesmo, no meio deste corredor. Eu os quero contra os meus, os lábios desta estranha.

    Eu a desejo. Eu preciso dela.

    Ela parece pensar, suspira pesadamente, olha para baixo. Depois ela atira o cabelo para trás, tenta me contornar e começa a sair.

    Não sei por que, mas depois a minha mão se move sozinha. Depois, são as minhas pernas. E, finalmente, todo o meu corpo se move. Eu a pego, assim, sem pensar por um momento sobre o que eu estava fazendo.

    É uma sensação estranha, quando você sente que não tem mais controle. Quando você sente que está em um ponto de virada, que terá de virar à esquerda ou à direita para que tudo mude, ou que terá de se resignar para se manter na sua própria linha traçada. A linha que te vai sufocar, e eventualmente te quebrar.

    Eu seguro seu

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