Prática docente no Ensino Médio Integrado: revisitando seus princípios
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Prática docente no Ensino Médio Integrado - Rosa Maria Oliveira Teixeira de Vasconcelos
todos!
Prefácio
Este livro traz uma importante reflexão sobre a relação dialética entre a realidade e a possibilidade de integração da Educação Técnico Profissional com o Ensino Médio ancorada nos fundamentos da formação humana integral. Ele examina as políticas educacionais que figuram entre as mais multifacetadas e contraditórias da história recente da educação brasileira. O objeto do estudo é a política de Ensino Médio Integrado, que teve na Rede Federal de Educação Ciência e Tecnologia, o seu cenário mais virtuoso de expansão e desenvolvimento durante o governo do Presidente Luiz Ignácio Lula da Silva.
Trata-se de uma dissertação de mestrado que agora se transforma em livro, desenvolvida no interior do Programa de Pós-Graduação em Educação Contemporânea do Centro Acadêmico do Agreste, Universidade Federal de Pernambuco. Sua autora é Rosa Maria Vasconcelos, pedagoga de formação e docente do IFPE. Fiquei muito feliz ao saber que sua pesquisa se transformaria num livro, dado que isso amplia o alcance das ideias nele formuladas. Honrado também fiquei em prefaciá-lo e poder continuar ajudando na sua divulgação, me somando à luta pela hegemonia da educação emancipadora na qual o livro se insere.
O Ensino Médio Integrado, além de uma teoria pedagógica, já pode ser considerado como movimento político-cultural, uma vez que expressa o esforço teórico-prático de muitos intelectuais, pesquisadores, profissionais progressistas da área de educação, professores das redes públicas e privadas de ensino, e movimentos sociais de trabalhadores que atuam na educação profissional. O que identifica organicamente esse movimento é a construção do Ensino Médio que seja síntese superadora do dualismo estrutural que marca em diferentes tempos a história da educação brasileira e se atualiza de diferentes formas. O ideário que o inspira é oriundo das elaborações de Karl Marx, Friedrich, Engels e Antônio Gramsci. Formação humana omnilateral, ensino politécnico e escola unitária são termos que anunciam um projeto de educação que possibilite transformar os trabalhadores em dirigentes.
As primeiras experiências de institucionalização desse projeto político-pedagógico aconteceram ao longo dos anos 1980 e 1990 no estado do Paraná, quando a Secretaria de Educação transformou suas diretrizes do movimento em política educacional, projeto curricular e orientação da formação continuada dos professores daquela rede de ensino. Nos anos 2000 o Governo Federal sob a gestão Lula prometeu corrigir distorções de conceitos e de práticas de governos anteriores que dissociavam educação profissional da educação básica
. O marco dessa nova empreitada foi a revogação do Decreto n. 2.208/97 publicado no período Fernando Henrique Cardoso e a promulgação do Decreto n. 5.154/2004.
Essa experiência de nacionalização do Ensino Médio Integrado teve um percurso controvertido, tomando de empréstimo os termos usados pelo Prof. Gaudêncio Frigotto. O livro de Rosa examina aspectos importantes desse caminho tortuoso de implementação de uma política educacional. Em sua contextualização o estudo entrelaça aspectos históricos que marcam a dualidade estrutural e educacional no Brasil com suas expressões nos textos da legislação educacional que normatizam o ensino médio e a educação profissional ao longo da história. Apresenta também os fundamentos do Ensino Politécnico segundo os clássicos do marxismo e sua tradução em princípios que orientam a proposta político-pedagógica para o Ensino Médio Integrado, a saber: trabalho como princípio educativo; pesquisa como princípio pedagógico; integração teoria e prática, interdisciplinaridade; contextualização.
Munida de pertinente revisão da literatura a autora examina o terreno agreste da prática docente. Adentrando a um terreno árido que desafia convenções governamentais, a investigação examina até aonde os princípios que inspiram o Ensino Médio Integrado investem de materialidade as práticas de docentes e a organização do trabalho pedagógico do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE). Os procedimentos metodológicos envolveram uma análise documental minuciosa, a aplicação de questionários para traçar o perfil dos docentes e a observação não participante de aulas. Assim o estudo vai desvelando os caminhos percorridos no denso terreno da prática escolar que não aparecem nos números da expansão histórica nem no considerado avanço na legislação educacional. Nessa altura do texto, sua escrita permite a leitura das vozes dos sujeitos pesquisados e dos textos normalizadores das instituições, enquanto a autora as enquadra em suas hipóteses
e nos resultados de outras pesquisas, construindo nexos e apontando regularidades.
