Reflexões rebeldes
By Cid Benjamin
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Reflexões rebeldes - Cid Benjamin
1ª edição
Rio de Janeiro, 2016
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Benjamin, Cid, 1948-
B416r
Reflexões rebeldes [recurso eletrônico] / Cid Benjamin. - 1. ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 2016.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-85-03-01297-3 (recurso eletrônico)
1. Direita e esquerda (Ciência política). 2. Socialismo - Brasil. 3. Brasil - Política e governo - 2003-. 4. Livros eletrônicos. I. Título.
16-36792
CDD: 324.281
CDU: 324.15(81)
Copyright © Cid Benjamin, 2016
Apoio da Fundação Lauro Campos
Alameda Barão de Limeira, 1400
01202-002 – São Paulo, SP
Tel.: (11) 2985-6173
fundação@laurocampos.org.br
Capa: Estúdio Insólito
Este livro foi revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito.
EDITORA JOSÉ OLYMPIO LTDA.
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20921-380 − Rio de Janeiro, RJ
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ISBN 978-85-03-01297-3
Produzido no Brasil
2016
Para Washington Costa (1956-2014),
Antônio Neiva (1949-2015)
e Iná Meireles (1948-2015),
amigos queridos e
exemplos de militante
Sumário
Prefácio
Apresentação
Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
A turminha braba
e sua ponte para o passado
Aprendizes de feiticeiro
Uma sociedade de classes
O que é ser de esquerda hoje?
Toda luta deve ser apoiada? Toda forma de luta deve ser apoiada?
A liberdade de expressão
Política e religião
A questão do aborto
Os jovens e a política
A garotada aprende e nos dá lição de cidadania
Tarifa zero?
Sobre o Mais Médicos
Chama o ladrão
Ainda sobre a caridade de Pezão
Como tratar o lixo da esquerda
Sobre analogias e diferenças
O exemplo de Mujica
Entre a ética e a ilegalidade
O prefeito e seus camisas pardas
Sobre a reforma tributária
Fator Previdenciário e salário mínimo
Confisco salarial
As aparências enganam
Dez perguntas
Juros, problema de todos
O que não se diz sobre o BC
Terceirização e Previdência
A flexibilização da legislação trabalhista
As urnas falaram
Para o PT refletir
Caminho equivocado
Eleições gerais: quem as garante?
Uma crítica ao PCB
Estelionato eleitoral
Por uma frente de esquerda
Quatorze pitacos sobre a situação política
Reflexões sobre o quadro político
Propostas para uma reforma política
Caminhos para a reforma política
Cascas de banana
Uma tese maldita
Saída pela esquerda
A PM é assassina de negros pobres
UPPs na hora da verdade
Um dos mais cruéis torturadores
Uma decisão histórica
O estigma da tortura
Refrescando a memória
Controle externo do Judiciário
Desengaveta, Gilmar
E aí, Lewandowski?
A luta armada foi derrotada. Seus combatentes serão sempre lembrados
Rápidas impressões de uma viagem a Cuba
Festival de hipocrisia
Podemos — uma experiência rica ou um novo paradigma para a esquerda?
Uma história do Leandro Konder
Prefácio
Juliano Medeiros1
A história brasileira é pródiga em descontinuidades. Nosso primeiro século como nação independente foi marcado, fundamentalmente, pela luta entre diferentes frações das elites nacionais em torno da forma de inserção do país no mercado internacional. A primeira Constituição do país foi promulgada por dom Pedro I, em 1824, depois de prender deputados e cercar com as tropas imperiais a Assembleia Constituinte. No início dos anos 1840, o chamado Golpe da Maioridade
daria início ao segundo reinado com o objetivo de debelar as insurreições regionais que tomavam o país. Duas décadas depois, seguindo os passos do pai, dom Pedro II destituiria o gabinete liberal e restauraria o poder dos conservadores através de um golpe. A monarquia chegaria ao fim por um golpe militar em 1889, ao qual assistiram bestializadas as massas populares. Dois anos depois o então presidente Floriano Peixoto fecharia o Congresso Nacional e se manteria no poder após a renúncia de Deodoro da Fonseca, contrariando o que mandava a Constituição Federal, a saber, a convocação de novas eleições.
