A filha do rei do brejo
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A filha do rei do brejo - H.C. Andersen
A filha do rei do brejo
Original title:
Dyndkongens datter
Translated by Pepita de Leão
Copyright © 1858 Hans Christian Andersen, 2020 Saga Egmont, Copenhagen.
All rights reserved
ISBN 9788726294316
1st ebook edition, 2020.
Format: Epub 2.0
No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system, or transmitted, in any form or by any means without the prior written permission of the publisher, nor, be otherwise circulated in any form of binding or cover other than in which it is published and without a similar condition being imposed on the subsequent purchaser.
www.sagaegmont.dk
A filha do rei do brejo
As cegonhas sabem muitas histórias, que vão contando aos filhotes, e todas essas histórias falam de brejos e banhados. E as cegonhas sabem também adaptá-las à idade e compreensão das crianças. Os mais novinhos contentam-se com parlendas infantis, e outras tolices, mas os mais crescidos querem ouvir coisas mais sensatas, ou que pelo menos falem da família. Algumas dessas histórias, das mais compridas e mais antigas, foram assim conservadas pelas cegonhas; uma delas conta de Moisés, que foi abandonado pela mãe nas águas do Nilo, onde a filha do rei o encontrou. E conta também como a princesa o educou, e como ele veio a ser um grande homem, cujo túmulo ninguém sabe até hoje onde está. Essa história é conhecida de todos.
A outra história não é ainda tão conhecida, porque as cegonhas até agora a guardaram em segredo. Há mais de mil anos que as mães cegonhas a vão passando umas às outras, e cada mãe sempre a contava melhor que a anterior; até que hoje em dia nós podemos contá-la melhor ainda que todas elas.
O primeiro casal de cegonhas que contou essa história, e que de fato a viveu, tinha seu pouso de verão no teto da casa de madeira do Viking, construída perto do Vidmosen
(O Brejo Bruto), em Wendsyssel. Fica no condado de Hiorring, para os lados de Skaw, ao norte da Jutlândia — conforme dizem os entendidos. Existe lá um grande brejo, de que falam as crônicas do condado. Aquela região era antigamente coberta pelas águas do mar, mas o terreno foi se levantando, e estende-se hoje por muitas milhas. Cercam-na de todos os lados campinas pantanosas, tremedais e turfeiras, onde crescem amoreiras e arbustos enfezados.
Paira quase sempre sobre aqueles pauis um nevoeiro denso, e há setenta anos eram eles ainda infestados de lobos. Assentava-lhe bem o nome de Brejo Bruto, e não é difícil imaginar quão medonho e desolado seria aquilo, no meio de todos aqueles atoleiros e banhados, há mil anos atrás! As plantas, particularmente, são ainda as mesmas daquele tempo. Os juncos ainda são da mesma altura, e ostentam a mesma espécie de folhas, de pontas penugentas. Ainda cresce lá a bétula de casaca branca e folhas delicadas e pendentes. Quanto às criaturas viventes, as moscas ainda usam vestidos de gaze do mesmo feitio; e as cegonhas ainda trajam, com as daquele tempo, roupa preta e branca, e compridas meias vermelhas.
É claro que as criaturas humanas trajavam então roupas de corte muito diferente das de hoje em dia; e se alguma delas, servo ou caçador, ou quem quer que seja, se aventurasse a andar pelo tremedal, esperava-a o mesmo destino que há mil anos — havia de se sumir ali, e submergir, indo parar na casa do Rei do Brejo. É ele quem reina lá embaixo, sobre todo o reino dos banhados e tremedais.
Quadrava-lhe também o nome de Rei dos Tremedais, mas preferimos chamá-lo Rei do Brejo, como diziam as cegonhas. Pouco sabemos do seu reino, mas isso é o de menos.
Perto dos brejos, para o lado daquele braço do Cattegat chamado Limfiord, assentava a casa do Viking, com sua adega de pedra, sua torre e seus três andares. As cegonhas tinham construído o ninho sobre o teto, e a mãe cegonha estava chocando seus ovos. Esperava ver todos descascados, sem perder nenhum.
Uma tarde o pai cegonha estava tardando em voltar, e quando chegou