Cotejando os documentos legais que regem a política de Educação Profissional e Tecnológica do Ensino Médio Integrado, o estudo evidencia as principais contradições do Decreto n. 5.154/2004. O texto legal permite a coexistência de formas diversificadas de oferta, na medida em que abre a possibilidade da oferta das modalidades integrado, concomitante e subsequente. Permite também a coexistência de uma rede pública com uma outra privada e estas disputam permanentemente a oferta e a concepção de formação humana. Com relação aos documentos elaborados pela instituição IFPE, o estudo aponta que, embora o Projeto Político-Pedagógico Institucional (PPPI) se aproxime dos documentos oficiais no que se refere aos princípios pedagógicos, epistemológicos e metodológicos, isto não acontece da mesma forma nos Projetos Curriculares dos Cursos (PPC) em exame. Assim, os documentos norteadores da prática docente e da organização do trabalho pedagógico se configuram como híbridos de concepções incongruentes, não se prestando a função de dar organicidade ao trabalho da instituição.
Mecanismo mais profundo de reprodução da dualidade entre formação geral e formação técnica, que constrangeu o florescimento do Ensino Médio Integrado, é o perfil dos professores. O estudo revelou grande desconhecimento dos sentidos e significados dos dispositivos legais e a pouca formação inicial para o trabalho na perspectiva do ensino politécnico, limitando as mudanças requeridas à prática docente. As observações da prática docente dos professores de disciplinas que compõem os eixos de formação geral e de formação técnico-profissional revelaram a falta de organicidade com a proposta oficial para o EMI e com o projeto institucional. Nas aulas observadas perduram os princípios da escola clássica, baseado na oralidade e na autoridade do professor. Persiste a falta de sincronia nos tempos e horários entre as disciplinas do eixo de formação geral e técnica. O trabalho e a pesquisa como princípios pedagógicos acontecem no máximo por iniciativa individual de poucos professores. Finalmente, naquilo que foi investido como alternativa para atenuar os danos de uma formação inicial fraturada o estudo também não encontra alento. A Rede Certific, responsável pela formação dos professores para o EMI, privilegiara a fragmentação e o aligeiramento nos cursos que promoveu.
O livro traz uma relevante contribuição para preencher a lacuna de estudos acadêmicos que possam examinar a efetivação do Ensino Médio Integrado na prática escolar. Também lança sua autora no caloroso debate sobre as possibilidades da efetivação da escola unitária de Gramsci nos limites das sociedades capitalistas. Sendo a oferta diversificada ou multiforme
, para usar os termos do prof. Paolo Nosella, uma estratégia de travessia
a ser criticada, o estudo em questão escava os pedregulhos e lajedos a enfrentar.
Entre esses desafios, a consolidação do ensino politécnico como um projeto a serviço da classe trabalhadora, para a autora, só será possível se admitirmos a máxima defendida por Paulo Freire de que para transformar a educação é preciso educar os educadores. Contribuindo com a polêmica, complemento sua assertiva com outra máxima fundamental na filosofia da práxis, mas que parece também estar ausente na política que é objeto desta obra. Trata-se da 3ª tese sobre Feuerbach, quando Marx e Engels afirmam que o educador só pode ser realmente educado no interior de uma práxis revolucionária. Assim dizem que a coincidência entre a alteração das circunstâncias e a atividade ou automodificação humanas só pode ser apreendida e racionalmente entendida como prática revolucionária (Marx; Engels, 2011).
Quando Rosa iniciou seus estudos de mestrado o contexto era de luta pela expansão e fortalecimento da escola pública e de qualidade para os filhos dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros. O momento era de esperança de que as políticas do lulismo servissem de impulso para transformações mais profundas nas estruturas de reprodução de uma das mais desiguais sociedades do mundo. Hoje vemos que as políticas de conciliação do inconciliável
, usando os termos do mestre Florestan Fernandes, novamente se desenvolveu no sentido da antítese que é absorvida pela tese
, na medida em que as mudanças propostas pelo EMI caminharam nos lajedos da modernização-conservadora permanentemente aramada pelas classes dominantes.
No momento em que esse livro está sendo publicado, a escola pública e os profissionais do magistério estão sob ataque do conservadorismo associado com o grande capital. O que ainda resiste de caráter público da educação está em aberto processo de espoliação. Por isso este livro tem a relevância do seu tempo. Que é tempo de reflexão dialética sobre os êxitos, equívocos e limites históricos das experiências dos trabalhadores em luta pela sua autoeducação, pela autogestão do trabalho e da sociedade.
Recife, 18 de junho de 2020
Jamerson Antônio de Almeida da Silva
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