A luta em torno dos rumos do Brasil nas primeiras décadas do século XX deu origem à ruptura de 1930. Essa transição marca o início de um novo projeto de modernização conservadora. Em 1937, apenas três anos após a promulgação da Constituição, um golpe liderado por Getúlio Vargas instauraria um Estado parafascista que reprimiu com violência seus adversários políticos. Ironicamente, o Estado Novo chegaria ao fim com a deposição forçada de Vargas pelos comandantes militares em outubro de 1945, através de um novo golpe. Em 1961 a instalação do parlamentarismo, embora justificado como forma de contornar uma nova crise institucional, foi mais um golpe que contrariou a Constituição Federal para impedir a posse de Jango. A democracia nascida com o fim do Estado Novo tinha apenas 15 anos. Em 1964 o mais célebre dos golpes instaurou uma ditadura militar amparada por um forte aparato político-econômico-midiático. Essa é a história dos golpes ao longo de nossa história como nação independente, ou seja, essa é a forma pela qual as elites políticas sempre resolveram seus impasses: afrontando a legalidade toda vez que isso lhes foi conveniente.
Este livro chega às mãos dos leitores apenas poucos meses após a promoção de mais uma abrupta descontinuidade histórica
. A derrubada de Dilma Rousseff por parte de seus antigos aliados é ao mesmo tempo tragédia e farsa. É tragédia porque conduz ao poder, legitimado pela opinião pública
e pelo Judiciário, o que há de pior na política brasileira, favorecendo a promoção das medidas recessivas exigidas pelo mercado para assegurar um novo ciclo de expansão de nosso dependente e periférico capitalismo nacional. E é farsa porque se apresenta como o fim previsível de um projeto político que, carregando sonhos e utopias, optou pela conciliação com aquelas classes que jamais respeitaram verdadeiramente a democracia e os direitos sociais conquistados pela luta de milhões de brasileiros e brasileiras. Não é, portanto, apenas a derrota da Constituição de 1988. É também a derrota de uma estratégia que optou por descer à mais baixa política para viabilizar seu reformismo fraco
, ao invés de amparar-se na mobilização popular em favor das transformações estruturais reclamadas historicamente por nosso povo.
Por isso, não poderia ser mais oportuno o momento em que as reflexões de Cid Benjamin chegam até nós. Não só pela atualidade de suas posições, que reconstituem com precisão a trajetória da política e das tensões da sociedade brasileira nos últimos 14 anos, mas pela lucidez que aportam à análise do grave momento político que vivemos. Cid Benjamin é daquelas vozes imprescindíveis no pensamento crítico brasileiro. Ele viveu de dentro
os momentos mais dramáticos dos últimos 50 anos da história do Brasil. Da rebeldia juvenil que se tornou luta armada contra a ditadura civil-militar ao exílio; do retorno ao país à fundação do Partido dos Trabalhadores; da luta em favor de um projeto democrático e socialista para o Brasil à crítica implacável aos descaminhos de uma esquerda que se dobrou às razões de Estado
. O olhar de Cid Benjamin sobre a realidade brasileira é próprio de quem conhece a dinâmica da história, da política, da economia, das múltiplas relações sociais, culturais e simbólicas que dão significado ao nosso país. Por isso suas reflexões chegam em hora tão importante.
Arguto como só ele sabe ser, Cid pergunta: o que é ser de esquerda hoje? Depois de tudo o que vivemos nos últimos anos, a resposta pode parecer complexa. Mas com a simplicidade de quem entende o Brasil e sabe interpretar a realidade como poucos, Cid traz aquilo que podemos chamar de elementos para uma esquerda do século XXI
: a defesa dos direitos sociais, da democracia, das liberdades civis — incluindo a liberdade de expressão, de um modelo econômico em favor dos de baixo
, dos direitos humanos, das mulheres, da ética e da transparência, da mobilização como expressão máxima da ação política, da atualidade da oposição direita x esquerda, da luta de classes como conceito historicamente válido e atual.
Cid Benjamin é um patrimônio da esquerda brasileira, mas suas opiniões podem às vezes ser polêmicas — que socialista seria ele se assim não fosse? Nem sempre suas posições se encaixam na previsibilidade dos dogmas que certa esquerda brasileira, incapaz de renovar seu repertório, insiste em reproduzir. Mas, ao nos tirar de nossa zona de conforto
, Cid estimula nossa reflexão sobre os próprios limites das propostas a que insistimos em jurar lealdade, mesmo que inócuas. Uma mente jovem, inquieta, arguta e profundamente vinculada ao Brasil real: eis o que os leitores encontrarão nos ensaios reunidos neste livro. Por isso, cada página vale a pena.
MAIO DE 2016
Nota
1 Dirigente nacional do PSol e presidente da Fundação Lauro Campos.
Apresentação
Cid Benjamin
Este livro traz uma coletânea de artigos escritos por mim nos últimos anos. A maioria foi publicada em jornais — em particular em dois deles: O Globo e O Dia, ambos do Rio de Janeiro. Mas há textos divulgados em outros veículos e, também, preparados a partir de anotações para palestras, além de editoriais lidos no programa de rádio Faixa Livre — em que atuei como âncora cobrindo férias do titular, meu amigo Paulo Passarinho — e posts no Facebook.
A maior parte desses artigos foi redigida durante os mandatos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff na Presidência da República. Mas o publicado em primeiro lugar — Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima
— foi escrito em seguida ao impeachment de Dilma, a pedido da Editora José Olympio, para que abrisse a coletânea. Ele faz um balanço da situação da sociedade e da esquerda a partir do afastamento de Dilma. Há outros dois inéditos: A turminha braba e sua ponte para o passado
e Toda luta deve ser apoiada? Toda forma de luta deve ser apoiada?
, também redigidos em maio de 2016.
A denúncia do golpe paraguaio
sofrido por Dilma está presente em vários artigos, mesmo em alguns escritos antes da abertura do processo de impeachment. E aqui vale um parêntese: não se veja na expressão golpe paraguaio
demonstração de preconceito contra o país irmão, mas tão somente uma referência a essa nova modalidade de golpe de Estado na América Latina, sem tanques ou canhões, e apoiada no Legislativo e no Judiciário, inaugurada no Paraguai.
Mesmo tendo feito oposição ao governo Dilma — uma oposição de esquerda, programática —, meu repúdio ao golpe que levou Michel Temer e seus asseclas ao poder é radical. Seja porque o golpe atropela a democracia e abre um precedente perigoso, que é o impeachment sem base legal, seja porque o governo Temer significará um gigantesco retrocesso político e social para o país.
Esta posição crítica ao golpe fica patente na coletânea, seja em artigos publicados ainda antes do afastamento de Dilma, seja em textos posteriores ao impeachment.
Como os artigos foram escritos em diferentes momentos, na abertura de cada um deles há informações sobre o momento político, o assunto de que trata (o que nem sempre fica claro apenas pelo seu título), a data e o veículo em que foi publicado.
Na medida do possível, os escritos estão agrupados por assuntos. Considerei melhor apresentá-los assim do que em ordem cronológica.
Como, em sua maioria, foram publicados em jornais de grande circulação, os artigos estão redigidos de forma didática, podendo ser compreendidos mesmo por leitores não familiarizados com termos usuais da política ou da economia. Aliás, alguns se propõem justamente a desvendar esses termos ou a explicar questões que, num primeiro momento, parecem só ao alcance de especialistas.
Os artigos são voltados para o debate na sociedade e não para quem já tenha posições próximas às minhas. Não estigmatizam quem não pensa como eu. Ao contrário, buscam dialogar com essas pessoas, muitas vezes a partir de suas próprias convicções, buscando trazê-las para uma reflexão mais aberta. Aliás, o debate na sociedade me atrai mais do que a luta interna na esquerda — ainda que esta seja também necessária.
A maioria dos textos combate abertamente a direita, nos planos político e ideológico. Outros, porém, mantendo seu viés de esquerda, foram escritos para estimular o debate no seio das forças progressistas. E, em alguns casos, vão na contramão de teses predominantes nesses campos. Alguns exemplos:
Critico a Lei da Ficha Limpa.
Sou contrário ao financiamento público de partidos e de campanhas eleitorais.
Mostro as armadilhas da proposta de tarifa zero nos transportes.
Penso que não deve haver apoio automático da esquerda a toda luta desenvolvida por movimentos de trabalhadores.
Não apoio certas formas de luta usadas por trabalhadores, como greves por tempo indeterminado de funcionários públicos que prestam serviços diretamente à população.
Combato o corporativismo, muitas vezes presente no movimento popular, ainda que, com frequência, esteja presente em lutas apoiadas por amplos segmentos da esquerda.
Afirmo que movimentos de massas não conduzem necessariamente a processos revolucionários, ou ao fortalecimento do campo progressista. Aliás, essa idealização de qualquer manifestação popular levou a conclusões errôneas de alguns sobre as jornadas de junho de 2013 no Brasil, ou sobre eventos como a chamada Primavera Árabe, em 2001 e 2012.
Por tratar de questões desse tipo e a partir dessa ótica, cheguei a pensar em publicar alguns desses textos em separado, numa outra coletânea que receberia o título de Teses malditas. Acabei desistindo da ideia e integrando-os a este Reflexões rebeldes.
No mais, nestes dias de confusão ideológica, reafirmo a